Pining escrita por Tai Bluerose


Capítulo 5
Cedendo


Notas iniciais do capítulo

Eu sinto muito pela longa demora. Das minhas fanfics de Kuroshitsuji, esta era a que estava a mais tempo sem atualização.
Espero que gostem.



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Para deixar as coisas bem claras, Ciel aceitou ir com Sebastian por pura curiosidade. E também por culpa desse desejo ridículo por perigo que, às vezes, aflora dentro dele. Ele não estava pensando em ficar com Sebastian, nem em facilitar as coisas para ele. Definitivamente não.

Mas o desgraçado tinha esse jeito de olhar e de sorrir que parecia entrar sob a pele de Ciel. E ficava cada vez mais difícil não olhar para os lábios de Sebastian e não lembrar de como ele beijava. E Ciel tinha de lembrar a si mesmo que ainda estava zangado com o garoto a sua frente.

Ciel ainda não podia acreditar que estava em um encontro improvisado com Sebastian Michaelis. Eles já estavam naquela lanchonete há pelo menos uns trinta minutos, e embora Sebastian estivesse se esforçando para parecer legal, o que era estranho e... fofo, Ciel ainda não podia deixar de esperar que alguém aparecesse para rir da cara dele no momento em que ele baixasse a guarda e relaxasse.

Exceto que, a cada minuto corrido, isso parecia cada vez menos provável de ocorrer.

Sebastian o levou a uma lanchonete no outro lado da cidade. E embora Sebastian tenha dito que era seu lugar favorito, Ciel suspeitou que os amigos de Sebastian provavelmente não andariam por aquelas áreas. Esbarrar em Sebastian e Ciel tendo um encontro secreto seria improvável. Sem falar que armar um encontro falso em que finge ser gay e enquanto flerta descaradamente com um cara o tempo todo parece ser muito exagerado, mesmo para Sebastian. Principalmente para Sebastian Michaelis, o conquistador das meninas.

Eles estavam no Roxie’s Diner para ser exato, toda a decoração lembrava os diners americanos dos anos 50. Até as garçonetes usavam aqueles cabelos exagerados e maquiagem de pin-up.  Ciel já tinha vindo ali umas três vezes quando criança, com seus pais, mas ele preferiu não contar isso para Sebastian, porque.... Bem, Sebastian parecia acreditar que Ciel estava conhecendo o lugar pela primeira vez e ele não quis estragar a empolgação do Sebastian. O que há de errado nisso? Ciel não era um idiota estraga prazeres. Ele ainda estava curioso para ver no que isso ia dar.

Para ser sincero, Ciel pensou que haveria dois cenários possíveis assim que ele descesse da moto.

Cenário 1: os amigos do Sebastian estariam esperando para rir da cara dele, tirar as roupas dele, gravar vídeos e postar no youtube. Ou alguma variação desses trotes idiotas que acontecem por aí e você só fica sabendo, as vezes até ri, mas espera secretamente nunca ser o alvo.

Cenário 2: Sebastian realmente tem algum tipo de tesão por Ciel Phantomhive e tudo o que ele quer é entrar em suas calças e tirá-lo de seu sistema e, quem sabe, nunca mais olhar em sua cara.

Ciel tinha que confessar que a primeira parte do cenário 2 causava algum arrepio em sua pele, e não era um arrepio do tipo ruim. Ele devia estar ficando louco.

Na antiga escola de Ciel, quando alguns caras gays descobriram que Ciel tinha assumindo, vieram falar com ele. Ciel ainda era novo, mas não foi necessária muita experiência para descobrir que eles não estavam interessados em amizade ou namoro. Por alguma razão, algumas pessoas parecem pensar que se você é gay, você automaticamente vai querer transar com o outro gay da escola. Como se Ciel estivesse tão desesperado assim ou como se ele fosse o último outro gay do planeta. Onde estava escrita essa regra? Alguns caras eram até mais velhos que ele, então, não, Ciel não quis nada com eles.

Em resumo, Ciel sabia como era ter outros caras dando em cima dele. Ele devia ter percebido os avanços de Sebastian, mas ele nunca pensou em Michaelis dessa forma. Nunca até agora. E isso estava fazendo uma confusão muito louca em seu cérebro.

Estava claro para Ciel que Sebastian ainda estava mantendo as coisas no armário, e, de alguma maneira, descobriu sobre Ciel. Então ele pensou que Sebastian estava pensando como os garotos de sua antiga escola, acreditando que seria fácil ganhar algum sexo gratuito com o outro garoto gay da escola.

