Pela primeira vez em tempos senti que estava fazendo a escolha certa e eu sabia que minha vida mudaria para melhor a partir dali.

“Não precisa se preocupar, Zohar. Não vai acontecer nada de ruim.”

Era quase um mantra que Zohar tinha que repetir para si mesma ao pensar na possibilidade de que alguma coisa  ruim acontecesse e acabasse prejudicando Taehyung. Desde o momento em que tudo aquilo começou ela jamais imaginou que alguém mal intencionado pudesse descobrir toda aquela história e usá-la para prejudica-lo de alguma forma, como sua mãe tinha sugerido. Até porque à sua volta pouquíssimas pessoas estavam cientes daquele assunto, então como alguma coisa poderia dar errado?

 Depois que tanta coisa ruim aconteceu em sua vida sem que ela sequer as cogitasse, era difícil assegurar a si mesma que as coisas dariam certo no futuro. Por mais que as possibilidades fossem boas, sempre acabava procurando um ganho para pendurar sua dúvida. Aquilo tinha se tornado um padrão tão comum nos seus pensamentos que ela tinha decidido viver sem criar muitas expectativas. Mas agora, quando a possibilidade de estar em contato direto com ele tinha surgido, e sua mãe sugeria tal coisa como um possível problema causado por um mal-intencionado, ela se recusava a prender sua mente àquela ideia e lutava contra o pessimismo e apreensão.

Ela abriu os olhos e ficou olhando para o teto do quarto por algum tempo enquanto pensava naquilo. Já tinha tomado banho e jantado e estava apenas esperando Sarah chegar para conversar com ela antes de ir dormir. E enquanto ela não chegava, sua mente se concentrava naquele assunto. Aquilo que sua mãe tinha falado logo cedo tinha de tal modo despertado sua atenção que ela até mesmo tinha se esquecido que no dia seguinte iria para Londres.

Zohar sabia que ele era famoso e por isso sabia também que aquilo não seria um probleminha que facilmente poderia ser resolvido se viesse à tona. Apenas ela, Sarah e sua mãe tinham conhecimento daquilo, nem mesmo Suzan sabia, então o problema teria que se originar de uma das três. Tinha que garantir que nada daquilo sairia da parte delas, principalmente de Sarah, que era a mais desligada.

Estava raciocinando sobre aquilo quando de repente se lembrou que não tinha contado para Taehyung que sabia que ele era famoso. Ela tentou imaginar uma forma de contar e até mesmo cogitou a possiblidade de ele ter ligado para ela justamente por ela não saber quem ele era.

—Será que é por isso que ele ligou?- e após ficar na dúvida, tentou imaginar se ele iria querer continuar mantendo contato com ela depois que soubesse.

Estava concentrada em todas aquelas coisas que inundavam sua cabeça quando de repente um carro buzinando pareceu se aproximar da casa. Ela achou estranho aquilo e se levantou da cama e foi olhar pela janela, já que em todo aquele tempo aquilo nunca tinha acontecido, muito menos àquela hora. E qual não foi sua surpresa ao ver Sarah se aproximando da casa com a buzina ainda acionada.

—Allah! O que essa louca tá’ fazendo?- ela balançou a cabeça e se afastou da janela rapidamente, indo esperar Sarah na porta de entrada da casa.

Ela desceu as escadas rapidamente e quando chegou à porta viu Sarah sair do carro com um sorriso de orelha a orelha e balançar algo no ar.

—Olha o que eu trouxe pra você!

Zohar tentou, mas era impossível de adivinhar àquela distância, ainda mais à noite.

—O que é isso?

—O que você acha que é, criatura?!

Sarah subiu as escadas da varanda correndo e se aproximou de Zohar aos pulos, abrindo ainda mais o sorriso.

—O melhor meio de comunicação que já inventaram nesse mundo! Ahh!- ela balançou a caixa na direção de Zohar. –Eu quero saber de tudo! Todos os detalhes!

Zohar olhou para caixa que Sarah lhe entregava e ergueu o olhar para ela, surpresa.

—É um celular?

—SIM!- Sarah balançou os braços no ar. –Comprei pra você.

—Sarah!- ela encarou a amiga sem acreditar que ela realmente tinha feito aquilo.

