San Peter: A Escola dos Mimimis Amorosos (Vol.2) escrita por Biax


Capítulo 88
164. Quer E Não Quer




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— Hm, e aí, você vai? — Lili me perguntou quando estávamos no meu quarto, fazendo algumas questões de biologia.

— Tô pensando. Tipo, eu quero ir, mas... Ah, sei lá.

Ela riu. — Meu Deus, Bruna, não entendo esse medo todo. Você sabe que ele não vai fazer nada contra a sua vontade.

— Eu sei, mas o problema não é ele... Eu não sei.

— Do que você tem medo afinal? — Lili me olhou, largando seu lápis ao seu lado, no colchão. — Você já ficou sozinha com ele, já dormiu com ele, já fez várias coisas com ele...

— Eu... não sei. Acho que... tenho medo do que pode acontecer.

— Você tá com medo da hora “h”? — Concordei timidamente. — Você mesmo sabe que ele não faria nada contra sua vontade e nem te forçaria a fazer alguma coisa.

— Mas... E se ele quiser?

— Quando um não quer, dois não fazem, como diria a minha mãe. E além do mais, tenho certeza que mesmo que ele queira, não vai pedir. Essas coisas rolam naturalmente, sem ficar falando ou pedindo. Por acaso você quer?

Fiquei rabiscando o canto da minha folha sem perceber. — Eu nunca pensei nisso.

— Bom, agora tá pensando, né? — Deu uma risadinha. — Vocês já falaram disso? Sobre sexo e essas coisas?

— Não...

— Imaginei que não. Mas, bom, vocês só estão juntos há três meses.

— Mas você e o Viktor demoraram?

— Não muito, mas isso não serve de exemplo. Nós dois tínhamos fogo pra dar e vender. — Nós duas rimos. — Você e o Yan parecem calminhos.

— Calminhos?

— É, vocês não ficam se tocando toda hora, não ficam se esfregando e nada disso.

— Credo, por que ficaríamos nos esfregando na frente de todo mundo?

— Olha, isso é muito normal, e adolescente com fogo sempre dá um jeitinho. Se você reparar, quase sempre tem um casal se encoxando ou grudados igual carrapato, com umas mãozinhas bobas pra lá e pra cá.

— Nossa. Nunca vi isso.

— Normal. Quando você não faz esse tipo de coisa, dificilmente repara nos outros fazendo. Mas também a maioria das pessoas é discreta... Tipo o Bebê e o Carlos.

— Como assim?

— Tá vendo só. — Lili riu com gosto. — Você realmente não repara eles se tocando toda hora? Tocando nos braços, nos ombros, orelha, às vezes na coxa. É engraçado. Eles começaram a fazer isso faz pouco tempo, depois que rolou a primeira vez deles. É fácil saber quais casais ultrapassaram alguns limites.

— Uau... Vou tentar reparar nisso.

— Se você quer um conselho, acho que você devia ir sim. Vai ajudar a... superar alguns medos, digamos assim. Aí você vai ver que esses seus medos são bobos.

Talvez ela tenha razão. Eu sei que não aconteceria nada que eu não quisesse, porém, era um medo que eu não conseguia me livrar completamente. Mas é, provavelmente seria melhor se eu fosse, só para acabar com isso de uma vez e não ficar receosa toda vez que Yan me chamasse para dormir lá...

— Você falou com a Bia?

— Sim, falei! Ela veio me abraçar e falou que já tá muito ansiosa pra saber a minha opinião do segundo livro. Quer que eu leia logo pra contar.

— Ela é engraçada.

Logo terminamos as atividades e eu fui tomar banho e dormir. Deitei a cabeça no travesseiro, feliz. Meus pais me ligaram de tarde, me deram parabéns, todos os meus amigos me abraçaram e me desejaram felicidades... Foi um aniversário ótimo.

De manhã, fiquei pensando na reação do Yan enquanto íamos para o refeitório. Peguei meu café e ele veio se sentar ao meu lado direito, como de costume. Olhei bem para ele e senti um leve rubor nas bochechas.

— Eu vou.

— Sério?

— Sim.

— Ah, que legal! Quem bom que você aceitou. Mas é por que você quer, certo?

Eu ri. — Sim, menino, eu quero.

— Tudo bem. — Yan sorriu, feliz. — Vou falar pra minha mãe que você aceitou.

— Ela já sabia?

— Sim, fazia parte do plano do presente.

— Uau... Ok. — Dei um sorrisinho nervoso, no fundo.

A manhã seguiu lentamente, provavelmente porque eu estava ansiosa para mais tarde. Depois do café da tarde, fui arrumar minha mochila, sentindo o estômago girar, pulsar, ir de um lado para o outro...

