Capítulo 1 – As queixas dela e dele.

10 de outubro de 2017 – 1ª sessão.

Exatamente há 5 dias atrás havia recebido uma ligação de Uchiha Sakura querendo marcar uma consulta para ela e o marido, Uchiha Sasuke. Segundo ela, seu esposo não à escuta, então eles sempre acabam brigando, tendo desavenças e nesses momentos ele sumia, deixando-a desesperada, então ela gostaria de resolver isso, mas não fazia ideia de como, então procurou ajuda com o melhor amigo que lhe passou o meu número. Depois de uma longa batalha, conseguiu convencer o marido a marcar um horário com a famosa psicóloga de casais que Uzumaki Naruto, amigo do casal, vivia falando.

— Bom dia. – cumprimentei ao recebê-los porta a dentro da minha sala – Sentem-se no sofá, por favor.

— Obrigado Doutora. – falou Sakura sorrindo enquanto apertava minha mão.

Sorri para a jovem mulher e depois de fechar a porta indiquei o grande sofá para eles, em seguida me sentei em minha poltrona, ficando de frente para os dois. Sasuke usava um terno preto com risca de giz e uma camisa social com uma gravata, ambas pretas também, isso fazia um contraste com a pele extremamente branca dele, mas era muita negridão para o meu gosto, afinal ele também tinha cabelos e olhos pretos. O homem era sério, estava sentado de um lado do sofá com os braços cruzados e em silêncio desde a hora que pisou no prédio, provavelmente havia sido obrigado a vir.

Já Sakura usava um vestido florido até a altura do joelho e extremamente delicado, que combinava perfeitamente com seus cabelos cor-de-rosa, que estavam presos num rabo de cavalo, a maquiagem era leve e isso fazia os olhos verdes dela se destacar. Ela se sentou do lado oposto ao marido e olhava com expectativa para mim, então eu pude notar que ambos se vestiam bem e se preocupavam com a imagem que passariam para mim, mas a coisa que mais me intrigou foi notar a distância enorme que eles mantinham entre eles mesmos, afinal cada um estava espremido de um lado do sofá.

— Então. Vamos começar. Sou Nara Temari, psicóloga, especialista e pós-graduada em terapia para casais. Como combinado via telefone nossas sessões terão a duração de 1 hora e ocorrerão uma vez por semana. Algum de vocês tem alguma dúvida?

— Não doutora. – respondeu Sakura.

Olhei para Sasuke que se mantinha calado e depois voltei a olhar para Sakura que olhava para o esposo e respirava profundamente como se procurasse por sua calma, então decidi voltar a falar logo antes que ela começasse a brigar com ele por pouca coisa.

— A terapia para casais é algo muito natural e normal, vou precisar da cooperação dos dois, então qualquer dúvida vocês podem me perguntar. Podemos começar com uma apresentação? Nome, idade, profissão. – interroguei a ambos.

— Ah! Ok! Eu começo! – ela pediu animada, enquanto levantava a mão – Meu nome é Uchiha Sakura, tenho 28 anos e sou professora da educação infantil.

— Certo. – concordei sorrindo antes de me virar para o homem do outro lado do sofá – Sasuke?

— Sou Uchiha Sasuke. – falou ele revirando os olhos – 28 anos. Advogado.

— Ok. Muito bem. Então há quantos anos estão juntos? – inquiri calmamente.

— Sete anos. – respondeu Sakura sorrindo levemente, ao mesmo tempo em que olhava para mim. – Três anos de namoro e quatro anos de casados.

— Vocês têm filhos? – perguntei.

— Não. – negou ela.

— Ótimo. Já se conheciam antes de começarem a namorar? – questionei olhando diretamente para Sakura, já que eu era totalmente ignorada pelo Uchiha, veríamos quanto tempo ele aguentaria calado.

— Nos conhecemos desde o 1º ano do ensino fundamental. – comentou Sakura sorrindo levemente com a memória – Nós dois e Naruto, estudamos juntos até o final do ensino fundamental, éramos inseparáveis, até que Sasuke precisou deixar a cidade e teve a grande ideia de ir sem avisar ninguém.

Nesse momento observei Sasuke olhar pelo canto do olho para a esposa e depois revirar os olhos, então o interroguei:

— Algum problema, Sasuke? Algum fato está errado?

Houve uns segundos de silêncio. Sasuke me olhou com os olhos semicerrados, ainda estava desconfiado e depois olhou novamente pelo canto do olho para Sakura, sem que ela notasse, pois ela olhava firmemente para mim, enquanto parecia estar irritada pela atitude do marido.

— Não! – disse ele por fim.

