Two Worlds - Dois Mundos escrita por HuannaSmith


Capítulo 22
Quem é o meu pai?




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** Pensamentos da Mal **

Foi só o Ben fechar os olhos para eu abrir os meus, dormir era algo que não conseguia fazer naquela noite, muitas coisas estavam se passando pela minha cabeça, muitas perguntas sem respostas. Não conseguia parar de pensar nas palavras de Rumplestiltskin, ele disse que Malévola fez um acordo pela minha vida, quando eu ainda era bem pequena, mas o que ela deu em troca? 

Será que tinha alguma coisa haver com o meu pai? Será que é por isso que ela nunca havia me falado dele? Mas o que ela poderia oferecer vivendo na Ilha? Um lugar que não tinha praticamente nada? 

Quando eu fiz um acordo com essa criatura, mesmo eu e Ben tendo muito para oferecer, ele levou o que de mais simples nós tínhamos, um fio de cabelo. Mas quando ele os juntou, formou uma coisa poderosa, eu pude sentir a magia naquele pequeno frasco. E então, afinal, ele não levou o que de mais simples nós tínhamos, e sim o nosso bem mais poderoso. 

Será que com ela também foi assim? Mas se foi, por que eu nunca o conheci? Por que ela nunca me falou sobre ele? Por que ninguém naquela Ilha nunca disse o seu nome? Será que ele ainda está vivo? 

E foi ali, perdida em um milhão de pensamentos, me fazendo um milhão de perguntas, que eu cheguei a mais óbvia conclusão: Diaval. Ele e minha mãe claramente tinham alguma coisa e pela nossa última conversa, parece que eles ainda têm. Ele me contou que ela salvou a sua vida e desde então prometeram nunca mais se separar, até que ela mesma mandou ele ir embora da Ilha. 

Mas por que ela faria isso se o ama? Talvez para salvar outra pessoa, talvez ambos tenham escolhido se separar para me manter viva. E agora que tudo passou e eu já cresci, estão juntos de novo. Talvez seja por isso que ele sorri tanto quando me vê, talvez seja por isso que ele me chama de "minha pequena" e eu não acho estranho, pelo contrário, adoro. 

Será que nós temos a mesma personalidade? Ou o mesmo sorriso? E por que eu não me toquei disso no momento que o vi pela primeira vez? Se era tão óbvio? Diaval é meu pai, quem mais seria? 

Um barulho, regular e persistente, acabou me tirando dos meus pensamentos. Olhei para o Ben e o vi deitado ao meu lado, ainda dormindo pesado. O barulho soou novamente e daquela vez percebi que vinha da janela, quase dei um pulo quando vi do que se tratava, um pássaro preto enorme me encarava do outro lado do vidro. Como se tivesse escutando meus questionamentos esse tempo todo. Era Diaval. 

Levantei e fui até lá quase correndo, quando abri a janela ele apenas direcionou o olhar para o lado esquerdo do castelo, virou-se para mim novamente e depois levantou vôo. Eu sabia exatamente o que ele queria dizer. 

Olhei para o Ben e ele continuava dormindo, fechei a janela e sai do quarto na ponta dos pés, para não acorda-lo. O corredor estava vazio, escuro e quieto, como todo o castelo aquela hora, todos os empregados já deviam estar dormindo, o que era ótimo, já que não queria ninguém me perguntando se eu estava bem ou se precisava de alguma coisa. 

Quando cheguei finalmente a porta do quarto, depois de ter confundido com umas três pelo caminho, girei a maçaneta e entrei. Diaval estava em sua forma humana ao lado de Malévola, ele sorriu pra mim e eu sorri de volta. 

— Eu não tive tempo de te agradecer - disse, meu coração saltitando no peito 

— Não precisa - ele disse 

— É claro que precisa - relutei - você me ajudou quando eu mais precisava e jamais poderei te pagar por isso 

— Aí é que tá - Diaval disse com um sorriso - não precisa me pagar

Eu ri e ele também. 

Eu já sabia do que aquilo se tratava, era uma despedida, mas ainda não estava preparada, havia acabado de conhece-lo, por isso iria enrolar até onde pudesse. 

