A Aurora de Castelobruxo - A Harry Potter Story escrita por ThaylonP


Capítulo 3
A Visão Bruxa




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Atordoada, a pequena bruxa sentiu a mente girar bastante. Imaginou que ficaria assim por horas, descansando a pressão de quando tocou seu cajado. Porém, isso não aconteceu. Sentiu um toque na testa, frio, mas não congelante. Parecia um pedaço de madeira. Abriu os olhos devagar. Seu pai estava sobre seu corpo, tocando-a com a varinha, enquanto uma Emília chorava o estado da companheira.

— Tão… - ela berrava. - Jovem! Com tudo pela frente! - disse enxugando lágrimas inexistentes da camisa social de seu dono.

— Emília, cale-se! Ela está bem – disse o pai, aliviado, vendo a menina abrir os olhos.

— É… - a boneca se recompôs. - É claro que não há nada de errado com ela…

— Como está se sentindo? - perguntou um homem, que Aurora reconheceu como o lojista.

Ela ainda não sabia. Lentamente, seu tato retornou ao seu corpo. Cada vértebra começava a responder, desde a planta do pé até a ponta do nariz. Piscou seguidas vezes, recobrando-se da consciência turva. Percebeu que em suas mãos, segurava algo. Algo semelhante ao que tocara em sua testa segundos atrás. Seu cajado. Na visão, ele estava suntuoso, crescido, com um poder visceral partindo dele. Agora, parecia até um pouco frágil com sua pequena extensão e quase nenhuma energia.

— Ai… minha cabeça… o que… – disse olhando para sua mão, avistando o objeto.

— Você teve uma visão-vínculo — explicou o lojista. — É o que acontece quando um cajado escolhe o dono. Mostra seu futuro com a ferramenta— disse, um pouco atento demais às reações da menina.

— O futuro? - os olhos da pequena encheram-se de lágrimas. – Sim. O que você viu, garota? – perguntou ele, se aproximando, interessado.

— Conta logo, garota, ai que curiosidade! — exclamou Emília, observando de perto.

Aurora sentiu-se estranha. Parecia uma espécie de animal raro sendo observado em um experimento científico.

— Eu vi… o fim… - respondeu, através de um soluço.

— Como assim, o fim? Do que está falando? – perguntou o velho, assustado.

A menina hesitou por um instante. Ao tempo que observou o homem de capuz em volta do fogo, toda aquela energia elemental à sua volta, dizia que talvez, pudesse ser causadora dos estragos. A culpa a irradiou, sem ao menos saber o porquê.

— Dor… e... - prendeu uma palavra em uma pausa mórbida. - morte – completou.

O grupo se calou. O vendedor ficou em dúvida se devia se pronunciar. Apenas se levantou, foi até sua mesa e colocou a caixa do cajado ali.

— Talvez, tenha sido um erro apresentar-lhe tal cajado – argumentou o velho.

— Podemos cancelar a compra – disse o pai.

— Eu acho que ela está exagerando! - respondeu Emília aos dois.

A expressão do pai de Aurora foi esmagadora. Por um segundo, acreditou que a filha tinha capacidade para lidar com aquilo tudo. Depois, pensou que talvez desistir de tudo não seria uma má ideia.
 
— Não, não cancela, por favor. Depois de tanto tempo procurando, finalmente achei e... — a garota procurou argumentos. Tentava convencer a si mesma antes de convencer o pai. — e... o futuro pode ser mudado, certo?

Sr. Magalhães deixou os olhos no lojista, para que sua experiência respondesse. O homem, ainda em dúvida sobre o relato da menina, entendeu que a pergunta se dirigia a ele. Então, os olhos se aliviaram da tensão, voltando à simpatia inicial de comerciante.

— Claro que pode — afirmou.

O pai questionou a resposta, e antes que pudesse repreender e voltar atrás em sua decisão, notou que Aurora o castigava com lágrimas infantis. Ele suspirou, quase arrependido do que ia dizer.

— Tá — comentou. — Talvez o futuro possa ser mudado mesmo. Mas vou ficar de olho!