— Vamos continuar então. Fique a vontade Sasuke. – eu comentei, mas ao notar que Sakura começaria uma briga ou reclamação voltei a falar – Continue me falando sobre quando vocês eram crianças, o que fez quando soube que ele tinha ido embora?

— Eu não soube que ele foi embora, eu pressenti que ele estava indo, então fui atrás dele. Consegui chegar antes de ele sair de casa, lembro-me que era de noite e eu estava voltando do parque de diversões que Naruto me obrigou a ir, eu não estava bem, estava preocupada com esse idiota aqui, pois ele não havia aparecido na aula. – contou ela enquanto apontava para o homem que estava do outro lado do sofá – Eu estava com um mau pressentimento. Nos últimos dias Sasuke e Naruto estavam brigando muito, inclusive foram parar na enfermaria um dia por causa disso. Naruto dizia que era coisa da minha cabeça, mas eu estava preocupada com o Sasuke, ele estava mais calado que o normal e eu o amava... tan-tanto q-que...

Nesse momento Sakura começou a chorar, pelas lembranças que via em sua mente, então notei que Sasuke se mexeu discretamente. Parecia incomodado com a reação repentina da mulher ao seu lado, as sobrancelhas dele se elevaram levemente e finalmente ele descruzou os braços. Sem dizer nada me inclinei sobre a mesa de centro, que ficava entre mim e eles dois, peguei a caixa de lenços e entreguei para a mulher chorosa que pegou dois lenços da caixa para enxugar o rosto, tentando em seguida regular a respiração, enquanto era observada por Sasuke que sem nem mesmo notar se virou minimamente para a direção dela.

— Leve o tempo que precisar Sakura. – eu falei calmamente, voltando a encostar minhas costas na poltrona.

— O-obrigado. – murmurou ela sorrindo brevemente e ignorando a existência de Sasuke voltou a enxugar o rosto – Eu me declarei para ele naquele dia. Pedi que não fosse para aquele colégio interno distante da cidade, mas ele me ignorou, disse que nossos sonhos eram muito diferentes e foi embora entrando no carro e me deixando sozinha no meio da rua.

— Como você se sentiu Sakura? – perguntei.

— Sozinha. Rejeitada. Abandonada. E... – hesitou Sakura, então as lágrimas voltaram ao seu rosto e depois de trocar um breve olhar com o marido olhou para o lenço em suas mãos e finalizou – Me senti inútil. Senti como se não fosse capaz nem sequer de ajudar a pessoa que mais amo a realizar os próprios sonhos.

O silêncio se estendeu pela sala e somente o choro de Sakura podia ser ouvido, notei que o maxilar de Sasuke se apertava e ele inconscientemente se aproximou mais da esposa, mas parou no meio do caminho, então ele me olhou com raiva.

— Por que está a fazendo chorar? – reclamou Sasuke.

— Sou eu mesma que estou a fazendo chorar? – questionei como resposta.

— Sim! – exclamou ele com raiva, se inclinando levemente em minha direção.

— Mas não fui eu que fiz ela se sentir dessa maneira, não consegue lidar com as consequências dos seus próprios atos Sasuke? – interroguei-o me inclinando também na direção dele como se o desafiasse.

— Vamos embora Sakura! Não aceito mais nem um minuto em frente a essa charlatona. – falou ele se levantando e ficando de frente para a esposa que continuou na mesma posição, quieta – Sakura?

— Você não pode fazer isso! Por que sempre quer ir embora quando estamos tentando resolver algum problema? – perguntou ela, enquanto enxugava sua última lágrima no rosto e amassava o lenço de papel na palma da sua mão – Eu não vou embora. E nem você!

— Não me faça repetir isso! – murmurou um irritado Uchiha, trincando os dentes.

— Sasuke! Se atreva a sair por aquela porta sem mim para você ver! – disse Sakura se levantando também para encarar Sasuke de perto, enquanto apontava para a porta atrás do sofá – Eu estou falando sério quando digo que vou pedir o divórcio se você não se esforçar aqui!

— Não me provoque! Se você quer tanto que eu suma da sua vida, eu sumo, não precisa dessa palhaçada aqui! – grunhiu Sasuke.

— Palhaçada? Palhaço é você que não nota que eu quero continuar com você, mas só se resolvermos nossos problemas! Você não me escuta nunca! – berrou Sakura aproximando o rosto vermelho de raiva do rosto carrancudo do esposo.

— Ok. Ok. – eu disse me levantando também – Já chega! Não estamos aqui para gritar uns com os outros!

— Desculpe. – pediu Sakura dando um passo para trás.