— Já se sente melhor? - minha mãe perguntou 

— Sim - respondi - como se nem tivesse acontecido 

 

Procurei a mala no chão do quarto, mas ela já não estava mais lá. Não adiantava nada querer adiantar aquilo, iria acontecer uma hora ou outra, eu só precisava aceitar, por mais dolorido que fosse.

 

— Você já vai, né? - perguntei

— Sim - ela respondeu - Diaval veio me buscar

 

Diaval mexeu no casaco, o abrindo e procurando algo no bolço interno, quando o achou, tirou e o levantou, para que nós duas víssemos. Se tratava de um pequeno frasco de tampa branca, bem pequeno mesmo, com um líquido brilhante dentro, quase que da cor das estrelas.

 

— Consegui isso com as melhores - ele disse, depois voltou-se para mim - mas não se preocupe, é magia de fada, mais luz do que isso não dá pra ser

— Não vai voltar? Nunca mais? - perguntei

— Nunca mais é muito tempo - Malévola respondeu - você já é uma mulher adulta, mas o meu trabalho não acabou ainda, então sim, eu irei voltar, mas não posso dizer quando

Balancei a cabeça positivamente, concordando.

 

— O casamento tá bem perto - informei - é importante pra mim que você esteja lá 

— Então eu estarei - ela respondeu com um sorriso tímido, me fazendo sorrir também

— Nós devemos ir agora, logo mais irá amanhecer - Diaval disse com seu vocabulário único, como se tivesse saído de outra hera - me desculpe minha pequena, mas terei que quebrar nossa promessa. Mas não se preocupe, é por uma boa causa 

— Eu vou sentir muita saudade de você Diaval  - disse

— Comigo não será diferente - ele disse com um sorriso leve - mas não se preocupe, você vai estar sempre no meu coração - ele levou a mão ao peito - mas esperei muito tempo para viver com sua mãe de novo, não irei perder essa chance. E, ás vezes, ser homem o tempo todo, me deixa angustiado 

Eles já estavam indo embora e eu não podia morrer com aquela dúvida. Isso nunca afetou a minha vida, é claro que ás vezes eu me perguntava quem poderia ser, mas não saber nunca me afetou de uma forma profunda. Só que viver com essa pergunta em aberto, também não é algo que eu queira pra mim. Precisa comprovar minha hipótese. 

— Será que você pode ficar angustiado por mais um dia? - perguntei, causando confusão em seu olhar - É que é o pai da noiva que leva ela pro altar

Diaval ficou alguns segundos sem dizer nada, meu coração estava acelerado de ansiedade. Ele olhou para Malévola, que estava olhando para mim no momento, e depois voltou o olhar para mim novamente.

— Será uma honra - ele disse por fim - mas por mais que eu queira muito, eu não sou seu pai pequena

— Não? Mas eu achei que... 

— Mal - minha mãe finalmente se pronunciou 

— Mas o Rumplestiltskin disse que você fez um acordo pela minha vida e eu achei que... achei que  o acordo tinha sido Diaval ir embora da Ilha, achei que ele tivesse se sacrificado por mim...

— Você falou com Rumplestiltskin?! - ela me interrompeu, mas eu não estava em um momento para discussões, então apenas continuei 

— Mas se não é assim, então de quem eu sou filha? Se não é o Antony e nem o Diaval... quem é meu pai, mãe?! - perguntei por fim 

Malévola ficou me olhando por mais alguns segundos, calada e meio que anestesiada, depois ela suspirou fundo, como se tivesse tomando coragem, e direcionou o olhar para Diaval, indicando alguma coisa que eu não entendi a principio. 

— Tudo bem, vou dar um tempo a vocês e esperar no corredor - ele disse, antes de passar por mim, beijar a lateral da minha cabeça e sair do quarto

Malévola virou de costas e andou em direção as portas que dão acesso á varanda, as abrindo em seguida e caminhando para lá, apoiando os cotovelos na sacada e contemplando o céu estrelado. Eu apenas a acompanhei, também apoiando os cotovelos na sacada. A noite estava fria, quase congelante, as estrelas em conjunto com a lua, forneciam uma fraca, porém suficiente, iluminação. 