Lili veio se despedir e me desejou boa sorte, só não explicou o que quis dizer com aquilo. As sete, peguei a bolsa e fui encontrar Yan no refeitório. Saímos da escola com ele me contando sobre a aula extra de xadrez que estava fazendo e caminhamos, tranquilos. Quando chegamos em sua casa, Cláudia me recebeu com um abraço apertado e fomos jantar.

— Eu fiquei feliz quando o Yan me disse que você viria — comentou Cláudia.

Eu ainda não conseguia entender porque ela ficava tão feliz. — Por quê?

— Eu gosto quando meu filho trás os amigos. E a namorada. — Deu uma piscadela. — Quando eu era mais nova, sempre levava os meus amigos pra casa e minha mãe brincava com todo mundo. Ela fazia a maior festa, e eu puxei isso dela. E, bom, é ótimo ver que o meu bebê tá feliz.

Sorri e olhei para o Yan, que também sorria, encarando o prato, provavelmente um pouco envergonhado. Era tão bonita a relação deles.

— Sem falar que eu gosto de cozinhar para os outros. É muito bom ver a reação de quem come a minha comida.

— Por falar nisso, tá maravilhoso — falei e ela abriu um sorrisão.

Após comer, Yan e eu cuidamos da louça, e depois ficamos nós três vendo alguns programas na tevê. Quando Cláudia se espreguiçou e anunciou que iria para o banho, comecei a ficar nervosa, pra variar.

— Vai querer ir depois dela? — Yan perguntou, casualmente.

— Pode ser.

— Enquanto isso vou arrumar a cama, então. Quer seu presente agora? — Levantou e saiu da sala. Respirei fundo e fui atrás para pegar minhas coisas.

— Quero.

Yan pegou um embrulho do guarda-roupa e me deu. Era algo reto e retangular. Abri a embalagem e vi que era um porta-retrato com a primeira foto que tiramos juntos, em um ônibus.

— Ah, que gracinha! Obrigada! — O abracei e admirei a foto.

— Fiquei na dúvida em qual das fotos revelar, mandei revelar as que estavam boas e escolhi essa pra você. A minha tá ali na estante.

Dei uma olhada para lá, a vendo pela primeira vez. Sorri e o beijei como agradecimento, e deixei o meu presente dentro da mochila para não esquecer. Separei meu pijama e a "bolsinha do banheiro", vendo Yan puxar a colcha da cama, arrumar os travesseiros e guardar alguns livros que estavam na escrivaninha. Sua mãe veio dizer que tinha acabado, e eu fui para o banheiro.

Fiquei me encarando no espelho enquanto escovava os dentes, ansiosamente. Era bobagem, mas eu não conseguia simplesmente ignorar o fato de que dormiria sozinha com o meu namorado. Porque eu sou tão nervosa desse jeito? Eu hein.

Prendi o cabelo e fui tomar banho. Tentei não demorar pra não gastar água, me sequei, passei hidratante no corpo, me vesti, fui pendurar a toalha no corredor de trás da casa e voltei ao quarto, vendo Yan deitado na cama esperando. Ele levantou, pegou suas roupas, me deu um beijinho e foi para o banho.

Estava tudo silencioso ali e por um momento, fiquei sem saber o que fazer. Guardei minhas coisas e sentei na cama, cruzando as pernas. Assim que ouvi a porta do banheiro se abrir, meu coração disparou. Fiquei tensa, esperando Yan aparecer, o que não demorou. Ele veio e se jogou na cama ao meu lado, deitando.

— Cansei.

— De tomar banho? — brinquei, rindo.

— Não, do dia mesmo. — Riu, se arrastando para cima, para deitar a cabeça no travesseiro.

Vimos Cláudia aparecendo na porta. — Boa noite, crianças.

— Boa noite — desejamos ao mesmo tempo, e ela apagou a luz e saiu, deixando a porta com uma pequena fresta, por onde entrava a claridade da luz que vinha da cozinha.

Engoli seco e fiquei parada.

— Vai dormir aí? — Senti a mão de Yan acariciar meu braço, e automaticamente minhas bochechas esquentaram em uma reação boba.

Puxei a colcha e me deitei, nos cobrindo ao mesmo tempo, e Yan se ajeitou mais perto de mim, descansando o braço na minha cintura. O ouvi suspirar.

— Tá com sono? — questionei baixinho, o achando fofo.

— Sim... E você?

— Um pouco, mas acho que logo eu durmo.

— Que bom, não quero te deixar acordada.

— Pode dormir, eu sobrevivo.

Ele riu. — Tá.

