Já é Meia Noite escrita por itsmoony


Capítulo 2
Você Quer Uma Maçã?


Notas iniciais do capítulo

Hey, guys ♥

Eu ainda não revisei o capítulo então me perdoem pelos erros.

Espero que vocês gostem.



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“Branca de Neve olhou desejosa para a suculenta maçã vermelha que a velhinha moribunda lhe estendia, ponderando se era certo ou não aceitá-la.

— Pegue —, sorriu mostrando os dentes amarelos e podres. — É um presente, eu insisto. Por sua gentileza, merece a melhor e mais doce maçã que tenho.

— Doce? Ah, nesse caso eu não posso aceitar. Minha mãe me ensinou a nunca comer doces antes do jantar. — E bateu a porta na cara da velha.”

x —

Nos primeiros anos da minha vida, toda a minha educação e entretenimento foram resumidos à programas educativos que passavam na TV aberta - a única que podíamos pagar -, e qualquer outra coisa que a velha Sra. Piotrowski quisesse ver.

Passar um tempo com a nossa vizinha, a Sra. Piotrowski, não era tão ruim. E eu fazia muito isso. Em parte porque a minha mãe não ganhava dando aulas e a mulher não cobrava nada para cuidar de mim. Me dava banho, me alimentava - tenho certeza de que meus dentes são mais fortes por causa daqueles biscoitos de aveia e mel - e não se importava em responder às perguntas realmente idiotas que eu fazia sobre sua infância na Polônia.

Eu não sei o que teríamos feito sem essa ajuda, porque não conhecíamos quase ninguém em Londres e, até eu ter idade para ir para a escola, não havia mais ninguém para ficar de olho em mim.

Não era como se pudéssemos ligar e pedir ajuda para os meus avós. Família nunca foi um assunto bem resolvido, mesmo antes dos Hall se tornarem parte dela.

Quando tinha dezoito anos, a minha mãe se inscreveu num programa de estudos em Londres e, por um milagre, foi aceita. Os meus avós não apoiaram o sonho dela de estudar Artes Plásticas, mas isso não importa. Porque quando eles ameaçaram fazer alguma coisa que fosse impedi-la de ir, a minha mãe já estava dentro do ônibus dando adeus à cidadezinha suburbana na qual fora criada.

Em defesa deles - e essa possivelmente é a única coisa boa que eu vou dizer à respeito deles -, não foi exatamente aí que eles pararam de falar com ela. Demorou algum tempo mas a minha avó aceitou visitar o dormitório da minha mãe. Eu soube que ela até trouxe umas fotos antigas para decorar o lugar.

Foi quando a minha mãe engravidou de um estudante de Cinema com complexo de Deus que eles ficaram realmente putos.

A minha mãe e Charles se esbarraram por acaso em uma festa. É óbvio que não teve casamento. Eu fui um tipo de acidente muito comum em festas universitárias, causado pelo excesso de álcool. Mas sinceramente eu acho melhor assim, uma vez que os dois não conseguem concordar em nada, muito menos no pouco que ele participa da minha educação - por exemplo, meu pai acha que eu recebo liberdade demais e a minha mãe acha que ele tem que ir à merda.

Isso tudo quer dizer que, até eu ter uns quatro anos de idade, família significava eu e a minha mãe e às vezes o meu gato de estimação, Jasper.

Mas eu cresci muito bem. Obrigada, de nada.

Porque eu tinha uma mãe que, mesmo exausta do trabalho, insistia em me contar histórias antes de dormir toda noite. E por isso eu sabia que, não importava quantas vezes o Lobo Mau soprasse a minha porta, a minha mãe nunca deixaria ela cair.

A minha vida não era muita coisa mas eu achava incrível.

Eu devia ter uns seis ou sete anos quando a minha mãe conheceu John Hall. Ou melhor, esbarrou em John Hall. Eu não fazia idéia de quem ele era, mas pelo visto devia, porque Melissa Strauss me disse que a mãe dela não perdia um programa dele.

O cara era razoavelmente famoso por ser âncora de um jornal, de uma emissora realmente pequena, que passava às cinco da manhã. O novo horário das donas de casa.

Eu sempre achei que minha mãe merecia mais, então, quando o cara resolveu esbarrar na minha mãe em um café, pareceu perfeito.

Embora agora eu entenda que isso foi mais como:

Era uma vez, em um reino chuvoso, uma mãe solteira encontrou um pai viúvo. Ou melhor, uma jovem e independente protagonista, que dava aulas para o jardim de infância - e não transava há muito tempo -, esbarrou em um empresário viúvo e charmoso que fazia o tipo misterioso mas com sentimentos - que transava muito.

Do que que a versão, que lembrava muito o primeiro encontro da Branca de Neve com o Príncipe, que a minha mãe me contou.

