Rainha do Clichê escrita por kathe Daratrazanoff


Capítulo 2
Capítulo 2


Notas iniciais do capítulo

Oi!! Queria agradecer a todos que leram o 1º capítulo e decidiram ler esse também. Espero não decepcioná-los haha



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“Queria poder contar a ela sobre Will. Quero contar que, assim que nos conhecemos, senti algo que nunca senti antes por um garoto. Quero falar do nosso primeiro encontro e de como passei a noite inteira com a sensação de que nos conhecíamos há anos. Quero contar sobre a poesia dele, nosso beijo, tudo. E, mais do que tudo, quero contar sobre como foi vê-lo no corredor quando percebemos que nosso destino não estava em nossas mãos. Mas sei que não posso. Não posso contar para ninguém.”

Segredos
Métrica - Colleen Hoover

 

“A 1ª vez que eu a vi, foi na volta às aulas. Eu estava conversando com alguns amigos sobre as férias e os jogos que iriam acontecer ao longo da semana, e então ela apareceu. Com o cabelo todo solto e bagunçado, os óculos escorregando do rosto, e tantos livros. Por que alguém estaria com tantos logo no começo do ano letivo? E mesmo assim, me senti fascinado por aquela imagem. Ela esbarrou em duas pessoas antes de se esbarrar comigo. Eu poderia ter saído do caminho, mas fiquei bem ali, parado, vendo ela vindo na minha direção.

Alguns livros caíram, e eu ajudei ela a pegar. “Diário de uma Princesa”? “O Garoto da Casa ao Lado”? Fiquem sem fala por alguns segundos, enquanto refletia sobre aquilo. Quantos anos ela tinha? Por que uma garota da idade dela estaria andando por aí com livrinhos cor de rosa? E enquanto eu ficava sem reação, ela foi embora. 

—Quem era ela? - perguntei aos caras que estavam ali, dando risada. 

—Não lembra dela? É aquela lá que vive com um um livro na mão. - David respondeu, e os caras deram mais risadas. - Qual é, ta afim dela? 

—Qual é o nome dela? - questionei, ficando irritado. 

—Sei lá. 

E simples assim, o assunto foi esquecido. Menos pra mim, que ainda tinha a imagem dela na minha cabeça. Torci para que ela estivesse na mesma sala que eu, mas não a encontrei lá. No intervalo, andei por todo o pátio com os caras, tentando achar um vislumbre dela. Nada. Algumas semanas se passaram, me convenci de que talvez ela nem estudasse ali. Foi quando a vi na saída da escola, as mãos cheias de livros, andando rápido para algum lugar. Tentei segui-la, mas a perdi de vista. Qual era o meu problema? Ela era só uma garota.

Dois meses se passaram, e eu só tinha a visto 3 vezes durante esse tempo todo e por curtos períodos. Não sabia seu nome, nem em qual sala estudava, e todas as vezes os braços dela estavam lotados de livros. Eu precisava saber quem ela era e onde se enfiava durante os intervalos, só assim eu conseguiria seguir em frente. Ou pelo menos era isso que eu pensava.

Então teve uma palestra, onde todos os alunos da escola foram obrigados a se espremerem no auditório. Fiquei sentado em cima de umas cadeiras com o David, dali dava pra ter uma vista de toda a sala. Os palestrantes começaram a falar sobre bullyng e essas coisas que a gente escuta sempre, e outros garotos sentados ali começaram a tacar bolinha de papel com cuspe nas meninas sentadas ali perto. O que eles esperavam ganhar com isso, eu não sabia. Eles achavam que iriam conseguir pegar alguma delas desse jeito?

