You Only Live Twice escrita por Szin


Capítulo 1
Is to tell you you're chosen Out from the rest...


Notas iniciais do capítulo

Olha isso gente ♥ eu demorei pra escrever pakas esse cap ♥
Eu amei escrever isso, amei de verdade.
Eu preciso urgente de Ghost Stories na minha mão.
Essa short fic aqui é baseada em coldplay então sorry todos os trechinhos aí no meio.
Obrigado especial à Liids River, à Fér e À Madwoman. Eu prometi que vos dedicava isso.

A gente se fala lá em baixo sim?



Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/739090/chapter/1

Eu não devia estar aqui.

Mais importante, eu não devia querer estar aqui…

Pode ser até os olhares dos rufias me encarando como se eu fosse uma intrusa, ou até o menino de trás que foi a razão disso tudo.

Eu queria  voltar atrás no tempo e impedir o meu "eu" de à 20 minutos atrás, se acusar no lugar de Thália. Eu podia ver a expressão surpresa na cara do professor Xavier quando eu falei que tinha sido a causa daquela confusão toda.

Acho que nem ele mesmo acreditou.

Mas na altura parecia boa desculpa pra ver Percy Jackson.

É engraçado o que uma garota faz pra ver o garoto na qual você tem uma queda… 

Observei o garoto que estava sentado na fila de trás, num dos cantos. Ele apoiava seus pés na mesa da sala, enquanto a cadeira estava encostada sobre a parede na qual ele fingia estar dormindo.

Ou dormindo mesmo, eu não faço ideia das manhas de Percy Jackson.

Deciphering the codes in you... I need a compass, draw me a map

Ele usava o mesmo de sempre, a jaqueta escura coberta de zipers prateados, juntamente com uma calça da mesma cor rasgada sobre os joelhos. Eu conseguia ver a sua camiseta branca com “Viva La Vida” estampada sobre o peito.

Eu suponho que ele escutava Coldplay… apenas supondo mesmo.

As pálpebras estavam fechadas enquanto o rosto se apoiava num dos ombros. As laterais da sua cabeça estavam raspadas no habitual estilo moicano, enquanto que a crista no topo tombava levemente para a esquerda. Na sua orelha direita, junto com o pequeno alargador preto, o fone se encaixava em seu ouvido, causando em mim uma vontade tremenda de saber que musica ele estava escutando. Percy Jackson não tinha tatuagens, pelo menos eu nunca havia notado alguma, mas ele usava um piercing na sobrancelha direita com duas extremidades pontiagudas que faziam arrepiar quem chegasse perto. Ele havia o feito com 16 anos.

Eu só queria levantar, ir até ele, e pedir com gentileza pra que fizesse o favor de não fechar seus olhos e que me deixasse afundar neles de tão verdes que eram. Duas órbitas tão brilhantes que faziam Percy Jackson ser dono de um olhar 43, na qual eu dava nota 10.

Na verdade, todo ele era nota 10.

Ele se remexeu na cadeira suspirando baixinho.

Ele passava por essa sala toda a semana. Fosse por irritar um professor quando este exigia que ele respondesse a uma pergunta na qual ele não sabia, ou então quando o mesmo se metia em confusão com outros garotos fora da sala (às vezes até dentro dela mesmo).

Percy Jackson fugia dos padrões… e talvez fosse isso que mais me atraia nele… a capacidade de Percy Jackson em ser diferente.

Gonna' be somebody, for anybody tellin me I cant.

Eu não o conhecia há muito o tempo… 2 ou 3 anos talvez. Ele se mudara com sua mãe e seu padrasto nos meados de Novembro de 2015 (ou 2014 eu não lembro de verdade), o que fez ele ser o “cara novo que entrou no meio do ano”.


Porque eu havia parado no Starbucks?

Eu já estava imaginando meu futuro destino de 10 minutos depois.

“Porque você se atrasou Annabeth? ” – Professor Xavier iria perguntar pra mim, com aquele olhar de quem estava cometendo pecado capital.

“StarBucks professor, foi culpa dele” – eu iria responder envergonhada, porque iria tar todo o mundo me olhando.

“Do StarsBucks?” – ele iria me olhar como se eu fosse louca.

“Sim professor, eles demoraram me entregando meu Iced Coffe Mocha, eu não tive culpa”

E eu tinha dois finais pro meu futuro destino de 10 minutos depois. O ideal e o Real...

O ideal consistia em Professor Xavier sorrir pra mim e me felicitar por ter um gosto sensacional em bebidas expresso. O real era mais sem graça, onde uma Annabeth iria receber um montão de dever de casa como castigo (mas orgulhosa porque seu gosto em bebida expresso era fenomenal)

"Mas Annabeth, orgulho não dá nota!"

Pois não, mas dá auto-etima...então respeita minha fonte de auto-estima sim? Eu tou precisando dela ultimamente.

Eu tava correndo.

Já repararam que na maioria dos relatos, em algum momento eu tou correndo ou atrasada? Pois é, não importa em que relato seja, se der pra tar atrasada eu tou, vão se acostumando sim?.

Continuando....

Eu tava correndo. Não tipo correndo estilo menina Tumblr correndo pela rua, não. Era correndo do estilo “saiam da frente que eu tou levando tudo no caminho seus bosta!”.

Cadê seu lado feminino e elegante Annabeth?

Eu entrei na escola, praticamente voando. Tava tudo vazio, não havia nem um adolescente (ou também denominados como "suporte orgânico de testosterona e progesterona") na rua. Eu abri a porta segurando ainda mais o trabalho de História que valia tanto quanto minha vida. Senhorita Cármen não iria gostar se eu entregasse ele amassado. Nem eu queria isso mesmo.

Eu corri pelo corredor procurando a minha sala.

Porém, tinha outra presença ali. Eu lembro de o achar bonito, assustador, intimidante e estranho, tudo isso no mesmo segundo. Os cabelos estavam rapados nas laterais, enquanto o moicano que usava lhe cobria o topo da cebeça. Usava um moletom marrom escuro enquanto as calças justas e as botas de couro completavam o seu visual.

Ele estava a poucos metros de mim, em frente a um dos cacifos retirando algo. Eu nunca o havia visto em lugar algum. E isso sim, era pecado.