—Me agradece depois de contar tudo.

—Eu não tenho dinheiro pra te pagar...

—É um presente.- Sarah rolou os olhos e empurrou o celular na direção de Zohar. -Você só tem que agradecer, mas agradece depois de contar tudo.- disse, enlaçando seu braço no dela e a puxando para dentro. -Vamos no meu quarto, ninguém vai ouvir a gente. Eu quase caí pra trás hoje de manhã quando ele ligou...

—Ninguém vai ouvir a gente?- Zohar ergueu o olhar. -Meio mundo já está te ouvindo e eu nem falei nada ainda...- ela retrucou, fazendo Sarah gargalhar.

Por fim ambas subiram as escadas apressadamente e entraram no quarto. Zohar, ainda abismada que Sarah tivesse lhe dado aquele presente, e esta, animadíssima para saber tudo o que eles conversaram.

Depois que Zohar primeiramente ouviu o relato de Sarah sobre o momento em que ela atendeu o telefone achando que era Namjoon, ela quis tirar satisfação sobre tudo aquilo, já que não tinha o menor conhecimento de que Sarah tinha conseguido entrar em contato com eles e que ainda estava trocando mensagens com ele. Ela aceitou a motivação de Sarah em fazer aquilo às escondidas  apenas para evitar de deixa-la frustrada caso não conseguisse o que queriam, e depois de muitos gritinhos esganiçados de Sarah ela contou tudo o que conversou com Taehyung naquela manhã, tentando se lembrar de todos os detalhes em resposta à insistência da amiga. E depois de ouvir tudo, Sarah se deitou de costas na cama e olhou para o teto.

—Amiga, você tem noção de quão sortuda você é?

—Sou?- ela riu, apesar de também saber daquilo.

—Não tem uma semana que o cara apareceu na Billboard, ligou pra você hoje e já deu o número do celular dele pra você! Se não é sorte eu não sei o que é.

—Mas ele não sabe que eu sei que ele é famoso...

—É claro que sabe. Eu estava trocando mensagens com o Namjoon e ele sabia que a gente sabe. Porque eu deixei isso bem claro, óbvio. E se ele passou o meu número pr’o teu príncipe, ele com certeza deve ter contado também que a gente sobre eles. Por falar nisso, tenho até que enviar uma mensagem agradecendo aquele palhaço por finalmente ter deixado o teu príncipe falar com você...

Zohar acreditou que a lógica de Sarah fazia sentido e a partir disso relembrou os acontecimentos de logo cedo.

—Então de certo foi por isso que ele pediu pra guardar segredo...

Sarah estava digitando a mensagem quando ouviu aquilo. Ela parou de digitar e olhou para Zohar.

—Pediu?

—Sim...- confirmou, e em seguida se ajeitou na cama e olhou para Sarah. –Sarah, eu estava pensando... Acho que ninguém além de nós pode saber disso. Não só sobre o número, mas toda essa história. Principalmente essa parte que eu voltei a ter contato com ele, é claro...

Sarah pensou por aquilo por um momento e concordou, em seguida enviando a mensagem.

—Sim, faz sentido.- disse reflexiva. -Mas agora liga esse celular de uma vez, configura ele do jeito que você quer e manda logo uma mensagem pra ele!- ela mesma abriu a caixa e ligou o celular. –Ah! Quase esqueci o chip.- ela entregou o celular para Zohar e enfiou a mão no bolso da calça, de onde tirou o pequeno pacote de plástico.

 -Será que ele tá’ acordado? Se ele ainda estiver em Sydney deve ser umas sete horas da manhã lá.

—Isso não importa. É uma mensagem e independente da hora que você enviar, assim que ele acordar ele vai ler e vai te responder. Se ele estiver dormindo, melhor ainda, porque quando acordar vai ter essa surpresa.

Depois de configurar o celular Zohar foi até o quarto para pegar o papel que tinha guardado e salvou o número no celular como TH, apenas por precaução. Em seguida sentou-se na cama e pensou em uma mensagem. Sarah tinha ido tomar banho enquanto isso e sua mãe estava conversando com Suzan no andar de baixo. Ela olhou pela janela por um tempo, apesar de não ver nada do lado de fora, e finalmente começou a digitar.

