Recomeçar escrita por Flower


Capítulo 5
Capítulo 4


Notas iniciais do capítulo

Olá leitores! Desculpem-me por ter "desaparecido" por aqui, mas é que estive um pouquinho ocupada e isso me impediu de entrar. Mas estou de volta com mais dois capítulos. SIM! Não sou Ricardo Eletro, mas vai ter promoção, posterei o capítulo 4 e 5 agorinha mesmo e espero que gostem.



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Felicity Smoak

Minha estadia em Starling City não está sendo muito fácil, parece que todos os deuses resolveram agir contra mim. Ontem mesmo meu carro começou a dar problemas, em minha mente nada que um mecânico não pudesse resolver. Mas para a minha surpresa, o homem moreno alto de macacão sujo de graxa, bastante sedutor, me explicou com palavras rebuscadas somente para testar se meu cabelo loiro afetava meus neurônios que o problema havia acometido o motor e que ele teria que importar uma peça de Central City para que pudesse de fato consertar o carro, o que acaba por me deixar completamente refém aos malditos taxistas.

Para completar, todo o meu prédio está sofrendo com quedas diárias de energia, e por conta desses lapsos de energia o meu chuveiro queimou a resistência e eu não suporto ter que tomar banho frio logo que acordo, isso me deixa totalmente mal-humorada. O sindico marcou uma reunião ainda esta noite para conversarmos sobre os problemas que andamos enfrentando, mas nem todos somos completos inúteis como ele para termos tempo para conversas que nãos nos levarão a lugar nenhum, ele que levante sua bunda e faça algo, afinal de contas essa é a sua função.

À medida que as portas do elevador se abrem em meu andar solicitado, ouço as vozes de Curtis gritarem pelo meu nome enquanto que me acompanha até chegar à porta de minha sala, e minha dor de cabeça pelo estresse acumulado por todos esses problemas começa a fazer com que minha cabeça queira explodir.

— Senhorita Smoak? — ele para em frente a minha porta, impedindo-me de entrar.

— O que combinamos? Me chame apenas de Felicity, Curtis.

— Certo! É que a senhorita Snow está em sua sala. Eu disse a ela que seria melhor que ela marcasse um horário e que fosse anunciada assim que você chegasse, mas ela disse que a senhorita não se importa muito em ser anunciada. — diz confuso e até um pouco temoroso.

— E quem seria essa senhorita Snow?

— Secretária pessoal do Senhor Queen.

Está tudo explicado, pelo visto outra pessoa também me parece ter ficado mordida com todas as minhas reivindicações. E por que hoje? Por que agora? Justamente quando minha cabeça parece querer estourar.

— Tempos obscuros me aguardam. — não consigo conter um suspiro. — Curtis você poderia conseguir uma aspirina e um copo d’água? Irei precisar.

— A senhorita tem certeza que está bem?

— Eu vou ficar. — sorrio e por fim abro a porta, deparando-me com a secretária de Oliver Queen sentada em uma das poltronas com suas belas pernas cruzadas. Não esperaria menos de uma mulher que trabalha para Oliver, ela está usando pouca roupa e tem um ar superior e irônico exatamente como O Poderoso Chefão, nada que me surpreenda.

— Bom dia senhorita Smoak! — ela levanta e prontamente estende uma de suas mãos para um cumprimento, enquanto não se preocupa em disfarçar seu olhar por toda a extensão de meu corpo. — Eu sou Caitlin Snow, secretária pessoal do Oliver.

— Prazer. — aceito seu cumprimento. — No que posso ajuda-la?

— Aqui estão os papéis que a senhorita solicitou. Peço desculpas pelo transtorno, isso não vai mais acontecer.

— Obrigada, e eu espero que isso realmente não volte a acontecer. — sento em minha poltrona atrás da mesa.

— Não vai! E eu tratei de marcar sua reunião com os acionistas da empresa Cronos Tecnology, será em alguns minutos... — ela ergue seu corpo o apoiando quase que completamente sobre a mesa, o que faz com que meus olhos desçam involuntariamente até seu decote. Com toda a certeza esse deve ter sido um dos fatores que fez com que Oliver a contratasse. — Só mais uma coisinha, Oliver pode ter muitos defeitos, e eu como sua secretária pessoal os conheço muito bem. Mas se tem uma coisa que Oliver tem é responsabilidade, se ele não te entregou os documentos como o combinado é porque realmente não deu. No dia em que conseguimos todos os documentos impressos como a senhorita havia solicitado, William acabou desenhando em muitos deles o que fez com que perdêssemos a noção de quais envelopes realmente tinham sido afetados.