  Eu abrandei o passo, eu não queria ficar passando vergonha enquanto corria que nem desajeitada. Ele pegou num caderno personalizado e num livro que, por coincidência, era da mesma aula que eu iria ter. Ele fechou o seu armário e olhou pra mim.

E no mesmo segundo em que botei o olhar nos olhos daquele garoto o meu lado feminino resolveu vir à tona, logo naquele momento.

Eram verdes... não verdes-verdes, mas eram verdes.

Eram uma mistura de verde claro embutido em um verde mais escuro, junto com outro verde que nem era claro nem escuro.

Eu podia ficar uma tarde inteira em frente a uma paleta de cores que eu nunca iria conseguir achar o código html que correspondesse perfeitamente aquele tom.

Eu não sabia direito. Ele uniu as sobrancelhas desconfiado, e foi aí que percebi a razão.

Eu tava o encarando. Encarando de verdade. Na minha mente eu só queria chegar nele e falar “hey sou aspirante a dentista, te ofereço uma inspeção oral, pode começar a aproximar a sua boca agora”.

Cantada sensacional hein? Não? Tá bom...

Foi preciso toda a minha força pra baixar o rosto e continuar meu caminho. Desviei meus olhos dos dele sem antes o analisar uma ultima vez enquanto caminhava até pelo corredor. No pulso esquerdo havia duas pulseiras de couro, uma delas com um uma pequenina cruz prateada caindo sobre as costas da sua mão.

Menino religioso? Será que o pastor António iria deixar ele entrar na igreja assim?

Eu tentei de novo me lembrar, em algum momento desses 2 meses de tortura psicológica em que a escola havia começado, se eu já havia visto ele em algum lugar.

Nada, eu não lembrava dele.

Seria ele do 12ºA? eu não conhecia muita gente lá tirando Thália. Ou então do 12ºH, naquela turma o único que se manifestava era Nico Di’Angelo, o resto era desconhecido pra mim.

Eu continuei meu caminho tentando fuçar todos os cantos da minha cabeça procurando achar alguma evidência do garoto.

Mas nada... eu não lembrava, por mais que tentasse.

A minha sala ficava em frente ao corredor. Eu suspirei me preparando para a bronca que iria levar. Professor Xavier não era um cara simpático muito menos acessível (pelo menos não com todo o mundo).

Cerca de 99,999% dessa escola detestava Professor Xavier.

Mas em todo o lugar temos alguém que sempre é do contra. Prazer, Annabeth Chase aqui. Eu gostava dele sim.

O problema das pessoas, dos adolescentes na verdade, é achar que o mundo tem que oferecer tudo pra eles em troco de nada. Mas não é desse jeito. O respeito não se impõe, se ganha. E para você ganhar algo é preciso batalhar por ele. Eram essas as duas filosofias de Professor Xavier. E eu entendi isso no primeiro mês.

Ele tinha a sua forma de ser simpático. Muitas vezes carregado de sarcasmo, mas mesmo assim, simpático.

Ele puxava por quem achava que merecia ser puxado.

Ele ajudava quem achava que merecia ser ajudado.

E ele era simpático para quem achava que merecia sua simpatia.

Boa lição de vida não? Eu acho que é.

Eu bati na porta e abri-a.  Todo o mundo me olhou. Travis e Connor Stoll – os gêmeos encrenca como Thália os chamava -  olharam e sorriam soltando um “você está tão ferrada” pra mim.

— Annabeth Chase – eu vi um pequeno sorriso se formando ali no rosto do professor, mas logo se desfez no mesmo segundo – A senhorita resolveu aparecer hm?

— Me desculpe... não volta a acontecer – eu tava vermelha. Eu tava fazendo cosplay de tomate, eu tinha a certeza disso.

— Podemos saber o motivo do atraso? – ele ajeitou seus óculos de fundo de garrafa enquanto se sentava guardando seu livro avolumado e olhando pra mim com expectativa.

O meu instinto de sobrevivência despertou.

“Culpa o Starbucks Annabeth, culpa o StarBucks”

Que podia acontecer de mal não é verdade? Eu explico o que podia acontecer de mal: Ser expulsa da sala pelo professor que acharia que eu tava tirando sarro dele.

Isso é o que poderia acontecer de mal.

—Ela estava me ajudando – uma voz (uma voz que não tinha ouvido) se postou atrás de mim. Automaticamente eu deixei de ser o centro dos olhares que rapidamente se desviaram para o garoto – o garoto de à pouco no qual eu queria dar uma consulta grátis de inspeção oral.  – Eu me perdi, desculpe o atraso.

Ele se manteve atrás de mim, enquanto eu tentava assimilar tudo na minha cabeça.

— E quem é o senhor posso saber? – o professor arqueou a sobrancelha direita.

Ele não respondeu, avançou até ele e lhe entregou um papel permanecendo em silêncio.

— Transferência... Perseu Jackson hm? – ele questionou olhando pro garoto na sua frente.

Era isso? O nome dele era... tão diferente. Não importava como, ou de que maneira, mas na minha cabeça, Perseu Jackson parecia condizer de todas as maneiras com indivíduo na minha frente. Era excêntrico e único. Tal como ele.

— Percy – corrigiu num tom firme.

— Percy Jackson então. Pode ir sentar onde... bem, onde você quiser.

Ele ajustou a mochila e caminhou para as fileiras de trás sem dizer nada, como se aquele lugar já tivesse sido reservado pra ele. Os olhares dos alunos percorriam cada movimento seu mas isso não parecia incomodá-lo de jeito nenhum.

— E você Senhorita Chase? – os olhos do professor Xavier me encararam - Vai ficar aí ou vai me deixar continuar a aula?

Apressadamente caminhei para a minha mesa, agradecendo a Deus por não ter que levar um montão de dever de casa pra castigo.

Mas, naquele dia, eu deixei de prestar atenção na aula para prestar atenção em outra coisa... mais precisamente o garoto novo de moicano que se sentava na fileira de trás.

Ninguém sabia o motivo da mudança de Percy Jackson, porém, Piper Mclean (a menina que senta do meu lado em História e cheira sempre a Chantily) me falou que sua irmã conhecia a prima da prima dela, que era amiga de um irmão de uma amiga das suas amigas, que namorava um amigo de um primo de um suposto colega da antiga escola de Percy Jackson.

