Estado de amor e de sonhos escrita por Camila Maciel


Capítulo 73
CAPÍTULO73




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CAPÍTULO73

— Cadê a dona Margarida que deveria estar aqui? - foi a primeira
pergunta que São Bento do Sul fez para sua mulher quando se viu sozinho
com ela; Blumenau sabia decifrar aquele homem, era melhor não discutir
com ele naquela hora:
— Eu pedi que ela fosse até a farmácia pra mim; já era pra ela estar
aqui!
— E quantas vezes eu já te falei que eu não quero você de conversinhas,
de intimidade com a sua cunhada?
— Ela veio me visitar, São Bento, o que é que você queria que eu
fizesse? Eu só quis sair um pouco da cama, e quando a gente estava indo
pra varanda eu tive uma tontura, ela estava me ajudando a voltar pro
sofá quando você entrou!
São Bento do Sul caminhou até o sofá e se agachou diante da mulher:
— Blumenau, presta bem atenção no que eu vou te dizer; eu já te falei
isso lá na fazenda e vou repetir! Eu posso até aceitar perder você pra
um outro homem, posso; mas pra outra mulher não! Se eu desconfiar que
você está me escondendo alguma coisa com relação a isso, você volta pra
casa da sua mãe com a roupa do corpo, e assim que o nosso filho nascer
eu brigo na justiça pela guarda dele!
Blumenau chorou diante do marido:
— Será que você não percebe, São Bento - gritava a jovem em meio a os
soluços de um choro que ela não conseguia explicar -, eu não estou me
sentindo bem, será que você não percebe?
O rapaz percebeu que foi longe demais; aproximou-se de sua esposa e se
agachou ao lado dela. Tomou a mão esquerda de Blumenau:
— Blumenau, eu me descontrolei, meu amor, eu não queria te magoar! Eu vi
ela aqui, segurando a minha mulher pela cintura...
— Eu não estou bem, São Bento - ela tornou a gritar -, eu não estou bem!
— Você não podia ter saído da cama, meu anjo, vamos voltar pro quarto!
Ela estava se sentindo fraca, sem condições pra absolutamente nada. São
Bento do Sul a levou de volta para o quarto, colocou-a na cama e ficou
ali, sentado ao lado dela como se precisasse compensá-la de alguma
forma.
— Joinville, sou eu! - Chapecó estava dentro do carro e falava ao
celular com a namorada:
— Oi, minha querida!
— Aonde é que você está?
— Estou em casa, por quê? Aconteceu alguma coisa?
— Joinville, eu estou aqui na frente do edifício de Blumenau, fui fazer
uma visita pra ela, São Bento chegou quando eu estava lá, a gente
discutiu, foi horrível!
— E a minha irmã?
— É por isso que eu estou te ligando, Joinville, alguém precisa vir pra
cá, ela não pode ficar sozinha com esse cara esquisito!
— Calma, meu amor, eu vou pra aí! Eu fico com ela até a poeira baixar!
Blumenau não queria admitir, mas sua vida estava se transformando em
um inferno por causa do ciúme obsessivo de seu marido. Ela retornou à
faculdade, mas quis o destino que, em uma noite, São Bento entrasse na
biblioteca da universidade e encontrasse Blumenau fazendo um trabalho em
grupo com outros dois rapazes. No dia seguinte, com os dados de sua
mulher em mãos, ele ligou do escritório para a universidade e trancou a
matrícula dela no curso de direito.
A noite, quando chegou para mais uma aula, Blumenau se deparou com
aquela realidade que até então, ela não conhecia; seu marido
simplesmente decidiu que ela iria parar de estudar, por puro ciúme.
A jovem voltou pra casa desolada e os dois tiveram uma briga
horrível; em um momento de descontrole, São Bento do Sul acabou
segurando forte no braço dela, jogando-a sobre a cama de casal do
quarto. Só no dia seguinte, Blumenau percebeu que estava com um hematoma
no braço esquerdo.
— Tchau, mãe!
— A senhora pensa que vai aonde? - perguntou Florianópolis para Palhoça;
sua filha estava parada na porta do quarto, e a mãe de família terminava
de vestir um macacão azul no filho caçula:
— Vou visitar Blumenau!
— Eu te deixo no apartamento dela; vou dar uma saidinha com o seu irmão!
— Ta bom, mãe; te espero na sala!
Florianópolis deixou o prédio onde morava com dois de seus filhos;
o caçula estava acomodado no bebê conforto no banco de
trás, e Palhoça sentada no banco da frente ao lado da mãe. Ela desceu do
carro em frente a o edifício da irmã, pretendia voltar pra casa andando
quando saísse dali.
A vida de Blumenau parecia estar toda errada; estava vivendo com um
homem que a impedia de ter vida própria, um homem que simplesmente
decidiu que ela seria dona de casa, nada mais que isso.
No ponto em que as coisas estavam, Blumenau começou ameaçar deixá-lo;