“Oi, é a Zohar. Agora tenho um celular.”

Ela enviou a mensagem, mas a achou simples e distante demais.

“Agora é a sua vez de salvar o meu número aí. :)”

Ela deixou o celular sobre a cama e foi até o guarda-roupa para escolher a roupa que iria usar no dia seguinte. Estava escolhendo a roupa ao mesmo tempo em que sua mente imaginava qualquer coisa, inclusive o que ele iria mandar em resposta, quando de repente ouviu o celular tocar. Ela olhou por cima do ombro, não esperando receber qualquer ligação, e viu que era ele quem estava ligando.

Por um momento ela entrou em desespero, não sabendo o que iria falar, e acabou deixando-o tocar algumas vezes antes de finalmente atende-lo.

—Alô?

—Oi, Zohar.

—Oi.- ela sorriu instintivamente, fechando a porta do quarto e sentando-se na beirada da cama enquanto pensava no que dizer. Seu coração batia forte no peito, mas tratou de se acalmar. –Como você está?

—Melhor agora, sabendo que você tem um celular.

Ela sorriu ao ouvir aquilo.

—É... A Sarah me deu de presente.- explicou.

—Ah, sério? Que legal. Estou começando a gostar dela... Se não fosse ela a gente não estaria conversando agora.

—Sim. Ela é louca, mas é gente boa.

Ela ouviu ele rir do outro lado da linha.

—Mas e você, como está? Desculpe-me, que horas são aí mesmo?

—20h30 agora.- ela respondeu, após dar uma olhada no relógio. –E aí?

—Sábado, 7h30 da manhã.

—Nossa!- ela exclamou. –É uma grande diferença.

—Sim, é. Mas quando eu voltar pra Coréia vai ser duas a menos. Na verdade não é lá grande diferença, mas... Vai ajudar na nossa comunicação.

Zohar sorriu mais uma vez, concordando, ainda admirada ao constatar que ele realmente queria manter contato com ela.

—É amanhã que você vai pra Londres?

—Sim, manhã de manhã.- e nesse momento ela olhou para o guarda-roupa, lembrando-se que ainda não tinha escolhido a roupa que usaria. -Minha mãe recebeu uma proposta de emprego e vamos lá ver. Provavelmente vamos voltar a morar lá.- ela se levantou e foi verificar as peças que tinha separado. –Eu estava ajeitando as coisas aqui agora...

—Hm...- Taehyung sibilou num tom curioso.—E você está animada?

Ela se autoanalisou antes de respondê-lo, querendo ser franca, acima de tudo, consigo mesma.

—Ér... Estou.

—Não senti firmeza.

Ela sorriu, achando graça do jeito de falar dele. Mesmo longe ele ainda conseguia saber o que ela estava sentindo.

—É que na verdade eu não tinha a menor intenção de voltar pra lá, mas as coisas foram acontecendo e agora estou voltando...

—Então você não quer voltar pra lá?

Ela se questionava porque ele estava fazendo aquelas perguntas tão diretas que atingiam diretamente o ponto vulnerável da sua mente. Ele fazia justamente as perguntas que a faziam parar para repensar sobre o que realmente estava sentindo e ver a verdade que surgia a partir daquilo, embora tentasse disfarçar.

—Eu quero querer.- ela respondeu, dando um leve suspiro e guardando de volta uma das camisas que tinha escolhido. –Agora estou começando a gostar da ideia, mas ainda não é uma coisa que eu quero muito.- ela fez uma pausa enquanto pensava. -É que... Sei lá...

Ela deixou a frase morrer, arrependendo-se de ir por aquele caminho. Não queria incomodá-lo com suas frustrações e medos tão logo voltaram a se falar. Mas antes que ela pudesse puxar outro assunto, Taehyung continuou e a incentivou a continuar a falar.

—É que...?

Ela parou por um segundo, na dúvida se se abria francamente com ele ou inventava qualquer coisa apenas para não ser chata. Não queria ser chata, mas por outro lado ela também queria ser tão sincera para ele quanto ele era com ela. Por isso decidiu falar simplesmente.

—É que eu tenho um pouco de medo de acabar me encontrando com Khalil por acaso...

