The lady of Starfall escrita por BeaR


Capítulo 2
Parte Dois


Notas iniciais do capítulo

E eu volteeeeei!
Eu juro que tentei fazer isso mais curto, mas não deu.
Ashara tem uma vida tão complexa e triste, que mesmo me esforçando eu sinto que não fiz jus a personagem.
Enfim, tenham uma boa leitura!



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“Mas a filha de Ashara havia nascido morta, e a sua bela dama se atirou de uma torre logo depois, atormentada pelo sofrimento da criança que havia perdido, e talvez pelo o homem que a desonrara em Harrenhal”.

 

    Fora com horror que Ashara percebeu que o amava.

    — Deuses, Ash, é bonita demais para o seu próprio bem.

    Brandon sussurrou, abraçado a ela com certo desespero. Era bem a terceira noite que se esgueirava pelo castelo até a tenda do herdeiro de Winterfell. Vestia uma roupa marrom e simples de criada, prendera seus cachos negros no alto da cabeça e usava um capuz velho para ocultar o seu rosto. Mesmo assim, enquanto atravessava as tendas de forma sorrateira, Brandon havia a pego desprevenida, muito antes de seu destino final.

    — Como me reconheceu? — perguntou admirada, sentindo o homem esmagar os lábios contra o seus, o beijo uma mistura de brutalidade e delicadeza que só ele sabia proporcionar.

    O sorriso faceiro de Bran o abandonou por um segundo, ao encará-la.

    — Poderia estar vestida como uma rainha, ou poderia estar vestida como a mais moribunda das putas, eu a reconheceria. — afastou uma mecha longa que havia deslizado do penteado. — Não há olhos mais bonitos e brilhantes que os seus, minha senhora. São como duas estrelas caídas.

    Sentira o seu coração pular no peito e os joelhos tremerem, mas continuou firme. Se amaldiçoou internamente por ter se apaixonado por ele, provando que no final, era apenas mais uma tola que acreditava nas doces mentiras das canções. Porém, naquele momento decidiu que não iria pensar naquilo. Decidiu que amaria Brandon e deixaria que ele a amasse até a alvorada, onde eles voltariam a ser a Senhora de Starfall e o herdeiro de Winterfell.

    Naquela noite, com apenas a lua, as estrelas e os deuses como testemunha eles seriam apenas dois amantes sem nome.

    Debaixo das folhas vermelhas da árvore coração, Ashara fez um bom trabalho ao despi-lo, sentindo as mãos quentes e calejadas dele praticamente rasgarem o tecido grosseiro de suas vestes. A menos que atravessasse o acampamento nua, ela não tinha outro vestido, então retirou suas mãos e o forçou a se deitar contra as folhas e terra, pensando que queria tê-lo ali, embaixo dela, para que se sentisse no controle daquela paixão por apenas uma vez.

    O montou com mais afinco do que fazia com os cavalos, e cavalgou com determinação e força, sentindo que eles se encaixavam perfeitamente, como se tivessem sido feitos um para o outro. Espalmou as mãos no peito largo e esculpido, se forçando a fazer mais pressão entre suas coxas, vendo que Brandon não fechou os olhos por nenhum momento, em vez disso, a admirava nua e banhada pela luz prateada da lua, os lábios entreabertos e a respiração falha.

    Parecia ter a tomado uma dezena de vezes naquela noite, mas quando os primeiros raios de sol tocaram o céu, ela já estava voltando ao castelo, e deitando sobre seu colchão como se nunca tivesse saído de lá.

    Quando o último dia do torneio chegou, ela se sentia péssima, e também sabia que estava sendo egoísta por isso. Os primeiros sinais de barriga já apareciam em Elia, que estava radiante pela oportunidade de mostrar a Rhaegar e os outros lordes que podia muito bem cumprir sua função de esposa.

    Enquanto sua amiga esbanjava felicidade — conseguira perdoar o príncipe mais rápido do que Ashara imaginara — ela percebeu que estava deprimida. Seu coração parecia se apertar cada vez que alguém anunciava que partiriam pela manhã, pensando que talvez nunca mais visse o homem que amava. Durante todo aquele tempo, ninguém realmente prestou atenção nas suas escapadas no meio da noite, e eles sabiam disfarçar muito bem quando se viam diante de outras pessoas. Foi mais difícil despistar Sor Barristan do que o próprio irmão, Arthur. Ashara sabia que ele não prestava muita atenção nela por achar que era inteligente o suficiente para saber que não podia se envolver com os lordes dali.