— William?

Pergunto tentando montar a trajetória de como tudo aconteceu em minha mente e antes que ela consiga ser construída, sinto as superfícies de minhas bochechas queimarem e novamente a boca de meu estômago volta a se contrair dentro de meu organismo, desta vez, eu sei exatamente o porquê de ele está se manifestando e a resposta disso é injustiça.

E eu odeio cometer injustiça com alguém.

— Sim, o filho de três anos de Oliver! O pestinha ficou apenas alguns minutos sozinho e resolveu incorporar o Picasso.

Sua risada é irônica.

— Eu não poderia imaginar...

— Claro que não poderia, você nem tentou entender Felicity! Tudo o que você fez foi entrar naquela sala como o Catrina e foder com o psicológico do Oliver. E conseguiu, se essa era a sua intenção você conseguiu. Oliver como um cachorro enfiou seu rabo entre as pernas e correu para a sua casinha! E se isso é motivo para que você possa comemorar, mande trazer o melhor champanhe. — ela levanta e olha seu relógio no pulso esquerdo. — Antes que eu vá, só quero que você saiba que eu te entendo como mulher, o Oliver não é o melhor homem que existe na face na terra, mas um dia ele já foi! Sei que isso não justifica suas ações, porém eu tento compreendê-las. E mais, isso é pessoal então resolva pessoalmente, não queira desafia-lo aqui dentro para mostrar que você é muito maior do que ele, porque isso vai fazer com que você chegue a lugar nenhum. Quer desafiar Oliver? Desafie na vida. Quer desafiar aqui dentro? Desafie você mesma. Não envolva as outras pessoas que estão ao seu redor por aqui, porque isso é sujo.

Caitlin antes de sair pela porta de minha sala dá um sorriso que poderia ser impertinente depois de despejar tudo sobre mim, mas pelo contrário, é um sorriso de como se estivesse me dando um conselho, como se fosse uma amiga sem ao menos me conhecer, o que me deixa ainda mais envergonhada.

E ela tem razão, eu estava tão focada em mostrar a Oliver com quem ele estava lidando que não me importei em envolver as Indústrias Queen Consolidated, isso foi infantil de minha parte. Eu não posso deixar que meu ego interfira no que de fato eu vim fazer aqui, que é trabalhar. Não posso deixar que minha rincha pessoal com Oliver possa impedir meu desempenho aqui dentro e muito menos posso agir sem tentar entender os dois lados, como acabei de fazer com Oliver. Por mais que ele seja um idiota, eu tinha que procurar saber o porquê dos documentos não terem chegado a minha mesa, mas eu simplesmente fiquei cega. Não poderia ter falado daquela forma, não deveria ter o julgado pelo que somente conheço dele e aí está o meu erro.

Se tem algo que aprendi com minha mãe e considero uma virtude é perceber que estou errada, sendo assim eu me sinto no dever de me desculpar pelas palavras que usei, por quanto dura e egoísta fui sem pelo menos tentar entende-lo, enxerga-lo com outros olhos, e é isso que minha consciência me obriga a fazer, pedir desculpas.

Desse modo, preparando-me para levantar ouço a voz de Curtis enquanto que abre a porta. — Felicity, a reunião começa em dois minutos.