Pelo que a garota me contou, o suposto antigo colega de Percy Jackson, que era namorado da amiga que era amiga da prima da prima da amiga de… enfim, não interessa mesmo.

Esse suposto cara havia contado que Percy Jackson havia tido problemas com a Polícia da cidade antiga dele. Não se sabia ao certo o porquê, mas corria boatos que Percy Jackson vendia drogas. Outros falavam que ele participava em assaltos, e havia até gente dizendo que Percy Jackson pertencia uma seita satânica e que por isso a administração da cidade havia expulsado ele… mas segundo Thália, essa gente fuma muita banana.

E eu concordo.

Ele morava ao fundo da rua, a míseros 250 metros de mim. A vizinhança – as mães na verdade – pediam pra que os filhos se afastassem dele, porque, segundo elas, “Percy Jackson era um garoto revoltado”.

E ele era… mas não cabia a mim julgar ou defender ele. Eu apenas sabia o que havia escutado e visto naquela noite.

— Annabeth - minha mãe me chamou. Eu estava de pijama enquanto assistia a maratona de The Big Bang Theory na Fox Comedy. Me estiquei no sofá olhando para ela que me chamava da cozinha. Passava pouco  das 21h, e já estava escuro lá fora. – Annabeth, querida?

— Sim mãe? – respondi me esticando no sofá. Minha mãe entrou na sala segurando uma pasta negra numa das mãos, enquanto a outra abraçava um montão de papeis. – Precisa de ajuda?

— Querida você pode ir passear o Yoda por mim? – ela pediu – ele já está la fora querida. Eu sei que era minha vez hoje mas eu preciso terminar esses relatórios aqui.

— Eu vou mãe. – eu falei calçando meus chinelos de coelho.

Tá bom, coisa mais infantil mas são quentinhos e isso é o que importa shiu!.

Sejamos sinceros, quem liga pra dignidade quando está frio lá fora? Eu não.

Peguei no casaco de painho que estava tomando banho no andar de cima e o vesti, puxando o zíper prateado até a cima. Abri a porta da rua, vendo o pequeno Yoda se aproximando de mim.

— Hey garoto! – Yoda era um buldogue pequeno, gordo e robusto que já era da família fazia quase 10 anos. Fios de baba escoriam pelas suas bochechas enrugadas enquanto que a língua insistia em estar sempre cá fora. Mamãe vivia falando que ele era feio e sério.

Mas eu não achava. Eu gostava do meu baboso.

Ele cheirou meus pés, se sentou e me encarou, com a habitual língua de fora.

— Hey garotão, bora passear? Bora? Quer ir passear com a dona?

Ele desviou o olhar do gênero “alguém tire essa humana daqui por favor? Ela está me envergonhando”.

Botei a trela na sua coleira e o puxei pra forma começando o inovador passeio de descer a rua e voltar (ele não é muito ativo mesmo, passa o dia comendo e dormindo, o que só ajuda a comprovar que nós dois somos almas gémeas destinadas a ficar juntas).

Eu caminhei pela rua enquanto assistia Yoda cheirando o muro dos vizinhos e levantando a perninha e dando uma aliviada na sua bexiga de dog. Continuei caminhando pelo passeio, parando no final da rua.

— Vamos voltar pra trás Yoda? Vamos? – eu perguntei agindo que nem retardada.

Mas o cachorro é meu, se eu quiser chamar ele de “neném” eu chamo mesmo.

Ele olhou pra mim de novo. E voltou a cheirar o muro do vizinho. Se sentou sobre as patas e ficou parado enquanto... bem... digamos que ele estava usando a “força”.

Por sorte, eu havia pegado no saquinho antes de sair.

Limpei o servicinho de Jedi que ele havia feito e botei o saco sujo num dos caixotes do lixo que estavam espalhados pela rua.

— Vamos embora?

Eu estava quase seguindo meu caminho quando eu ouço vozes.

Mais precisamente gritos vindos de uma das casas.

A casa de Percy Jackson. Os gritos eram de um homem, que supus ser o padrasto. Eu não conseguia entender nem uma palavra dos berros que provinham daquela casa. Peguei em Yoda que tava nem aí para o que estava acontecendo.

Vamos ser sinceros, todos nós queríamos ter uma vida de cão. Eles dormem, são alimentados 3 vezes ao dia, ficam toda a hora esponjados no sofá enquanto abanam a cauda sempre que recebem cafuné. Na próxima vida, eu quero ser um cão viu?

Eu estava preparando pra ir embora e fingir que nada daquilo se havia passado quando a porta da frente da casa se abre.  Me escondi atrás de uma das arvores com medo que alguém viesse reclamar comigo por estar espionando propriedade alheia.

— Vá se fuder! – Percy Jackson gritou, fechando a porta com força. Eu conseguia ouvir os berros em protestos em resposta. O garoto suspirou fechando o zíper do seu casaco negro enquanto saía do alpendre.

— Vai embora moleque! escusa de aparecer aqui depois! seu inútil!– um homem gordo e fedido, e aparentemente bêbedo, apareceu na porta atirando uma garrafa de vidro vazia contra a grana do jardim da frente. – Ouviu? Suma daqui aberração!

Percy continuou andando mostrando o dedo do meio sem ao menos olhar pra ele.

A porta se fechou, enquanto se ouvia os protestos femininos da mãe de Percy, que agora gritava tanto quanto o marido.

Continuei segurando Yoda em meus braços enquanto observava Percy Jackson parado sobre a rua encarando o chão. Ele estava bravo, eu podia ver isso nas suas sobrancelhas unidas e sua mania de pentear os cabelos múltiplas vezes

. Ele pegou no seu celular, retirando os fones do bolso e os botando no ouvido.

Os seus olhos varreram a rua e ele seguiu caminhando, subindo a rua.

Mas como Vénus e Jupiter não estão na casa 2, a sorte não estava a meu favor essa semana. Yoda começou remexendo em meus braços como se quisesse denunciar a sua linda, stalker e muito perseguidora dona.

— Yoda - resmunguei baixinho. –Shiu, pare quieto!.

O Cachorro olhou pra mim como se estivesse pensando “Quer me desafiar humana?”

E Então ele começou latindo.

Foi quando Percy Jackson parou no caminho e me viu escondida atrás da árvore de sua casa.

Ele me encarou sério, retirando seu fone de ouvido.

— Nunca ninguém falou pra você que é feio espionar a casa dos outros?

