Estado de amor e de sonhos escrita por Camila Maciel


Capítulo 106
Capítulo106




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CAPÍTULO106

Os meses iam passando; as mudanças no corpo de Jaraguá anunciavam
que dentro de alguns meses ela teria seus dois filhos no colo. Não foram
poucas as vezes que a jovem parou em frente a o espelho do quarto e
ficou ali, se sentindo a mais bela das mulheres.
Estava realizada em todos os sentidos; São Miguel se tornou o melhor
marido, o melhor companheiro que ela poderia ter. O jovem médico não
cabia em si de felicidade com a chegada de seus dois filhos.
Palhoça e Santo Amaro da Imperatriz, depois de ouvirem opiniões de
outros médicos, decidiram adotar uma criança. Haviam tantas precisando
de um lar, de amor, e amor eles tinham de sobra pra oferecer.
Naquela noite, Palhoça foi pra cama antes do marido, estava com dor
de cabeça. Santo Amaro foi logo depois, se deitou ao lado dela com todo
cuidado e percebeu que sua mulher ainda estava acordada. Puxou-a para
si, isso lhe fazia bem, tê-la nos braços lhe fazia bem:
— Pensei que você já estivesse dormindo!
— Não; deitei aqui, conversei com Jaraguá um pouquinho, dei um jeito de
mandar a dor de cabeça pra longe!
— Minha mãe te mandou um beijo, falei com ela antes de vir pra cama!
— Manda um enorme pra ela!
Por alguns instantes, o jovem casal ficou em silêncio; Palhoça
encontrou os olhos do marido e sorriu:
— Amor!
— Fala!
— Canta, canta pra mim!
Santo Amaro pensou por um instante, pensou no que cantar. Enquanto
afagava o rosto e os cabelos longos e cacheados da mulher, o jovem
músico cantou baixinho:
— Somos dois, começo de vida; nós dois e uma simples história de amor!
Enquanto esta estrada estiver florida, sonhemos, querida! Somos dois,
seguindo na vida, sentindo que em próximos dias diremos talvez; com os
olhos brilhando de felicidade, fomos dois, somos três!
E ela pegou no sono, ouvindo seu marido cantar.

Florianópolis saiu do super mercado naquela manhã, passou em uma
loja no shopping e depois foi direto pra casa. Quando entrou no
elevador ao lado do filho caçula, esbarrou em um homem que ela nunca viu
antes; devia ter uns quarenta anos, alto, moreno, trazia um olhar
tranquilo:
— Bom dia! - disse o homem enquanto oferecia um sorriso para a mãe de
família:
— Bom dia, está subindo?
— Estou; eu moro no oitávo andar!
— Nunca te vi por aqui!
— Eu me mudei pra cá na semana passada! E esse rapaz, é seu filho?
— É, meu filho caçula!
São Joaquim cumprimentou o homem com um aperto de mão,omo se ele
fosse um velho amigo:
— E aí, cara, tudo certo?
— Tudo - respondeu o garotinho sorrindo de leve.
O elevador chegou no sétimo andar e o apartamento de Florianópolis era
ali:
— Eu moro aqui no sétimo andar! - disse a mãe de família:
— Somos vizinhos - o homem estendeu a mão para ela -, muito prazer, meu
nome é Otacílio Costa, sou médico!
— O prazer é todo meu; Florianópolis, sou dona de casa! Vamos, filho?
— Vamos, mãe! - o garotinho deu um salto do elevador.
Otacílio Costa estava divorciado a pouco mais de dois anos; morava
em um flat, mas decidiu comprar um apartamento e tentar reconstruir sua
vida. Era médico, e ainda muito jovem descobriu que não podia ter
filhos; escolheu ser pediatra, costumava dizer que todos os seus
pequenos pacientes eram seus filhos de alma.
Acabou se tornando amigo de Florianópolis, não foram poucas as vezes que
os dois tomaram um café juntos na casa dela.

Aquela tarde ficaria pra sempre na história e nas lembranças da
família de São José e Florianópolis. Era uma tarde de domingo, grávida
de sete meses, Jaraguá curtia cadda minuto; já amava seus bebês mais do
que tudo, já não conseguia imaginar sua vida sem seus filhos. Seria mãe
de um casal de gêmeos, só conseguiu saber o sexo dos bebês na última
consulta.
Eram três e trinta da tarde; Jaraguá acordou assustada, sentindo uma
dor que nunca havia sentido antes. Estava sonhando com Joinville, e
sem perceber, chamou por ela ao abrir os olhos.

