Aquela locadora da Rua Cranbourn escrita por Trauma


Capítulo 6
Experiência.




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Passei alguns dos segundos mais longos da minha vida ali, olhando pra ela. Após um tempo, ela desistiu de prender o riso e soltou uma gargalhada deliciosa. Bateu sobre o meu ombro e sorriu.

— Bobo!

— QUÊ?

— Olha pra essa minha cara de quem bate bife! – gritou, gargalhando e quase caindo da minha cadeira – Ai, Jesus, quase quebrei meu pezinho.

— Cê é ridícula! – gritei.

Ela continuou rindo e, aos poucos, foi se acalmando. Pegou um doce no balcão do caixa e o abriu, mordiscando-o. Aproximou-se de mim e o colocou na minha boca. Quase mordi seu dedo ao pegá-lo.

— Babacona.

— Ai, você devia ter visto sua cara!

— Perdemos metade de Mogli nessa sua palhaçadinha.

— Me desculpe, Baguera.

A sineta soou e um dos nossos clientes-padrão entrou na loja. Um adolescente com o rosto espinhento e oleoso, coçando o braço e entrando sem jeito, passando os dedinhos melados de cheetos e coisas mais nojentas pelas caixinhas de VHS.

— Garoto, todos sabemos o que você veio fazer aqui – resmungou Amanda, entediada – Vá logo pra sessão de pornô e não passe tanta vergonha.

Nosso cliente nos fitou assustado e correu para a sala que continha uma cortina preta e uma grande placa com escritas amarelas: “Adulto”.

— Você é péssima com clientes.

— Eles realmente acham que enganam alguém colocando o pornô dele entre Uma linda mulher e Pulp Fiction?!

— Pulp Fiction é incrível.

— Ah, é.

E começamos a conversar sobre filmes, nos esquecendo completamente do rapaz dos filmes adultos. Ela era tão culta e tão engraçada e conhecia tanto sobre cinemas. Às vezes eu simplesmente esquecia que ela era uma moça e não um dos caras, de tão bem que ela conversava. Era diferente das meninas da escola, que riam de tudo o que eu falava porque eu era bonitinho. De vez em quando, Amanda batia no meu ombro e falava “Mas que merda, hein?” das minhas piadas. E eu estava adorando isso.

— Er... Eu vou levar esses aqui – disse o garoto, jogando em cima do balcão uma pilha de pornôs – E um Snickers.

— Tenha um bom sábado! – gritou Amanda, apoiando-se em meus ombros.

— Obrigado – gaguejou.

E saiu, sem jeito. A sineta da vergonha soou novamente e eu prendi o riso, me jogando incrédulo na cadeira. Ela riu e começou a colocar todos os rótulos dos produtos pra frente e limpou o balcão.

— Você é inacreditável.

— Você pode dizer que eu sou maravilhosa.

Piscou charmosa e levantou-se para trocar a fita no aparelho. Colocou outro desenho e se sentou mais uma vez ao meu lado. Sorriu.

— Eu gosto desse.

— É bem novo, né? – e ela assentiu – Eu adoro dinossauros.

— Eu também – comentou, aérea – Eu gostei da Zukie por isso.

— SIM! – gritei.

E começamos a conversar sobre como meu adorável bichinho de estimação era fantástico por se parecer com um dinossauro. No meio da nossa discussão, a sineta soou e os caras entraram, com feições sonolentas.

— Seus ridículos! – ela gritou, jogando uma caixa de tic-tac diretamente no rosto de Tom – Vocês estão muito atrasados.

— E você é muito chata.

Harry apertou a bochecha dela, que corou. Sentou-se do lado dela e aquele ruborzinho em suas bochechas muito me incomodou. Danny se sentou ao meu lado e riu baixinho, provavelmente da minha cara de imbecil.

— Você tá com ciúme dela, Poynter?

— Deixa de ser babaca.

— Você tá com ciúme dela, Poynter.

— Já disse pra deixar de ser babaca.

— Mas agora não foi uma pergunta.

E soltou aquela gargalhada infeliz dele. (N/A: Pelo bem de todas vocês, assistam a esse vídeo! https://www.youtube.com/watch?v=EGkd9FG6BKA) Amanda engajou numa conversa sobre dinossauros com Harry, que parecia pouco entusiasmado, mas dava atenção a ela e fazia alguns comentários que a faziam rir. Um cliente entrou com uma garotinha, que saiu pulando pelos corredores.

— Essa piveta vai quebrar tudo – resmungou Tom, amargurado.

— Cala a boca – bronqueou Amanda, beliscando sua perna – Quer ajuda pra escolher alguma coisa, meu bem?

E de repente lá estava ela, sendo a melhor babá de todos os tempos e ajudando a menina a escolher um filme, sem quebrar nada e ainda convenceu o pai dela a comprar um mercado inteirinho de doce pra ela. Encaramo-la, assustados.

— Nanny McPhee tá trabalhando aqui.

— Calem suas bocas e aumentem o volume.

O silêncio permaneceu até a hora do almoço, enquanto assistíamos a desenhos com a pequena sentada entre nós. Aí, o Al chegou. O dono daquela bodega.

— Boa tarde, garotos! – gritou, entusiasmado – Que é isso aí?

Isso é a nova namoradinha do Dougie. Ou do Harry. Nós e ela não desistimos ainda.

— Mas o quê...?

— Eu vim aqui ontem e me chamaram pra voltar, senhor. Se não quiser que eu fique aqui atrás do balcão, me avisa que eu me recolho e vou embora.

— Ela conseguiu fazer um cara comprar metade do nosso estoque e doces e levou quatro desenhos pra filha. E acelerou os processos dos jovenzinhos punheteiros. A garota é ótima, ‘devia contratá-la.

— Mas eu já tenho quatro funcionários pra uma locadora minúscula.

— Divide o nosso salário com ela! – gritou Danny.

— Vocês são ridículos de altruístas. Eu posso trabalhar em troca de filmes, se for possível. Ou nem isso. Posso só ficar aqui fazendo companhia pros caras.

— Você está em período de experiência, senhorita...

— Amanda.

— Ótimo. Pode ficar. Eu gosto muito desses garotos pra negar qualquer pedido deles.

Al sorriu, verificou o que tinha de verificar e se sentou conosco para assistir a desenhos. Amanda atendeu quatro clientes maravilhosamente enquanto isso, e nosso chefe a encarou.

— Eu podia demitir esses quatro imprestáveis e deixar só você.

— Porque dois não trabalham em cada turno?

— Porque eles não se desgrudam, estas mariquinhas.


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