Operação Cinderela escrita por Lily


Capítulo 8
7. Felicity




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F E L I C I T Y

Coco Chanel uma vez disse, “Uma mulher precisa de apenas duas coisas na vida: um vestido preto e um homem que a ame”. Felicity tinha um vestido preto, mas não o homem que a amava. Sua vida amorosa  era uma coisa inacreditavelmente complicada, seu primeiro namoro sério foi aos quinze anos, durou apenas dois dias antes dele a trair com sua prima, seu segundo namorado só apareceu na época da faculdade, ela o conheceu em seu primeiro ano e o segundo dele, para Felicity ele era o mundo, seu mundo, nunca havia conhecido ninguém como ele antes. Dizem que o coração sempre sabia quando é amor, o seu sabia desde de o momento em que ela pôs os olhos nele.

Mas como sua sorte nunca havia sido boa,  seu namoro de quatro anos terminou de forma cruel, ela odiava falar sobre aquilo, sobre como havia sido humilhada. Preferia manter aquilo escondido apenas para si mesma, nem sua mãe sabia, porque se soubesse já teria ido tirar satisfação e, como diz popularmente, feito barraco. E seguindo a saga de apenas se apaixonar pelo cara errado, Felicity conheceu Cooper, seu infeliz noivo, eles ficaram juntos por apenas seis meses antes de decidirem se casar, era óbvio que algo daria errado naquele casamento relâmpago. Seu azar se mostrou ainda forte quando no dia do casamento, na porta da igreja, Cooper foi preso por falsificação de documentos e revenda de produtos ilegais. O azar parecia encravado nas suas veias.

Então quando arranjou o trabalho na Vênus e começou a entender ainda mais o universo feminino, percebeu que às vezes não precisamos de um homem que nos ame, um vestido preto já bastava.

—Sobre ontem, eu assisti a matéria ao vivo. - Curtis disse assim que ela se sentou em sua cadeira. - Toda a redação assistiu.

—Então você viu o que a minha adorável noiva aprontou.

—Com certeza. - ele afirmou sem conter o sorriso. - Ela parece ser bem louquinha.

—Caitlin é apenas...despreparada. Ela ainda não sabe o que está fazendo aqui, não tem a menor ideia de como se comportar no meio das outras.

—Own, ela é como um bebê. - Curtis a observou fazendo um bico.

—Um bebê muito mal educado e que não consegui segurar a língua na boca. - disse arrancando uma risada do amigo. - Cacatua, não sei de onde ela tira esses apelidos.

—Vocês foram feitas uma para outra. - Curtis falou, Felicity mostrou a língua para ele.

—Ainda tem muita coisa para acontecer, você vai ver, Curtis. Esse vai ser o melhor web reality do mundo. - disse sorrindo para si mesma.

—Tenho certeza que vai, principalmente quando as provas começarem e elas tentarem se matar.

Felicity revirou os olhos sem se importar, aquelas mulheres tinham classe o suficiente para manter a educação e não saírem no tapa uma com a outra. Pelo menos ela achava isso.

A manhã passou rapidamente sem grandes problemas, ela não andava tão atarefada como os outros, já que seu posto como madrinha lhe rendia horas vagas para se dedicar a sua noiva, mas foi apenas depois do almoço que ela recebeu o email com o memorando, nele continha as regras da competição e todas as provas que as noivas passariam, Felicity leu tudo atentamente, precisava saber todas as regras para ajudar Caitlin, elas tinham uma chance de ganhar e iriam. Copiou todas as regras e enviou para o email de Caitlin, então se pois a analisar a primeira prova, seria um jogo de perguntas e respostas sobre conhecimentos gerais, tudo seria gravado em um estúdio na quinta e postado no site e no canal do YouTube no sábado. Felicity sabia que Caitlin era inteligente o suficiente para isso, mas ainda precisava conversar com ela, da última vez que havia deixado algo por conta de Caitlin as coisas não haviam dado certo.

Abriu o aplicativo de mensagem no celular e digitou rapidamente para Caitlin.

Você pode me encontrar no café Royal hoje as quatro? (13:47)

Não posso, reunião de pais e professores. Mas vou estar em casa às seis, quer ir lá? (13:48)

Ok, te vejo lá. (13:48)

Felicity jogou o celular em cima de alguns exemplares antigos da Vênus, fechou os olhos cruzando os braços sobre a mesa e abaixando a cabeça. Sua cabeça rodava em um loop infinito de memórias, às vezes ela se remoía por dentro por ter cedido tão fácil, não era da sua natureza se render antes do primeiro assalto(?), mas naquele tempo ela não tinha muito o que fazer, ela era pequena diante deles. Sabia que sua vida seria muito o diferente se tivesse enfrentado ela, não apenas fugido com o raio entre as pernas como um cão sarnento.