Mas não.

A verdade surpreendente da noite era que nenhum dos cenários se concretizou. Pelo menos até o presente momento.

Sebastian estava sendo realmente, realmente, muito legal. Gentil. Educado. Estava conversando e ouvindo Ciel atentamente. Ouvindo de verdade. Mesmo que Ciel tenha ficado relutante de dizer algo no início, ele acabou mergulhando numa conversa fácil e tranquila, esquecendo seus receios. E, caramba! Os olhos castanhos do Sebastian tinham esse brilho cativante quando sorria. E a voz dele tinha essa qualidade macia e doce, capaz de te deixar a vontade.

Ciel até contou a Sebastian que tinha feito aulas de Karatê por causa de suas lutas no primário. Sebastian riu, mas ele pareceu realmente perturbado.

— Eu não sabia. Eu realmente... Ciel, eu sinto muito. Eu nunca pensei que.... Quero dizer, eu sabia que você não gostava de mim, mas nunca pensei que você tivesse medo de verdade. Eu sempre achei que você gostasse de lutar, que gostasse de me socar. É idiota eu sei.

— Meninos idiotas e testosterona a flor da pele. — Ciel comentou.

Sebastian deu um sorriso fraco. — É. Bem isso.

— Eu gostava de te acertar. — Ciel confessou. Talvez para tirar um pouco da expressão de culpa do rosto de Sebastian, talvez porque fosse a verdade. Quem em uma briga não fica feliz por acertar seu adversário?

— Mesmo assim, não foi certo como eu agi.

Eles ficaram em silêncio. Sebastian ficou pensativo. Pela primeira vez abandonando seu jeito tranquilo e paquerador. Ciel começava a se arrepender de ter tocado no assunto. Eles tinham decidido deixar isso de lado, começar do zero, não foi?

— Lembra a primeira vez que eu te encontrei naquela rua dos carvalhos? — Sebastian perguntou de repente. Ciel assentiu. — Eu cabulei a última aula para chegar lá sem que meus amigos me vissem ou me seguissem, e fiquei esperando você. Meu plano era chamar você para jogar videogame. Mas você me xingou quando me viu. Eu fiquei com raiva e puxei seu braço, você me deu um soco no nariz. E aí nós brigamos. Você lembra disso? Você deu o primeiro soco.

Ciel estreitou os olhos, começando a ficar desconfiado.

— Você está tentando me responsabilizar?

— Não. Por favor, me deixe terminar. — Sebastian ergueu as mãos em um gesto apaziguador e depois as uniu como se estivesse implorando. Ciel mordeu o lábio e assentiu. Sebastian continuou:

— Da segunda vez, eu resolvi levar meu Game Boy. Eu pensei que tê-lo em mãos provaria que eu só queria que você fosse até minha casa para jogar, e se você não concordasse em ir, nós poderíamos jogar ali na rua mesmo. Novamente não funcionou e de alguma forma nós começamos a lutar outra vez.

Ciel lembrava. Sim, ele deu o primeiro soco daquela vez. Ele estava muito irritado naquele dia, Ciel não lembra exatamente o motivo agora, mas ver Sebastian foi a gota d’água. Ele lembra de pensar que não estava com paciência para as provocações de Sebastian.

 Ele também lembra do evento com o Game Boy. Quando Ciel se aproximou, Sebastian perguntou se ele queria jogar, Sebastian disse que emprestaria. Analisando o relacionamento dos dois até aquele momento, Ciel pensou que Sebastian estava planejando algum tipo de brincadeira ou que estava apenas se exibindo por ter o maldito jogo e ele não.

Nunca, naquela época, passaria pela cabeça de Ciel que Sebastian poderia estar sendo sincero, muito menos que estaria tentando ser seu amigo. Mas agora, em retrospecto, livrando-se da venda de rixa infantil, ele conseguia lembrar de vários desses momentos em que Sebastian fez ou disse algo fora do comum. Algo como “Ei, bonitinho, pronto pra briga de hoje? ” Ou “Ei, Phantomhive, eu trouxe bolo de chocolate, é seu favorito, não é? Se você sentar comigo no refeitório posso te dar um pedaço. ” Geralmente, esses eram os tipos de comentários que deixavam Ciel muito perturbado, e que ele acreditava que Sebastian os dizia apenas para provocar.