— Quando você nasceu o seu pai ficou tão feliz, lembro que ele pegou as poucas moedas que tinha e comprou um gorro de lã usado, pra que você não sentisse frio - minha mãe começou a falar 

Eu ouvi as palavras de Malévola com atenção, ela nunca tinha me falado nada sobre ele e agora eu estava prestes a descobrir que ele era. Malévola me olhou, seus os olhos ficaram verdes e senti que os meus também haviam ficado. E ao longo da história, eu pude ver algumas de suas memórias. Foi engraçado, me ver tão pequena

— Ele chegou em casa feliz, colocou o gorro na sua cabeça e te segurou nos braços, aproximou o rosto do seu e disse: "bem-vinda ao mundo Mal, o seu pai te ama muito" - enquanto ela falava, pude sentir uma lágrima solitária escorrer pelo meu rosto

 

 - O Bertho era pessoa muito diferente de mim, ele não merecia estar naquela Ilha, mas foi mandado pra lá porque roubou comida quando o seu estômago estava tão vazio que começou a correr a própria carne. O erro que ele cometeu foi roubar de alguém "importante"

Por isso que você me deu o nome de Bertha? perguntei, me sentindo péssima por sempre ter achado esse nome horrível 

Malévola confirmou, fazendo positivo com a cabeça, ela também estava um pouco emocionada, mas disfarçava levantando o rosto e olhando para a lua e para as estrelas. 

— Eu adicionei ao seu nome, achei que seria uma boa homenagem 

— Mas o que aconteceu? - perguntei, já prevendo que aquela não era uma história feliz 

— Eu não posso mentir e dizer que o amava, eu estava em um momento difícil e ele também, apenas tentamos amenizar toda aquela dor ficando juntos, mas pelo menos posso dizer que ele era uma das poucas pessoas que conseguia me fazer sorrir naquela Ilha. Quando você tinha um ano, ele chegou em casa empolgado porque havia conseguido dinheiro e comprado uma fatia de bolo, eu fiz surgir uma vela, o máximo que conseguia por conta da barreira, e nós cantamos parabéns pra você - Malévola sorriu com a lembrança - ele te colocou pra dormir e depois veio conversar comigo, disse que alguns amigos estavam preparando uma fuga em massa para conseguir suprimentos na terra mais próxima

— Motunui - eu conclui e ela fez positivo com a cabeça, confirmando 

— Eles iriam aproveitar a próxima tempestade, que era quando a barreira ficava mais instável, para sair - Malévola explicou - eu tentei fazê-lo mudar de ideia, mas ele estava tão focado na ideia de te dar uma vida melhor, que não me ouviu. No dia da partida, ele brincou com você um pouco, depois beijou o topo da sua e disse: "um dia, eu ainda vou te dar mais do que uma fatia de bolo" - ela fez uma pausa, suspirando - Bertho saiu de casa confiante, em baixo da tempestade ele e os amigos embarcaram em barcos simples, feitos de madeira - ela fez outra pausa, evitando me olhar nos olhos - depois daquela noite... eu nunca mais o vi 

— Mas eles conseguiram? Conseguiram sair da Ilha? - perguntei 

— A barreira ficou bastante instável, mas não o suficiente para permitir que eles saíssem - Malévola  respondeu - e quando eles tentaram... morreram na hora 

Abaixei o olhar, sentindo meu coração apertar. Eu nunca imaginei muito como seria meu pai, mas das opções nas quais já pensei, aquela de longe era completamente diferente de todas. Ele havia morrido com um propósito, ele queria me dar uma vida melhor. 

— Você sentiu muito a falta dele no começo, chorou noites inteiras, mas como era muito pequena, o tempo sarou e você e se esqueceu dele - ela fez uma pausa - mas eu jamais vou poder esquece-lo, afinal, Bertho me deu um dos melhores presentes que já recebi na vida - Malévola finalmente me olhou, passando a mão no meu rosto, o enxugando 

— Mas então... o que você trocou com o Rumplestiltskin? - perguntei 

Malévola não estava muito afim de falar, eu percebia isso em seu rosto, mas eu precisava saber, já havia passado tempo demais. 

