The Ghost Of You escrita por bitte_me


Capítulo 1
Capítulo Único




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Finais de outono são frios como o inverno. A diferença é que não neva.

Mesmo assim, o vento é cortante e gelado. Faz o corpo do garoto parado sozinho em meio à estrada estremecer. Faz seu nariz escorrer e suas bochechas ganharem um tom avermelhado. Ele gosta disso, então sorri, enquanto aperta os braços envolta do corpo e balança de um lado para o outro.

Decide acabar logo com isso, fazer o que a principio o trouxera até aqui. Aproxima-se da loja e bate os coturnos no capacho, como se retirasse dali alguma neve imaginária. Em seguida entra, sentindo-se consideravelmente mais quente e confortável.

É muito cedo, ainda está escuro lá fora, e ele deixa seu olhar se perder pela janela, enquanto sentimentos confusos transbordam em seu peito e fazem seu coração doer.

A moça que o atendeu parecia surpresa, mas ele ignorou-a, apressando-se em dizer o que queria. Algo especial para alguém especial.

“Rosas vermelhas” fora a primeira resposta que obtivera, o que o fez sorrir e balançar a cabeça negativamente.

Significam paixão. E o que ele sente pelo futuro dono do presente é muito maior do que isso. Talvez maior até que o próprio amor.

“Sua flor preferida, então. Ou a do presenteado.”

Ele sorriu, e concordou. Mas logo o sorriso se dissipou, ao se lembrar nem ele nem o irmão possuíam uma flor preferida.

Foi levado então por um corredor apertado, escuro e úmido, que dava acesso há uma ampla estufa. O cheiro era deliciosamente agradável, assim como a temperatura. Percorreu fileiras e mais fileiras dos mais diversos tipos de flores, fechou os olhos e tocou todas elas. No fim das contas, saiu com um enorme buquê contendo as mais bonitas que encontrara.

Voltou para o carro que o esperava na porta, escorregou para o banco do motorista e colocou as flores no lugar do passageiro. Ligou o rádio para abafar o barulho, cobriu a boca com a mão direita, e chorou.

**
Ele encarava pelo espelho retrovisor seus olhos vermelhos e inchados. Sentia sua respiração entrecortada e dolorosa preencher o carro como uma densa névoa. Criou coragem e desceu.

Seguiu em linha reta até um pequeno palco, e posicionou-se no púlpito. Olhou para a última fileira de cadeiras dispostas de frente para ele, e encontrou Tom lá, sentado de modo desleixado, esperando que ele fizesse algo minimamente digno. Sorriu para transmitir-lhe coragem, e balançou a cabeça positivamente.

“O que falar sobre o meu irmão? O que falar sobre a minha alma-gêmea?” começou, e engoliu em seco o nó que se formava em sua garganta.

Como explicar à eles? Como expressar com palavras o sorriso que Tom dava ao ser despertado com um beijo na têmpora? Como ele sempre escorregava a mão por debaixo da mesa para tocar a de Bill? Como ele virava a caneca para beber no mesmo lugar onde os lábios de Bill estiveram?

“Ele era meu. Era tudo o que eu não sou. Minha perfeita metade.”

Como explicar o modo como se amavam? Como dizer corretamente que ia além do fraternal, do carnal, do racional?

“Eu nunca soube sequer segurar um violão na posição correta; Tom sempre dedilhou inúmeras notas e criou belas melodias. Eu posso alcançar qualquer nota que quiser sem esforço algum; ele desafinava e descompassava até o ‘parabéns pra você’” Bill ergueu a mão direita, e encarou-a no ar. Em seguida, dobrou os dedos e fechou os olhos, como se segurasse algo invisível. “A mão dele cabia na minha.”

As flores foram depositadas sobre uma caixa de madeira mogno, assim como um último beijo.

Bill procurou Tom novamente, mas ele não estava mais lá. Apenas o aperto confortável no peito e a dor que sufocava-lhe os sentidos. Ele não estava mais lá.

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