Até a Próxima Noite escrita por Pandora Imperatrix


Capítulo 7
Uma Decisão Difícil


Notas iniciais do capítulo

Gratidão eterna à minha beta BelleUzumakiSan



Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/743602/chapter/7

 

 

"Eu poderia salvar o mundo, mas perder você.”

World War Three – Doctor Who

As palavras elogiosas de Naruto no Miya1 ecoaram por sua mente, potencializando os momentos finais de adrenalina após ter escapado por pouco da morte certa. A mente de Hinata mente recordava de forma vertiginosa os acontecimentos dos últimos seis meses, desde a notícia da morte de Chuugu2 Karin até seu casamento com Naruto no Miya. Lembrava-se de todos os detalhes das noites que se seguiram, do estranho som que ela por vezes havia escutado e agora se dava conta que era a risada do monstro, do fogo que havia desfigurado parte do corpo do Grão Príncipe...

Ela não entendia muito bem como, mas tinha certeza de que todos aqueles acontecimentos estavam interligados, e que os pontos se convergiam no surgimento do monstro. Não! Naruto no Miya parecia saber muito bem o que era aquela criatura. O monstro estivera sempre ali! Ela só nunca havia tido ciência de sua existência até aquele minuto!

E aquilo significava que...

Hinata sentiu as pernas vacilarem, e não viu o olhar alarmado que Naruto lançou em sua direção quando ela caiu de joelhos ao seu lado e se sentou no chão ao lado dele de uma forma displicente, de forma completamente destoante do modo gracioso com que ela sempre se portava na presença dele. Era daquela criatura que ela havia se defendido todas àquelas noites, não era? Ela nunca havia acreditado que Naruto no Miya seria capaz de executá-la friamente como ele mesmo e tantos outros haviam sugerido que aconteceria.

Nunca havia acreditado que estivera em perigo real...

Ela levou as mãos à boca para sufocar um soluço. Ela esteve errada todo aquele tempo. E talvez... Seu estômago contraiu e sua respiração se tornou ofegante ao perceber que a fé que havia tido em eu marido não havia saído ilesa depois daquele terrível golpe. Talvez estivesse errada sobre Naruto no Miya todo aquele tempo...  Talvez, e ela não queria de forma alguma acreditar naquela possibilidade, mesmo que a parte racional de seu cérebro lhe gritasse que aquela era a única conclusão possível a se retirar daquela situação. Naruto tivera a intenção de oferecê-la ao monstro.

Ela estava tão presa na própria espiral de sentimentos que não percebeu que ele havia se movido e agora estava ajoelhado de frente para ela. Seus olhos ,impossivelmente azuis, estavam arregalados de preocupação, e quando ele envolveu suas mãos trêmulas nas dele, tão maiores que as dela, tamanha foi sua surpresa que ela soltou uma exclamação.

— Hinata, você está bem'ttebayo?

— E-e-eu n-n-nã... – a frase dela de transformou em grunhidos sem sentido e as emoções sem forma que se amontoavam umas nas outras finalmente tomaram uma definição que Hinata podia processar. Tristeza, era esse o sentimento que naquele momento a tomava como um todo, a cobrindo como o véu que ocultava sua face no dia de seu casamento para que, agora ela sabia, seu marido não a reconhecesse e assim não simpatizasse com ela, não se culpasse pelo triste destino que aquela união representava. Ela se sentia triste, pois havia estado errada todo esse tempo. Havia depositado toda sua fé num homem que mal a conhecia e que até pouco tempo não deveria sequer se importar com ela. Hinata se sentia traída e a tristeza se mesclava com raiva, porque, que direito tinha ela de sentir assim? Naruto no Miya jamais tinha lhe dado qualquer motivo para tamanha devoção, eles tinham sim uma história compartilhada e ela tinha, por toda sua vida, se espelhado nele, mas nunca houve um momento em que ele havia dado a entender que ela era de alguma forma especial.

Ela sentia vergonha do modo como havia se comportado, do modo como estava agindo agora, voltando ao patético gaguejar e tropeçar nas próprias palavras sem ser capaz de dizer nada, sua única vitória havia sido não se desfazer em lágrimas na frente dele. Não que lhe faltasse vontade, mas estava tentando de todas as formas se agarrar às migalhas de dignidade que ainda lhe restavam.

— Hinata, respire. Você está pálida. Eu devo chamar alguém? Céus! – Ele trouxe as mãos dela aos lábios, e a cena que outrora a teria elevado no ar de felicidade, só fazia a ferida em seu coração arder com mais intensidade fazendo com que ela, por pouco, não puxasse as mãos que estavam em poder das dele. – Onde estão os serviçais afinal'ttebayo?!