— Quando você completou dois anos, os seus poderes começaram a ficar mais fortes, eu conseguia sentir a magia dentro de você, mas a barreira te impedia de usa-los, o que começou a te deixar fraca e aos poucos cada vez mais doente - ela explicou - eu fiquei desesperada achando que iria te perder, então resolvi fazer um acordo 

— E o que ele pediu? 

— Ele disse que se eu quisesse continuar tendo você na minha vida, eu teria que abrir mão do amor - franzi a testa com aquilo, mas ela logo tratou de explicar - e naquela mesma tarde, eu mandei Diaval embora da Ilha - Malévola concluiu, com uma lágrima escorrendo pelo rosto 

— Meu Deus... - disse pra mim mesma, era muita coisa para digerir 

— Agora me diga, por que fez um acordo com ele? Por que se submeteu a uma coisa como essas? - ela perguntou apreensiva 

— A Evie precisava do contrato do Stefan pra sustentar a acusação, caso contrário... você morreria - expliquei  

— E o que deu a ele em troca? - ela perguntou com o olhar apreensivo 

— Um fio de cabelo, meu e do Ben - respondi - ele disse que a magia do amor é poderosa

— Você pode ter pagado sua divida com ele, mas ainda terá que pagar sua divida com a magia negra - Malévola disse - por que fez isso? Por que foi tão tola de arriscar sua vida dessa maneira? Entende a gravidade de um acordo como esses? Aquele contrato estava banhado da forma suja de magia que existe, Mal 

— Eu não podia deixar você morrer - expliquei 

Malévola me puxou e me abraçou, o que me surpreendeu no momento, mas retribui o gesto. Ela passou a mão no meu cabelo e nas minhas costas, ficamos juntas por algum tempo, até ela me soltar. 

— Eu tenho que ir agora - ela disse, indicando com o olhar o enorme pássaro preto que nos observava do galho mais alto de uma das árvores do enorme jardim do castelo - mas não se preocupe, eu vou voltar 

Fiz positivo com a cabeça. Malévola pegou o pequeno frasco nas mãos e o observou, o liquido lá dentro continuava tão brilhante quanto antes, mas antes de abri-lo, ela virou-se para mim. 

— Antes de eu ir, quero que me prometa uma coisa - a olhei com atenção - que você vai cuidar muito bem do meu neto 

Franzi a testa com aquilo. Como assim neto? Do que ela estava falando? 

— Como? 

Mas Malévola não me respondeu, ela já havia aberto o frasco e naquela momento apenas bebeu tudo que havia lá dentro, desaparecendo poucos segundos depois, deixando apenas uma leve fumaça esverdeada para trás. No jardim, uma linda ave levantou vôo, enquanto fazia um barulho que cortou o silêncio da noite. E de alguma forma, eu pude jurar que aquilo significava: "Até logo, minha pequena". 

** Pensamentos da Princesa Isabel **

Eu acordei com o som de portas batendo no corredor, estava quase na hora da aula e eu não tinha sequer escovado os dentes ainda. Levantei da cama e fui correndo até o banheiro me arrumar. Depois de pronta, peguei minha mochila e sai do quarto apressada. 

Quando cheguei ao corredor que fica o meu armário, dei de cara com ninguém menos do que Noah, o intrometido. Eu até tentei passar despercebida, mas parece que a conversa com os amigos não estava tão empolgante, porque ele acabou me vendo e vindo até mim. 

— Bom dia Isabel - ele disse se aproximando - sobre ontem... 

— O que? Vai me pedir desculpas? - o interrompi, fazendo a minha melhor pose de brava 

— É... mas não achei que tivesse ficado tão chateada 

— Me desculpa - suspirei - mas é que, se você tivesse ido para onde deveria desde o começo, teria evitado muitos problemas 

— Foi a Bernice? Ela te disse alguma coisa? Se quiser, posso falar com ela 

— Não é só ela 

O toque soou bem naquela hora e todos os alunos começaram a andar em diferentes direções, cada um para uma sala diferente, resultando em uma sucessão de empurrões e pisões. 