—Khalil?

Ela lembrou-se que ele não sabia tinha ideia de quem era e explicou.

—É. Meu ex-noivo.

—Ah.- ele sibilou, surpreso.—Então é esse o nome daquele miserável?

Zohar percebeu um tom de repugnância e revolta na voz dele.

—Sim... Mas onde vamos morar é longe de onde estávamos antes, então é possível que isso não aconteça. E talvez eles nem estejam mais lá. Eles, eu me refiro a ele e a família dele... - ela deu de ombros, começando a tomar aquela ideia que os outros tanto falavam como sua própria ideia.

—Espero que isso realmente não aconteça.

—Sim, eu também.- disse com toda a sinceridade do seu coração.

—Você acha que ele pode tentar fazer alguma coisa?

Zohar refletiu naquelas palavras.

—Eu não sei. Eu só... Tenho receio. É que eu não sei qual vai ser a minha reação e muito menos a dele...

—Entendi...- ele disse, meio pensativo. –Mas fica tranquila que isso não vai acontecer. E se acontecer, na hora que você ver ele lá longe, liga pra mim. Posso não estar aí pra te ajudar, mas pelo menos te distraio dessa visão pavorosa.

Zohar riu do jeito que ele se expressou e concordou.

—Ok. Eu ligo. Só vamos torcer pra não ser de madrugada e você estar dormindo.

—Isso não é problema. Eu já durmo pouco mesmo.- brincou. –Temos que torcer para isso não acontecer no meio de um ensaio... Pior! No meio de uma apresentação. No meio de uma apresentação eu não vou ter jeito de atender mesmo.

Zohar ficou em silêncio por um momento.

—Você não se importa de eu saber que você é famoso?

—Eu não. Muita gente sabe disso também.- ele deu uma risadinha divertida. –Só um minuto.

Zohar ouviu uma conversa no idioma nativo de Taehyung por algum tempo e logo ele voltou a falar.

—Zohar, tenho que desligar. Tenho alguns compromissos agora e mais tarde vou voltar pra Coréia. Tudo bem?

—Ah, sim. Tudo bem.

—Ok, então. Mas vamos nos falando por mensagens, enquanto não der para nos falarmos. Pode ser?

—Sim, claro. Perfeito.

—Até às mensagens então.

—Até.

Zohar se despediu e desligou o celular, colocando-o sobre a cama. Achava tão engraçado que pudesse estar falando com ele novamente que às vezes achava que não era real.

No dia seguinte, cedo pela manhã, Lauren passou para pegar ela e Aisha para irem à Londres. Desde o dia que fugira do casamento era a primeira vez que Zohar refazia aquele caminho. Aisha estava sentada no banco da frente conversando com Lauren e enquanto isso ela observava a paisagem sentada no banco de trás e refletia sobre todos aqueles acontecimentos daquele ano. 

O dia estava nublado e o clima estava ameno. Mesmo assim Zohar sentia uma sensação de abafamento, que ela não sabia explicar se era real ou psicológica. Estava ansiosa. Por isso decidiu recostar a cabeça no banco e fechar os olhos. Queria evitar olhar para os lugares que conhecia e reavivar qualquer lembrança. Conectou o fone de ouvido no celular e foi ouvindo música até chegarem ao destino final.

A embaixada americana ficava logo em frente ao rio Tamisa, a sete minutos de carro de distância do Big Ben e a dez do Palácio de Buckingham. A casa de Sophia também ficava nas redondezas. Era uma casa grande, porém simples. A suntuosidade do lugar ficava por conta do jardim, que continha árvores e flores que davam um colorido especial ao lugar.

Ao entrar pelos portões Zohar sentiu-se acolhida pelo ambiente e tratou de observar cada detalhe do lugar. Por mais que estivessem no centro de Londres toda a beleza natural do lugar parecia transportá-la para um lugar tranquilo e distante dali.

Assim que Lauren estacionou o carro, as três saíram e olharam ao redor. Logo Sophia, a irmã de Lauren, apareceu e veio diretamente receber elas.

—Olá, muito prazer. Eu sou a Sophia.- ela estendeu a mão e cumprimentou as duas. –Finalmente conhecendo vocês duas. Tudo bem com vocês?