A menina quase comemorou, mas restringiu-se a um aceno de cabeça e um meio sorriso. Ainda não sabia como seria aquele futuro, como chegaria até ali e se teria o poder para mudá-lo. Ao menos, poderia tentar.

— Já que está tudo bem, acredito q-

O homem foi interrompido pelo sino de entrada e um baque surdo no piso de madeira. Um garoto caíra de face no chão, entrando pela porta da pior maneira possível. Carregava uma pilha de tranqueiras e um mapa grande que, com a queda, pousou em cima do seu corpo estirado. No processo, livros e sacolas de compras se espalharam pelo chão.
A loura, respondeu ao estímulo visual, que calou sua visão vinculada por um instante. A sua atenção foi chamada para o garoto que entrara, até, segurando um risinho de canto de boca com a cena. Emília, por sua vez, adorava ver os machucados alheios, portanto riu de chorar do ocorrido.

— Ai… ai…

O menino reclamava de dor, enquanto levantava o rosto do chão e retirava o mapa de seu lombo. A boneca ria descontrolada, apontando para o garoto que corava como um camarão.

— Emília! - repreendeu Aurora e se aproximou do garoto. - Ei, calma… tudo bem.

— Tropecei… ai… quase olhei para o Irrador… - disse o menino, arfando.

Ele recolheu suas coisas, mas eram tantas, que uma coisa se pôs sobre a outra, caindo novamente ao chão.

— Irrador? Ah… - lembrou-se a menina, ajudando o moleque desastrado.

— Oh… obrigado… sim, Irrador! Minha Emília disse que não podemos olhar para eles. Argh! - exclamou, segurando o peito gordo – Meu coração!

Ele reclamava e se sentia satisfeito e aliviado. Mas, verificava seus braços com cautela. Tinha um corpo corpulento, usava um sobretudo de Castelobruxo e uma camisa branca dentro de uma calça marrom. Suas bochechas eram grandes e o olhar, extremamente simpático.

— Pelo menos, eu cheguei – disse, olhando o mapa de cabeça para baixo – Ufa! Última parada!

Fez um barulho de trem, criando uma piada que não foi nenhum pouco engraçada. Suas bochechas fofas se rosaram de constrangimento. A boneca de Aurora apontou na cara gorda do menino, caçoando do clima ruim que a falta de risadas trouxera. Ele ignorou, olhando à sua volta, animado. A garota, tinha seu cajado ainda em mãos, para a surpresa do gorducho que guinchou. A loura lembrou-se dele, o vira antes.

— Ei, lembro de você! - disse ela.

— De mim? Como? A gente se conhece? - perguntou, confuso.

— Você que quase me acertou com a vassoura! Não é? - ela afirmou, alegre.

— Ah, você também? — perguntou ele, já iniciando uma defesa com os braços. — Olha, só não bate na cara, tá?

— Espera, não vou te bater… - riu Aurora.

— Ah, não? - retirou o escudo braçal.

— Não – sorriu ela.

— Que bom – ele também sorriu.

— Devia bater, eu acho – disse Emília, no meio da conversa.

Aurora não pôde deixar de rir, mas fez uma expressão de desaprovação para o brinquedo. O menino, rapidamente, retornou sua observação de antes.

— Vi que já tem um cajado! - apontou ele.

— Sim, tenho. Veio comprar o seu primeiro também? - questionou ela, mão sobre o queixo. Era uma detetive particularmente boa, na opinião dela.

— Sim, vim! Castelobruxo, primeiro ano – respondeu, envergonhado.

— Eu também – rebateu ela.

— Caramba – ele olhava o cajado. - É mais maneiro do que eu pensava… é muito legal! Já faz magia? Mostra uma aí!

— O quê? Não, não… não faço nada ainda não… - olhou seu cajado, sem graça, em sinal de rendição.

— Ah, nem eu… não faço nada, também. Quer dizer… nem filho de bruxo sou… - afirmou ele, sem pena por aquele fato.