— D-denka³... – ela umedeceu os lábios, percebendo agora o quão seca estava sua boca após passar a noite inteira tentando salvar a própria vida usando a única arma que tinha em mãos: uma estória. – Nós d-dissemos para que corressem, se l-lembra? Devem ter fugido ao ver o estrago que a raposa fez.

Sem largar as mãos de Hinata, Naruto girou a cabeça por cima do ombro e viu o estrago que havia sido feito do prédio recém-reconstruído, as paredes estavam intactas, felizmente, mas boa parte do teto teria que ser refeito. Ele suspirou, se continuasse assim, ele logo estaria devendo dinheiro à coroa. Sua sorte era, pensou ele dando um leve aperto nas mãos de Hinata que ainda pareciam um pouco geladas em comparação às suas, que ele havia se casado com uma mulher rica.

— Acho que teremos que ir sozinhos para o Shishinden4. Acha que consegue andar?

— Não se preocupe, eu estou bem.

A frase saiu num tom mais áspero que ela havia planejado e ele ficou visivelmente surpreso, o bastaste para deixar que as mãos dela caíssem suavemente no colo coberto de seda.

E então ele sorriu, mas embora o sorriso tenha tido o efeito costumeiro de deixar Hinata um pouco sem ar, ela averteu os olhos.

— Claro que minha Hinata está bem! Depois de como ela tão brilhantemente nos salvou esta noite, porque não estaria dattebayo?!

Se ele ficou sentido com o fato de que ela nada respondeu ao elogio ou nem ao menos retribuiu o sorriso, ela não sabia. Naruto nada disse, apenas levantou-se e ofereceu as mãos para ela se levantar, que Hinata aceitou graciosamente, se pondo de pé. Mas, para sua surpresa, ele não findou o contato e entrelaçou os dedos aos dela de forma que, mesmo com o mundo tendo se transformado aos olhos de Hinata, um observador desavisado diria que estavam na mesma posição que haviam estado no início daquela noite que, a cada raio de sol a iluminar as pinturas douradas nas paredes, ficava mais para trás.

— Vamos, precisamos contar ao resto do Palácio a triste notícia que estamos vivos e que não foi dessa vez que eles se livraram de mim.

Ela se deixou guiar, ficando um passo atrás dele, encarando suas mãos entrelaçadas a sua frente. A mão dele lhe parecia tão sólida, tão segura, mas ela sabia agora que não podia presumir coisas.

— Eles não vão fazer perguntas? S-sobre o que aconteceu... Alguém com certeza deve ter visto algo.

— Eles provavelmente vão dizer que eu pus fogo na minha casa de novo ou algum disparate de tipo. Eu sinceramente não me importo mais com o que dizem de mim, mas – ele parou abruptamente e antes que Hinata pudesse frear seus movimentos, sentiu seu corpo se chocar contra o dele. Mas Naruto não se afastou imediatamente, ele a envolveu, amparando o corpo dela contra o seu. O coração de Hinata batia tão forte que ela tinha certeza que ele deveria estar escutando. Suas mãos apertaram com força as dobras do haori5 de seda dele, e ela sabia que se soltasse, provavelmente iria cair tão inúteis haviam se tornado suas pernas. Ela nunca havia estado tão próxima de um homem antes, e, mesmo com todos os sentimentos contraditórios a permear suas preocupações, não se deixa de amar e de se sentir terrivelmente atraída por um homem por quem seus sentimentos se arrastam por anos e anos de uma hora para outra.

As mãos de Naruto subiram pelos ombros de Hinata e ela sentiu um arrepio quando elas roçaram em seu pescoço, se lembrando do medo que ela havia sentido da última vez que ele a havia a tocado ali. Mas para a sua surpresa, elas não pararam naquela parte de sua anatomia. Permaneceram subindo até o rosto, que ele segurou inclinado ligeiramente para cima. Os movimentos de seu marido estavam longe de serem ameaçadores como outrora, o olhar macio e quente lhe fazia se sentir segura e querida mesmo que a voz em sua cabeça gritasse que ela era uma tola e estava se deixando enganar novamente.

— Como é que você não está fazendo perguntas? Monstro gigante aparece dizendo que vai te engolir numa só bocada, você tem a estória certa para entretê-lo e salvar nossas peles, e não só isso, o desafia diversas vezes numa demonstração de coragem muito maior do que as que eu já vi no campo de batalha. A situação é resolvida de uma forma tão fantástica quanto possível e, logo você, minha contadora de estórias, não tem nada a dizer dattebayo?

Ela demorou alguns segundos para responder, se lembrando que precisava respirar para conseguir falar.

— Não é necessário que vossa alteza me dê qualquer explicação.