—Olá. Pode me chamar de Aisha. Essa é minha filha Zohar.

Depois das apresentações iniciais, Sophia as levou para conhecer um pouco do jardim. Havia ali um chafariz com alguns peixes coloridos e também alguns bancos de madeira espalhados pelo lugar, sendo alguns posicionados exatamente embaixo das árvores. Zohar ficou olhando para a paisagem bonita, apreciando a beleza da luz solar passando por entre as folhas das árvores e resolveu tirar o celular do bolso da calça. Tinha pensado em simplesmente bater a foto, mas achou melhor pedir autorização antes.

—Eu poderia tirar uma foto?- perguntou, um tanto acanhada.

Sophia olhou surpresa para Zohar e autorizou.

—É claro. Pode tirar sim.- ela sorriu.

Zohar sorriu e agradeceu, e em seguida apontou o celular para o local designado, enquadrando bem o banco de madeira próxima à arvore.

Depois de terminar a ligação no dia anterior, tinha passado o restante do tempo aprendendo e descobrindo as funções do celular. E depois de descobrir os aplicativos para editar as fotos, descobriu uma nova e divertida atividade nas horas vagas. Assim que terminou de tirar algumas fotos, Sophia as guiou até a sala de estar da casa, onde conversaram sobre o emprego que estava oferecendo.

—Então, tudo se resume aos cuidados da casa, com exceção da cozinha e a preparação das refeições, pois já tenho alguém para isso, e também da Avril, minha filha de 4 anos, mas só no período da manhã. No período da tarde ela está na escolinha, então de manhã é mais para ajeitar o lanche dela e arrumar ela pra tarde.  Vou lá buscar ela pra vocês conhecerem.- ela disse e se levantou para buscar a menina.

Não demorou muito e ela voltou segurando a menina pela mão. Zohar sorriu e deu um tchauzinho para ela, mas ela era tímida no começo e se escondeu atrás de Sophia.

—No começo ela é tímida com quem não conhece, mas depois ela se abre e fica mais faladeira. Dá oi pra elas, filha.- Sophia a incentivou, mas a menina permaneceu calada sentada no sofá, olhando de uma para a outra.

—Ela deve estar estranhando porque estamos de véu.- Aisha deu um palpite.

—Não, não. Antes tinha uma moça que cuidava dela desde um aninho que também era muçulmana e elas eram bem apegadas. Ela até sabe alguma coisinha em árabe, porque a outra moça conversava com ela em árabe e ela acabou aprendendo.

—Ah é?- Aisha ficou surpresa e feliz em ouvir aquilo.

—Sim. Ela só é tímida pra falar, mas depois que ela se apegar com vocês e ver vocês conversando em árabe alguma coisinha em árabe ela vai falar.- sorriu, ajeitando o cabelo da filha. –Elas também falam árabe, filha. Você tem duas amiguinhas novas pra conversar, não é legal?

A menina olhou de uma para outra e depois afundou o rosto no colo da mãe.

—Ela está com vergonha, mas depois ela se solta. Na verdade se vocês quiserem podem até continuar ensinando árabe pra ela. Ela gosta bastante de aprender, até porque já está acostumada que aqui em casa é gente falando inglês, francês pra lá e pra cá.- ela sorriu.

Após conversarem mais um pouco, mais uma vez Sophia as guiou para fora da casa a fim de mostrar a casa nos fundos do terreno onde Aisha e Zohar iriam morar. Avril ficou agarrada à perna da mãe o tempo todo e não se desgrudou nem mesmo quando Zohar se agachou e falou com ela em árabe. Tudo o que recebeu foi um sorriso tímido de quem tinha entendido e em seguida escondeu o rosto de novo.

Quando todos os detalhes estavam esclarecidos e Aisha e Sophia foram até o escritório para assinarem um contrato, Zohar saiu e voltou para o jardim, onde se sentou em um dos bancos. Ficou ali observando a casa de Sophia, o jardim e também a casa onde iriam morar, que ficava a uns quarenta metros de distância da casa principal, o que conferia boa privacidade para ambos os lados. Aparentemente aquele lugar era perfeito para o recomeço delas e pela primeira vez desde que toda aquela ideia da mudança tinha surgido, ela finalmente sentiu que queria ficar ali e dar um novo rumo para sua vida.