— Não é filho de bruxo? Espera, como assim? - Aurora ficou confusa. Não sabia que era possível.

— É… meus pais são… é… como é mesmo o nome? - tentou lembrar-se.

— Putos? - lembrou Aurora, deixando escapar o palavrão sem vontade.

Emília riu. Se divertia com palavrões. Na verdade, se divertia com qualquer coisa que parecesse errado.

— Isso, putos! - continuou. – Ai, eu estou meio perdido aqui ainda…

— Espera, e como veio parar aqui?

— É… não lembro bem, mas tinha uma lareira… e um pó… - tentou explicar-se. – E minha boneca, igual à sua.

Tirou do bolso um brinquedo. Deveria ser igual à Emília de Aurora, porém era extremamente diferente. Estava suja, encardida e se mexia pouco, tal qual uma boneca de pano comum. Parecia cansada ou quebrada. Até os cabelos, que deviam ser vermelhos e amarelos, estavam completamente desbotados. A mãozinha de trapos se esticou e terminou soltando-se no ar, preguiçosa. O brinquedo da garota fez uma expressão de nojo.

— Ah – ele chacoalhou o objeto. - Está sem pilha?

— Argh! - exclamou Emília. – Quem cuidou dela? O aspirador?

— Ah, desculpa – justificou-se. – Se eu soubesse que era uma boneca mágica, teria cuidado mais.

— Não me deixa perto dele, Aurora, por favor – implorou a boneca, se afastando o máximo que podia do gorducho.

Aurora corou, Emília a envergonhava novamente.

— Ô! Tô te ouvindo! Sabe como é ruim receber visitas dos amigos com uma boneca no quarto! – protestou ele, balançando o objeto.

— Desculpa – disse Aurora – A minha não para de falar desde a hora que ativei…

— Você ativou sua própria boneca? Cara, que demais! - exclamou impressionado.

Aurora não respondeu, pois o brinquedo saltou para o ombro esquerdo da garota, mirando a outra com desdém.

— O feitiço dela está antiquado. Argh! Nojo… — disse ela. — E você — referiu-se a Aurora. — Para de se gabar! Eu me ativei sozinha, na hora que eu achei que seria melhor, tá?

— Mas eu não disse…

— Shh! – calou a boneca.

— Ah, deixa ela – o menino se divertia. Agora, estava atento aos cajados nas paredes e prateleiras – Foi difícil escolher um?

— Eu não escolhi – respondeu ela.

— Quê? Como assim? – questionou, assustado.

O vendedor interveio.

— O cajado escolhe o bruxo! – disse com pompa, levantando-se da sua cadeira. Parecia nem se lembrar da situação anterior.

— Ah, você é o vendedor! - reconheceu o menino, aproximando-se do velho. – Sou Matheus. Vou começar em Castelobruxo. Primeiro ano. - disse, orgulhoso – Pode me ajudar, por favor?

O homem lhe fez uma expressão altamente solícita, se dirigindo às suas coisas, buscando a ferramenta do menino.

— Ah, que coisa – disse Aurora, chegando próximo. – Nem me apresentei…

— Mal-educada… - afirmou Emília, sussurrando, interrompendo a conversa.

A garota riu, sem jeito.

— Sou Aurora.

— Olá, Aurora! - ele tentou um abraço, mas viu que a menina não ia corresponder, então avançou num aperto de mão, desajeitado e mole.

— Bom – disse ela, passado alguns minutos de saída do velho e uns momentos de silêncio. – Um conselho: Não tenha pressa. Senão, vai passar raiva. – afirmou ela.

— Nossa… sério… que droga… - desanimou-se o menino.

— Mas… vale a pena, eu acho. - afirmou ela.

— É, tô vendo! - apontou o objeto às mãos da menina. – Queria um maneiro igual ao seu! Olha só, todo cheio de detalhes vermelhos…

A menina enrubesceu, orgulhosa de seu cajado. O menino olhou o vendedor, esperando que seu cajado fosse o melhor da loja, mas quando o homem lhe trouxe uma caixa aberta e empoeirada, seu sorriso de ansiedade sumiu. Era de uma madeira velha, com outro pedaço de madeira entre ele, como se fosse um remendo. Na ponta, havia um pedaço de bronze, aparentemente, meio torto.