Também era verdade que Sebastian dizia e fazia mais dessas coisas quando era mais novo, talvez por não ter noção do que realmente estava fazendo. A medida que cresciam, os comentários desse tipo se tornaram menos frequentes, embora o “Não se preocupe, não vou machucar seu rostinho bonito” ainda estivesse lá. As brigas ficaram menos frequentes também. Com catorze anos, as provocações e ofensas eram mais comuns que as lutas com punhos.

— Na época, com 11 e 12 anos, eu não entendia muito bem por que eu continuava voltando pra você. Por que eu queria tanto que você gostasse de mim. Mas todas as minhas tentativas de trégua falharam. Provocar uma luta parecia ser a única maneira de conseguir sua atenção. Com o tempo, eu fui compreendendo melhor porque eu fazia o que fazia. Eu tentei parar, mas era tarde demais para mudar as coisas entre nós. E você foi embora. Quando você voltou para Londres, eu não acreditei. Você estava mais bonito do que eu me lembrava e tudo o que eu queria era uma chance com você. Eu tentei falar com você, acreditando que aquele passado tinha ficado para trás, que finalmente poderíamos ter uma conversa amigável, mas você reagiu a mim como sempre reagiu. E agora eu sei que é porque eu fiz isso. Eu peguei pesado com você. Fiz você ter medo de mim.

Eles ficaram em silêncio, olhando para os restos dos hambúrgueres e fritas nos pratos. Ciel se lembrou de algo e riu. Sebastian olhou para ele completamente confuso.

— No meu último dia na escola, antes de ir embora de Londres, alguém colocou um bilhete de despedida no meu livro de ciências. Eu achei que tinha sido Molly Parker, porque dividíamos a mesa juntos naquela aula. Mas ela me garantiu que não tinha escrito aquele bilhete. Foi você?

Sebastian olhou para Ciel com tanta intensidade, que Ciel sentiu seu coração acelerar.

— Sim.

— “Estou triste, porque não vou encontrá-lo uma última vez. Mas isso será meu presente de despedida para você, e espero que prove o quanto gosto de você. ”

Sebastian sorriu. — Você lembra.

— O que significava?

— Eu queria dizer a você o que eu sentia e queria muito falar com você uma última vez, mas eu sabia que se eu fosse encontrar você na rua dos carvalhos, você não acreditaria em qualquer coisa que eu dissesse e nós acabaríamos brigando. E eu não queria que essa fosse a última lembrança que você tivesse de mim.

E não foi.

A última lembrança que Ciel tem do Sebastian Michaelis de catorze anos de idade, é dele se encostando nos armários ao lado de Ciel no final do dia e dizendo “Faça uma boa viagem, Phantomhive. ” E desaparecendo com os outros alunos pelo corredor.

Ciel acabara de descobrir algo que o Ciel de catorze anos jamais imaginaria: Sebastian Michaelis era um idiota romântico. Um idiota romântico apaixonado por ele. Ciel guardou aquele bilhete por muito tempo. Era prova de que alguém naquela escola gostava dele. No entanto, ele nunca pensou que Michaelis pudesse ser o autor.

Naquele último dia, Ciel lembra de ficar até desapontado por não encontrar Sebastian na rua dos carvalhos, era sua última chance de derrotá-lo. E mesmo em outra cidade, Ciel começou a aprender Karatê, dizendo a si mesmo que era para se defender de outros Sebastians, ou para derrotar o próprio algum dia. O engraçado é que sua obsessão perdurou por três anos, mesmo sem ter a menor certeza de que algum dia voltaria para Londres.

Ciel suspirou. — Eu percebo agora que eu não te conheço.

Ele odiou Sebastian por grande parte da minha vida, mas, para o bem ou para o mal, ele sempre esteve pensando em Sebastian. Mesmo depois de três anos longe. Por ódio ou por desejo, Sebastian sempre teve essa capacidade de estar sob sua pele.

— Eu gostaria muito de ter a chance de trocar essas memórias ruins por outras mais agradáveis.

Para ser sincero, quando Sebastian disse aquelas palavras, não havia nenhum duplo sentido implícito nelas. Mas Ciel não quis perder a oportunidade de provocar Sebastian Michaelis.

— Agradáveis como? — Perguntou Ciel, mantendo a insinuação bem clara em seu tom. Sebastian entendeu imediatamente, porque os olhos dele se acenderam.

Sebastian deslizou pelo banco para ficar ao lado de Ciel. Lentamente alcançou a mão de Ciel, e vendo que este não fez nenhum movimento em protesto, avançou a mão ao longo do braço, e se aproximou do rosto de Ciel sussurrando em seu ouvido.

