Hoje ela era uma lebre.

Ela já tinha sido tantos animais tão brutos e fortes... Certo dia tinha sido um elefante e derrubou árvores com um leve empurrão; em outro, tinha sido uma formiga e aguentou 100 vezes o seu próprio peso; ontem mesmo, tinha sido um rinoceronte e parecia de puro chumbo... Mas cá estava ela hoje, uma frágil lebre.

Naquele dia ela estava com medo de tudo, qualquer movimento em falso e ela correria para de baixo das cobertas de sua cama... Uma orelha em pé ouvia cada movimento de algum carniceiro e a outra não perdia nada que o mágico fazia, ela temia que aquele louco inventasse de lhe enfiar em uma cartola.

Ria sozinha embaixo das cobertas; ontem nada lhe atingia, hoje tudo parecia machuca-la de algum jeito. Tudo que faria naquele dia era se excruciar... Sofrer em silêncio e sofrer por quase tudo; era um dia ruim.

Enquanto ela ria sozinha de si mesma, eles riam dela também. Mas ela não gostava do tom da risada deles... Eles riam de sua fragilidade, de seu medo. Como alguém pode zombar do medo de outra pessoa?

Riam dela sem pudor, ela só correu para debaixo do cobertor.