Ele franziu o cenho e se afastou, deixando as mãos cair e Hinata descobrir que, para seu enorme alívio, suas pernas haviam voltado a funcionar.

— Mas é claro que é necessário'ttebayo! Eu sou o que? Só seu Príncipe? Hinata, eu achei que nós...

O coração dela voltou a acelerar e o efeito daquelas palavras havia agido de tal forma que ela deu um passo em direção a ele.

— O que vossa alteza a-achou?

Mas ele nunca teve tempo de responder, pois naquele momento entrou um séquito de cortesãos acompanhados de guardas do Palácio. Todos muito surpresos com o fato de que eles estavam vivos e aparentemente sãos. Alguns, em especial as damas que assistiam Hinata, muitíssimo aliviadas e outros com mal contida decepção. Passado o primeiro momento de confusão, Naruto deu meias explicações para apaziguar os ânimos e ordenou silêncio antes de se voltar para a esposa.

— Hinata, eu vou contar tudo a você, eu prometo. Mas agora, vá descansar um pouco... – então ele completou em voz alta. – Quero que minha esposa seja bem-cuidada até a hora em que eu a chamar, cancelem todos os compromissos marcados para ela hoje, não quero que ninguém a incomode.

Mas Hinata jamais conseguiria descansar sozinha depois de tudo que aconteceu, mesmo correndo o risco de envergonhar seu marido na frente dos servos e se passar por uma mulher sem virtudes e jogar o nome de sua família na lama, Hinata agarrou a manga de seda de seu haori mais uma vez.

— N-não.

— Hinata?

— P-por favor, senhor meu marido. Eu estou bem, não estou cansada.

Ela não podia negar ter sentido um pouco de apreensão. Um dia atrás, ela sabia que seu marido não era como os outros homens, que ele jamais a disciplinaria na frente dos criados por tê-lo desafiado, mas agora, ela não tinha certeza de mais nada.

Mas, para seu enorme alívio, ele, cuidadosamente envolveu a mão que o segurava com a mão livre.

— Você tem certeza?

— Sim.

— Certo... – ele se virou para os cortezões. – Mudança de planos, minha esposa e eu ficaremos a sós aqui por mais tempo. Tragam mais chá e comida fresca, levem o que está aqui e limpem essa bagunça. Depois quero que saiam todos e quem bisbilhotar será feito de exemplo.

Hinata virou o rosto e cobriu a boca com a mão para esconder um bocejo.

— Tem certeza que não prefere deixar essa conversa para depois?

Hinata voltou o olhar para ele, seu rosto quente. Naruto no Miya tinha um sorriso divertido meio escondido pela xícara de chá.

Ela pegou a própria xícara, sentindo o calor reconfortante contra suas mãos e o aroma característico o oolong6 lhe deixar mais relaxada.

— Denka-sama... O que era aquela criatura?

Ele estranhou.

— Mas isso eu achei que você tivesse identificado na mesma hora’ttebayo. Era uma kitsune7, você mesma disse.

— Mas...  – Hinata hesitou – eu achei que todas haviam morrido.

— Quem dera! – exclamou ele colocando a xícara sobre a mesa. – Não. Aquele monstro que você viu está vivo e é bem real.

— Mas como?

Ele suspirou e se moveu para uma posição mais confortável de pernas cruzadas e uma mão apoiada no joelho.

— Eu não sei por onde começar... O começo seria o óbvio, mas têm dois começos possíveis... Bem, vou começar onde toda essa confusão começou, do meu ponto de vista. Eu e o Teme estávamos explorando as ruínas do palácio antigo na ala sul, ele estava pensando em reformar e me levou junto para ver como aquilo tudo estava.

— D-desculpe, vossa alteza estava com quem?

Ele corou e depois sorriu.

— Sasuke-teme, é claro! – Ele riu dos olhos arregalados dela. – Oh Hinata, nós devíamos ter chamado você mais vezes para brincar quando éramos crianças, não estaria tão surpresa agora.

“Mas aonde eu estava? Sim, eu e Teme nas ruínas. Nós nos separamos para cobrir mais terreno, eu cheguei a um lugar que ninguém estava entrando e quando eu perguntei o que era, só me disseram que era uma antiga cozinha, mas aquilo não parecia em nada com uma cozinha e sim uma espécie de templo. Eu não queria entrar lá e nem ia, mas tinha uma voz me chamando, uma voz que prometia que ia fazer coisa horríveis à minha família se eu não entrasse lá. Bem, eu não acreditava em nada do que aquela voz dizia, mas ninguém ameaça o Sasuke na minha frente e sai impune, então eu entrei. Hinata... não tinha ninguém. Eu tinha duas alternativas: ou eu estava louco e tinha imaginado a voz ou era um fantasma e, sinceramente? Eu não estava muito confortável com nenhuma das opções.

