Dezembro de 2017

Na última semana de aula, no penúltimo dia, soubemos os resultados de todo o bimestre. Vi Eduardo comemorando por ter finalizado o ensino médio e pronto para entrar na faculdade ano que vem. Felicitei-o por ter conseguido o que sempre quis. Vi Jonas comemorando... não era a melhor cena, pois o meu inimigo número um passou de ano, mas fiquei feliz pelos pais dele. Caminhei até o mural onde os nomes dos estudantes que passaram estavam escritos. Demorou, mas consegui passar de ano.

Sou um aluno de sorte... melhor, um ser humano sortudo. Encontrei Afrodine, libertei e agora sou o seu guardião. No entanto, minha consciência começou a pesar por causa da fraude que fiz ao pedir a ajuda dela para substituir a professora Fátima. Eu não passei por esforço, e isso é um fato.

— Pensando em quem, querido Pedro?

Uma pessoa agarrou o meu braço. Sabrina surpreendeu-me, pois jamais a vi naquela escola. Será que ela chegou apenas por minha causa?

— Fiquei surpreso contigo aqui. O que faz aqui?

— Passei para dar os parabéns. Soube que conseguiu uma bolsa de estudos em Harvard. Legal.

— Sabe como é que é. Sou muito empenhado no que faço. — Metira!

— Bom, dê um abraço para a sua professora nova. Ela é muito linda e fui muito com a cara dela desde que a conheci naquela festa dos Mackenzie. E graças a ela, você chegou onde está.

Parecia uma indireta. Sim, graças a Afrodine eu consegui passar de ano. Estava praticamente condenado a repetir e assim perder a bolsa. Fui salvo pelo gongo.

Vi Sabrina se encontrar com o Eros na saída.

— Vamos voltar para casa juntos. Preciso sumir desta escola já que cumpri os objetivos. Amanhã mesmo eu me demito.

— Não devia esperar mais um pouco...

— Escuta aqui, moleque. Aguentei este último mês como combinado para te passar de ano. Passou. Agora chega. Vou ter que sumir da tua vida por um tempo, pois em breve irei aos Estados Unidos visitar uma amiga.

— Acabei de ver o Eros.

— Ele falou que vai me pagar o milhão?

— Não. Eu apenas...

— Então não quero saber nada daquele caloteiro. E vamos pra casa logo, porque não temos o que fazer aqui.

Saímos da escola praticamente ao mesmo tempo. Entramos num carro uber e voltamos para casa. Afrodine queria seduzir o motorista a fim de fazer com que a corrida fosse de graça, mas eu decidi que pagaria ao pobre homem. Estávamos perto de chegar quando uma moto ficou paralela com o carro. O motoqueiro sacou uma pistola e começou a atirar. Afrodine ficou por cima de mim. O motorista se abaixou e jogou o veículo contra um muro.

— Deve ser alguém de facção — disse o motorista.

Afrodine viu o motoqueiro se evadir do local e saiu imediatamente do banco de trás para o motorista.

— Sai pra lá.

Eu quase me caguei de medo com os tiros. Agora estou quase enfartando quando vi que Afrodine estava dirigindo o uber na direção do assassino.

Ela atravessou um sinal vermelho e jogou o carro contra o motoqueiro. Este caiu no pára-brisa e depois rolou na calçada perdendo a arma. Afrodine saiu do carro e segurou o homem pelo pescoço.

— Eu reconheço esse lenço roxo amarrado no seu braço esquerdo. Você é daquela seita que tá atrás dos demônios, não é?

— Dane-se, vadia.

Afrodine amarrou o homem no topo de um poste de alta tensão. As pessoas não entenderam o que estava acontecendo.

— Eles já estão nos caçando. Você precisa fugir pra longe, garoto.

— Eu não. A minha casa fica aqui em Fortaleza.

— Cara, quer levar uns tapas? Eu não vou morrer por tua causa. Por isso decidi que vou pedir para a minha amiga Desirée te separar de mim. Quero ser livre!