— Olha, deixa pra lá - eu disse fechando a porta do meu armário - eu já tô atrasada pra aula mesmo

— Por favor Isa, me conta - ele pediu, segurando meu cotovelo e me impedindo de continuar andando

— Você não sabe mesmo? - Noah fez negativo com a cabeça. Suspirei - Os seus amigos não fizeram o teste do Aguidar ontem, disseram coisas ruins e ainda bateram nele 

— O que? - ele perguntou e parecia realmente surpreso 

— Os seus amigos foram uns idiotas Noah, o que eu devo esperar de você? Que será diferente? - indaguei 

— Eu sou diferente - ele disse com firmeza - e não se preocupe porque isso não vai ficar assim, eu vou falar com eles 

— Sério? 

— De verdade, mas peço que não me julgue pela ação dos outros. Não é porque somos amigos que temos que ter os mesmo ideais - Noah disse com firmeza - olha Isa... eu realmente gosto de você e não quero que pare de falar comigo por conta disso. Eu reconheço que fui um idiota ontem te seguindo até.... aquele lugar 

— Então por que fez? - perguntei 

— É que... eu só queria te perguntar uma coisa - ele ajeitou a mochila nas costas e me olhou - se você queria tomar um café comigo depois da aula 

Eu gelei na hora, ele tava mesmo me chamando pra sair? Então foi por isso, Noah não tava me seguindo, na verdade ele estava apenas querendo um momento a sós para falar comigo, só que tudo acabou virando uma grande confusão e ele resolveu não me chamar mais. Que idiota que eu sou! Tentando ser dura com ele, quando na verdade ele mesmo já estava se sentindo super mau. 

— Eai? - ele me tirou dos pensamentos - Você aceita? 

— Ahm... claro, vais ser legal - respondi 

Noah sorriu e me abraçou, depois se despediu e foi para a aula. Eu ainda fiquei alguns minutos parada no corredor, completamente anestesiada, sem conseguir acreditar no que tinha acabado de acontecer. Era isso mesmo? Eu tinha um encontro com o capitão do time da seleção? Um dos meninos mais lindos de toda a Auradon Prep? O filho da Branca de Neve? Se Agui estivesse ali, eu pediria para que ele me beliscasse. 

Falando nele, quando me virei para ir pra sala, o vi no final do corredor. Não tenho certeza se ele não me viu ou se preferiu me ignorar, mas enquanto eu acenava, Agui apenas deu meia volta e continuou o seu caminho, o que me fez andar mais rápido até ele. 

Quando cheguei no corredor do laboratório de ciências, Agui já estava na sala, tirando o livro da mochila e o colocando em cima da mesa. Seu semblante estava diferente, mas não é por conta do olho roxo, ele parecia com raiva. 

— Ei, você não me viu? - perguntei enquanto sentava ao seu lado

— É claro que vi - ele respondeu de uma forma debochada - também vi com que você tava 

— Então isso é por causa do Noah? Olha Agui, ele não bateu em você, ele nem sequer estava lá - expliquei - Na verdade, ele vai até falar com o time, não vai deixa-los impunes 

— E você acreditou nele? Sério Isabel? - Agui indagou, irritado - Não ouviu o que te falei sobre ele? 

— É claro que eu ouvi - me defendi - mas ele não é como você pensa, na verdade, ele é bem legal 

— Ah é? 

— É! Desde que eu cheguei nessa escola, todos tem sido uns idiotas, mas o Noah não, ele tem sido legal comigo 

— Se ele tem sido legal, eu tenho sido o que Isabel? Um idiota? - Agui indagou, com a voz séria 

— Não é isso... não foi o que eu quis dizer

Mas já era tarde, eu já tinha falado a besteira. Eu não quis dizer que só o Noah tinha sido legal comigo, mas acabei me expressão de uma maneira ruim. Agui juntou suas coisas, se levantou e foi sentar ao lado de Nina, literalmente do outro lado da sala. Eu apenas suspirei, chateada de aquela briga ter acontecido. 

** Pensamentos da Mal ** 

Quando voltei para o quarto, já havia amanhecido, mas Ben ainda dormia tranquilamente na enorme cama de cordel. Malévola já havia ido embora e Diaval também, mas eu não consegui parar de pensar no meu pai e principalmente no que minha mãe disse pouco antes de partir: "que vai cuidar muito bem do meu neto". O que será que ela quis dizer com isso? Será que estava se referindo ao futuro? Só podia ser isso. 