Eu senti meu rosto ficar vermelho de vergonha.

Eu senti Yoda parar de se remexer em meus braços enquanto sacudia seu rabinho feliz da vida.

Cadê fidelidade canina nessa hora?

— Não me ouviu? – o cara na minha frente me encarou bravo – Vai ficar aí parada agora?

Então eu falei a única coisa que veio na minha mente.

— Lamento muito...

Ele me encarou confuso. As suas sobrancelhas franzidas se relaxaram e a sua boca suave formou uma linha dura.  Ele voltou botando o fone sobre o seu ouvido e virou costas.

— É melhor você sair daqui – ele falou num tom calmo me olhando de lado seguindo seu caminho – Gabe não gosta que pisem a grana dele, muito menos os cachorros dos vizinhos rondando por aqui.

Assenti sem nem olhar para ele.

Eu estava com tanta vergonha, que só queria enfiar minha cabeça num buraco – literalmente. Caminhei para casa me xingando mentalmente.

Otimo, agora ele devia me achar uma metida. 


Eu nunca mais consegui encarar Percy Jackson de frente depois daquela noite.

Eu nunca mais passei por sua casa com Yoda ou voltei a olhar por mais de 3 segundos para a grana no seu jardim.

Eu nunca mais consegui tirar Percy Jackson da minha cabeça também.

But, though I try, my heart stays still It never moves

Mas não era só eu. Ele foi ganhando sua fama no público feminino, e não era só ele.

Nico Di’Angelo agora era amigo de Percy Jackson também. Eles chegavam juntos e saiam juntos. Um do lado do outro. A fama dos dois foi crescendo, tanto para boa quanto pra ruim.

Nico e Percy agora eram o pesadelo dos professores. Quando um era acusado, automaticamente o outro era acusado também. Professor Xavier vivia falando que eles pareciam dois siameses.

E eu não discordava. Se havia confusão com um, o outro tava metido também, direta ou indiretamente. Eu não conhecia o conceito de Bromance antes de ver esses dois.

Eu conhecia Nico Di’Angelo de outras eras. Ele e Thália tinham um passado juntos, e certamente um futuro também. Ambos eram... semelhantes.

A gente meio que tinha uma amizade (?) eu não sei dizer. Nico Di’Angelo fora da minha sala durante 3 anos desde do 5º ano. Desde de garoto, os seus gostos já eram bem incomuns. Tão incomuns quanto os de Percy Jackson, talvez seja isso que os fazia funcionar tão bem. Aos 11 anos todo o mundo fugia de Nico Di’Angelo. Ninguém queria ser amigo de um cara que mais parecia um vampiro solitário de tão pálido e estranho que era.

Mas eu não me importava, de verdade.

Senhorita Cassandra, professora de Geografia, decidiu que era hora de os alunos aprenderem a fazer um trabalho de grupo.

“Grupos de três por favor”, ela havia pedido. E vocês sabem que quando somos crianças, automaticamente a gente já olha pros amiguinhos com aquele olhar de “hey parceiro, salta pra aqui, que finalmente é nossa hora”.  Mas Nico Di’Angelo não tinha ninguém a quem deitar esse olhar.

Então eu decidi dar essa oportunidade para ele.

Eu o chamei pra minha mesa pra se juntar no meu grupo. Ele ficou me olhando meio estranho e perguntou “você não tem medo de mim?”.

E eu respondi àquela pergunta com outra pergunta.

“Porque eu haveria de ter?” – E porque eu haveria mesmo? Ele tinha dois olhos, um nariz e uma boca como eu. Em sua mão havia 5 dedos, e tinha duas pernas como todo o mundo.

Eu não entendia o porquê de todo o mundo ter pânico dele.

Porque as crianças são estúpidas... é por isso.

Fizemos trabalhos juntos e tivemos nota máxima. E de alguma forma, todo o mundo começou olhando pra Nico de um jeito diferente. Todo o mundo começou falando com ele, brincando com ele, rindo com ele. Tudo porque alguém havia feito algo diferente e fora do comum.

Gonna' be someone, for anyone who told me i had no chance.

No sétimo ano, Nico Di’Angelo resolveu fazer o que haviam feito com ele. Ele agora era o cara acessível e maneiro que procurava fazer todo o mundo se sentir bem à sua maneira. Falava com os novos alunos e fazia eles se sentirem especiais para que depois conseguissem arranjar outros amigos e se inturmar em algum lugar passado umas semanas. Ele era como um “passaporte” para a estabilidade social dentro da escola.

Talvez tivesse sido dessa forma que Nico conseguiu fazer amizade com Percy Jackson. Talvez ele tenha visto que ele era o cara novo e tentou ser o seu passaporte.

Me pergunto o porquê dos dois continuarem amigos até hoje e não terem se afastado ao fim de duas semanas como era costume em Nico.

Talvez ele visse que Percy era diferente... talvez ele tivesse notado que Percy Jackson precisava muito mais que um simples passaporte...

Uma vez eu li em algum lugar que toda a garota quer um badboy. E talvez seja verdade, visto que todas as garotas começaram a olhar para Percy Jackson e Nico Di’Angelo de um jeito... nada puro. Eu não podia censurar, eu olhava também. Eu olhava, fantasiava e sonhava com Percy Jackson.

Eu estava tão apanhadinha por ele. Tão mesmo.

Eu e muitas. Rachel Elisabeth Dare era uma delas. Eu nunca havia trocado nem duas palavras com a garota na vida, porém, em um dia qualquer sem importância na história da humanidade, a criatura resolveu mudar isso.

“Hey, é Annabele certo? – ela me perguntou com um sorriso brilhante. Eu tive que recuar nas minhas memorias tentando achar algum indicio, vestígio de conversa anterior com a menina. Nada. E não era tão incomum assim tendo em conta minha opinião sobre ela.

Eu a “conheci” com apenas 8 anos. Nós tínhamos uma espécie de rivalidade antiga. Desde de pequenas havia competição em tudo quando o assunto era nós duas. Ela sempre disputava comigo as Olimpíadas da Matemática, o Concurso de Soletração ou então o primeiro lugar do quadro de mérito do final de cada semestre escolar.

Isso resultou na impossibilidade de uma possivel amizade entre a gente.

— “Annabeth” – eu corrigi.