    No final, sou uma tola. Uma criança idiota que pensa que o amor vence tudo.

    Foi o que pensou com amargura ao anoitecer e encontrar Brandon. Se amaram como sempre faziam, fingindo que aquilo não era um adeus. Mas quando se deitou ao seu lado, preferia ter ouvido o silêncio ao invés da voz pesada do homem que amava.

    — Me dê algumas voltas de lua, Ash. — prometeu ainda nu, abraçado a ela. — Posso ir até Correrrio e falar com Cat, posso explicar tudo a ela e desmanchar nosso noivado.

    Algo no coração de Ashara se quebrou naquele instante. Sentiu as lágrimas quentes se acumularem nos seus olhos.

    — Cat? — perguntou com amargura, sacudindo a cabeça com o pensamento. ­— Acha que sou burra, Brandon? Não me faça promessas que sabe que não vai cumprir!

    Ele levantou a cabeça e olhou para ela, as orbes cinzas transbordando preocupação.

    Será se ele me ama também? Depois de todas as noites e conversas sussurradas, ainda sou apenas uma distração de primavera para ele?

    — Você não entende, Catelyn é boa e compreensiva. Eu a conheço, sei que não vai me impedir.

    — Acha mesmo que a menina Tully é o maior problema?  — engoliu em seco, tentando fazer as lágrimas não transbordarem. — Seu pai nunca vai aceitar que o herdeiro do norte se case com uma mulher com um simples castelo em Dorne. — se esforçou para que sua voz saísse compreensível, mas o choro arranhava sua garganta. — Catelyn Tully tem toda as terras fluviais para te oferecer. Sabe o que eu posso te dar? Areia!

    E então foi tomada pelas lágrimas, num choro soluçante que a fez se sentir humilhada. Eles nunca haviam feito juras de amor antes, muito menos promessas de futuro. Estava chorando por ser uma tola, por ter criado esperanças lá no fundo do seu coração, e por ter amado um homem que nunca poderia ser dela.

    Brandon começou a falar sobre Lyanna e Eddard o apoiarem, mas Ashara não quis ouvir. Sabia que se fosse mais adiante com seus sonhos de verão, nunca conseguiria afastar aquela dor no seu peito, e seria condenada a ver a vida inteira o homem dela casado com a garota Tully. Diziam que lady Catelyn era linda, com cabelos vermelhos e olhos da cor do céu. Bran acabara de admitir que ela era boa e gentil. Ele seria feliz, no final. Ele teria um bom casamento e Ashara merecia mais do que viver à sombra de um homem. Nascera para ser mais do que um fantasma, mais do que uma simples lembrança na mente de alguém.

    Então se levantou, encarando-o com todo o orgulho que lhe restava.

    — Case-se com ela. — mordeu os lábios para engolir o choro. Sentia o próprio coração em frangalhos. — Case-se com ela e nunca mais pense em mim.

    Viu o rosto chocado de Brandon antes de sair da tenda, as lágrimas embaçando sua visão enquanto ela ia embora. Mas é isso o que é o amor, não é? Deixar ir. Ele seria feliz, e enquanto ela soubesse disso, ficaria bem. 

[...]

    — É um menino!

    Anunciou com verdadeira felicidade para o príncipe, que sorrira como ela nunca tinha visto antes. Ele meneou a cabeça levemente antes de entrar no quarto para ver Elia e o filho. Arthur, do lado da porta olhou para ela com satisfação. Intimamente, a felicidade de Ashara murchou.

    — Tem os cabelos cor de prata, como Rhaegar. — revelou ao irmão em uma voz fraca, a cabeça doendo pelo que sabia que não conseguiria mais esconder. — Não parece nada com Elia.

    O irmão fungou e a acompanhou pelos corredores.

    — O príncipe vai gostar disso. Anda com uma conversa estranha sobre o dragão ter três cabeças.