mas São Bento do Sul sabia como prendê-la ao seu lado. Se ela o
deixasse, ele tiraria a criança dela na justiça assim que nascesse.
Quando Palhoça entrou por aquela porta, esbanjando alegria, Blumenau
sentiu-se inabalável, jamais imaginou que a presença da irmã fosse
alegrar tanto sua tarde.
As duas conversaram a tarde toda, tomaram café, e sem querer, Blumenau
deixou escapar que não estava mais estudando. Palhoça conhecia a irmã,
sabia que ela jamais abandonaria a faculdade por vontade própria, mas
Blumenau colocou um sorriso no rosto e disse que ficaria em casa,
cuidando do marido e dela mesma até que seu filho nascesse.
Palhoça não inguliu aquela história, sabia que tinha alguma coisa muito
errada acontecendo; ficar em casa cuidando do marido, definitivamente
não tinha nada a ver com Blumenau.
Com seus dezessete anos e uma inteligência que era apenas sua,
Palhoça decidiu visitar Blumenau em casa com mais frequência; passava
pelo apartamento dela sempre que podia, e com isso, acabou se
aproximando muito dela, como jamais conseguiu fazer quando viviam
debaixo do mesmo teto.
As aulas recomeçaram; e em uma sexta feira, durante o intervalo,
Palhoça desabafou com Itapema; as duas estavam sentadas em um banco
enquanto muitos outros alunos circulavam por ali:
— Eu acho que a minha irmã está apanhando do marido dela, amiga!
— Sério, Palhoça? Como é que você descobriu?
— Eu ainda não descobri nada, eu só acho, entende? Eu tenho ido sempre
lá no apartamento dela, ela não está mais estudando e me disse que
resolveu ficar em casa cuidando do marido e do filho dela! Agora me diz,
dá pra acreditar nisso?
— Bem, amiga, eu não tive muito contato com Blumenau, mas pelo que você
me conta, não dá pra acreditar mesmo!
— E ontem, Itapema, ontem eu estava lá no apartamento dela, passei a
tarde lá; ela estava usando um vestido e eu vi um hematoma no braço dela;
perguntei o que era, ela ficou nervosa e me disse que não se lembrava
como tinha machucado o braço!
— Amiga, se eu fosse você eu conversava com alguém da sua casa, sabe!
Joinville, ou aquela sua cunhada gente boa que é a namorada dela, talvez até o seu pai! Mas
conversa com alguém, amiga!
Palhoça realmente estava angustiada; nunca levou absolutamente nada
a sério, sempre fez piada de todas as situações que podia, mas sentia
que a felicidade de Blumenau estava em suas mãos.
A garota não teve a menor dúvida; antes que o recreio terminasse, pegou
o celular na mochila, e com Itapema ao seu lado lhe dando apoio, ligou
para seu pai e pediu que ele fosse buscá-la na escola para almoçarem
juntos. São José nunca negou um pedido desses para nenhuma de suas
meninas, sabia que se tratava de algo sério:
— Obrigada, amiga! - foi a única coisa que Palhoça conseguiu dizer
enquanto voltava a guardar o celular:
— Estamos aí - respondeu itapema mansamente enquanto ajeitava uma
mecha do cabelo da amiga -, a gente não é parceira só na hora da bagunça
não; eu estou do seu lado!
Chapecó saiu da construtora as dez e trinta da manhã; pegou
Joinville em casa e as duas foram até o apartamento que supostamente se
tornaria a casa delas; o imóvel pertencia a uma colega de trabalho de
Chapecó, engenheira civil como ela, que estava se separando e pretendia
comprar algo menor e mais perto do trabalho.
Era um lindo apartamento, todo mobilhado; cozinha, sala de estar e de jantar, três
quartos, entre eles uma suite com varanda, closet e banheira. As duas
andaram por todo o apartamento, exploraram cada pedacinho daquele lugar
que possivelmente se tornaria seu lar; deixaram a suite por último.
As duas não souberam dizer por quanto tempo ficaram ali, naquele quarto,
conversando, sonhando juntas com um futuro muito próximo. Um barulho as
trouxe de volta a realidade, o barulho de um tiro que parecia vir de
dentro do apartamento. A primeira reação de Chapecó foi abraçar a
namorada, talvez para protegê-la; o segundo desparo veio em seguida,
agora estourando o vidro de uma das janelas.
De repente, Chapecó pensou estar tendo um pesadelo; estava na suite de
um apartamento, abraçada à Joinville, com Itajaí diante delas. A jovem
estava completamente descontrolada, segurava um revolver apontado para a
ex-namorada:
— Como é que você entrou aqui? - tentou Joinville, tomada por uma
sensação de pânico que a invadia até a alma:
— Some daqui - exigiu Itajaí muito nervosa -, some daqui porque a minha
conversa é com ela, com a minha mulher, a mãe do meu filho; some daqui!


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