In pleno flore comantem est in gloria escrita por Moon Lu


Capítulo 2
Ayla Cipriano


Notas iniciais do capítulo

Como trilha sonora, recomendo Seafret - Oceans!



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Eu não podia fazer nada, e a partir do momento em que Luna caiu e se rastejou até mim... eu estava paralisada. E o mundo ao meu redor perdeu a cor, desmoronou-se sem avisar. Segurei sua mão, agora gelada, e comecei a chorar. Torcia para que ela se levantasse mais uma vez e desse uma surra merecida naquela filha de Hades, mas ver ser olhos vidrados, a expressão mórbida, apenas confirmava a sua morte.

Vendo aquela mulher ainda de pé me dava tanto medo, receio. E eu sabia, agora restava aceitar. Eu logo iria encontrar minha irmã, pois eu não iria conseguir vencer a filha de Hades, ela iria me matar também. Tendo isso em mente, decidi que preferia morrer tentando a ser morta chorando, como uma covarde. Depois que minha irmã havia entrado para a ordem das caçadoras, a sua determinação me inspirava, e eu já havia decidido: quando eu crescer, serei uma delas, imortal, ao lado da minha irmã.

Soltei um grito para espantar todo aquele medo que eu ainda sentia, e peguei a espada de Luna, correndo na direção de sua assassina. A espada era pesada para as minhas mãos, mas eu ainda sim fiz um esforço para erguê-la, queria deixar ao menos deixar uma cicatriz naquela desgraçada. No entanto, quando restava dois passos para enfim golpeá-la, eu travei. Não sabia como, mas sim, eu travei e cai. Apagando logo em seguida.

Eu fui levada para a fazenda que tínhamos no norte da Noruega. Adorávamos o campo de trigo, e o cheiro verde e fresco entrava pelas minhas narinas. Estávamos na caminhonete do papai, eu e Luna. Franzi o cenho sem saber o que estava acontecendo.

Eu havia morrido?

Dei de ombros, apenas aproveitando daquele momento. “Nada poderia dar errado”, era o que eu pensava, segundos antes de a caminhonete capotar e eu e Luna sermos jogadas no campo de trigo. Senti algumas costelas, e gritei pela minha irmã. Mas eu não conseguia acha-la. De repente não havia mais estrada, nem a caminhonete, nem o papai. Era só eu. E uma tempestade se aproximava, contrastando com o então tempo ensolarado.

Eu já estava correndo, achando que daria tempo para fugir da chuva, até que, eu tropecei em algo: era o corpo de Luna, em um estado avançado de decomposição que me assustou. Eu comecei a chorar ao sentir o cheiro podre de sua carne, e então, quando ergui os olhos, a chuva já caía sobre mim, e uma garota, de pele pálida e cabelos negros aproximava-se de nós. Era Amy.

— VAI EMBORA! NOS DEIXE EM PAAAAZ! – Eu gritei com toda a força que ainda me restava. Eu arfava, exausta e cansada por ter corrido num campo de trigo sem fio. Amy não me deu ouvidos e estava perto, cada vez mais perto.

            Chorei, em desespero pela morte da minha irmã e a visão que eu tive dela. E chorei, porque Amy estava ali, e quando ela me puxou pelo pulso direito...

            Eu acordei.

Tinha certeza de que estava sendo carregada, e eu ouvi passos na neve. Mas eu não conseguia ver minhas mãos ou quem quer que estivesse me carregando. Era assustador, eu sentia meu corpo, minha respiração, mas não me enxergava.

— Faça silêncio, já estamos quase lá. – A voz de Amy se fez presente mais uma vez, mesmo eu não a vendo.

            Neve. Havia neve para tudo que era lado, e havia pinheiros pelados no caminho. Com certeza estávamos no inverno, mas eu não conhecia aquele lugar.

— Aonde está me levando? – Perguntei, tentando me livrar das mãos de Amy na minha cintura. Eu estava sendo carregada como um saco de batatas e aquilo realmente me irritava.

            Ela mata a minha irmã mais velha, mas não me mata. Qual o significado disso? Eu não conseguia entender. Sinceramente, eu nem queria. Não sabia se ela ia me oferecer para um ritual ou coisas do tipo, já havia escutado bastante sobre. O que fez eu ficar apavorada.

            Depois do que eu julgo ser uns três quilômetros, chegamos a um... acampamento? Não, não pode ser. Era o acampamento meio sangue! Onde eu vinha visitar Luna todo o natal.

— Não diga a ninguém sobre o que você viu, sobre quem eu sou. – Falou com a frieza mórbida já característica da sua voz. – Se você o fizer, eu voltarei para te matar... – Amy me jogou no chão de neve, e me arrastou até um pinheiro. Ela então tornou-se visível agora. O que era ainda muito assustador para mim.

— Você entendeu? – Perguntei com ferocidade segurando o meu pulso com força, algo que fez eu soluçar, e chorar de medo. Tudo em Amy me aterrorizava, mas, por alguns segundos, senti que seus sentimentos haviam vacilado. Algo nela, parecia carregado de tristeza, uma dor tão pesada que eu não conseguia sequer equiparar a alguma coisa.

            Quando ela notou que eu estava fazendo algo, largou meu pulso com brutalidade, e enfim, desapareceu em sombras.

            Eu não sabia se ela voltaria, então me encolhi debaixo do que seria uma espécie de manto. Agora, olhando não apenas para frente, mas para o meu corpo, eu conseguia ver que eu estava coberta com o tecido grosso. Parecia ser feito de veludo, um veludo verde com alguns sinais dourados que eu não pude identificar.

            Engoli um seco, sentindo frio, minhas bochechas estavam geladas, e as minhas mãos roxas. Medo dominava-me por inteiro. E eu pensei sobre a tristeza da filha de Hades, o que parecia me impulsionar mais a chorar. Chorei alto, como um bebê. E aquilo havia atraído a atenção de uma semideusa, que surgiu do nada ali.

            Encolhi-me mais uma vez, o que fez barulho na neve. Eu não sabia quem era e por isso tentei parar de reclamar sobre o frio e parar de chorar. Coisa da qual eu não tinha controle naquele momento e naquela idade.

            Não demorou muito, e eu acabei sendo descoberta. A garota de olhos azuis cinzentos aproximou-se, e puxou o manto. Quando os nossos olhos se encontraram, eu sabia que ela não era malvada, e continuei chorando. Levantei-me e a abracei, tremendo de frio.


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