Destinada escrita por Benihime
Lydia
Minha primeira providência quando saí do quarto de Atena foi, obviamente, procurar Zeus. Ele e Hera estavam caminhando pela praça principal. Mamãe percebeu a urgência do assunto e se afastou, permitindo que meu pai e eu conversássemos em particular.
— Acredito que descobri quem roubou a espada. — Anunciei sem perda de tempo. — Posso recuperá-la, se o senhor me permitir.
Meu pai ficou em silêncio por um longo momento, sua expressão cada vez mais séria, o que nunca era um bom presságio.
— Não, Lydia. — Ele disse por fim. Seu tom era firme, inegavelmente autoritário. — A culpa disso é principalmente minha. Eu devo assumir essa missão.
Desconfiei imediatamente. Zeus jamais diria uma coisa dessas, a não ser que o assunto fosse muito grave. Com certeza não em relação a uma falha de segurança, mesmo tendo custado o que custara.
— Isso é ... Louvável de sua parte, meu pai.
— Todos nós temos nossos momentos. — Zeus afirmou, bem humorado. — Mas e então, quem é seu suspeito?
— Edellyn. O senhor na certa se lembra dela. A feiticeira.
— A que traiu você? Sim, eu me lembro. Mas pensei que ela estivesse morta.
— Parece que não, pai. A única coisa que me falta é descobrir onde aquela víbora está escondida.
— Eu farei isso. — Meu pai declarou. — Obrigada por me contar, Lydia. Farei bom uso dessa informação.
— Disponha, pai.
Me afastei com uma sensação de que algo estava errado, de que não devia ter falado nada para Zeus.
Zeus
Furioso, observei Lydia se afastar. Hera se aproximou, enganchando o braço no meu, arrancando-me de meus pensamentos.
— O que ela queria, meu rei?
— Nada de mais, querida. Ela só queria acertar os detalhes para uma ideia que teve. Não posso comentar nada, mas é genial.
— Ela puxou a mãe.
Mais do que você imagina, pensei, exasperado.
Lydia tinha o temperamento forte de Hera com uma dose cavalar da minha astúcia. Isso era uma combinação muito, muito inconveniente para mim.
— Ah, droga! — Tentei soar casual — Hera, acabei de lembrar que preciso falar com Atena sobre o roubo da espada. Ela disse que tinha uma teoria que eu gostaria de ouvir.
— Tudo bem. Nos vemos depois.
— Me desculpe, minha menina. Eu prometi que ficaríamos juntos hoje.
— Eu já imaginava. — Minha esposa respondeu com fingida exasperação. — Você nunca consegue deixar nada para depois. É uma das coisas que mais amo a seu respeito.
Eu enlacei sua cintura e plantei um beijo em seus lábios, apreciando a maciez e o gosto doce daquela boca.
— Você é a melhor de todas, minha rainha. — Falei — Prometo que não demoro muito tempo.
— Leve o tempo que precisar.
Livre de suspeitas, me afastei de minha esposa ainda exasperado. Lydia não deveria nem ter chegado perto da verdade. Alguém me devia explicações, e eu iria atrás delas.
Lydia
— Lydia! — Hécate exclamou ao me ver. O brilho de satisfação em seus olhos cor de mel parecia sincero. — Que surpresa! O que a traz aqui?
— Preciso da sua ajuda. — Mostrei a ela o livro de feitiços, já aberto na página desejada. — É disso que preciso. O feitiço é complicado, então achei melhor procurar a mestra.
Hécate pegou o livro e analisou o feitiço rapidamente.
— Veio à pessoa certa — Ela sorriu — Podemos começar agora mesmo, se quiser.
— Obrigada, Hécate.
Ela fez sinal para que eu a seguisse. Fui levada até uma sala que eu conhecia muito bem, com um enorme espelho que ocupava quase toda a parede no canto oposto à posta e o resto repleto de estantes com os mais variados frascos e livros.
— Você se lembra da regra principal da magia, não é? — Hécate inquiriu.
— Manter a mente limpa e focada.
— Isso mesmo. — Ela assentiu. — Eu vou lançar o feitiço e canalizá-lo para você. Tudo o que terá de fazer é se concentrar na pessoa que quer encontrar. Só preciso pegar algumas velas antes de começarmos. Enquanto isso, concentre-se.
Fiz como Hécate ordenara, respirando fundo e tentando superar o ódio que Edellyn me despertava sempre que eu pensava nela. Eu sabia que sentimentos e magia não se misturavam sem resultados ruins.
