No dia seguinte, Arie se surpreendeu ao adentrar a sala de aula.

A sua surpresa não originou-se de algo essencialmente bom.

Mika estava com os cabelos soltos, mas não por ter seguido o conselho de cobrir melhor a pele, que mais parecia um vaso de alabastro. Seguindo tal raciocínio, a menina perguntou-se por um instante, se assim como o vaso, a dureza do garoto era relativa. Pois o seu sorriso, que sempre lhe parecera tão forte e insistente, ameaçava espatifar-se ali mesmo.

Mika estava no chão. Ainda inteiro. Os cabelos, apesar de soltos, estavam sendo puxados com força por uma mão. Arie avançou sem pensar, colocando-se entre o menino e as crianças que o cercavam. Empurrou com urgência a dona da mão, que estava emaranhada aos fios castanhos do garoto.

— O que estão fazendo? - Esbravejou, indignada. 

— Estamos só brincando...— Uma das meninas deu de ombros, cínica.

— Puxando o cabelo? Isso parece ser uma brincadeira para você?

— Qual o seu problema? Ele é só um fantasma. A brincadeira não vai fazer diferença.

— Ele não é um fantasma — Arie a fitou, tomada pela raiva  - Ele é meu amigo!

Sem hesitar, chutou a garota com toda a sua força.