— Desde que nos beijamos, eu só penso em você. O tempo todo. Eu lembro do seu cheiro, do seu gosto e do som que você fez quando gemeu no meu ouvido.  — Ok, aquela voz estava fazendo coisas estranhas e maravilhosas no estômago de Ciel, e naquele momento, ele mordeu os lábios para não gemer novamente. — De como você parecia firme e completamente...

Eles ficaram olhando um para os lábios do outro até que estivessem de fato se beijando.

.

.

Eles estavam se beijando agora.

Ok, Sebastian tinha passado no teste. Não tinha como tudo ser uma armação dele. Afinal, depois daquele encontro, Ciel tinha mais coisas comprometedoras para usar contra Sebastian do que o contrário. E havia esse pequeno fato de que Ciel ansiava pelos toques de Sebastian desde o incidente no banheiro.

Eles podiam ter continuado no Roxie’s, mas eles não eram idiotas. O lugar podia ser livre de conhecidos, mas não era garantia de ser seguro para dois adolescentes gays se pegando. Embora Ciel soubesse que seus pais não tinham problemas com sua sexualidade, ele realmente não queria levar Sebastian para lá agora. E a casa do Sebastian também estava fora de questão, o pai dele estaria em casa a essa hora.

E foi assim que Ciel Phantomhive acabou aos amassos com Sebastian Michaelis em um pedaço escuro da rua dos carvalhos. Aquela mesma onde tudo começou. Só que agora eles travavam um tipo diferente de luta.

É claro que, pensando logicamente, uma rua completamente deserta durante a noite poderia ser muito perigosa. Poderia ser o lugar perfeito para um serial killer aparecer, vai saber. Mas nenhum dos dois pensou nisso naquele momento. Para dois adolescentes de dezessete anos, com a sexualidade a flor da pele, aquela rua era quase uma velha amiga, guardando os dois como sempre fizera. Corpos pressionados contra a parede, mãos agarrando e pressionando. Onde no passado havia agressividade e inocência, hoje havia lascívia e desejo.

Sem pensar, Ciel se ouviu pedindo, não, dando ordens a Sebastian.

— Me segure com mais força.

E Sebastian prendeu os braços dele sobre a cabeça, ajeitou a posição de seu joelho entre as pernas de Ciel e se pressionou com mais força contra ele.

— Me beije.

E Sebastian o fez.

Eles ainda não tinham sequer tirado uma única peça de roupa, mas Ciel já sentia que estava no limite.

Enquanto sentia o corpo de Sebastian pressionando contra o dele, Ciel percebeu que ele finalmente tinha conseguido algo que sempre quis: o controle sobre Sebastian Michaelis.

Ele agarrou os cabelos pretos e macios de Sebastian e os puxou com força quando os dedos de Sebastian deslizaram para dentro de sua calça e o alcançaram.

— Sim, mas forte — Ciel choramingou enquanto mordia e chupava o pescoço de Sebastian.

Não era bem o tipo de controle que ele imaginou quando criança, mas era, sem dúvidas, muito, muito melhor.

Ele olhou para Sebastian com uma mistura de êxtase e constrangimento, quando Sebastian retirou a mão úmida e pegajosa. Sebastian o beijou novamente, e Ciel sentiu suas pernas fraquejarem.

Eles se abraçaram, e não souberam quem estava segurando quem.

— Vou providenciar um lugar mais adequado na próxima vez — disse Sebastian.

Ciel riu. — É bom mesmo.


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Notas finais do capítulo

Comentários são a única coisa que escritores de fanfics ganham por seu trabalho, então deixe algum se você gostou do que leu.
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Obrigada por ler.
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Nota: eu quero deixar claro que eu, de modo algum, estou tentando romantizar ou menosprezar o bullying. Tentei mostrar na fic que o caso de Sebastian e Ciel foi um caso único e particular do relacionamento deles e de como eles lidaram com suas próprias particularidades e descoberta. Também tentei deixar claro que Sebastian, embora tenha sido sim um valentão na infância, ele nunca foi tão cruel com Ciel, nem enxergava suas ações como prejudiciais, o que não deixava de ser uma coisa não muito legal, e como vimos, afetou sim o Ciel psicologicamente. Ele quis aprender uma forma de se defender e sempre reagia com violência e muita desconfiança a Sebastian. Outra coisa que quis mostrar, Sebastian nunca esteve sozinho em suas agressões, Ciel também iniciou vários de seus conflitos.
Mas no caso deles, foi um conflito e desentendimento juvenil que tomou proporções que eles não esperavam.
Espero ter ficado claro.



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