— Posso sentir seu ódio a anos-luz daqui. — Hécate disse de trás de mim. — Assim não vai dar certo, Lydia.
— Eu sei, mas não consigo evitar. O que Edellyn fez comigo …
— Ah, então é da pequena víbora que estamos falando! Por que não disse antes? Tenho a solução para o seu problema.
Ela procurou entre as estantes até encontrar um pequeno frasco cheio de um líquido negro e espesso que parecia piche.
— Isso é …
— Affectus Inhibitor. Vai anular seus sentimentos por algum tempo, o suficiente para o feitiço funcionar.
— Hécate, eu não sei …
— Confie em mim. — A Deusa da Magia disse gentilmente. — Eu jamais faria nada para feri-la.
— Eu sei disso.
Abri a tampa do frasco, porém Hécate deteve minha mão.
— Apenas duas gotas, Lydia. — Ela declarou. — Nada mais que isso, e não se esqueça de manter a mente focada no que quer. Não queremos acidentes como o da última vez.
Assenti e pinguei as duas gotas em minha língua. Espessa e de gosto forte, agridoce, era provavelmente a poção mais desagradável de todas.
— Agora me ajude aqui enquanto isso faz efeito — A Deusa da Magia disse. — Preciso que trace o pentagrama para mim. E, quando eu terminar o feitiço, concentre-se em Edellyn e somente nela. Não pense em nada mais.
Fiz como Hécate pedira. Ela mesma me ensinara a fazer isso e sempre me elogiara por minha mão firme. O círculo foi traçado e ela distribuiu as velas. Eu as acendi e Hécate me pegou pelos ombros, posicionando-me na frente do espelho.
Hécate
Seus olhos estavam opacos e a postura rígida como uma tábua. Lydia provavelmente não notava, mas eu via os sinais de que o Affectus Inihibitor estava agindo.
Nubes levis volat orbe quaerimus et invenimus.
Repeti o feitiço mais duas vezes e o espelho começou a brilhar como água iluminada pela luz do luar. Lydia fechou os olhos e seus lábios começaram a se mover lentamente. Prestando atenção, pude notar que ela estava repetindo a mesma palavra, o mesmo nome, sem parar: Edellyn.
Lydia
O espelho ondulou como a neblina que desce sobre as ondas do mar. Dos tentáculos cinzentos, a imagem de Edellyn se formou. Atrás dela havia algo que pareciam pinheiros. Agucei minha atenção, tentando distinguir os contornos.
Como se obedecesse à minha vontade, a imagem no espelho mudou, mostrando uma cachoeira congelada brilhando à luz difusa vinda das nuvens pesadas no céu, cuja cor cinzenta contrastava com os pinheiros no alto da cachoeira. As brumas envolveram novamente a imagem e o espelho voltou a se apagar.
Lydia. Lydia, escute. Nos ajude.
As vozes começaram como sussurros, mas logo tomaram forma, figuras feitas de névoa, formas difusas e sem rosto. Eu podia sentir seu sopro gélido sobre mim. Perto demais.
Hécate
Lydia parecia diferente. Notei sua respiração se acelerar e sua postura se tornar defensiva. Suas mãos cobriram os ouvidos, como para bloquear um som extremamente alto.
— Lydia. — Eu imediatamente estava ao seu lado, alarmada. — Lydia, está tudo bem. Não tem nada aqui.
— As vozes. — Sua voz era puro medo, o pavor mais cru que eu já ouvira. — Você não as ouve?
— Vozes? Estamos sozinhas aqui, Lydia. Acalme-se.
— Não! — Ela gritou, afastando-se bruscamente. — Calem a boca! Vão embora! Me deixem em paz!
Lydia de repente caiu de joelhos, chorando e cobrindo os ouvidos. Aproximei-me e me ajoelhei ao seu lado. Pude ouvir que ela continuava a repetir "vão embora", tão baixo que era quase inaudível.
Alguns minutos se passaram daquela forma, até que Lydia lentamente afastou as mãos das orelhas e abriu os olhos, franzindo a testa em confusão. Aquele olhar ... Era como se tudo ao redor fosse estranho para ela.
Gentilmente virei seu rosto para mim, segurando-o entre minhas mãos. Ela pareceu ainda mais confusa por um momento e então vi a névoa lentamente se dissipar de seus olhos, substituída pela compreensão.
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