Mas é. Também foi inevitável.

O que não era muito perfeito nele era o fato de que ele tinha uma filha, Petúnia - sim, mãe, sua segunda flor favorita, que adorável coincidência. O destino que quis que fossemos irmãs e tudo mais. —, um ano mais velha que eu. Sinceramente, a garota poderia se chamar Begônia que para mim não mudaria nada. Isso não faria de nós próximas e eu já sabia.

Quero dizer, até eu completar nove anos, eu tenho certeza de que ela achava que eu era retardada.

Quando nos conhecemos eu me lembro de ter achado ela a garota mais bonita que eu já tinha visto. Ela tinha todo aquele ar de boneca, esguia e delicada, o cabelo sempre preso com uma faixinha que usava no balé.

Os problemas entre nós pioraram quando, além de morarmos na mesma casa, tivemos que estudar no mesmo colégio. Eu tinha uns dez anos então e, mesmo estando um ano na minha frente, não demorou muito para ouvir o boato que a garota da sala dela - Jenna Harbor - espalhou, dizendo que a minha mãe e John tinham um caso enquanto a mãe de Petúnia ainda era viva, e que eu era na verdade filha bastarda do cara.

No começo tanto eu quanto ela resolvemos ignorar os comentários, mas era óbvio que a estava afetando.

— Moranguinho — testou o apelido que a minha mãe usava na época — Você gosta de contos de fadas?

— Gosto.

— Eu também. Sabe que princesa eu sou? — Neguei com a cabeça, curiosa. — Cinderela.

Ganhei minha primeira detenção na vida por empurrar Jenna contra o bebedouro no intervalo. Ouvi um longo discurso do porquê meninas não devem se comportar assim.

Mas eu não era a protagonista. Isso não fazia diferença.

Então, só porque eu podia, decidi ser muitas versões de mim mesma. Dentre elas a indie, que usava muitas camisetas de banda e só música em discos LP, a gótica com o batom preto…, às vezes eu sinto saudades da hippie de saias floridas

Mas a melhor delas é a malvada.

— x —

— Eu esperava mais de você, Senhorita Evans. — Profa. Sprout suspirou olhando a minha ficha. — Essa não é a sua primeira pisada na bola… não é nem mesmo a décima. — Mantive meu olhar preso ao peso de papel em sua mesa, fingindo prestar atenção em suas palavras.

Eu também esperava mais dela, se quer saber. Na descrição da matéria ela fez herbologia soar empolgante mas tudo o que eu fiz até agora foi remexer um punhado de terra.

Ambas estamos desapontadas.

— Eu conheço muito bem cada um dos meus alunos, especialmente aqueles que estão aqui desde a quinta série, e sei que você não é assim. — continuou. — Então dessa vez eu vou deixar passar. Mas se for algum problema em casa ou algo assim…

Com tantos paralelos existentes na minha vida, o fato do meu colégio, Hogwarts, ser mesmo um castelo é só mais uma coisa.

— Na verdade, tem algo sim... — suspirei olhando para as minhas mãos. — Acontece que meu padrasto está comendo a secretária dele e acho que minha mãe vai pedir o divórcio. Ela tem razão, você não acha?

— x —

Aguardei impaciente, sentada no chão do lado de fora da sala, enquanto Sprout preenchia a advertência que a minha mãe deveria assinar. O jantar terá um quê delicioso de constrangimento hoje à noite.

Tirei uma maçã de dentro da mochila, que eu guardava lá para quando ficava até mais tarde estudando na biblioteca, e fiquei brincando de jogá-la para o alto enquanto esperava.

— Você não cansa de arrumar problema?

Não me dei ao trabalho de olhar para cima e ver quem era. Era fácil reconher o tom de voz irritado e perfume excessivamente doce para o meu gosto.

— Não. Você não cansa de fingir que tá sempre tudo bem? — devolvi sem perder a concentração no meu jogo.

Petúnia grunhiu exasperada, mas deve ter achado melhor não discutir, porque continuou num tom de voz mais ameno:

— Eu só queria avisar que eu vou pegar uma carona pra voltar pra casa. Você pode avisar a Katherine?

Katherine? — repeti olhando para ela. — Ela praticamente te criou, é tão difícil assim chamar ela de mãe?

— Ela não… — Petunia se interrompeu e respirou fundo. — Você pode ou não? — repetiu entredentes.

— Posso. Mas esteja em casa antes da meia noite, Cinderella. Nós temos um jantar em família.

— Ah, vai se ferrar! — Puxou a maçã da minha mão e jogou no chão ao meu lado, antes de sair pisando duro.

Alcancei a maçã, sorrindo e a limpei na barra da minha camisa.

— Até mais tarde, irmãzinha. — Dei uma mordida na maçã.

É preciso de muito mais veneno que isso para me atingir.


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