“Eu gritei ameaças a quem quer que estivesse escondido me pregando uma peça e revirei o lugar procurando o culpado, mas não tinha ninguém. A voz voltou a falar comigo, mas, dessa vez, eu não encarei com tanta coragem como no início e me envergonho disso. As ameaças agora se focavam em mim e eram bastante explícitas, você ouviu como ele falou com você mais cedo, sabe que não é fácil ouvir aquelas coisas... Pois bem, a voz disse que só me deixaria ir se eu desenhasse nove caudas na pintura de raposa que tinha na parede. E foi naquele momento que eu reparei na pintura. Era muito antiga, mas eu reconheci de primeira meu avô Harogomo nela e, aos pés dele, dócil como um cachorrinho, uma raposa.

“Eu disse ao espírito: Mas não há tinta’ttebayo! E, com uma cortina de fumaça, surgiu a partir do nada, pincel e tinta. Eu ainda fiquei um pouco apreensivo, mas, no final, decidi que o pedido não era nada demais. Mesmo que aquele fantasma tivesse me ameaçado e ao Sasuke-teme, que mal poderia acontecer? Hinata, quando as pessoas dizem que eu sou burro, elas não sabem de nada.

“Você pode adivinhar o que aconteceu em seguida, eu libertei a raposa e na mesma hora ela me atacou. Sasuke ouviu meus gritos e veio correndo, eu pensei que estava tudo acabado, nenhum dos dois estava carregando espadas, para quê carregaríamos? Achávamos que estávamos seguros dentro do palácio. Mas, para nossa surpresa, os ataques da raposa não surtiam efeitos fatais, ao que parecia, ela era incapaz de nos matar. Quando percebemos isso, corremos para fora do templo e achávamos que, embora a raposa pudesse destruir todo o palácio, não seria capaz de matar ninguém.

“Como estávamos errados’ttebayo. A primeira coisa que ela fez quando pulou para fora atrás de nós dois, foi matar um dos servos que havia ouvido nossos gritos. Eu e Sasuke não sabíamos o que fazer, então ele gritou para outro servo ir buscar Kakashi-sensei. Afinal, ele é o sumo sacerdote e deveria saber alguma magia para neutralizar o monstro. E, embora me doa dizer, como com frequência acontece, Sasuke estava certo e a fera foi neutralizada. No momento achávamos que era para sempre, mas logo depois Kaka-sensei explicou que não era bem assim. Que a fera se tornava mais fraca durante o dia pois seus poderes vinham da lua e por isso o selo havia funcionado, mas que ela voltaria a criar confusão naquela mesma noite.

“Ele contou que nosso avô Harogomo havia a selado anos e anos atrás e que antes disso, tinha enganado o monstro ao fazer um contrato para que ele jamais ferisse alguém de nosso sangue. Nós pedimos então para que ele selasse a criatura como nosso avô tinha o feito, mas ele disse que não tinha poder o suficiente para tanto. Sugeri então que a gente mandasse o pergaminho para bem longe, onde a raposa não poderia machucar ninguém, mas Kakashi-sensei explicou que, como eu tinha libertado a raposa, estava agora ligada a ela para sempre.”

Hinata cobriu a boca com as mãos. Ela sempre havia amado estórias fantásticas, mas aquela história que Naruto no Miya lhe contava era real. Ela havia tido prova somente algumas horas atrás. O sono havia desaparecido, o sangue corria rápido por suas veias, o que mais assustava naquela história era que não tinha final, estava acontecendo naquele exato momento em que a criatura, apenas alguns metros dos dois, presa no pergaminho ainda caído no chão, os aguardava, talvez ouvindo tudo que diziam.

— Sasuke perguntou como ninguém nunca havia contado nada daquilo para ele. Kakashi-sensei disse que Fugaku-ji-sama e Too-chan haviam decidido que era melhor que fosse segredo, eles nunca haviam achado que alguém fosse idiota o bastante para libertar a raposa, tinha uma kekkai e tudo em volta do templo para que as pessoas o ignorassem... – Naruto suspirou. – Eu sou uma desgraça para esta família, para este país... Eu sinto muito que você esteja presa a alguém como eu que nem ao menos pode te defender, Hinata...

Ela se levantou e andou até ele do outro lado da mesa, se ajoelhou ao seu lado e tocou o rosto dele meneando-o em sua direção com a mão. Ele ergueu o olhos, buscando os dela.

— Não fale assim, por favor.

Ele colocou a mão sobre a dela e fechou os olhos por alguns segundos.