Que merda, talvez esse pedido de desculpas tenha que esperar mais um pouquinho. — Tudo bem, mande-os entrar.

~~~

            Oliver Queen

O som ambiente é baixo, mas ainda assim consegue sobressair ás vozes das muitas pessoas aglomeradas em meu andar de destino de todos os dias. Elas parecem estar divididas em pequenos grupos enquanto seguram uma taça de champanhe. Tudo ao meu redor está exatamente da mesma forma em que deixei no dia anterior, não há nenhum arranjo ou balões coloridos que possam me indicar que é uma festa! Mas por mais que não seja, as pessoas estão felizes parecendo comemorar algo que tenha acontecido ou que vá acontecer. Isso está se tornando uma rotina, tudo parece acontecer sem que eu saiba, por minhas costas. Afinal de contas, eu sou o diretor executivo deste lugar, tudo que ocorre por aqui eu deveria ficar sabendo, e mais, deveria permitir ou não.

Rapidamente avisto Tommy conversando ao pé do ouvido de Caitlin que sorri enquanto se delicia com sua taça repleta, meus passos aceleram e por fim os alcança.

— Será que eu poderia ter a honra de saber o que está se passando por aqui? — assim que pergunto, Tommy assustado como se estivesse sido pego no flagra se afasta de Caitlin e a mesma se recompõe.

— Robert Queen! — Tommy devolve a taça de champanhe vazia na bandeja de um dos garçons que passam por nós.

— O que meu pai tem a ver com isso?

— Seu pai adora coquetéis para apresentar algo para nós, dessa vez parece que é um projeto grande! — Caitlin ao dizer bate palmas e posso chegar a ver pulinhos, eu estou enganado ou ela está um pouco bêbada? Céus.

Tommy ri. — Com toda certeza é algo grandioso, estou ansioso para saber do que se trata, mas se você me dá licença eu combinei de esticar até o bar para pegar outra bebida! Caitlin, você me acompanha? — ele a pergunta, e Caitlin ainda ri para mim como se eu estivesse contado uma piada. — Sim, seu pai contratou um pequeno bar e até barman’s, eu amo esse homem!

— Chefinho gostosão... — Caitlin agarra uma das laterais de meu paletó e aproxima bem o rosto do meu, seu hálito é puro álcool capaz de me embriagar só por ter o inalado. — Eu aposto que a sua loirinha está por trás disso. Ela sempre está!

Antes que eu possa respondê-la, Tommy a puxa pelo braço a levando para perto do balcão.

Meu pai sempre foi um homem que lutou muito pelo que queria, eram sonhos grandes como ele. Nunca almejou o que era pouco e por ser assim, quando chegava ao seu objetivo ele tinha que comemorar com todos. E sua comemoração era regada por tudo do mais sofisticado, exatamente como está acontecendo agora. O único problema é que estou me sentindo pisando em ovos, como se todos soubessem o motivo menos eu, quem até então comanda esse lugar.

Reviro meus olhos ao observar Tommy e Caitlin se afastando de mim, quando sinto tapinhas em minhas costas. — Meu filho, estávamos esperando por você! — a voz é de Robert Queen, meu pai.

— Já eu não estava esperando pelo senhor. — sou duro ao avistá-lo e para completar ele está acompanhado. Posso sentir o semblante de Ray Palmer queimar sobre mim por estar a par de tudo primeiro do que eu e se não bastasse isso, o idiota está se sentindo ainda mais inflado por estar de braços dados a Felicity.

Por que ele está pegando nela dessa forma? Por que os dois estão tão perto um do outro?

É o fim dos meus dias. 

— Queen! — Ray Palmer balança a cabeça em positivo como um cumprimento e Felicity sem dizer uma palavra, partilha do mesmo gesto. Ela parece até mesmo um pouco sem graça a me ver.

— O que está acontecendo aqui? — bufo ao perguntar. Por mais que eu queira desvencilhar meus olhos dos de Felicity eu não consigo e a pergunta parece que é apenas para ela.

Ela por sua vez fraqueja o olhar em direção a mim e abaixa a cabeça por alguns leves segundos o que me faz parar de fitá-la e dessa vez dirigir minha atenção ao meu pai.

— Oliver, decidi reunir todos aqui hoje porque estamos em um tipo de transição. — antes que ele continue a tentar me explicar, interrompo-o.

— Que diabos de transição é essa?

Eu preciso me controlar, preciso praticar algumas aulas de Yoga com Caitlin, não é possível.

— Felicity está trabalhando em algo importante envolvendo nosso sistema operacional. — Robert Queen sorri para ela como se fosse uma criança e ela o retribui da mesma forma.

 Que porra é essa que eu não estou entendo?

— Como assim? Vocês se conhecem?

— Sim, Oliver. Ray Palmer me indicou ao seu pai para que eu pudesse entrar para as Indústrias Queen Consolidated, nós nos conhecemos há algum tempo. — os braços de Felicity deslizam pelos de Palmer, soltando-o. O que me deixa um pouco mais aliviado.

— Se eu indicasse Felicity a você Queen, você não a aceitaria pelo simples motivos de eu estar fazendo isso. — Palmer meneia a cabeça e volta a colocar seu irritante sorriso nos lábios.

— Claramente meu filho, eu tenho que concordar com Ray que essa sua birra com ele me faz perder alguns negócios importantes.

O que? Se eu estiver em um pesadelo, por favor, apenas me acordem! Está acontecendo um coquetel para apresentação de um grande projeto em que o diretor executivo, que sou eu, não está sabendo e para completar estou presenciando meu pai proteger Ray Babaca Palmer? Inferno.

Suspiro intensamente, mas logo respondo meu pai. — Meu querido pai, você está certo eu devo tratar o seu preferido pupilo de uma forma melhor, pode acreditar que tudo será diferente daqui em diante. — minha ironia é tamanha que posso sentir os músculos de minha mandíbula contraírem para uma risada, mas a seguro.

— Certo. Mas vamos falar do que realmente importa e vai ser agora! — meu pai se afasta de nós me deixando na cova de leões, Palmer encosta seu braço levemente em Felicity que permite, deixando-me novamente nervoso.