Yan encostou nossas testas, me deu um beijinho rápido e suspirou de novo, fechando os olhos. Fiz o mesmo, relaxando aos poucos, vendo como meu medo era bobo, como sempre.

Foi engraçado como eu me senti mais à vontade no sábado. Arrumamos a cama, tomamos café, tomamos um sol no quintal... Fizemos várias coisas e eu estava me sentindo como se estivesse em casa. Bom, Yan e sua mãe sempre faziam de tudo para que eu me sentisse bem ali, sempre atenciosos, brincalhões e hospitaleiros. Eles eram incríveis.

Comemos pizza de noite, no chão da sala. Nem estávamos prestando tanta atenção na televisão, já que estávamos conversando e rindo. Era divertido como Cláudia era tão espontânea e alegre. Ela era muito jovial.

Fizemos o mesmo processo da noite anterior, lavamos as louças e tomamos banho na mesma ordem. Mas, diferente de ontem, Yan e eu não estávamos com tanto sono, e depois de ajeitar a cama ficamos jogando xadrez no colchão. Infelizmente, eu estava perdendo.

— Já era — disse Yan, comendo minha última torre.

— Que saco. Eu perdi a prática. Isso não é justo — resmunguei, fingindo estar brava. Eu só conseguiria ganhar se fosse extremamente boa no jogo, coisa que eu não era nem em sonho.

— Eu sei que é falta de prática, mas perdeu mesmo assim. — Ele sorriu, vitorioso.

— Vai, termina.

Yan aproximou seu rei da minha última peça. — Xeque-mate.

— Viciado.

— Não posso discordar. Tudo bem, você pode ganhar um prêmio de consolo.

Semicerrei os olhos e ele riu mais, se curvando em minha direção. Emburrada, também fui para frente e o beijei de leve.

— Eu vou treinar. Talvez. — Meu rosto corou.

— Tudo bem, eu espero — afirmou de bom humor.

Não dava para resistir ao Yan ali, na minha frente, tão perto, e não fazer nada. O beijei mais uma vez e, por mais inocente que fosse, senti um calor surgir principalmente nos ombros e nuca. Meu coração começou a martelar conforme o beijo se alongava e sentia o toque dele em meu rosto e antebraço.

Senti uma mordiscada dele e mais lugares esquentaram, trazendo aquelas sensações que eu senti a última vez, nas escadas da casa do Júlio. E, de novo, mal lembrava de me sentir acanhada ou... sei lá. Eu só queria aproveitar aquilo.

Levei minha mão até sua nuca, enroscando meus dedos nos cachos recém lavados, aspirando o cheiro que saía de sua pele. Senti seus dedos deslizarem do maxilar para o pescoço e ombro, e eu estranhei a sensação de querer que ele me tocasse daquele jeito, ou até mais.

Ao abrir levemente os ombros, vi que a luz ainda estava acesa e o tabuleiro ainda estava entre nós. Se Cláudia passasse, nos veria ali, e seria extremamente vergonhoso. A questão era: Será que, se ficássemos no escuro...

Yan se afastou levemente. — Acho que acabamos de jogar.

Concordei e, em um surto de coragem, levantei e apaguei a luz. Ainda dava para ver as coisas com a luz fraca da fresta da porta, e voltei, vendo Yan recolhendo as peças para dentro do tabuleiro dobrável e a deixando de qualquer jeito no chão. Será que ele estava tão... eufórico quanto eu?

Voltei a me sentar, dessa vez mais perto, e minhas pernas cruzadas ficaram em cima das dele, quando ele me puxou um pouco mais próximo. Nos beijamos de novo, mais calorosamente. Àquela altura, o quarto estava quente, eu estava quente, Yan estava quente... Mas eu não queria ir longe demais. Eu ainda tinha... medo. Não sei do quê. Eu sabia que não estava pronta, mas era tão... difícil.

Tudo bem. Só mais um pouquinho.

Aos beijos, Yan enlaçou minha cintura, me puxando para seu colo e deitando em seguida, me deixando ao seu lado, grudando nossos troncos.

— Acho que você gostou do prêmio de consolo — sussurrou ele, com a boca deslizando sobre a minha delicadamente.

Dei uma risada baixinha. — Pode me dar sempre um desse.

— Anotado.

Yan me deu mais um beijo e passou o braço por debaixo do meu pescoço, me fazendo deitar dele, e me abraçou.

Eu gostava como ele não forçava nada, mas também queria que não acabasse tão rápido nossos... momentos. Por que eu tinha que ser tão confusa? Uma hora eu quero, outra hora não quero. Bom, o importante é que, aparentemente, ele me entende.


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