— Jacarandá e salgueiro, com núcleo de vermifugo-de-bronze – apresentou o lojista.

— Ah… - disse, surpreendido com o estado do objeto. – Não, obrigado, espero o próximo – recusou polidamente.

— Não devia ser tão negligente – alertou a garota –, você tem que testar – divertiu-se com a expressão de Matheus.

— É mais velho que sua boneca – rachou Emília.

O garoto estendeu a mão com ressalvas e segurou o cajado estendido com uma mão trêmula. Os seus olhos, focaram-se no horizonte, extasiado, enquanto fixava o nada. Seu corpo, extremamente esticado, manteve-se naquela posição por alguns segundos.

— Ah! - gritou ele, voltando a realidade.

— Ele lhe escolheu – disse o velho, sorrindo.

— Quê? Espera… ah… não… - lamentou ele, cabisbaixo.

Não acredito que pegou de primeira, pensou Aurora, demorei quase uma vida!

Aurora, acho que você que está com defeito! - brincou Emília, mas a menina rapidamente deu um peteleco no corpo pequeno do brinquedo, calando-a.

Matheus entregou um galeão ao velho – uma moeda de ouro com alguns desenhos encravados. Ele estava em conflito, talvez sua visão teria dado alguma confiança para ele ao instrumento.

— E qual foi sua visão? - perguntou Aurora, curiosa para saber se tinha sido tão intensa quanto a dela.

— Ah… como… - gaguejou ele.

— Todo mundo tem uma – disse, rapidamente.

— Ah – ele retesou, envergonhado. –, olha a hora! – apontou para um relógio na parede. – Já pegou seu mascote? Vamos indo! Temos que ir – disse, esquivando a pergunta.

Aurora tentou argumentar contra, mas percebeu que ele não se sentia confortável em falar daquilo. Era algo particular mesmo. Não gostaria de ter dito a sua a ninguém dali, mas o lojista estava tão interessado que acabou falando. Então deixou Matheus e sua visão para lá. Achou a sugestão apressada muito boa, porém dirigiu-se ao seu pai, para avisá-lo aonde ia, contudo, ele não estava lá. O menino-bagunça arrumou suas coisas com dificuldade e abriu o mapa de novo.

— Ei, cadê o meu pai? - perguntou em voz alta.

— Ah, é! Esqueci de avisar! Seu pai saiu… disse que ia comprar suas coisas – afirmou ela, tranquila.

— E só me avisa agora!? – resmungou Aurora.

— Sou só uma boneca, me deixa em paz – calou Emília.

— Espera… ele me deixou com você? Acho que ele pirou de vez… - debochou a loura.

— Quê? Ele te deixou comigo por 11 anos, sua ingrata! - protestou o brinquedo, claramente exagerando, mas fazendo seu ponto.

O garoto riu da indignação da criatura mágica. Estava se divertindo com aquelas duas. O grupo, agora composto apenas pelos três, dirigiu-se para fora da loja, acenando uma despedida para o vendedor da Cajados-Não-São-Bengalas.

— Como vamos encontrar um petshop aqui? - perguntou a menina, cruzando os braços para o garoto.

— Ah, espera… - remexeu o mapa, procurando. – Lembro de um lugar por aqui… – tentou apontar, mas seus movimentos desastrados deixaram a desejar.

Ele tentou mostrar a localização para garota, mas não conseguiu, pois estava enrolado em tanto papel. Na rua, mais à frente, Aurora pôde ver que mais um estudante de Castelobruxo se aproximava. O garoto era muito bonito, estava acompanhado de uma menina que andava sorridente ao lado dele; tinha olhos severos, cabelo escovado para trás, e carregava um cajado maior, já crescido, que tinha cerca de um metro e sua ponta era a cabeça de um dragão moldado na madeira escura. Suas vestes eram verdes escuras, um casaco sem mangas com capuz. No seu rosto, estragando a face rígida, havia uma luxação. Enquanto o admirava, Matheus ainda estava confuso quanto ao mapa.