— Eu sei que você está magoada comigo, tem motivos para estar e eu não peço desculpas, pois não as mereço.

— Denka...

— Naquela noite o monstro voltou. Ele exigia a morte de uma noiva, disse que se um de nós não casasse logo, ele iria devorar as noivas dos servos e pessoas comuns, disse que colocaria fogo no palácio e fora dele. Hinata, – ele tirou a mão dela de seu rosto, mas não largou – o que nós poderíamos fazer? Sasuke tratou de casar com a Karin e depois você sabe o que aconteceu...

“Depois disso, decidimos que não poderíamos deixar aquilo acontecer outra vez. Sasuke resolveu sair pelo mundo em busca de uma solução para o enorme problema que tínhamos em mãos, e eu fiquei para trás, não fazendo absolutamente nada de útil como o grande desperdício de espaço que eu sou. E para completar, depois eu arrastei você para essa confusão! Porque eu sempre posso piorar as coisas, não é mesmo? Esse é meu grande talento dattebayo!”

— Naruto no Miya, p-por favor, pare com isso!

— Mas é verdade, não é? Eu ia deixar aquele monstro te devorar. Hinata, eu disse todas aquelas coisas sobre o seu pai e a verdade é que eu estou longe de ser melhor do que ele. Se você não tivesse sido absolutamente brilhante e começado a contar estórias, estaria morta. Eu teria perdido você seis meses atrás, e nesse tempo, quantas não teriam morrido?

Ele segurava a mão dela com força, e Hinata via tanto fogo, mágoa e arrependimento em seu olhar, que naquele momento ela percebeu que havia sido tola. Como havia duvidado? Como havia acreditado que um homem que havia ficado tão transtornado com a ideia de lhe dar como sacrifício iria mesmo fazer tal coisa?

— Eu não acredito.

— Como?

— Não acredito que vossa alteza iria mesmo me dar em sacrifício.

— Hinata, você não ouviu nada do que eu disse?

— N-no primeiro dia. Eu me lembro de como vossa alteza reagiu quando fomos deixados aqui, neste mesmo quarto. Eu não acredito que aquela pessoa tão cheia de raiva pelo pai, que julgava ter vendido a filha, iria mesmo me dar em sacrifício. Esse braço – ela tocou com a mão livre o braço enfaixado de Naruto – é prova que vossa alteza tentou de alguma forma me defender, defender a todos dentro do palácio e fora dele, e quase morreu fazendo isso. E essa é a única parte pela qual eu não te perdoo, porque eu quase o perdi... – a voz dela falhou na última palavra e ela sentiu um bolo formar em sua garganta ao recordar o tempo em que havia sofrido na cabeceira de seu marido quando tudo indicava que ele não iria sobreviver. – E por último, ontem mesmo à noite, vossa alteza tentou a todo momento me defender do monstro. Então, não, Denka-sama, eu não acredito que iria mesmo sacrificar-me e mesmo se assim fosse, eu te perdoaria, porque entre a minha vida e a de milhares, não é uma escolha difícil.

— Não.

— Como?

— Não é uma escolha difícil, Hinata, é uma escolha impossível. E eu prometo agora que jamais vou sequer pensar em escolher a alternativa fácil. Que nunca mais vou colocar sua vida abaixo da de ninguém. Você é minha mulher, minha família, e eu vou fazer de tudo para te proteger de agora em diante dattebayo.

Ela não sabia o que dizer depois daquilo. Seu coração estava disparado e ele a olhava com tanto fervor que ela sentia não só seu rosto, mas todo o seu corpo esquentar. E quando ele voltou a se mover, ela engoliu em seco em expectativa, mas ele apenas se levantou.

— Agora você já sabe toda a história. Deve estar cansada, vou chamar alguém para te levar de volta para a Ooku8.

— Denka-sama...

— Não Hinata, eu fui indulgente porque estava, aliás, estou em dívida com você. Mas decidi que tenho que cuidar de você como você tem cuidado de mim todo esse tempo. Venha – ele mais uma vez ofereceu as mãos para que ela se levantasse e ela aceitou – você precisa descansar.

E dessa vez ela não protestou.

Para sua surpresa, Hinata mesmo com a cabeça cheia e o corpo formigando após ter experienciado tantas situações tensas, de fato, havia conseguido pegar algumas horas de sono depois que havia sido levada para a Ooku. Então, quando caiu a tarde, ela passou de novo por todo o processo de ser banhada e vestida para depois ser deixada, como de costume, por suas damas de companhia e guardiãs um passo a dentro do pórtico de entrada dos aposentos nupciais na residência do Grão Príncipe. E, antes de prosseguir através dos véus que cobriam a parte mais elevada do quarto, onde seu marido estaria, ela deu uma última conferida em suas vestes e penteado, jurando para si mesma que era apenas porque uma princesa deveria sempre se mostrar o seu melhor, e não pelo modo como seu marido a olhava ao vê-la entrar com aquele kimono feitos de tecidos diáfanos.