— Não! Não se mexa! Volte para posição que estava. – pedi me aproximando e tocando as costas de Sakura – Sinto que há uma vontade em comum de fazer esse casamento dar certo.

— Mas ele não quer estar aqui doutora. Só veio porque eu o obriguei ameaçando me separar dele, ele só está acomodado com a situação. – falou Sakura, voltando a dar um passo para trás, mas sendo impedida por mim.

— Se ele não se importasse com o casamento, vocês já teriam se separado. Estou errada Sasuke? – questionei vendo que ele ainda olhava para Sakura a sua frente sem se mexer.

— Uhum. – murmurou ele concordando.

— Por que tem que ficar resmungando? Por que não responde “sim” ou “não” como alguém normal? – bufou Sakura cruzando os braços com raiva – Idiota!

Sasuke nada disse, somente cruzou os braços e me olhou brevemente, como se dissesse para que eu fizesse meu trabalho de uma vez por todas.

— Você quer se separar da Sakura? – perguntei a Sasuke.

— Não! – respondeu ele sem demora, como se a resposta estivesse pronta na ponta da sua língua e ele não precisasse pensar sobre isso.

— Sakura? Você quer se divorciar do Sasuke? – eu a interroguei tirando a mão das costas dela, vendo ela se virar para me olhar em silêncio, incomodada – Olhe para ele enquanto responde.

— Uhm... – resmungou ela antes de descruzar seus braços e olhar nos olhos do esposo – Não quero me divorciar!

— Você o ama? – questionei, então vi os dois se virarem para me olhar como se aquilo fosse uma pergunta proibida – Continuem se olhando. – estimulei, então eles voltaram a se olhar, mas Sakura parecia preocupada e Sasuke incomodado – Responda Sakura. Você ama esse homem na sua frente?

— Sim! Eu amo! – respondeu Sakura sorrindo levemente – Mas ele me irrita muito!

— Ok! Sasuke! – chamei notando os dois ficarem tensos, isso significava que ele era fechado e não falava o que sentia? Provavelmente! – E você? Sente atração sexual por Sakura?

— O quê? – perguntou Sakura se virando assustada pela minha pergunta inusitada – Você vai perguntar só isso para...?

— Ela é um tesão! – exclamou Sasuke interrompendo a esposa e sorrindo levemente pelo canto da boca, enquanto analisava o corpo da sua mulher com orgulho.

— Quer que ela seja mãe dos seus filhos? – inquiri incentivando Sakura a olhar para o esposo.

— Quero. – concordou Sasuke olhando para a mulher a sua frente e dirigindo dois dedos a testa dela murmurou – Irritante.

— Ótimo! – falei sorrindo – Posso sugerir que se abracem?

Sakura parecia ainda incrédula com as minhas perguntas, mesmo assim concordou fazendo que sim com a cabeça e sem delongas, como se esperasse por isso há séculos, se agarrou ao pescoço do homem a sua frente. Sasuke ficou imóvel por um breve momento e quando me virei para voltar ao meu lugar vi um braço dele rodear a cintura da esposa, brevemente. Aparentemente minhas suspeitas estavam certas pensei me sentando na poltrona, tínhamos uma mulher exigindo atenção e um homem com dificuldade de demonstrar seus sentimentos.

— Podem se sentar novamente. – eu disse vendo ele se separar da esposa.

Os dois se sentaram de novo, mas dessa vez Sasuke se sentou próximo ao meio do sofá já Sakura sentou-se ainda um pouco distante do marido, como se não quisesse tocá-lo, ela o olhava pelo canto do olho, levemente irritada.

— Qual o problema Sakura? – questionei, olhando-a voltar seu olhar para mim.

— Não é nada! – resmungou ela.

Enquanto isso, eu notei que Sasuke encostava suas costas no sofá e passa o braço esquerdo pelo encosto, ao mesmo tempo em que cruzava as pernas, então notei seu corpo dizer que ele se encontrava mais aberto aos acontecimentos na terapia, ainda sim se mantinha calado.

— Vamos Sakura! Você precisa dizer o que te chateou. – articulei olhando-a ainda levemente inclinada para frente – Minhas perguntas para Sasuke sobre você te incomodaram?

— Não. – sussurrou ela, então me olhando por uns breves segundos, discordou – Sim! Incomodaram-me.

— Por quê? – interroguei.

— Por que não perguntou para ele se ele também me ama? – protestou ela cruzando os braços novamente – Ele nunca disse que me ama!

— Não disse? – questionei confusa.

— Não! Nenhuma vez! – repetiu ela.