— O que foi, meu anjo? - perguntou Chapecó ao perceber que sua
mulher, que dormia no sofá ao seu lado, acordou de repente, sobressaltada:
— Jaraguá, cadê ela?
— Calma, Joinville, calma, estamos só nós duas aqui, meu amor!
— Mas ela me chamou, Chapecó, ela me chamou, eu tenho certeza que eu
ouvi!
— Você deve ter sonhado! Você estava dormiu aqui no sofá e acabou
sonhando com a sua irmã! Está tudo bem, ela está bem!
Joinville se deu conta de que realmente, sua companheira tinha razão:
— Você tem razão, eu devo ter sonhado; mas parecia tão real, eu ouvi a voz dela chamando meu
nome! Parecia que ela estava aqui do meu lado, sabe, me chamando,
tentando me acordar!

— Oi, meu amor - São Miguel do Oeste estava sentado na cama, ao lado da
esposa, com um livro nas mãos -, está tudo bem?
— Uma dor, São Miguel, uma cólica, não sei explicar!
— Você chamou a sua irmã!
— Eu estava sonhando com ela!
— E a dor, que tipo de dor?
— Eu não sei explicar; é uma dor que eu nunca senti antes!
— Fica tranquila; relaxa, qualquer coisa a gente liga pra sua médica!
— Deita aqui do meu lado, me abraça!
O jovem médico deixou o livro no criado mudo e se deitou, abraçando sua
mulher; os dois começaram a conversar sobre coisas sem importância e o
tempo passou, aproximadamente meia hora. Jaraguá sentiu a dor de novo,
não queria preocupar seu marido mas acabou apertando a mão dele,
instintivamente:
— De novo, amor? - ele percebeu:
— De novo, a dor de novo!
— Eu vou ligar pra doutora Ana!
— Não é hora ainda, São Miguel! - Jaraguá sentiu medo pela primeira vez,
esse pensamento a fez chorar:
— Calma, meu anjo, calma! São gêmeos, eles podem estar querendo nascer
mas a gente não pode entrar em pânico! Vai dar tudo certo...
— Chama a sua tia, pede pra ela vir aqui comigo, por favor!
— Eu chamo, eu vou falar com ela e com a sua médica! Fica aqui,
quietinha, tranquila, eu vou ligar pra doutora Ana e chamar minha tia na
casa dela!
São Miguel do Oeste se levantou e saiu do quarto, deixando sua
mulher ali deitada. Decidiu ir até a casa de sua tia antes e contar a
ela o que estava acontecendo:
— Jaraguá está sentindo dor, tia! - embora fosse médico, o rapaz estava
nervoso e não precisava enganar aquela que foi tudo pra ele, Concórdia,
sua tia:
— Calma, meu querido, precisa ficar desesperado desse jeito?
— Mas e se os bebês nascerem, tia?
— Mas eles vão ter que nascer mesmo; ou você quer que eles façam o quê,
menino?
— Tia, vai lá, fica com ela, eu vou tentar falar com a doutora Ana!
— Eu vou, eu fico com ela, mas se acalma, por favor!

Depois de ter acordado, Joinville tomou um banho rápido e se
arrumou; estava angustiada, não conseguiu tirar Jaraguá do pensamento.
Voltou pra sala carregando uma bolsa pequena de mão e a chave do carro:
— Chapecó, eu vou até a casa de Jaraguá!
— Aconteceu alguma coisa? - a engenheira se levantou e caminhou até sua
mulher:
— Não sei, eu não estou sossegada, sabe! Eu sinto como se ela estivesse
precisando de mim!
— É, meu amor, não se deve brincar com essas coisas; se você sente que
deve ir até lá, vai mesmo! Quer que eu vá com você?
— Não, minha querida, não precisa; até porque, daqui a pouco o meu pai
deve trazer São Lourenço pra casa, é melhor você ficar! Isso deve ser
só coisa da minha cabeça mesmo, daqui a pouco eu volto!
A forte ligação entre as duas irmãs fez com que Joinville sentisse
que sua irmã estava precisando dela; não muito longe dali, em sua casa,
Jaraguá estava sentindo as dores do parto, de um parto prematuro.
Joinville chegou na casa da irmã e a encontrou deitada, enfrentando o
medo e as contrações, mas com um sorriso no rosto:
— Eu te chamei - foi a primeira coisa que Jaraguá conseguiu dizer quando
sua irmã se sentou na cama ao seu lado -, eu sonhei com você, acordei te
chamando, sentindo a or!
— Eu sei, minha irmã; o nosso amor, a nossa ligação fez com que eu
ouvisse você me chamar! Eu vim, eu estou aqui com você!
Jaraguá sentiu uma contração chegando; procurou a mão da irmã:
— A dor, Joinville, a dor!
— Então deixa doer, minha linda, deixa doer; a dor é o sinal de que os
seus filhos estão chegando, cada vez mais perto!
Logo, a família toda já sabia que o casal de gêmeos de Jaraguá
estava chegando; a jovem foi levada pro hospital no início da noite
daquele domingo.


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