Respirou profundamente, o anel em seu pescoço balançou, o toque gelado do ouro contra sua pele a despertou de suas ilusões. Se endireitou na cadeira pegando o anel que sempre estava preso ao cordão que ela carregava de um lado para outro, ele era simples, apenas um solitário normal. Ela nunca havia contando a ninguém a história por trás daquele anel. Não parecia certo, era quase como se profana-se algo sagrado, seria como deixar a única coisa que ainda era dela de verdade ir embora.

×××

Caitlin havia preparado uma seleta mesa de aperitivos, indo de tortilha de legumes à batatinhas ainda no saco. Tinha vinho tinto e refrigerante, bolo de frutas secas e pudim de chocolate. Felicity olhou para a mesa meio desesperada sem saber por onde começar, seu estômago roncou alto e ela percebeu que não havia comido nada depois do almoço.

—Você sabe cozinhar? - indagou colocando um pedaço do bolo no prato ao lado de alguns docinhos que ela não sabia o nome, mas que pareciam deliciosos.

—Não, são as sobras da reunião. - Caitlin deu se ombros colocando alguns batatas na boca. - O que os pais não comem a gente leva pra casa.

—Se eu soubesse que trabalhar em uma escola te dava comida de graça já teria entrado a um bom tempo. - disse voltando para o sofá com o prato e a taça de vinho.

—Tenho certeza que você não veio aqui apenas para comer, o que foi desta vez?

—Recebeu o email que eu te enviei? - Caitlin assentiu tomando um gole de vinho. - Bem, a primeira prova acontecerá nesta quinta e será sobre conhecimentos gerais, um jogo de perguntas e respostas.

—Puff...super fácil.

—Tomara, porque já estamos na corda bamba. - mastigou um pedaço do seu bolo enquanto deixava seus pensamentos voarem. - Quando eu vou conhecer o Ronnie?

—Ele vai chegar na quinta pela manhã.

—Ótimo, quando eu vier te pegar, conheço ele.

—Ronnie não mora aqui, o apartamento dele fica há uns dez minutos para o norte.  

Felicity assentiu, era estranho um relacionamento de cinco anos ou mais, ela ainda não tinha certeza há quantos anos Caitlin o conhecia, e eles ainda não morarem juntos.

—Quando vocês se conheceram?

—Na faculdade, amigo em comum. - Caitlin disse com a voz monótona, ela não parecia muito animada. - Somos meio que opostos em muitos sentidos, enquanto eu prefiro a paz e tranquilidade, Ronnie gosta da animação de estar em qualquer lugar com muitas pessoas.

—Você tem pânico de pessoas? - perguntou se lembrando da expressão de Caitlin no dia do chá.

—Não, apenas não gosto de ter muitas pessoas ao meu redor.

—Mas você é psicóloga, trabalha com pessoas.

—Eu sei, mas existe uma diferença entre a Caitlin psicóloga e a Caitlin humana. - ela disse esticando as pernas sobre o sofá, Felicity se encolheu deixando o prato na mesa e abraçando a almofada. - Quando eu sou a psicóloga consigo fazer e falar tudo, mas quando é apenas eu, me dá um pane no sistema, não consigo formular nenhuma frase coerente sem gaguejar. Isso é horrível.

—Você já procurou ajuda?

—Sim, quando era pequena fui a muitos psicólogos, mamãe tinha vários amigos nesse meio que tentavam me ajudar. Essa é minha sina, lidar com as outras pessoas, mas nunca comigo mesma. - Felicity sorriu em compreensão, Caitlin era realmente mais complicada do que ela imaginava. - Queria ser mais como você.

—Por que?

—Você parece tão decidida e determinada, parece saber exatamente o que quer. - ela disse com os olhos opacos, parecia estar em outra dimensão. Riu achando graça daquilo.

—Querida, eu não sou isso, eu mal consigo dar dois passos sem surtar mentalmente, sou tão bagunçada em todos os sentidos, as vezes acho que nunca conseguirei completar algo de verdade. Tenho tantos arrependimentos na vida.

—Você gostaria de voltar no tempo e mudar alguns detalhes, a maior parte das pessoas também deseja isso. Todos temos arrependimentos, alguns conseguimos conviver, outros são nossas cruzes. - Caitlin falou em um tom formal, era como se o modo psicóloga estivesse acionado. - Seria muito invasivo se eu perguntasse o que você mais se arrepende?

Negou com a cabeça e disse.