— Entendo! Você acha que não há nenhuma outra palavra ou ato que possa substituir as palavras “eu te amo”? – perguntei e nesse momento vi Sasuke tirar a mão do encosto e voltar a colocá-las sobre as suas pernas, o assunto incomodava ele.

— Exatamente. – concordou ela cruzando as pernas também, se fechando para ideias diferentes da dela – Antes eu dizia para mim mesma que não era algo importante, eu o observava minunciosamente em busca de sinais que me mostrassem que ele me amava, mas eu estou cansada de procurar o significado por trás de cada coisa que ele faz. Então é isso mesmo! Eu estou cansada. Estou esperando essas palavras há muito tempo! Custa dizer uma única vez pelo menos?

— Ok! Entendi. – disse olhando os movimentos impacientes do pé dela – Quais são exatamente as suas queixas para ter me procurado Sakura?

— É simples! – reclamou ela olhando brevemente para o marido ao seu lado – Ele não me escuta, não conversa comigo, está sempre calado, some quando temos problemas entre nós, desaparece quando fico irritada com ele, não me conta nada e nunca disse que me ama, ele nunca diz nada sobre os sentimentos dele por mim!

— Certo! Compreendi Sakura! – exclamei – E você Sasuke? O que tem te incomodado para concordar a vir?

— Além de ela ter ameaçado pedir o divórcio? Bom... – disse ele encarando a esposa emburrada ao seu lado, mas a verdade é que ele também parecia levemente irritado com a situação – Não transamos há 2 mês e 3 dias!

— O quê? – interrogou Sakura com a voz levemente esganiçada pela irritação – Você veio por causa disso?

— Sim! – simplesmente respondeu o Uchiha cruzando os braços.

— Não acredito que você contou os dias! – berrou Sakura vermelha de raiva.

— Acalme-se Sakura. – pedi olhando para os dois emburrados de braços cruzados a minha frente.

— Eu não acredito que ele veio por causa disso! – reclamou Sakura enquanto se inclinava na minha direção sobre a mesa de centro – Nós temos problemas mais sérios que isso!

— Sakura. O sexo é algo natural num casamento. Vocês são marido e mulher, eu acho que o fato de não transarem pode ser um problema a tratarmos também, por que falar disso te incomoda tanto? – questionei olhando para ela, enquanto via Sasuke voltar a colocar o braço sobre o encosto do sofá de novo e se virar para olhar a esposa, como se gozasse da cara dela.

— Não me incomoda falar sobre isso! – negou ela voltando a se sentar de braços cruzados.

— Se isso incomoda seu marido, acho que devemos colocar na lista de queixas. – falei sem delongas – Entretanto Sasuke um casamento é construído em cima de confiança e deixar sua esposa em dúvida sobre seus sentimentos também não é algo bom. Vamos precisar trabalhar em ambas as coisas. Entendidos?

— Sim. – murmurou Sakura um pouco menos irritada agora.

— Ok. – resmungou Sasuke depois de segundos de silêncio e olhares ameaçadores de Sakura sobre ele.

— Agora para a semana que vem. Eu quero que cada um de vocês escrevam num papel 5 qualidades boas e 5 coisas que o outro precisa melhorar. – falei recebendo olhares confusos em seguida – Sakura escreva 10 coisas sobre o Sasuke e Sasuke 10 coisas sobre a Sakura, 5 qualidades boas e 5 coisas que o outro precisa melhorar. Tragam na semana que vem não se esqueçam.

— Tudo bem! – concordou a jovem mulher se levantando a sua frente.

— Os aguardo semana que vem no mesmo horário. – disse apertando a mão dos dois a minha frente.

Após isso Sasuke pagou a sessão e os dois saíram pela porta da sala em direção ao elevador. Eu tinha alguns minutos até atender meus próximos pacientes, que por sinal logo chegariam, então caminhei até a janela da minha sala com um copo d’água na mão direita. Minha sala ficava no 3º andar então quando o jovem casal deixou o prédio pude ver Sakura falando com o dedo indicador levantado apontando para o esposo, que não dizia nada, mas tentava se desviar dela, era como se ela estivesse brigando por algo que ele disse, e provavelmente estavam mesmo. Em seguida, cada um deles se virou para um lado diferente e entraram em carros diferentes para ir embora. Isso ia ser complicado, Sakura era esquentada e Sasuke muito calado, certamente isso ia dar trabalho, mas não achava que fosse algo irreversível, muito pelo contrario. Tinha confiança que em 1 mês eles já estariam se beijando no sofá de sua sala, como dois adolescentes. Sorriu com o próprio pensamento e foi se preparar para o seu próximo atendimento.