 

— Onde você estava? - Ben perguntou, me tirando de meus pensamentos - Tá tudo bem? 

— Sim - respondi - eu só fui andar um pouco, tomar um ar 

— Tem certeza? - ele perguntou apreensivo, se sentando na cama 

Fui até ele, me sentando ao seu lado, e passei a mão em seu cabelo bagunçado, lhe dando um beijo logo em seguida. 

— Tenho - respondi com um sorriso, o tranquilizando - desculpa ter te acordado 

— Na verdade, já tá na hora de eu levantar mesmo, então obrigada - Ben disse, me fazendo rir 

Meu noivo saiu da cama e foi para o banheiro tomar banho, já eu tive que sair e andar até o meu quarto, que fica do outro lado do castelo, o que eu particularmente odeio, mas em quanto não somos casados, tenho que seguir as regras da rainha Bella, o que eu já não faço muito bem. 

 

O  café da manhã foi corrido, já que bem no meio dele, quando eu estava pegando a minha segunda panqueca, Ben recebeu uma ligação, fazendo todos na mesa pararem de comer. A rainha Bella não gosta que nem ele e nem o Adam atendam a telefonemas na hora das refeições, mas segundo o mordomo que trouxe o telefone sem fio, aquele era muito importante. 

— Tudo bem, já estamos a caminho - Ben disse, terminando a ligação e entregando o telefone de volta para o mordomo 

— O que foi Ben? - perguntei apreensiva 

— Evie está precisando da gente com urgência, todos os conselheiros estão exigindo uma reunião imediata - ele explicou, já levantando e limpando a boca em um guardanapo 

— É algo sério, Ben? - Adam perguntou 

— Espero que não - meu noivo respondeu

Ben estendeu o braço em minha direção, eu soltei os talheres e me levantei, segurando sua mão em seguida. Fomos de carro até a Auradon Prep, por algum motivo, eles exigiram que a reunião fosse lá. 

— Será que isso tem haver com o que Evie queria nos contar ontem, mas não contou? - perguntei quando estávamos dentro do carro, a caminho da escola 

— Acredito que não, pela voz dela é um assunto muito sério - ele respondeu - ela não teria escondido algo assim 

Apenas concordei com a cabeça, ele tinha razão, ela jamais esconderia algo tão sério assim. 

Quando finalmente chegamos a Auradon Prep, Benjamin desceu apressado, estendendo a mão para mim em seguida, eu a segurei e nós caminhamos para dentro da escola. Daquela vez Ben não parou para falar com os alunos e como eu nunca paro, fomos direto para a sala de reuniões. 

Chegando lá, Evie estava a nossa espera no corredor, ela andava de um lado para o outro, visivelmente nervosa, quando percebeu nossa presença, veio até nós quase correndo. 

— O que aconteceu Evie? Por que o conselho está tão inquieto? - Ben perguntou 

— Isso ainda é por causa da votação? - indaguei 

— Não, dessa vez é diferente - Evie respondeu - Scarlett recebeu uma denúncia anônima ontem a noite e contou a todos, agora eles exigem respostas 

— Denúncia? Contra quem? - perguntei confusa 

— Contra você Mal - Evie disse por fim 

** Pensamentos de Malévola ** 

O lugar claramente precisava de uma boa limpeza, mas eu estava surpresa com que ele havia conseguido fazer no centro de um reino que abomina e caça magia todos os dias. Havia de tudo ali, desde coisas básicas como folhas secas de rosa cantante para chás e poções, até olhos de salamandra real. 

A parte de literatura também me impressionou bastante, ele tinha obras incríveis de magia gnomática para a venda e livros raros de magia avançada para locação. Também haviam vassouras, caldeirões, capas de proteção e poções pré-preparadas, não tínhamos nada como aquilo na Ilha. 