    Não se importou muito com a crença de Rhaegar e seu conhecimento duvidoso sobre profecias. Arthur e o príncipe eram melhores amigos, e era com ele que o herdeiro do trono de ferro confidenciava suas loucuras. Mas Ashara tinha algo mais importante para resolver naquele momento. Ao chegarem em seus aposentos, puxou o irmão para dentro e olhou no fundo dos olhos dele, violeta iguais aos seus.

    — Estou grávida, Arthur.

    Ele ficou perplexo, furioso, e por fim, decepcionado quando ela lhe contara toda a história. Sabia que queria gritar com ela, mas quando a viu aos prantos, ele não o fez. Ela guardara aquele segredo sozinha durante muito tempo, mas agora não conseguia se espremer num espartilho até que sua barriga ficasse plana, como deveria ser. Com o passar das luas, a curva saliente no seu ventre não aceitava mais ser domada e ela não poderia mais fingir.

    — Vai voltar para Starfall amanhã. — Arthur anunciou com um tom controlado, mas frio. — Direi que nossa família a chamou imediatamente. Terá o seu bastardo lá, e que os deuses protejam Brandon Stark quando eu o ver novamente. Decidiremos o que fazer com a criança depois.

    Ela seguiu o plano do irmão, e foi feliz por um tempo quando chegou em casa. A sua alma ainda se enchia de tristeza ao saber que Brandon nunca seria dela, que nunca pegaria o filho deles no colo e que nunca saberia o quanto ela o amava. Mas os deuses foram bons, e enquanto a sua família sofria pela sua desonra, Ashara estava agradecida por ter uma parte do seu amor para sempre com ela. Mesmo que Arthur odiasse o Stark mais velho por toda a sua vida, ele nunca teria coragem de arrancar o bebê dela de seus braços. Poderia cria-lo ali, brincando onde ela brincou, e se fosse um menino, o irmão poderia lhe ensinar a ser um homem lendário como ele era.

    Mas os seus dias de sonhos e tranquilidade acabaram quando uma carta chegou de Porto Real. Dizia que Rhaegar sequestrara Lyanna Stark, e que Westeros agora estava em guerra. Ashara pensou que aquilo não poderia ser verdade. Ela sabia reconhecer o olhar de uma mulher apaixonada, e era assim que Lyanna olhava para o Príncipe de Prata. O pior ainda estava por vir, leu sobre como Brandon e o pai foram assassinados pelo Rei Louco, e Ashara nunca sentiu uma dor tão grande em toda a sua vida.

    A cada corvo que chegava, ela sentia que morria mais um pouco. Chorou pelo seu amor perdido, chorou pela morte de Elia e seus filhos, lembrando do bebê Aegon e da linda e pequena Rhaenys, inocentes no meio daquela guerra insana. Um dia, depois de se afogar em lágrimas durante a noite, acordou com dores no ventre. Gritou e chorou por quase dois dias até pensar que morreria, mas quando usou suas últimas forças, sentiu que o bebê havia nascido.

    Houve um minuto de silêncio, que para Ashara, durou uma eternidade. O meistre a olhou com profunda pena nos olhos, e ela sabia que havia algo errado. O bebê estava morto. Uma menina, que saiu já morta dentro do seu corpo. Ash não quis vê-la. Não queria ter uma imagem a qual se apegar, não queria saber se a sua criança puxara a ela ou ao pai, assassinado injustamente.

    Um novo tipo de dor assolou a sua alma. Uma mais profunda, sangrenta e podre. Não saía mais do quarto, não comia a comida que as criadas traziam, e muito menos deixava que a tocassem. Entretanto, um dia um mensageiro bateu a sua porta e disse que Eddard Stark estava ali, e que desejava vê-la.

    Algo dentro de Ashara se acendera com a perspectiva de ver ele, de ver um rosto conhecido, uma gentileza naquele mar de angústia e sofrimento. Enfiou-se num vestido qualquer e correu até onde ele se encontrava.

    — Ned.