Controlando o nervosismo que ainda permanecia a cada noite, mesmo que já tivesse passado metade de um ano desde que ela havia começado a viver daquela forma, se esforçando ao máximo para que cada noite não fosse a última, ainda mais agora que ela estava completamente ciente do risco que corria, ela atravessou os véus.

Diferentemente do usual naqueles últimos meses, ele não estava em seu assento estofado de seda e sim de pé andando de um lado para o outro. Assim que a viu, ele a puxou pela mão com um dedo colado aos lábios, quando ela fez menção de falar algo. Ele pressionou o dedo com mais força contra os próprios lábios e arregalou os olhos com uma expressão urgente. Somente quando eles estavam bem longe de onde ela sabia que o monstro ficava escondido que ele finalmente falou num tom bem mais baixo que o de costume.

— Boa noite, Hinata.

E ele de fato a olhou daquela forma.

Ela fez uma pequena reverência.

— B-boa noite, denka-sama.

“Shhh” ele fez levando o dedo aos lábios mais uma vez como se o tom de voz dela normal não fosse bem mais baixo que o baixo dele.

— O que vossa alteza fez? – Perguntou ela num cochicho.

— Nada! — Ele respondeu, ainda alto demais para ser considerado um cochicho de fato para qualquer pessoa com uma audição normal.

— E o monstro?

— Ele? Digamos que, com sorte, ele não deve nos perturbar por essa noite — ele mexeu as sobrancelhas significativamente e ela se sentiu corar da cabeça aos pés.

— Denka-sama... O que realmente aconteceu?

— Você é muito desconfiada, ‘Nata. Ele só encheu a cara, foi isso.

— Só isso...?

— Certo, certo. Eu não consigo esconder mais nada de você mesmo dattebayo. Pode ser que eu tenha feito uma aposta de que ele não conseguiria beber tudo que estava na adega do Teme, e ganhado.

Ela pestanejou, perplexidade tomando seu corpo por completo.

— Ele está... bêbado?

— Sim! Brilhante, não é? E eles dizem que eu sou o primo burro!

Ela não pôde se conter e levou uma das mãos a boca para esconder o riso.

— Muito melhor’ttebayo!

— C-como?

— Você está sorrindo. Mais cedo, eu fiquei com medo de que você nunca voltaria a fazê-lo na minha presença. Não depois do que eu te contei. – Ele a guiou pela mão de volta até a mesa. – Vamos, sente-se, não sei se eles te alimentaram, mas eu estou faminto. Passei o dia inteiro tendo que dar explicações para o que aconteceu – ele bocejou alto ao se sentar – não consegui afanar sequer um minuto de sono. Como se já não bastassem as questões que eu tenho que ficar resolvendo enquanto o Teme não traz o traseiro real dele com uma solução, ainda tenho que ficar inventando histórias mirabolantes para encobrir a verdade sobre a raposa. Eu não te disse antes, porque sinceramente não tenho coragem te pedir mais nada, mas Hinata, a existência da raposa é segredo. Se a Nuvem ficar sabendo que temos uma ameaça deste tipo dentro do palácio, eles vão atacar e não sei o que será de nós...

— Não deve se preocupar com isso, este é meu país também, e eu sou Princesa do Fogo, tenho o dever de proteger esta nação com a minha vida.

Ele sorriu.

— Se o Teme não fosse o Imperador, eu diria que você faria uma boa Imperatriz, Hinata.

Ela corou e quase deixou a comida em seus hashi cair.

— N-não sou digna de tamanha honra.

— Há! Ele que nunca seria digno de você’ttebayo! – Ele riu. – Não que eu seja muito melhor... – terminou a frase num suspiro pesado.

Eles continuaram a jantar em um semi-silêncio, trocando apenas algumas amenidades e depois, quando Naruto no Miya chamou os servos para levarem a refeição. Hinata sentiu uma bolha de nervosismo começar a crescer em seu estômago. Pela primeira vez desde a primeira noite, ela não tinha um plano para noite, ela não sabia nem ao menos as possibilidades do que deveria acontecer. Então, por falta de melhor alternativa, ela resolveu agir como se fosse uma noite qualquer.

— Onde paramos?