— Isso, me perdoe – ela continuou com aquele sorriso enjoado – Você por acaso não é vizinha do Percy Jackson? sabe, o garoto meio estranho e bonito da sua sala?

— Ele só mora no fundo da minha rua – eu respondi já sabendo o rumo que a coisa tava tomando. A guria me olhou e voltou sorrindo.

— Você sabe se ele namora ou tem alguém? – ela perguntou curiosa.

— Ah sei lá neh? Vai sabe.

— Nunca ouviu nada ou sei lá, viu alguma garota entrando em casa dele?

Olha minha vida hein?

— Qual parte de “a casa dele fica no fundo da minha rua” você não percebeu? Eu não fico descendo a rua toda a hora pra ver quem entra ou sai da casa dele – eu respondi encolhendo os ombros.

 - Ai Annabeth você é tão baixa astral - ela sorriu.

“Eu tenho é baixa paciência, agora dá licença que Doctor Who vai passar daqui a 30 minutos e eu preciso chegar em casa”

— Pois, eu devo ser mesmo – eu sorri no mesmo tom enjoado – Então bye.

— Bye Bye! – ela sorriu pra mim me dando tchauzinho com a mão.

E foi aí que eu notei a minha paixonite por Percy Jackson.

I think I do, But I don't forget

Foi aí que eu entendi a dimensão da minha quedinha por ele. Quedinha essa que fazia crescer aquela sensação estranha dentro de mim.

Não é ciúme. Shiu.

Eu estava tão perdida, que eu quase dei um pulo quando uma mão bateu sobre a minha mesa com tanta força que a madeira da secretariaria estremeceu sobre os meus dedos.

— Hey loirinha eu estou falando pra você! – ele rosnou com a mão ainda sobre a mesa. Eu nem havia notado ele se aproximar. Os cabelos eram tingindos de um ruivo mal lavado, enquanto os olhos eram puxados me observando. Ele tresandava a tabaco, fazendo jus aos seus dentes amarelos. Os olhos estavam tão vermelhos que me fez achar que talvez cigarros não eram a única coisa que eles metiam dentro dos pulmões.

Eu me mantive em silêncio ainda atordoada olhando pra ele.

Os coleguinhas dele estavam encostando na janela rindo da minha cara, enquanto ele dava seu sorrisinho de fuinha orgulhoso.

— Você não acha que está no sitio errado loirinha? – ele aproximou o rosto de mim, e os meus olhos correram nervosos todo o mundo naquela sala. Os amigos dele continuavam rindo como se eu fosse um palhaço de circo, enquanto que no canto da sala, Percy Jackson me olhava agora atento.

— Minha cara está aqui oh – o garoto ruivo na minha frente apontou pra si mesmo – Então é melhor responder a minha pergunta, não gosto de ser ignorado.

— … O-que?

Ele riu.

Eu tinha alguma coisa nos dentes ou algo assim? Eu não entendia o porquê do riso.

— Pensando bem, você é bem bonitinha – os dedos tentaram roçar na minha bochecha por leves segundos antes de eu virar a cara – Hey, está com nojo de mim é?

Eu fiquei em silêncio. Eu não queria problemas, mas  se ele continuasse eu iria aplicar o golpe que meu pai havia me ensinado anos atrás.

Ele virou o rosto pros coleguinhas sussurrando qualquer coisa, olhando depois novamente pra mim.

— Relaxa loirinha – ele sorriu pra mim de novo – A gente pode virar amigos que me diz?

— Eu já tenho amigos suficientes obrigada – eu respondi sentindo a voz tremer.

Olhei novamente pra Percy Jackson. As sobrancelhas – antes descontraídas – agora se uniam, e a postura tão ereta e firme quanto um poste de rua.

—Olha isso, ela fala! Que voz tão doce! – o rosto do cara se aproximou do meu.

— Se voltar em encostar em mim – as palavras arranhavam a minha garganta, e as minhas mãos tremiam – Eu juro que vou socar você.

— Nossa! A mudinha virou valentona? Eu só quero ser seu amiguinho– ele riu como se estivesse assistindo a um daqueles vídeos das correntes do WhatsApp. A sua mão se preparou pra tocar em meu rosto de novo, eu já sentia toda a minha circulação se envolver em volta do meu punho esquerdo. Porém, uma segunda mão interferiu agarrando nos dedos imundos do rufiazinho na minha frente

— Que tal você dar o fora daqui -  as palavras de Percy Jackson eram tão arrastadas que provocavam arrepios na espinha de quem as ouvisse. A sua mão livre estava fechada num punho tão apertado, que dava até pra ver os nós dos seus dedos ficarem brancos, enquanto o maxilar estava travado numa expressão dura e imóvel – e ir procurar amiguinhos em outro lugar?

Os olhos escuros do rapaz olharam pra Percy Jackson num tom de surpresa e raiva. Ele puxou o braço, se soltando do seu aperto.

— Alguém chamou você pra conversa amostra barata de punk? – ele limpou a mão ao casaco, como se estivesse com nojo – Se você não quer confusão, eu aconselho a manter a distância.

O olhar de Percy escureceu por leves segundos.

— Então se você não quer 4 caras em cima de você - ele apontou pros três amigos que pareciam aguardar ordens pra saltar a qualquer segundo. Os olhos verdes de Percy Jackson se dirigiram pra eles, depois pro fuinha chefão parando em mim.

Os nós dos dedos de Percy relaxaram, e um sorriso brotou dos seus lábios.

— Tem razão cara eu não quero confusão, você venceu mesmo.

— Ótimo, agora saia daqui se não quer apanhar – ele deu um sorriso cético e apontou pros amiguinhos que sorriam o zombando.

 - Tem razão, tem razão – Percy recuou dois passos – Eu tou indo já.

O ruivo de olho puxado voltou a se virar para mim com um sorriso. Eu podia ver seus dentes amarelos de tanto tabaco que ele enfiava dentro daquela boca.

Eu já estava voltando a ponderar chutar no sitio que não devia ser chutado, quando duas mãos o seguraram e praticamente o jogaram contra uma das mesas levando a cadeira junto.

Eu demorei a processar tudo aquilo.

Percy Jackson se colocou na minha frente estalando os nós dos seus dedos. O rufia ruivo de olho puxado estava jogado no chão ao lado da mesa virada de ponta cabeça.