Estava refletindo sobre aquilo quando ouviu seu celular apitar, notificando uma nova mensagem. Ela tirou o celular do bolso e viu que era Taehyung.

“Está em Londres?”

“Sim, já conversamos com a Sophia e estamos quase indo embora. Decidimos que vamos ficar.”

Em seguida ela escolheu uma das fotos que tinha tirado antes e enviou para ele.

“Estou aqui no jardim agora.”

Ela esperou a resposta chegar, mas depois de algum tempo esperando ela guardou o celular. Imaginou onde e o que ele estaria fazendo àquela hora.

Pouco depois Aisha e Sophia saíram da casa e logo Lauren, que tinha saído para resolver algumas coisas, voltou. Elas combinaram que naquela mesma semana elas trariam suas coisas e entraram no carro depois de se despedirem.

Lauren estava com o carro já saindo em direção ao portão quando Sophia apareceu correndo.

—Lauren, Lauren.- ela se aproximou da janela. –Me faz um favor? Passa lá na embaixada e deixa uma pasta lá na recepção pra mim?- ela pediu, exibindo um sorriso pidão.

—Passo, né. Depois dessa cara de cachorro sem dono, se eu não passar lá você vai me acusar de negligência.

Sophia sorriu, deu um tapa na testa da irmã e correu para dentro de casa para buscar a pasta designada.

Quando chegaram à embaixada, todas saíram do carro e foram conhecer o lugar até chegarem ao prédio. Os que andavam por ali estavam bem vestidos e alguns falavam em outros idiomas também. O lugar em si era bonito e o prédio onde Sophia trabalhava era bem construído e conservado. Zohar tentou imaginar as milhares de coisas que eles deviam fazer ali e disse para si mesma que um dia entraria entrar ali apenas para ver como era a rotina daquele lugar.

No caminho de volta para casa, Zohar abriu a janela do carro, onde apoiou o braço, e em seguida descansou o queixo sobre antebraço ao passo que observava a paisagem. Era a primeira vez que se sentia feliz estando naquele lugar. Se dependesse exclusivamente de sua própria decisão não retornaria para aquele lugar, e por isso mesmo sentia-se agradecida por ter pessoas à sua volta para a fazerem mudar de ideia. Não sabia o que iria acontecer dali para frente, mas só de ver toda a movimentação da cidade e saber que a casa onde morava era um pedaço do paraíso na terra, sentia-se animada e aberta para o que quer que viesse.

Achava engraçado pensar daquela forma, quando antes seu pensamento tendia para o negativismo e a fuga. No fim, tudo o que imaginava não passava de pessimismo ilusório. As coisas ali não seriam ruins como eram antigamente, e decidiu que iria exercitar seu cérebro a acreditar naquilo até que voltasse a ser natural.

Ela ponderou aqueles pensamentos tão diferente dos pensamentos que ocupavam sua mente até semanas e dias atrás, e de repente ouviu seu celular apitar. Rapidamente o tirou do bolso da calça e abriu a conversa de Taehyung.

“Que lugar lindo. Quando eu for aí, se der, quero conhecer. :D”

Em seguida ele enviou uma foto. Zohar abriu e viu na verdade uma selfie dele sentando numa cadeira enquanto alguém escovava seu cabelo.

“Tenho uma sessão de fotos agora. Mas essa aqui só você vai ver. Não espalha. ;)”

Ela abriu o sorriso ao ler a mensagem e abriu a imagem mais uma vez, observando os detalhes. Mas logo sentiu-se tímida por estar olhando fixamente para a foto dele daquela forma, como se estivesse olhando diretamente nos olhos dele, e desligou o celular, esquecendo-se até mesmo de enviar uma mensagem resposta.

—Então, filha? O que achou?- Aisha, que durante todo o tempo estivera conversando com Lauren, virou-se para trás e olhou para Zohar com um sorriso animado no rosto. –Seu rosto está vermelho. Está com calor?

Zohar imediatamente colocou a mão no rosto e riu, negando com a cabeça.

—Eu amei. Não vejo a hora de mudar pra cá.