Hoje ela era um guepardo.

Acordou ciente que teria que correr muito naquele dia, seriam milhas e mais milhas e não teria descanso.

Fugiria de toda aquela hipocrisia, correria daquele pensamento rotundo e cíclico, se afastaria de toda maneira daquelas pessoas que lhe tratavam como se ela não fosse nada, daquelas pessoas que não perceberam todos os animais que ela já teve que ser para, simplesmente, poder viver.

Uma ave de rapina seria mais adequada para sua situação atual, mas ela estava com medo que eles tivessem lhe cortado as asas, então preferiu não arriscar. Optou por correr... E correria com toda velocidade, daria tudo que suas pernas suportavam só para virar as costas para tudo aquilo que lhe machucava.

Ela sabia que eles correriam atrás dela... Não iam deixa-la escapar facilmente. A perseguiriam até os confins da Terra só para lhe apontar o dedo, gesto esse acompanhado de uma gargalhada no pior dos tons, de uma zombaria cruel e de palavras banhadas em puro menosprezo. Ela sabia que tudo isso aconteceria e, não sabia disso tudo por ser um guepardo, ela sabia disso pelo simples fato deles serem humanos.

Riam tanto que mal conseguiam respirar, ela corria sem parar.