— Eu falei que não queria confusão – ele falou estalando cada dedo de sua mão.

Eles olhavam para o colega inconsciente no chão com os olhos arregaladas e queixo caído. Eu conseguia ver um rasto de sangue saindo do seu nariz, enquanto ele continuava dormindo sobre o pavimento da sala.

A mão do Jackson agarrou meu pulso e me puxou pra fora da sala enquanto corríamos pelos corredores da escola

— Vem, vamos dar o fora daqui – ele falou no seu habitual tom amargo enquanto sua mão agarrava a minha com força. Subimos as escadas do segundo piso e terceiro e só paramos quando ele teve a certeza que ninguém o estava seguindo – Você tá bem?

— Eu... eu tou – mentira, eu precisava de dois copos de água pelo menos.

— Regra nº 1 dos rufias, não se meta com um – ele olhou pra trás se certificando mais uma vez que nenhum deles havia nos seguido.

— Você... você bateu nele – eu respondi me lembrando do cara jogado no chão e da mesa virada – Eles vão atrás de você.

— Ele tocou em você? – ele me ignorou se chegando mais perto. As suas sobrancelhas desconfiadas e o maxilar travado despertavam um certo medo em mim.  – Você tá bem? De certeza?

E naquele segundo, a dimensão da briga, os rufias, a sala e a mesa virada de ponta cabeça, tudo isso soava a nada, comparado a Percy Jackson preocupado comigo.

Eu sentia meu rosto esquentar a cada olhada a sua.

Eu sentia minhas mãos tremendo a cada suspiro seu.

Eu sentia cada molécula do meu corpo entrando em combustão a cada gesto que esse menino na minha frente insistia em fazer.

— Tou... eu acho que tou.

— O que raio você estava fazendo ali? – ele se afastou visivelmente mais calmo.

Ou não... eu não conhecia o temperamento de Percy Jackson.

Mas... o que eu estava fazendo ali mesmo? Eu me sentia estúpida no momento. Levar as culpas por uma revolução de comida apenas para ficar naquela secretária  pra ver o cara que agora estava na minha frente me parecia a maior idiotice na história das idiotices.

Quem eu queria enganar? Eu não pertencia ao mundo de Percy Jackson.

Eu não pertencia a nenhum lugar mesmo.

E eu estou me sentindo burra por ir contra isso.

— Hey! – ele estalou os dedos para mim. Aquelas sobrancelhas que pareciam ter vida própria voltaram a se unir. – Hey, fala alguma coisa por favor.

— Ahn?

— Você não me respondeu – ele inclinou o rosto confuso – O que raio você estava fazendo naquela sala?

— Eu tava... eu... eu tava...

O que eu estava fazendo? Porque razão eu quis entrar ali? E porque razão eu não estou me arrependendo de o ter feito quando todo o meu subconsciente grita o contrário?

— De qualquer jeito isso não importa agora - ele sussurrou peteando seus cabelos. – A essa hora o professor já deve ter chegado na sala.

— E agora?

Olhei naqueles olhos lindos da porra...

Deus do céu o que eu tou fazendo da vida hein?

— Agora vai ter com sua amiga e se afaste daqui – ele falou virando costas e olhando pra mim de lado como naquela noite – O resto deixa comigo.

E me deixou sozinho no corredor me perguntando o que raio aquele menino iria fazer.

***

—Eu juro que eu nunca vou superar, nunca Annabeth, pode escrever o que eu digo – Thália Grace caminhava do meu lado direito enquanto descíamos a rua até à cafetaria e cervejaria da esquina.  Mas não era só uma simples cafetaria/cervejaria... não era não.

Por fora não parecia diferente dos muitos pubs da cidade. Quando você entrava, um barzinho pequeno se dispunha na sua esquerda, onde o garçon servia as mais variadas bebidas de café ou cerveja, que por sinal eram as melhores da região. Candelabros de luz amarela e laranja iluminavam toda a divisão enquanto tomadas estavam próximas das mesas pra quem resolvesse trazer notebook e trabalhar.

Mas a magia acontecia um pouco mais na frente, onde corredores e corredores de discos empilhados estavam espalhados sobre o espaço, juntamente com estantes de livros gastos e prateleiras de aluguel de filmes e fitas VHS. As paredes de madeira eram decoradas com instrumentos e discos de vinil antigos nos quais era proibido tocar.

No fundo se encontravam os poofs e estofados pra quem quisesse sentar e relaxar um pouco. Um projetor velho estava ligado ao leitor de vídeo e fita que apontavam pra uma tela branca que só era ligada nas tardes de sábado pra quem quisesse ir assistir os a sessão de filmes que passavam todo o final semana.

E hoje era uma dessas tardes.

Isso havia sido inaugurado havia quase 3 anos. Quando abriu, todo o mundo falava que aquele negócio era coisa de velho e que não ia pegar.

Bobagem. Tudo bobagem.

Durante a semana todo o mundo ia para lá, apesar de ser bem sossegado. Os garotos ficavam escutando os discos no leitor que estava pregado na parede, enquanto as garotas ficavam lendo ou então apenas se sentavam nas mesinhas do lado do bar enquanto bebiam e conversavam.

Aquele lugar era o meu favorito na cidade inteira. Eu e Thália aparecíamos lá tantas vezes que o garçon já havia decorados nossos nomes.

— Você precisa seguir em frente – eu falei. Estávamos quase chegando.

— Nunca! Como assim Star-Crossed é cancelada? Como?

— Falta de público eu acho – eu sorri. O letreiro verde e dourado já balançava ao longe.

— Ué falta de público? A série é maravilhosa! A porra aqui é que esses lixos a quem chamamos de humanos preferem assistir a Kim Kardashian, o carinha verde que fica disparando setas ou aquela mina que fica saltando de irmão pra irmão vampiro.

— Ah a serie até que é boa.

— Star-Crossed era ótima! Pra não falar que tem o gostosinho do Mat Lanter sorrindo na tela. Cancelar aquela série foi um crime.

— Eh, tem razão. Star-Crossed é demais mesmo.

—Porque eu tenho que ter bom gosto em série hm? Sempre me fodo – ela resmungou fazendo um gestinho estranho com o punho em sua mão. Thália empurrou a porta da cafetária ainda resmungando coisas sem sentido.