— Você fez um belo trabalho aqui - comentei, passando a mão por algumas peças - a localização também é ótima, tenho que admitir 

— É verdade, os bastardos não fazem ideia que comercializamos magia bem em baixo de seus narizes - Diaval disse rindo 

— Vejo muita coisa aqui, mas nada nada de magia negra - comentei, me virando em sua direção

— E nem vai ver bebê, eu sou limpo como a água - ele disse se aproximando e posicionando as mãos em minha cintura 

— Ah mais você deveria tomar cuidado "bebê", ouvi dizer que água daqui é bem suja - o beijei 

 - Não a minha água, essa é mais do que pura bebê - Diaval disse entre nosso beijo 

Mas um barulho levemente irritante acabou estragando o nosso momento, Diaval tirou um pequeno aparelho do bolço, fez alguma coisa nele e colocou no ouvido. Acabei chegando a conclusão de que era um celular. Pelo visto isso havia diminuído de tamanho também. 

Alô? Bernice? — ele disse - Claro querida, estarei logo aí, não se preocupe. Beijos 

Diavol terminou a ligação e guardou o aparelho no bolço, tentando retomar o nosso beijo em seguida, mas eu desviei o rosto. Se íamos ter uma vida juntos, eu precisa saber quem era essa tal  "Bernice". 

Querida? - indaguei 

— O que é isso? Ciúmes? - Diaval perguntou com um sorriso - Pois saiba que isso é ridículo, porque a menina só tem dezenove anos 

— Espera, dezenove? Então... - comecei a fazer as contas na cabeça 

— Ela não é minha filha! Não se preocupe - ele me interrompeu rindo - na verdade acho que nada do que eu falar vai explicar melhor do que você indo comigo até lá e vendo com os próprios olhos. O que acha? 

O olhei com a sobrancelha erguida por alguns segundos, mas acabei aceitando a oferta. Afinal, não era como se eu tivesse um milhão de planos e compromissos. 

** Pensamentos do Ben **

A sala de reuniões estava mais parecendo uma feira, os conselheiros só pararam de discutir uns com os outros quanto perceberam a minha presença e a de Mal, eles fizeram uma breve reverência e sentaram-se todos ao longo da mesa. 

Eu mesmo percebi os olhares acusadores sobre minha esposa, então obviamente ela também percebeu, mas a Mal é uma mulher forte, ela não é de se abater por provocações tão baixas. Me sentei á cabeceira da enorme mesa escura, Mal sentou ao meu lado direito e Evie ao meu lado esquerdo. 

— Declaro aberta essa reunião - eu disse ajeitando minha gravata

— Eu sugiro que Scarlett comece, já que a acusação foi feita á ela - Evie disse 

— Concordo - acatei - nos conte sobre, conselheira Scarlett 

 

— Bem, a denúncia foi anônima - Scarlett iniciou 

— E sobre o que se trata? - indaguei 

— A pessoa informou que existe um grupo, formado em sua maioria por alunos da Auradon Prep, que praticam magia ilegalmente. A fonte também disse que o local de encontro desse grupo é localizado aqui mesmo, no subsolo da escola 

Os conselheiros começaram a discutir baixo uns com os outros e Mal começou a conversar com Evie, mas eu não estava prestando muita atenção, estava mais ocupado pensando em como lidaria com mais aquele problema. 

Eu sabia que uma hora ou outra teríamos algo como isso, quando proibimos alguma coisa, mais praticantes acabam surgindo. Na época em que a lei foi decretada, muitos adeptos de magia fugiram para reinos que não acataram a lei e muitos outros foram presos e mandados para a Ilha dos perdidos, qualquer coisa relacionada a magia já era motivo para que a policia se envolvesse e mais pessoas fossem presas. 

Mas confesso que uma organização escondida bem em baixo da Auradon Prep, uma instituição que é exemplo de bondade e ordem para o nosso reino, acabou me surpreendo. Só que o fato de ser uma acusação anônima, deixa muitas lacunas em aberto, talvez nada disso seja verdade. 