—Tinha um cara, eu conhece ele na faculdade, namoramos por um bom tempo, até cinco anos atrás coisas acontecerem e eu tive que me afastar dele, nunca disse a verdade para ele, acho que ele me odeia até hoje. - sentiu o peso do anel sobre seu peito, o pegou mostrando para Caitlin. - Ele havia me pedido em casamento uma semana antes, eu tinha dito sim.

—Você ainda ama muito ele, se não já teria devolvido o anel. - Caitlin concluiu, ela assentiu.

—Ele foi o primeiro homem que eu amei de verdade, que eu ainda amo, mas agora é tarde demais, ele vai se casar e eu não posso fazer nada.

—Mas por que você foi embora sem falar com ele?

—Naquela época eu e minha mãe havíamos passado por um baque terrível, meu irmão, Justin, se suicidou. - revelou, Caitlin entreabriu a boca surpresa. - Ele tinha apenas dezoito anos, mas não conseguiu aguentar a pressão da vida, foram muitos fatores que o levaram a isso.

—Sempre são.

—Bem, quando isso aconteceu eu entrei em pânico e mamãe em depressão, tinha acabado de terminar a faculdade e não tinha nem um emprego estável, mamãe largou seu trabalho em uma agência de viagem e eu tive que cuidar da casa.

—O seu namorado, ele te apoiava?

—Sempre, sempre. Ele era carinhoso e atencioso, ficou ao meu lado nos piores momentos, me ajudava a pagar o aluguel às vezes, acho que foi isso que irritou a família dele, principalmente a mãe dele. Ela achava que eu era uma interesseira que queria apenas o dinheiro. Ela me odiava. - contou colocando o anel no dedo e o tirando diversas vezes. - Então, em um dia qualquer quando eu saia do trabalho ela me abordou, disse que tinha uma proposta para mim, eu falei que não queria nada vindo dela porque sabia que ele nunca apoiaria. Mas aquela cobra era dura na queda, ela disse que se eu não sumisse da vida do filho dela, eu nunca ficaria em paz, ela ameaçou me destruir de maneiras que eu nem conseguia imaginar.

—E o que você fez?

—Virei as costas e sai, no dia seguinte minha mãe e eu fomos enxotadas do apartamento em que estávamos, eu perdi meu emprego e todo o dinheiro das nossas contas foram sacados. Não sei como ela fez isso, mas fiquei com bastante medo, percebi que ela era capaz de tudo para me separar dele.

—Por que não contou para ele?

—Eu até tentei, mas comecei a pensar que talvez isso fosse pior, eu tinha que cuidar da minha mãe e do resto de sanidade que ela tinha, então decide ir embora, mudei sem avisar para onde ia. - umedeceu os lábios soltando um suspiro longo, era bom compartilhar aquilo com alguém, se sentia até mais leve depois disso.

—Primeiro, uau, essa com certeza é a história mais surpreendente que eu já ouvi e segundo, essa mulher é uma vaca.

—Certamente. Mas eu não gosto muito de falar sobre, na verdade você é primeira pessoa que sabe de toda a história, então por favor não conta pra ninguém. Promete? - pediu, Caitlin cruzou os indicadores e deu dois beijos,  um de cada lado, ela riu, aquilo era uma coisa tão Barry de se fazer.

—Prometo, prometi isso no meu juramento de formatura. - Caitlin disse fazendo ela rir. - Agora para quebrar esse clima assistirmos uma maratona de Julia Roberts?

—Noiva em fuga, por favor.

—Com certeza e depois O casamento do meu melhor amigo.

Felicity riu ainda mais.

—Melhores filmes para essa noite.

×××

Já passava das duas da manhã quando seu tocou desesperado, de início ela pensava que era apenas seu despertador, mas assim que viu o número desconhecido na tela brilhante estranhou.

—Alô?

Oi meu amor. - a voz do outro lado soou baixa, Felicity sentou na cama olhando mais uma vez para a tela do celular.

—Quem tá falando?

Não se lembra de mim, princesa?— ele perguntou, ela levou cerca de dez segundos para associar a voz.

—O que você quer Cooper? Você não deveria estar preso?

Acabei de ser solto.

—Pois não deveria ter sido. Além do mais, como você conseguiu o meu número?

Tenho meus contatos, quero me encontrar com você.

—Desculpa querido, mas querer não é poder. - desligou o chamada jogando o celular no meio das cobertas e colocando as mãos na cabeça. Aquilo era uma puta de uma sacanagem, como podia depois de anos aquele demônio ainda voltar pra atenta-la?

O celular tocou novamente, ela bufou se jogando contra a cama e colocando o travesseiro sobre a cabeça tentando abafar o barulho. Queria dormir para esquecer aquela ligação, porque aquilo só podia ser um pesadelo.


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