O cheiro a café e baunilha era tão gostoso que chegava até fazer salivar.

Havia pouca gente, visto que ainda faltavam alguns minutos até a sessão de filmes começar e apagarem as luzes. Vi Thália se chegando ao pé do Garçom enquanto se sentava num dos bancos altos de madeira em frente ao balcão.

— Quer algo? – ela olhou pra mim enquanto puxava a carteira.

— Não, eu vou ver os discos tá bom? Quero ver se encontro aquele que falei pra você.

— Pode ir que logo vou ter com você – ela sorriu. Assenti, me dirigindo para os corredores de discos. Eu era uma dedilhadora compulsiva. Eu tinha o hábito de ficar passando e passando de disco em disco. Fiquei encarando as estantes de indie e rock lendo título por título.

— Hey cara, talvez leve esses aqui – eu ouvi uma voz conhecida soar algures.

Nico Di’Angelo estava a um corredor na minha frente. Segurava uma caixa de cartão com um monte de capas de discos na qual consegui notar serem de The Smiths e Nirvana... pelo menos alguns. Ele segurava também alguns CD’s de bandas que eu nunca havia escutado antes. Percy Jacson estava do seu lado, ele segurava um CD em suas mãos.

Eu podia ver as palavras Ghost Stories por entre os seus dedos.

Droga, eu queria aquele Cd fazia semanas!

— Você não acha melhor deixar isso aí? Você não vai ficar assistir o filme segurando essa caixa não? – Percy sorriu.

Eu nunca havia visto Percy Jackson sorrir.

Eu só queria chegar nele e pedir que fizesse isso de novo para eu poder olhar só mais uma vez e gravar na minha memória.

— E arriscar que levem esse tesouro? – Nico olhou pra Percy com os olhos arregalados – Nem pensar! minha vida tá nessa caixa.

Eu dei um pequeno sorriso tentando não ser notada. Eu não queria que Percy Jackson me pegasse de novo os escutando e me achando intrometida. Eu não queria ser intrusa no espaço dele.

Eu continuei passeado por entre os corredores, observando as caixas de CD’s.

Talvez eu ache outro exemplar.

Nico se encontrava agora por entre a prateleira de música Gospel enquanto Percy estava ao fundo do meu corredor ainda em volta dos CD’S. Eu olhei de esguelha pra ele. Os seus lábios liam baixinho as caixas de Cd’s que passavam em suas mãos. As mechas escuras do cabelo caiam pela testa, enquanto os seus olhos verdes corriam cada título naquela estante.

Eu senti uma mão me puxar.

— Hey, então encontrou o que estava procurando? – Thália perguntou olhando pra minhas mãos vazias e depois pra estante onde estavam os CD’s.

— Não, outra pessoa já o pegou – eu falei olhando de novo pra Percy. Ele continuava entretido fazendo o que ele estava fazendo.

— Poxa... mas você pode mandar vir um pela internet – ela falou se encostando à pilha de CD’s na sua frente – Até tem muito Cd bom aqui... Linkin Park, Imagine Dragons... até Bastille.

— Acho que vi Karma Police algures ali – eu falei apontando pra uma das prateleiras da parede da direita. Thália sorriu continuando a revirar as caixas em sua mão.

Vestia uma blusa cinza coberta pela habitual jaqueta escura que usava por cima. As suas jeans eram pretas e nelas haviam duas correntes penduradas em seu bolso, tendo leves rasgões em seus joelhos e cochas.

Thália era bonita. Eu e todo o mundo achava isso. Seus cabelos eram curtos e negros, tanto quanto os de Percy. Ela tinha pele pálida e uns lábios corados que faziam prender a atenção de qualquer um que a olhasse por mais de dois segundos. Na sua orelha direta, vários piercings prateadas iam desde do topo da hélice até ao lóbulo.

Porque mais que ey tivesse vontade, eu nunca havia tido coragem pra fazer um.

Olhei para o relógio em meu pulso, faltava pouco pra a sessão começar.

Eu estava tão concentrada nos CD’s da minha frente que nem dei conta de Nico Di’Angêlo se aproximar da gente. Tal como há pouco ele segurava sua caixa de CD’s e Discos pousando bem na nossa frente.

— Thália – ele sorriu.

Eu consegui notar o rubor das fases da garota se tingirem de vermelho.

Eu nunca tinha visto Thália corar por ninguém... apenas Nico Di Angelo era o dono desse dom.

— Annabeth – ele sorriu pra mim, na qual devolvi no mesmo tom. – Que fazem por aqui?

Eu pude ver Percy olhando pra gente. Ele largou os CDS que tinha em mãos e caminhou até nós.

— Nós viemos pra sessão de filme – Thália respondeu – vimos cá todos os sábados.

— Legal – Nico sorriu, apontando pra sua caixa abarrotada de CD’s e Dicos – A gente só vem aqui comprar Música mesmo. Mas Percy me convenceu a ficar por aqui pra ver a sessão de filme.

— Vocês vão gostar – eu respondi. Eu olhei pra Percy, porém ele desviou os olhos de mim encarando o nada.

— Você é fan de Rock Annabeth? – Nico me encarou curioso. Os olhos se desviaram pra Percy e depois pra mim de novo.

— Eu escuto algumas bandas... não muitas.

— Estávamos procurando um CD pra ela mas parece alguém já o havia pegado – a garota do meu lado falou se apoiando em meu ombro – Lamento muito loira.

— Não tem mal... eu ainda vou tentar em outros lugares

— Que CD você estava procurando? – Percy questionou. Os seus olhos verdes intimidastes se fixaram em mim, e de novo, eu sentia minhas mãos tremendo e o rosto esquentando – Talvez eu tenha visto ele.

Não me olhe desse jeito menino, por favor.

When I look in your eyes. Oh I'm Hypnotized

Eles eram tão verde, tão brilhantes… e tão sérios.

— Eu estava procurando...er.. – eu olhei pro CD em suas mãos. Eu não tinha coragem pra falar que era aquele CD que eu fiquei semanas pedindo dinheiro pra comprar. Eu não tinha coragem de fazer isso com Percy Jackson.

Ele continuou me olhando.

— Não se lembra do nome do CD? Eu posso te ajudar se quiser bast-

— Não... Não, não tem problema – eu falei sorrindo - de qualquer das formas eles já levaram ele. Eu procurei em todo o lugar.

