O nascer da Lua, da série Peripécias quase Divinas escrita por Ariaza Graim


Capítulo 2
Capítulo 1


Notas iniciais do capítulo

O começo. Simplesmente porque a maioria das histórias começa assim.



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Barulho deveria ser o contrário de paz. Entretanto, quando se decide que Nova York é sua passagem para o mundo é preciso abdicar de uma delas. Nesse caso, a paz. Porque era realmente impossível ficar imune do barulho da cidade borbulhante dia e noite. Felizmente, Astride sempre foi boa em se adaptar, e mal podia esperar para chegar na universidade, conhecer sua nova colega de quarto, e virarem melhores amigas. Ou algo próximo disso. Ela tinha tudo planejado.

Mas isso aqui é vida real. Alô, imaginação. Ela acabou indo para outro fim de mundo perto do litoral. Pelo menos ela podia se alegrar de ter um cantinho próprio em uma pequena faculdade do interior, e talvez conseguisse um trabalho de verão na Grande Maçã. Faça um limão de uma limonada. Espera, era o contrário?

É melhor voltarmos à nossa história, porque nossa heroína teve uma emocionante jornada.

É claro que ela não contava com o atraso no trem. E sua mala ficando para trás na estação. E perder sua passagem logo antes de embarcar. E ficar tão embasbacada com as luzes e ruas movimentadas e quase ser atropelada. Considerando sua vida pacata no orfanato de Cidade Azul, as probabilidades de tudo aquilo acontecer no mesmo dia eram ínfimas. O que configurava um cenário estranho na vida da garota. No momento dessa narrativa, ela acaba de chegar em seu quarto compartilhado em uma pequena cidade em Rhode Island, depois do caos na estação.

— Senhorita Orca, poderia me seguir, por favor? – uma senhora simpática parou à porta do quarto enquanto Astride tentava controlar o cabelo embaraçado e oleoso. Ela lhe sorriu, e tudo parecia bem, menos...

— Pode me chamar de Astride, Senhora Memphis. Não uso meu sobrenome. – ela sorriu sem graça e a mulher bem vestida retribuiu em compreensão.

— Não se preocupe. Castelmar é uma comunidade acolhedora, logo todos a chamarão pelo nome. Não é muito comum, estou certa? – ela a conduziu pelo corredor de volta à entrada onde havia mais documentos para confirmar sua matrícula e estadia no dormitório.

— Sou a única que conheço, pelo menos. – a senhora acenou distraída e apresentou outros formulários que deveria assinar.

O dia estava lindo. E deveria ter continuado assim, se não fosse a nuvem de tempestade que se aproximou. A senhora desviou a atenção de Astride, e curiosamente retirou os óculos em espanto. Ela murmurou poucas recomendações e deixou a chave na mão da garota, saindo em disparada pelo corredor.

Nenhuma senhora daquela idade consegue correr daquele jeito, ela pensou. Deu de ombros e saiu pela porta principal. O dia estava nublado, e parecia que choveria ainda naquela noite. Pode soar estranho, e na vida de uma experiente escritora, tudo podia virar uma boa história. Como um redemoinho se formando e levando tudo embora, para Oz ou algum mundo do tipo.

Pegou seu caderninho favorito e lotado de colagens e escritos e esboços, e começou a escrever apoiada em um dos balcões do pátio jardim. Seria mentira dizer que não notou a pessoa se aproximando, até porque concentração nenhuma a faria desfocar do mundo a sua volta. E isso podia ser uma vantagem.

Porém, ao levantar a cabeça para olhar em volta, não viu ninguém. Sem dar espaço para o medo, Astride podia muito bem incluir isso em sua história. “Os ventos uivavam e davam espaço para sombras e fantasmas se aproximarem furtivamente...”

—AH! – ela deu um grito quando um garoto surgiu em sua frente de repente. – De onde você surgiu?

Perguntou, segurando o caderno com força e o encarando com olhos arregalados. O homem parecia tinha olhos esbugalhados e curiosos, que pareciam não se decidir de qual cor eram, então ficavam dançando em uma mistura indistinta de mel e verde-folha.

—Eu que deveria te perguntar. Quem és tu, afinal? – ele ajeitou os óculos e ela percebeu o quanto suas roupas pareciam estranhas. Do século passado. Tipo, uns cem anos atrás.

—Pela sua cara, claramente é aluna nova. – outro homem surgiu das sombras, e ela só não gritou porque não fazia o menor sentido fingir uma personagem dramática. Ela deixava descrições mais amistosas apenas para seus livros. Piscou algumas vezes até focalizar os dois seres mais estranhos que já tinha visto. O segundo garoto tinha olhos de dragão, e se ele sorrisse, ela jurava que poderia ver dentes pontudos.

Bacana. Sua nova casa tinha pessoas escondidas por todos os lados e que pareciam ou malucas ou assassinas. Bom saber que minhas habilidades para listas de faculdades são péssimas.

Não que ela pudesse facilmente se desvencilhar daquilo. Abriu um sorriso brilhante e fechou o caderno, rapidamente guardando tudo na mochila – É, nossa, que coisa. Aluna nova, pessoal. Muitas coisas pra arrumar no dia da mudança, sabem como é. – ela tentou rir. – Eu acho que vou, sabe, procurar a Sra. Memphis e pedir algumas recomendações – como fugir de alunos bizarros seria a primeira. É isso, foi um prazer! Até mais!

Ela se virou, partindo o sorriso, mas o garoto maluquinho ainda teve a audácia de protestar. – Mas você nem disse seu nome!

Acelerando o passo, logo que entrou no corredor de seu quarto se sentiu uma idiota. Anos em um orfanato e ainda tinha problema para se adaptar com pessoas. Quem diria.

Como não tinha muito o que fazer até a hora do jantar, o tempo tinha fechado definitivamente, e sua colega de quarto não aparecera, Astride resolveu tomar um banho. Depois do dia cheio, nada que água e sabão não resolvessem. Tomou seu tempo, e ninguém apareceu para incomodá-la. Quando estava terminando de vestir uma roupa casual – leggings, suéter e pantufas – ouviu um baque no corredor e um xingamento.

Ao abrir a porta se deparou com uma mulher de rabo de cavalo torto, roupas chamuscadas e uma cara nada boa. – Ei, tá tudo bem?

Que pergunta idiota, ela pensou. Mas a garota apenas a encarou cansada e se apresentou meio desanimada. – Você deve ser minha colega de quarto, né? Encantada, Astride.

Astride estendeu a mão para ajuda-la a se levantar e notou um segundo depois o cumprimento. Todo mundo era assim? – Você deve ser a Liv, de Nevada.

Elas sorriram, e internamente estavam aliviadas pela sorte de se encontrarem. Carregaram a mala gigante e estourada que cruzara um país continental, e avaliaram onde cada uma iria guardar suas coisas. Até que Liv disparou a seguinte – É só eu, ou essa universidade é meio às avessas. Passei pela mesma pessoa três vezes em três corredores diferentes, e acho que vi um bule de chá levitando em uma das salas comunais.

— Ufa. Achei que estava ficando fora de mim quando vi isso. Já reparou em como os alunos são estranhos também?

E, bom, às vezes uma amizade pode surgir a partir de fofoca. Fofocas educativas, claro. Mas amizades verdadeiras podem ser encontradas nos lugares mais estranhos, e que mal tem?


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Notas finais do capítulo

Capítulo 2 em breve.



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