Lily, percebendo minha relutância em aceitar, pegou o celular e me mostrou um vídeo; era um menino dançando feito louco enquanto descia garganta abaixo uma garrafa de vodka pela metade. Não havia dúvidas. Era o Matheus naquele vídeo.

Disse–lhe que ia ao banheiro e já voltava. Lily me olhou preocupada. Na verdade, eu estava indo falar com Matheus.

Encontrei-o no pátio conversando com uns garotos. Pedi para falar com ele a sós; ele aceitou. Fomos até a cantina e sentamos numa das mesas.

Falei que sabia das bebedeiras. Avisei-o sobre a bolsa de estudos, que podia perder se não estudasse e dos pais, que precisavam dele para ajudar em casa. “Você não pode perder tudo o que já conquistou por causa da bebida. Aliás, como foi que conseguiu sair pra essa festa? Seus pais não deixariam.”

Ele revirou os olhos. “Em primeiro lugar, eu saí escondido. Em segundo lugar, a vida é minha. Engraçado que quando eu queria você, tu me dispensou, e agora corre atrás.” Ele deu uma risada arrogante. “É como dizem, ‘pisa que ela gruda’. Bem, vou indo, gata.”

Naquele momento, senti que eu era como um besante para o Matheus: bonito, mas sem valor.