Richard, o que estava sentado do meu lado, acabou acertando a Michelle, a garota de quem ele gostava. Não sei se foi sem querer ou de propósito, mas a menina ficou irritada, se levantou e foi sentar lá na frente. A palestrante pediu silêncio e começamos a dar risada da cara dele, que estava toda vermelha. E foi quando vi ela entrando no auditório e sentando perto da porta. Seu cabelo estava solto, daquele jeito bagunçado que eu gostava. Carregava um livro só, o que era menos do que eu já tinha visto. Pensei em ir até ela no final da palestra, ou chegar perto e ver qual era o nome daquele livro, mas antes que eu conseguisse me levantar, ela já tinha saído.

E eu pensei comigo mesmo, só daqui a umas semanas pra ver ela de novo. Imagine a minha surpresa ao vê-la no intervalo no dia seguinte. Eu poderia perguntar a alguém sobre ela, mas sabia que a tiração de sarro não acabaria até o fim do semestre. Fiquei sentado, na minha, vendo ela a algumas mesas de distância. Alguns alunos passavam e a cumprimentavam, e então um garoto se sentou do lado dela. Eles eram namorados? Ela era comprometida? Irritação ficou sobre a minha pele. Era eu quem estava obcecado por ela durante tanto tempo, que direito aquele menino tinha dela? Tudo bem que eu nunca tinha falado com ela, e ela nem me conhecia, mas ela era… era alguém que eu gostava de pensar. 

—Cara, você ta bem? -David perguntou, curioso.- Eu, hein. Parece que ta com dor ou sei lá. 

Soltei a colher que segurava com força e desviei os olhos dela, isso era ridículo. Eu não tinha nada haver com ela, e se ela tinha algum namorado ou o que fosse, problema dela. Certo?

Dali em diante, eu iria parar de ficar me perguntando sobre ela. E a satisfação que senti ao entrar na biblioteca e ver ela ali foi pura coincidência. Lá estava ela, sentada em uma das mesas de fundo, escrevendo. E claro, uma pequena pilha de livros do lado do caderno. Eu precisava pegar um livro de biologia, mas acabei me esgueirando na fileira de Fantasia só pra conseguir chegar perto dela. Tentei espiar seu caderno, pra ver se era alguma lição de casa ou algo assim, parecia uma redação ou algo do tipo. Mas ela fechou o caderno e olhou pra mim, aqueles olhos curiosos e assustados me questionando em silêncio.

—Posso ajudar? - ela perguntou, desconfortável. 

Pensei em várias desculpas para dar, mas acabei dizendo que estava procurando um livro de fantasia e não sabia qual escolher. E então ela começou a citar o nome de alguns autores e eu fiquei perdido, tentando acompanhar o raciocínio dela.

—Você não é de ler muito, é? - ela perguntou, dessa vez com uma cara de pena.

Era o meu fim. Aquela garota devia achar que eu era um idiota que mal sabia ler. Ele se levantou, foi até uma prateleira, tirou um livro de lá, entregou a mim e disse:

—Esse é muito bom, pra quem ta começando. 

Olhei para o título dele, Coraline. Ela estava tirando sarro de mim, não estava? E fiquei parado, vendo ela sair dali e me perguntando: como ela conseguia carregar nas costas uma mochila tão pesada como aquela?”

Acho fascinante primeiros encontros. Garoto encontra garota, eles se encaram por alguns segundos, fagulhas saem voando de um para o outro. Um sorriso tímido aqui, um olhar de compreensão dali. Eles sentem que aquele encontro é único, algo de outra dimensão, e que o destino preparou algo para os dois. E tão rápido quanto aconteceu, cada um segue seu caminho. O coração palpitando, as mãos suando frio. O que acabou de acontecer? Será que vai se repetir? Você vai encontrar aquela pessoa de novo? E se a resposta for sim, a mesma energia que sentiu ali, vai sentir de novo?