Eu não sei o que está acontecendo, mas Felicity não parece ser a mesma. A todo instante desde que cheguei mal trocamos olhares, e ela responde apenas as perguntas que lhe são feitas, nada além disso sai de sua boca, eu apenas não estou conseguindo entende-la.

Meu pai continua. — Senhores e Senhoras. — com uma colher de sobremesa, faz toques leves na taça de champanhe em que segura. — Um minuto da atenção de vocês afinal de contas alguém tem que explicar o que está acontecendo por aqui! — seu sorriso cativa a atenção de todos. — Há uma semana, nossa recente chefe do setor de Tecnologias da informação, Felicity Smoak, conseguiu constatar que estávamos sendo enganados pela empresa que nos sedia seu trabalho. No final das contas estávamos saindo no prejuízo em mais de cem por cento. — posso ouvir um rebuliço das pessoas ao ouvirem o que meu pai fala. — Então, ainda hoje mais cedo decidimos cancelar os negócios com a empresa Cronos Tecnology mesmo que isso nos force a pagar a rescisão de contrato, mas para não assustá-los, recebemos uma proposta de imediato da Chase International que cresce absurdamente nos tempos de hoje. Sendo assim, amanhã teremos a presença de Adrian Chase para que possamos convencê-lo a assinar esses papéis de aliança e para que isso aconteça eu preciso da ajuda de todos vocês, precisamos continuar a ser um time! Cada um de vocês receberá um e-mail com as instruções de suas atividades, peço que sejam rápidos, estamos correndo contra o tempo. — ele finaliza e logo posso ouvir a salva de palmas que o contempla.

Vocês estão sentindo o cheiro de queimado que está passando por aqui? Sim, eu estou entrando em combustão, meus neurônios estão virando manteiga. Eu não posso acreditar que isso está acontecendo de baixo de meu nariz sem que eu ao menos saiba e para completar Adrian Chase está envolvido.

Avisto meu pai descendo alguns degraus, caminhando até mim. — Eu não entendo todo esse transtorno para isso? O senhor poderia me delegar a essa função, eu posso fazer isso sozinho. Eu sou o mais capacitado!

— Oliver, você não é o centro das atenções... Tem outras pessoas ao seu redor que são tão boas quanto você, e nesse exato momento em que temos pouco tempo, precisamos da ajuda delas. — meu pai levanta uma de suas mãos e aperta meu ombro com certa força. — Você precisa entender isso.

— Isso é uma grande besteira! Eu conheço o Adrian, sei lidar com ele como ninguém, não preciso de ajuda para conseguir isso.

— Certamente você vai precisar! — a mão de meu pai desliza até o nó de minha gravata e a ajeita. — O Ray vai viajar até Central City para trazer Adrian até aqui com Tommy, você e Felicity vão ficar com a responsabilidade de fazer com que ele assine os papéis. Enquanto os demais funcionários vão auxiliar vocês dois o quanto precisarem. Quero esse rapaz de quatro por nós! — Robert Queen esboça um dos seus mais animados sorrisos. — Você nunca vai aprender a dar um nó em uma gravata? Talvez você não seja o melhor em tudo. — sua mão chega a meu rosto e deposita tapinhas por ali. — Bom trabalho meu filho. — ele finaliza e então se afasta de mim.

— Pelo visto estamos juntos nessa! — Felicity se aproxima de mim com os braços cruzados.

— Não precisamos, posso dar conta disso sozinho. — seguro o braço do garçom que passa por nós não o deixando seguir em frente. Pego uma taça de champanhe e em uma golada só a termino, fazendo uma leve careta no final.

— De jeito nenhum! Eu não vou ficar fora dessa, tenho meus méritos. — ela dá um passo à frente, desfazendo seus braços cruzados. Não posso deixar de observar o quanto está linda, com toda essa confusão eu havia me esquecido de reparar o quanto transborda elegância.

— Tudo bem, se você faz tanta questão eu não me importo em dividir isso com você. — meneio a cabeça para os lados. — Cadê o seu cão de guarda?

— Você não perde a oportunidade, não é? Do que você está falando?

— Ray Palmer! Ele só faltou mijar em você para demarcar território.

— Ray? Oh não, não mesmo. — ela solta uma gargalhada, enquanto ajeita seus óculos de grau um pouco desengonçada.  — Não temos nada! Não que eu tenha que lhe dar explicações. Mas enfim, passaremos a noite aqui... Na minha sala ou na sua? — seu tom de voz é sério, mas não posso negar que acho a pergunta com certo duplo sentido.

— Realmente, não me deve explicações. — mordo meu lábio inferior ao escutar sua proposta. — Passar a noite com você? Isso me parece bem sugestivo!

— Você é muito nojento! O que te faz pensar que todas querem ir para a cama com você?

— Simples, porque todas querem ir para a cama comigo.

— Não sei por que ainda perco meu tempo tentando te entender.

Ela revira os olhos, e isso é tão divertido.

— Na minha sala às oito horas. Eu só preciso fazer uma ligação para que minha babá possa ficar com William esta noite, tudo bem para você?

Felicity fica em silêncio por alguns minutos assim que pronuncio o nome de William, mas logo o quebra. — Ok.

— Até mais.

— Oliver! — ela segura em meu antebraço, impedindo-me de partir.

— Sim.

— É... Não é nada. Nos vemos às oito. — ela solta meu braço de imediato.

— Você está bem?

— Está tudo bem, nos vemos mais tarde! — ao finalizar, ela se retira indo em direção ao elevador.

A forma com que Felicity me segura pelo braço e o jeito com que seu olhar procura pelo meu me deixa surpreso. Ela parece querer me dizer alguma coisa importante, mas como se não tivesse forças para isso, sinto-a desistir e eu não vou mentir que isso me deixa muito curioso. Não importa, eu não preciso descobrir isso agora, mas com toda a certeza eu saberei do que se trata ainda esta noite. 

