Nosso mundo é repleto de maravilhosas coincidências.

Uma delas aconteceu em 2017, quando as primeiras linhas de Aurora de Castelobruxo foram escritas. Começaram singelas, vindas de uma dupla criativa disposta a brincar com as novas possibilidades que uma autora de bruxos disponibilizara. Em êxtase, criaram personagens, inventaram tramas, citaram referências e expandiram ideias; tudo isso confinados num espaço caótico de uma partida de RPG.

Não tardou até que isso se tornasse algo maior, resultando numa estória de sete capítulos no Nyah, que cultivava um sonho distante de ser uma trilogia. Contudo, os dois, depois de um tempo perdido em suas próprias inseguranças, incertezas e indecisões, abandonaram o projeto. Uma vastidão de sonhos que foi parar no lugar onde os planos se perdem, lançada para debaixo do tapete até se tornar menos do que uma conversa saudosista. Apenas porque nenhum deles conhecia o suficiente para contrariar esse fim. 

Isso durou o quanto precisava, até que um 2020 conturbado chegou, disposto a apresentar outra maravilhosa coincidência a um dos autores.

O confinamento lhe fez pensar sobre o presente, temer o futuro e reavaliar o passado. Algumas novas concepções surgiram dessas viagens, porém, a maioria delas provou que, independente do período que uma história se passa, um mundo é construído ou uma ideia é gerada, há sempre uma oportunidade para reavivar uma chama antiga. Provou, em essência, que sempre haverá como extrair calor mesmo de uma brasa apagada.

E então, num rompante de esperança que contrariava o mundo, o projeto retornou, com toda a intensidade que jamais teve. 

Ao chegar aqui, a esse ponto da leitura, deve saber que alcançou o fim da primeira parte de um todo; uma parte que lutou para sair do papel. Saiba que presenciou uma maravilhosa coincidência. Saiba que, em algum lugar, a mesma coisa que te empurrou até onde está agora, continuará a empurrar essa estória até que ela tenha forças para caminhar sozinha.

O ponto que ainda se destaca, como protagonista desse conto, é essa força. Esse magnetismo que atraiu o autor de volta a esse universo, essa variável que lhe arrancou da inércia. Este texto carinhosamente apelidou de "maravilhosa coincidência", sem nem entender o quanto isso é desrespeitoso, ainda mais falando de parágrafos como os que vieram antes desse. 

Existe uma nomenclatura para todas essas coisas. Todos esses eventos, todas essas coincidências, todas essas maravilhas. Um nome para a energia que o escritor teve para publicar um capítulo por dia enquanto descansava de um outro livro seu. Um nome para essa essência que te prendeu a esses personagens, que te mergulhou nessa trama, que te sacudiu do seu assento nos pontos mais importantes. Um nome para a sequência de atitudes que mudaram tudo; um clique numa página antiga, uma conversa com uma amiga preocupada, um foco inexplicável numa página em branco.

Um nome que até mesmo um homem cético como este que vos escreve precisa admitir que existe. 

Magia.