As histórias  costumam começar com um esbarrão. Você sabe, eles estão andando por um corredor lotado, e então pimba, seus ombros se encostam e alguma coisa dela cai no chão. Cafona. Mas ele ajuda a pegar as coisas, suas mãos ou dedos se encostam, e tcharam. O início do felizes para sempre, o prólogo de algo maravilhoso. Na vida real, é um pouco diferente. Às vezes, você já viu a pessoa tantas vezes, que nem se lembra de como foi o 1º encontro. Talvez, na cabeça da outra pessoa, tenha até um filme inteiro sobre isso, cada detalhe sendo narrado repetidas vezes. Só que na sua, é como se aquele ser humano estivesse sempre ali do lado, então não teve um começo, já começou do meio. Eu acho, não sou tão expert no assunto.

Algumas coisas não precisam de explicação. Por exemplo, eu estou morrendo de tanta gripe, sai catarro do nariz e da boca. O que é algo nojento de se comentar, mas é a vida. Então eu fico assoando o nariz no papel higiênico, e vou colocando numa sacolinha, o que é duplamente nojento, mas pior que isso é quando to assoando no papel e o papel entra pela minha boca ou pelo nariz. É um sentimento asfixiante, e você sente o papel preso na sua garganta e não vê a hora de tirar, mesmo sem ter certeza de que ele está ali Ou quando está bebendo refrigerante e dá tanta risada que você tosse e sai pelo nariz. Coisas assim, que resumem momentos intensos.

Eu só queria saber como faz pra se preparar para esses momentos. Se você vai encontrar a pessoa dos seus sonhos, no mínimo, você quer estar bem arrumado. Cabelo penteado, sobrancelha feita. Esse é um detalhe que eu não vejo por aí. “E aí eles se olham pela 1ª vez, e ele observa a sobrancelha dela por fazer. E ela, por sua vez, repara naquele bigodinho tosco e nojento dele”. O problema é que isso cortaria ⅓ do clima então não compensaria, mas seria bem divertido.

 Sabe, caro leitor, por mais que a gente diga que odeia clichês e que estamos cansados deles, na verdade estamos dizendo o quanto estamos fartos da nossa vidinha sem graça. Aquela rotina chata e repetitiva, sem algo novo. Aqueles momentos inesquecíveis, que comparados com os de tantos livros por aí, não são tão inesquecíveis assim. Todo mundo deveria ter o direito de viver um clichê. 

E então você escolheria uma trilha sonora, e não precisaria ser uma balada romântica. Poderia ser uma música bem agitada, até porque você ficaria envergonhado demais de dançar música lenta com aquela pessoa. Mas acho que estou acelerando demais.

Onde eu estava? Ah, sim, o 1º encontro não oficial. A 1ª vez que um olha para o outro. Flores, borboletas, tudo mais. Quero dizer, eu nem me lembro da 1ª vez que eu o vi. Pode ter sido em um corredor, o que seria clássico. Ou pode ter sido em um auditório lotado. Pelo refeitório? Não sei. Mas eu me lembro de uma vez em que eu estava na biblioteca. O que eu estava escrevendo mesmo? Não sei. Não tenho tão boa memória pra esse tipo de coisa. Já disse isso antes? Também não sei. Só sei que ele estava ali perto, e eu já fiquei na defensiva. Não gosto de estar escrevendo e uma pessoa aparecer do nada. Você sabe, vai que a pessoa lê? Seria horrível.

E então eu fechei o caderno, com um pouco mais de força do que devia, confesso. E ele ficou tipo, me olhando com aquela cara de “essa menina é louca?”. Novamente, eu acho. Então ajudei ele a encontrar um livro e saí dali mais rápido do que o Flash.

Esse é o tipo de coisa que os livros não contam. Quem saberia que aquele momento seria o começo do fim? Que eu iria acabar tendo uma quedinha por aquele menino? Logo eu, que sempre esperei momentos mágicos e tudo mais. E tudo o que consegui foi passar mico, o que já é outros quinhentos.

Eu só queria que tivesse sido assim, um corredor. É o que sempre querem.


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Notas finais do capítulo

E aí, o que acharam?
Até a próxima sexta >



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