— Entendo – ele murmurou, dando um sorriso de lado.

Eu não estava preparada!

Eu não estava preparada psicologicamente pra aquele sorriso de lado.

Eu não estava!

— Hey Thália – Nico tocou em seu braço – Encontrei um disco daquela banda que você gosta quer vir ver?

Thália assentiu o acompanhando por meio de sorrisos. Percy continuou me olhando. Eu não queria continuar com aquele silêncio desconfortável,  então eu peguei no primeiro assunto que lembrei.

— Então... de que música você gosta? – perguntei me virando para os o montão de Discos.

Eu não tinha coragem suficiente pra ficar olhando pra ele.

Mas eu queria continuar... precisava continuar.

— Eu escuto de tudo – ele respondeu – Tem alguns cantores Pop, bandas de Indie e Rock também.

— Ah sim...

Porra, Annabeth, coragem! Sê mulher! Girl Power vai!

— Tem alguma banda favorita? – eu olhei pra ele. O nariz arrebitado e os lábios coradas pareciam marcar o seu rosto.

O seu cabelo continuava o mesmo bagunçado de sempre, era o mais bagunçado da história dos cabelos bagunçados. Ele usava uma camiseta preta com uma estampa dos AC/DC. Preto de cima abaixo como sempre.

Respira Annabeth, respira antes que dê um ataque em você, respira mulher.

— Coldplay – ele respondeu dando um sorriso pra mim – Artick Monkeys também.

— Eu também amo essas duas – eu respondi, eu nunca conseguia evitar sorrir que nem idiota.

Se Controle Annabeth.

Se. Controle.  S E   C O N T R O L E.

— Se quiser a gente pode trocar música, tenho uns CD's que talvez você goste - ele falou sem nem olhar pra mim.

Eu sorri mais ainda.  Mais que alguma vez imaginei ser possível.

— Seria legal. – eu respondi.

— Atenção – o garçon saiu de trás do Balcão avançando pra gente. Ele caminhou até ao projetor e pegou numa das fitas VHS que estava sobre a mesa – A sessão de filme vai começar podem ir se acomodando.

— É melhor a gente ir sentar – eu falei. Pensei em pegar sua mão mas algo me dizia que isso talvez não fosse uma boa ideia. 

Percy Jackson ainda era um mistério pra mim.

Eu não queria deitar tudo a perder. Eu não queria estragar o que estávamos tendo agora.

Percy assentiu.

As pessoas já faziam fila pra se sentar nos pufs e sofás em frente à tela do projetor. Eu podia ver Thália e Nico na fileira da frente conversando e rindo alegremente.

Percy pareceu notar também, pois sorriu ao ver os dois juntos sentados sobre um dos puffs.

As luzes começaram diminuindo enquanto o moço terminava de botar o filme.

— Quer sentar aqui? – Percy apontou pra um dos grandes puffs vermelhos na fila de trás. Eu assenti, me sentando do seu lado.

 Ele se acomodou sobre a almofada e deu um sorriso pra mim.

A sala estava completamente escura e a tela logo se iluminou mostrando o logotipo da Universal Pictures e o título “ET” sobre a mesma.

Durante todo filme Percy permaneceu perto de mim sem nunca se afastar. O seu braço rodeou os meus ombros enquanto ficavamos assistindo o filme em silêncio.

Eu não protestei. Ele parecia... relaxado. Apoei minha cabeça em seu ombro, eu queria congelar aquele momento. Eu queria parar tudo e ficar apenas ali ao lado de Percy Jackson.

— Eu preciso admitir pra você – ele sussurrou em algum momento do filme – Não sou fan de filmes de ficção cientifica.

Eu levantei o rosto o fitando... eu nunca pensei em ver ele desse jeito.

— O filme é muito bom – eu respondi no mesmo tom baixinho. – Acredite em mim.

— .... vou confiar em você então – ele sussurrou sorrindo.

Era estranho mas... eu senti que aquilo significava muito mais do que uma opinião de filme.

A minha cabeça continuava tombando sobre o seu ombro, enquanto eu sentia o seu rosto contra os meus cabelos.

Eramos amigos agora?

Ele confiava em mim?

.... Eu agora fazia parte do mundo de Percy Jackson?

O tempo foi passando e o filme continuava.

Thália e Nico conversavam sussurrando enquanto soriram um para o outro. Percy, pelo contrário, se mantinha em silêncio. Mas eu não importava... eu não queria quebrar aquilo.

Os seus olhos estavam fixados no filme. Ele humedecia os lábios a cada 10 minutos e respirava tão profundamente que dava para sentir seu peito se enchendo de ar toda a vez que inspirava e expirava.

Será que amanhã ele se lembraria disso? Será que amanhã ele conversaria, sorriria e partilharia suas músicas comigo?

Ou eu voltaria à estaca zero de novo e voltaria a ser a sua vizinha de rua?

You wonder if your chance'll ever come, or if you're stuck in square one.

— Annabeth? - ele me chamou bem baixinho, como se quisesse me contar um segredo.

Ou uma confissão...

— Hm?

— Não faça isso – ele murmurou com os olhos postos sobre o filme.

Olha pra mim por favor. Só pra mim. 

— Isso oque?

— Não me faça sentir coisas boas que depois me farão  sentir coisas ruins – ele sussurrou me fitando com tanta intensidade que me fez corar de novo - Eu não quero isso... eu já estou quebrado o bastante...

— Eu também não quero isso – admiti baixinho – Mas se você quiser.. eu posso tentar consertar você... basta você deixar. 

Ele olhou pra mim, um olhar diferente de todos os olhares que Percy Jackson já me havia dado.  Ele suspirou  sussurrando baixinho: 

— ... Eu deixo


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!


Notas finais do capítulo

Não eh o fim... pelo menos eu acho que nao.
Coldplay eh dona dessa fanfics ♥

Eu keria meter toda a musica que eu usei pra escrever ela, mas basicamente foi um pouco de tudo neh? então ousam apenas Always in My Head eu amei de vdd ♥

Amo vcs ♥



Hey! Que tal deixar um comentário na história?
Por não receberem novos comentários em suas histórias, muitos autores desanimam e param de postar. Não deixe a história "You Only Live Twice" morrer!
Para comentar e incentivar o autor, cadastre-se ou entre em sua conta.