    Chamou com um fio de voz, mas ele a ouviu. Levantou os olhos cinzas para ela, iguais os de Brandon, mas ao mesmo tempo muito diferentes. Os de Ned pareciam gelo, lapidados em dor e desespero profundo. Se aproximou dele aos tropeços, sentindo-se feliz ao tê-lo ali. Ned gostava dela, sabia disso. Ele era bom, honrado, gentil. Tudo o que o irmão mais velho não era.

    E se tivesse se apaixonado por Eddard em vez de Brandon? Se tivesse o amado, seria tudo assim tão diferente? Ned teria se casado com ela no mesmo instante em que a desonrasse, teria enfrentado a fúria de Arthur e as fofocas do reino. Teria um marido bom, que a amaria de todo o coração e seria a senhora de Winterfell. Estaria no meio do gelo agora, com sua cria nos braços e esperando o retorno do seu marido.

    Mas amara o lobo selvagem, e não o honrado. Estava no meio do calor e da areia, e não rodeada pelas muralhas quentes do castelo do norte. Era apenas uma sombra do que ela era, e não uma mulher feliz, com uma família feliz.

    Ele estendeu uma espada branca, linda e brilhante como o amanhecer. Ela parou.

    — Alvorada?

    — Ele pediu que lhe entregasse. — Ned falou com a voz grave e pesada.

    Não, não, não, não, não, não, não, não.

    — Arthur... ele?

    Não conseguiu completar a frase ao ver o olhar do nortenho. Sem pensar, sem ter forças para sentir raiva ou qualquer outro sentimento, abraçou Ned e chorou no seu ombro por tanto tempo que não conseguia distinguir. Sentia que suas pernas falhavam, mas Ned a sustentava no abraço doloroso e desesperador deles dois. Duas pessoas quebradas, sem família e esperança.

    — Sinto muito.

    Ela sabia que ele estava sendo verdadeiro, e o abraçou ainda mais. Ele tinha lutado pela irmã, e sabia que Arthur faria o mesmo por ela. No final, tanto Ned quanto Ashara eram duas vítimas de uma guerra que não era, e nem nunca fora deles. Ele cheirava a sangue, suor e sol, mas mesmo assim, tinha o abraço mais aconchegante que ela experimentara em muito tempo. Quando seu tio separou seu corpo do dele, até Ned pareceu relutante em deixa-la ir.

    Ao anoitecer, ele se despediu dela com um suave beijo na testa. Ash não se sentiu surpresa, Ned sempre fora tímido e quieto, mesmo que a amasse. Ele precisava ir para casa, afinal. Ele tinha uma esposa e um filho lhe esperando, além de uma promessa a cumprir.

    E o que Ashara tinha? Nada.

   Todos que amava haviam falecido. Ela era a única, uma estrela solitária e sem brilho num céu sem nuvens. Enquanto subia até a janela mais alta de Espada Branca, a torre mais alta de Starfall, pensou em Brandon, na filha e no irmão. Pensou em Elia e seus filhos, pensou em Rhaegar e Lyanna. Pensou que aquele não era um mundo para amar. Era um mundo cruel aquele, e orou pela última vez aos seus deuses amargos, pedindo que pelo menos Ned fosse feliz. Mais do que ninguém, ele merecia aquilo.

    Abriu a janela e se pôs de pé sobre o parapeito, sentindo o vento lhe chicotear os cabelos e rodopiar as saias de seu vestido do mais puro branco. Enquanto encarava o mar lá embaixo, não sentiu medo, mas sim esperança. Talvez encontrasse Bran e seu bebê depois daquilo, talvez toda aquela dor na sua alma fosse embora.

    Sorrindo, a estrela mais brilhante de Starfall caiu do céu naquela noite.


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Notas finais do capítulo

Foi maravilhoso escrever essa mini mini fic e mais ainda escrever sobre Ashara.
Sinto falta de ver mais sobre mulheres fortes e injustiçadas em GOT, por isso estava pensando em fazer algo sobre Elia ou Rhaella, ou sobre qualquer outra que vocês acham que merece. Me digam se vocês gostariam, por favor.
E, só por curiosidade, alguém aqui também gosta de Ned X Ashara?
Boatos de que ela foi o primeiro amor dele, e ele a respeitava até o fim dos dias.
Me contem se vocês gostaram, não me deixem no vácuo :(
Beeeeeijos



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