Nunca ouvi a voz que falara no telefone, mas pelos olhos surpresos do meu pai, tinha certeza de que era uma voz ofídica, cheia de veneno...

Era a primeira vez que eu tinha visto meu pai fazer um rosto tão assustador na minha vida.

Desligou a ligação e deixou o braço que mantinha o telefone no ouvido desabar, como se não tivesse forças. Eu espiava da brecha da porta do meu quarto, apenas meu cabelo e meus olhos sendo vistos por quem estava fora. Como se só eu pudesse entender a gravidade do que estava acontecendo, meu pai andou até mim, passos de zumbi, olhos apavorados.

“ Eles sabem, filho.”

Meu subconsciente falou mais alto que minha consciência e fez meus pés pararem onde estavam, pesados como se meu corpo fosse concreto ou algo mais pesado.  Naquela ocasião, eu sabia que abraçá-lo não ia adiantar nada. Ao mesmo tempo, minha garganta estava seca, eu não conseguia dizer nada.

Quando enfim me permiti me mover, tranquei a porta do quarto depois de batê-la e fui pensar dentro de um espaço muito pequeno do meu guarda-roupa.

Tinha que ter uma saída.

Tinha... que existir... uma saída.

Se não houvesse, eu mesmo criaria.