— Conseguiu? — perguntou ela, sem tirar os olhos do jovem que se aproximava.

— Não, está tudo tranquilo… é que – Matheus levantou os olhos, encarando a vista de Aurora – Ah, não! É ele! Não! - disse, assustado. O gorducho enrolou o mapa com uma maestria que não tinha antes. Segurou o braço de Aurora, numa tentativa de escapada. - Eita! O quê!? - disse, assutada ao ser puxada.

— Vamos, a gente tem que correr! – disse, suando frio.

— Ei, calma! Está bem – afirmou ela. – Só para de me puxar – contraiu o músculo e puxou o membro de volta para si, estranhando a reação exacerbada.

— Então, vamos rápido, tá? – disse, ofegante. – De preferência, correndo!

— O que está acontecendo? – tentou ela.

— Só… – olhou para trás, desconfiado. – Só quero muito um animalzinho! – justificou, claramente mentindo.

— Ei! - uma voz masculina gritou atrás. – Você!

— Droga! - exclamou Matheus.

Aurora se virou para a direção do dono da voz. Era o garoto de antes. A menina ao lado dele, estava impaciente, apontando para Matheus com intensidade. Ele, por sua vez, andou mais rápido, tirando as pessoas do caminho em direção à Aurora. Mais precisamente, para acertá-lo, pelo menos, era o que dizia sua expressão de fúria estampada.

— Rápido! Corre! - disse ele, segurando Aurora novamente e iniciando uma corrida fraca.

A garota ainda sem entender, segurou seu corpo contra a corrida do companheiro, se soltando do agarrar de Matheus.

Rictum Sempra!— a voz masculina ecoou.

O ar em volta de Aurora tremeu. Matheus a largou imediatamente, e nem teve tempo de pensar em reagir. Seu corpo rodopiou, sendo disparado metros a frente, girando intermitentemente no ar até cair no chão de pedra da Avenida 25. A garota, parou, observando a cena surpreendente e analisou o casal se aproximando rápido. A menina que andava com o cara mais velho, sorriu, admirada.

— Boa, Luka! - disse, amarrando-o num abraço de flerte.

Ela era loira, como Aurora, mas tinha um penteado com um topete feminino pequeno no centro da cabeça. Os olhos, eram cinzentos e ardilosos, seu corpo desenvolvido indicava cerca de uns quatorze anos; sua postura indicava uma certa soberba. O gorducho, reclamava de dores no chão depois do feitiço.

— Ah... ah! - exclamou, levando a mão às costas.

— Minha nossa! – assustou-se Aurora, ao ver o feitiço e o corpo de seu colega girando no ar, descontrolado. Depois de segui-lo com os olhos, imóvel, encarou Luka com indignação. – Qual o seu problema?

— Ele me acertou com a vassoura! - justificou Luka.

Seu rosto era esbelto, de fato. O maxilar era sólido, passível de aguentar qualquer ataque. O cabelo era raspado nas laterais e tão bem cortado, que Aurora pensou ter sido feito por bruxos. Parecia um dos amigos do pai, os modelos. A garota ao lado do jovem, examinou a loura com cuidado. As pessoas à volta, pararam suas compras e observaram a briga, sem interferir. Teriam apostado em Luka, se pudessem.

— Tenho certeza de que foi um acidente – argumentou ela.

— Está defendendo o namoradinho, fedelha? - perguntou a menina, satisfeita com o próprio argumento infantil.

— Essa piada é tão velha quando esse penteado seu, Élvis – rebateu ela, no nível da jovem.

Por um segundo, os olhos da garota se enrijeceram de ódio, porém Aurora podia jurar que as laterais dos globos tornaram-se roxas, com um esfumaçado que nenhuma maquiagem poderia obter. Por um breve momento, a pele dela parecia ter empalidecido um pouco também. Talvez fosse impressão dela.