— Não’ttebayo – disse ele com um enorme sorriso que Hinata não conseguia desvendar. – Você não precisa fazer isso esta noite. Não me leve a mal, eu amo suas estórias e quero muito saber o que vai acontecer com o Gaara e o Tanuki, mas essa é minha primeira noite a sós com você em que eu não tenho que fingir nada... Me disseram que você aprendeu a dançar em Suna, é verdade?

Hinata engoliu em seco e umedeceu os lábios antes de responder.

— S-sim.

— Você pode me mostrar? Se você quiser, é claro. – Ele adicionou a última parte rapidamente.

Hinata sentiu o coração inflar, que outro homem pediria algo a ela em vez de exigir? E se ela quisesse! É claro que ela queria, mas não sabia que conseguiria, não confiava em seu corpo para fazer nada gracioso enquanto ele a olhava daquela forma.

— M-mas não tem música.

Ele sorriu.

— Eu cantaria para você, mas acho que você não iria gostar. – Ele gargalhou e depois de lembrou que não deveria estar fazendo muito barulho, tapando a boca com força, ambos ficaram em silêncio por alguns segundos, apreensivos. – Mas se você não quiser podemos fazer outra coisa...

E talvez tenha sido o modo como ele disse aquilo ou como ela se tornou subitamente consciente de que ela ainda estava casta depois de seis meses de casada que Hinata se levantou de supetão.

— N-não! Eu quero!

Ele fez de conta que não viu o lábio dele tremer como se tivesse prendendo o riso.

Por Amaterasu9, o que diabos ela dançaria para ele?

Ela ficou um tempo vergonhosamente longo em pé diante dele com o que ela suspeitava ser uma enorme cara de pânico, quando Naruto se levantou e foi até ela.

— Hinata, você realmente não precisa fazer isso se não quiser’ttebayo...

Mas tinha uma parte dela que queria. Tinha uma parte dela que queria muito. Ela só precisava de coragem. Disso e que ele fechasse os olhos e nunca mais olhasse para ela.

Ela respirou fundo e recuou, então ela fechou os olhos, muito melhor, por anos havia desejado o olhar dele, mas naquele momento não suportava tê-lo sobre si. Ela se virou de costas ondulando o corpo e começou a imaginar a música que mais gostava de dançar. Era a parte final de uma dança sobre uma donzela que havia reencarnado como uma garça, a dança em sua totalidade deveria contemplar as quatro estações, mas Hinata tinha apego a parte final e mais dramática que se passava durante o inverno. Ela emulava os movimentos da garça, protruindo lentamente seus pés e tornozelos pela abertura do kimono, seus braços semi-abertos ao seu lado, as mãos fazendo os gestos ondulantes do bater de asas, brincando com as longas mangas de seu kimono. Conforme se movia, tentava replicar o desespero da jovem que havia sofrido os horrores do inferno e mesmo assim não superava sua existência anterior tal grande havia sido sua mágoa ao ser traída por seu grande amor. Hinata girava com as batidas do tambor que somente ela podia ouvir e jogava seus cabelos para trás imaginando-se perseguida pelos flocos sufocantes de neve que encharcavam suas roupas e a deixava mais cansada, exausta demais para voar. E então, no que seria a cena final, em que a jovem reencarnada em garça desiste de lutar e se deixa cair, se deixa morrer, quando Hinata deixou seus próprios joelhos vacilarem e seu corpo se inclinar para trás, ela não encostou no chão, havia um par de braços a lhe segurar.

Ela abriu os olhos os arregalando, assustada, havia sido completamente tirada de seu personagem, a música em sua cabeça havia silenciado, tudo que ela conseguia ouvir era o bater alucinado de seu coração ao ver o rosto de Naruto no Miya tão próximo ao seu.

— Me desculpe’ttebayo! Eu pensei que você ia cair e... Você está bem?

Ela conseguia sentir o cheiro do crisântemo no hálito dele, seu peito subia e descia pesadamente, ela arfava, mas não ousava se mover.

— S-sim.

Com ajuda dele ela foi erguida, mas as mãos dele não deixaram sua cintura e eles não se distanciaram.

— Eu nunca vi ninguém dançar assim, isso foi bonito – a voz dele estava baixa e muito próxima e mais próximos eles ficaram quando ele a trouxe para mais perto pela cintura e Hinata sentiu calor se espalhar por seu corpo ao erguer os olhos e perceber que os dele também não estavam direcionados para seus olhos, mas para um ponto mais abaixo.

— Obrigada – ela suspirou, suas mãos que haviam usado o peito dele de apoio para se erguer, ainda continuavam no mesmo lugar.

— Hinata... – ele encostou a fronte à dela. — Eu posso?

Ela achou que ele nunca iria perguntar.

— Sim.

E então, Naruto no Miya beijou sua esposa pela primeira vez.