— Não temos nenhuma construção no subsolo da escola - relutei 

— Também não tínhamos nenhuma organização de adeptos de magia e vejam só - Scarlett disse com ironia 

— Eu concordo - Philip se manifestou - eles podem muito bem usar exatamente o fato de desconhecermos instalações no subsolo de nossa escola, para se esconderem 

— Como também pode ter sido um mau entendido e não existir nada lá - relutei - mas de qualquer forma, iremos averiguar, pois se de fato existir uma organização como essas, é um crime muito sério 

— E deverá ser punido como tal - Scarlett disse 

— O que ainda não entendi é no que isso remete minha esposa 

— Segundo o acusador, sua noiva e futura rainha de Auradon, é ninguém menos que a mediadora do grupo, os ajudando a se esconder  e continuar usando magia ilegal - Scarlett disse encarando Mal, que apenas soltou um riso abafado 

— Mas isso é uma mentira! - aumentei meu tom - O que me faz acreditar que toda essa acusação é uma farsa sem tamanho 

— Séra mesmo Majestade? - Philip se manifestou - Pois todos nós vimos a senhorita Mal admitir diante do país inteiro, que ainda usa seus poderes 

Todos começaram a falar ao mesmo tempo e a feira se instalou novamente na sala de reuniões. Algumas vozes se destacavam por terem um tom mais alto, como a de Mal e a de Philip. 

— É claro que ainda uso os meus poderes, a promessa que fiz foi não usar mais a magia negra, por isso dei o livro á Fada Madrinha, mas nunca disse pararia de usar meus poderes, eles fazem parte de mim! 

— Como futura rainha você deveria saber que em nosso reino, a capital de toda Auradon, rege uma lei que proíbe todo e qualquer tipo de magia! 

As discussões continuaram e eu mau conseguia escutar meus próprios pensamentos. Eu tinha que assumir uma posição diante de tudo aquilo, a minha palavra deveria ser a final, então bati o punho na mesa, fazendo um barulho alto e conseguindo a atenção de todos, que se calaram e olharam para mim. 

— Não aceitarei, que continuem levantando acusações levianas contra a minha esposa - disse com seriedade - desde que começamos nosso relacionamento, sua vida tem sofrido invasão por parte da mídia até mais do que a minha, Mal não tem nada a esconder 

— E em quanto a possível organização de adeptos praticantes de magia? - Scarlett indagou 

— Nós iremos iniciar as buscas pela escola, caso a acusação seja verdadeiro, eu tomarei as devidas providências 

Eles não ficaram muito contentes com a minha decisão, principalmente em relação a Mal, eles sempre implicam com ela. No começo do nosso relacionamentos, eles nenhum membro do conselho nunca se pronunciou, mas quando a pedi em casamento, todos começaram a julgar e dizer que ela não era uma boa opção para futura rainha e que eu como rei, deveria me casar usando a razão, visando o melhor para o meu povo, e não com o coração. 

Mas eu nunca dei ouvidos á eles e isso não parecia afetar a Mal, então nunca dei muita importância, mas agora eles estão passando dos limites, a acusando de crimes que tenho a certeza que ela não cometeu. E isso eu não permitirei. 

Todos se levantaram e começaram a sair da sala, mas Philip deu um jeito de se aproximar e falar em um tom suficiente para que só eu, Mal e Evie escutássemos. 

— Tome muito cuidado Majestade, não acho que o povo vai aceitar tão facilmente que a futura rainha seja uma adepta de magia - ele disse, antes de sair da sala junto com os outros

Respirei fundo e apoiei os cotovelos na mesa, passando as mãos pelo meu rosto, tentando aliviar a pressão. Depois levantei o olhar e observei Mal, ela estava com um semblante neutro, olhando para a janela ao fundo, como se estivesse perdida em pensamentos. 

— Não se preocupe, Mal - eu disse, ganhando sua atenção - eu não vou deixar que te aconteça nada 

— Tá - ela disse - mas e quem protege eles?— minha noiva indagou, me deixando extremamente confuso 


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Notas finais do capítulo

E então? O que acharam do capítulo?
Vocês acham que o Noah vai punir os outros membros do time? E por que será que o Agui ficou tão irritado? O quão fofo e emocionante foi a Malévola contando a Mal sobre o pai dela? O que acharam do casal Malévola + Diaval? E qual será a relação dele com a Bernice?
Quem vocês acham que fez a denúncia? Não esqueçam de comentar suas teorias e apostas aqui em baixo e favoritar a história, beijos!



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