— Ah… foi mal… - disse Matheus, apontando a mão para Luka, defendendo-se. – A vassoura estava descontrolada.

O valentão se aproximou mais um bocado, chegando à frente de Aurora, que se surpreendeu com a altura do jovem. O cajado com a cabeça de dragão moldada lhe impressionou. Visto mais de perto, se assemelhava a um machado com o cabo escamado e a lâmina bem quadrangular. Matheus se arrastou para trás, afastando-se da aproximação.

— Ele já recebeu o que merecia! Agora, vai embora! - pediu.
 
— Luka – chamou a garota atrás dele, com um papel em mãos. – O que é, Letícia? - perguntou ele, irritado.

No meio da conversa, apareceu o pai de Aurora, com um caldeirão em mãos feito de estanho e vários livros dentro. Carregava todos os materiais da filha, menos o animal que ela poderia escolher. Emília saltou para o ombro dele e observou dali, claramente torcendo para o garoto Luka surrar o gorducho.

— Ei, Aurora! Quem são seus novos amigos? Posso saber? - questionou ele, com um tom falso de amabilidade, percebendo o clima.

Letícia cochichou no ouvido de Luka, lhe entregando uma carta em mãos. No ombro, da loura próximo ao namorado ou sei lá, pôde notar uma boneca Emília, tão metida quando a dona. Ele, por sua vez, olhou para Matheus uma última vez, em fúria, e se retirou. A garota ao seu lado, grudou em seu corpo como um caramujo em reprodução.

— Já estão de saída… - aliviou-se Aurora.

O jovem ainda murmurava coisas inaudíveis enquanto sumia na multidão de compradores e lojistas da Avenida. Sr. Magalhães olhou a filha de cima a baixo, procurando ferimentos e machucados, antes de auxiliar o garoto a se levantar do chão.

— Por pouco… - disse Matheus, muitíssimo agradecido.

— Deu sorte que a advertência dele chegou, garoto. Ele não pode fazer feitiços fora da escola. Por que queriam te bater? - questionou, levantando-o.

— Lembra do maluco da vassoura, n°1? – explicou. – Então, era ele…

O pai deduziu o resto e tentou se segurar, já que Emília cochichava asneiras em seu ouvido que eram engraçadas, mas bastante erradas. Aurora só foi capaz de ouvir algo como:

— É engraçado, porque ele é gordo.

— Ah, sim! – disse o adulto. – Suponho que tenha acertado o olho dele…

— Sim, é… - Matheus parecia arrependido, de certo modo.

— Ah, para! Não precisa se culpar… deve ter sido engraçado, vai? – afirmou o pai, animando o pequeno.

— E foi – concluiu o garoto, libertando o riso, que foi compartilhado por todos no grupo.

— Não estávamos indo à uma petshop? - Aurora retornou ao assunto de antes.

— Você quer dizer a “Animais Não-tão-Fantásticos Habitam Aqui” - apontou o pai, uma loja mais à frente. - Estava indo buscar você para isso…

Os quatro se dirigiram à loja. A menina, pediu ao pai uma Arara, que lhe foi concedida pois ela afirmava que se assemelharia à piratas, que a mesma adorava. O sr. Magalhães até tentou dizer que papagaios eram completamente diferentes das araras, mas a felicidade de sua filha o impediu de fazê-lo. O bicho que compraram era fantástico; com penas azuis por cima e amarelas na parte de baixo das asas. Segundo a moça da loja, era uma das melhores do local. Matheus, por sua conta, também desejou uma arara, entretanto lhe faltando dinheiro, teve que ficar com um mico agitado, que bagunçou suas coisas e o cabelo cuia mais do que ele próprio fazia. Foi um fim de tarde excelente, que foi finalizado com um pote de Açaí que deixou até Emília com os lábios de boneca completamente roxos.
No final, já a noite, despedindo-se de Matheus e preparada para ir para a casa, desejou às estrelas da Avenida 25 que dormisse até dia primeiro de julho. Sonhou ansiosa com Castelobruxo, com feitiços, com os novos amigos que faria, mas principalmente, com o futuro.


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