No começo foi um tímido tocar de lábios. Parecia que ele estava com medo de que ela fosse mudar de ideia a qualquer momento, mas, quando ele fez menção de se afastar tão logo havia a tocado, Hinata o segurou com força pelas vestes. Ainda de olhos fechados, ela ouviu ele soltar um som que parecia um misto entre um pequeno riso e algo gutural, então ele voltou, dessa vez por inteiro. O toque em sua cintura mais firme, uma mão lhe envolvendo o rosto, inclinando-a gentilmente para um ângulo melhor a fim de aprofundar o beijo. Os lábios dele passaram a exigir tudo dela e ela a tudo dava, para ele, ela jamais negaria coisa alguma. E quando a língua quente pediu passagem, ela entreabriu os lábios e sentiu a onda de eletricidade eriçar pelos de todo seu corpo quando ele a tocou no céu da boca. E depois de uma eternidade e tragicamente cedo, ele se afastou, não subitamente, mas com pequenos beijos do adeus que ela pediu aos céus que fosse breve. E, para seu alívio e deleite, assim foi, pois os beijos se seguiram, incessantes, noite a dentro.

1 - Naruto no Miya:"no Miya" é como se faz referência ao príncipe.

2 - Chuugu: Imperatriz.

3 - Denka-sama: Modo de se endereçar ao príncipe territorial.

4 - Shishinden: onde ficava a sala do trono e, em alguns casos, os aposentos do Imperador.

5 - Haori: é uma jaqueta tradicional japonesa com mangas largas e gola estreita.

6 - Oolong: é um chá chinês tradicional, situado entre o chá verde e o chá preto em termos de oxidação

7 - Kitsune: Raposa do folclore japonês, podem ser benignas ou traiçoeiras, Kurama não é do primeiro tipo.

8 - Ooku: lugar onde o imperador mantinha as mulheres ligadas a ele, Imperatriz, concubinas e a mãe dele etc.   

9 - Amaterasu: deusa xintoísta do sol.


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!


Notas finais do capítulo

Então pessoal eu estou em hiatus porque preciso escrever meu TCC e esses 5,4k de fic que vocês acabaram de ler são prova da minha falta de caráter. E são 5,4k que até para mim, a autora, foram uma montanha-russa de acontecimentos e emoções. Finalmente chegamos as grandes revelações e ao tão esperado beijo! Se isso fosse um dorama (e eu não finjo que não seja escrito pensando nas estruturas de um) estaríamos no episódio 10 de 16 XD Então siiiiim, estamos no final da fic! Mas calma, ainda falta tanta coisa para acontecer ainda temos três capítulos e, quem sabe, um epílogo.

Espero que vocês tenham gostado da estória que Naruto contou neste capítulo, foi uma mistura do que eu tinha imaginado e cópia descarada de My Girlfriend Is A Gumiho, mas eu tive que cortar a parte em que Naruto no Miya se prendia dos cabos de uma tirolesa e a Kyuubi se sentava embaixo dele de boca aberta esperando ele cair pra ela comer XDD PELO AMOR VEJAM ESSE DORAMA É HILÁRIO.

E espero que vocês tenham gostado também do romance que foi pesado nesse capítulo, essa cena de beijo foi a cena de beijo mais gráfica que eu escrevi desde que eu apaguei Meu Lar, teve um momento em que eu literalmente entrei em desespero e joguei no google “how to end makeout scenes” I shit you not. Não achei nada muito útil btw.

Outra coisa que eu achei muito importante neste capítulo foi a Hinata começar a ver Naruto de uma forma mais humanizada, ela tiram um pouquinho dos óculos cor-de-rosa, mas claro que meu menino é maravilhoso e continua maravilhoso sem o s óculos cor-de-rosa, mas foi algo importante para o crescimento do personagem da Hinata. Eu ia colocar na abertura The Ubiquitous Mr. Lovegrove do Dead Can Dance em referência a isso e a dança da garça (que aliás é real e se chama Sagi Musume – Garça Donzela – e é uma dança do Kabuki), mas acabei indo de Doctor Who, uma quote do 9th Doctor que é um tiro nos feels. Aliás, se vocês acharem que o Naruto tá ligado no canal 10th Doctor não é só impressão. Os dois são personificações antropomórficas de Golden Retrievers mesmo.

E é isso pessoal, até sabe lá deusa quando porque eu REALMENTE preciso escrever meu TCC.

Beijinhos.



Hey! Que tal deixar um comentário na história?
Por não receberem novos comentários em suas histórias, muitos autores desanimam e param de postar. Não deixe a história "Até a Próxima Noite" morrer!
Para comentar e incentivar o autor, cadastre-se ou entre em sua conta.