~~~

O restante do dia é mais calmo, depois que o circo montado pelo meu pai é desarmado, tudo parece voltar ao normal exceto Caitlin que pediu para se ausentar do restante do dia por motivos de náuseas e uma dor de cabeça indescritível. Acredito que ela não esteja familiarizada com champanhe e então não conheça o que o maldito possa fazer em grandes quantidades, isso levaria a uma baita ressaca.

A noite chega mais demoradamente do que eu esperava, mas não posso mentir que minha ansiedade contribui para isso, exatamente as oito em ponto ouço leves batidas na porta e assim que mando entrar, posso avistar Felicity portando apenas seu notebook e tablet em mãos.

— Quantos livros! — ela se refere a grande montanha de livros sobre minha mesa enquanto eu faço algumas anotações.

— Digamos que eu ainda seja dos tempos antigos e tenha que ir até a biblioteca buscar por algumas informações.

— Talvez você não seja antigo somente com relação a isso. — Felicity contém um sorriso à medida que se senta a poltrona de frente para mim.

— Talvez eu tenha que concordar com você. — esboço um sorriso enquanto que mordo a ponta de minha caneta vermelha.

Felicity olha para os dois lados e surpreendida solta um lindo sorriso. — Eu deveria ter gravado esse momento para usar contra você assim que tivesse oportunidade.

— Engraçadinha você.

— Oliver...

Sua voz desta vez é calma e mais séria, deixando de lado a descontração.

— Diga. — o clima de mais cedo quando Felicity segurou-me pelo antebraço volta e involuntariamente meus pensamentos se concentram em apenas o que ela tem a dizer, possivelmente seja algo banal e sem tanta importância, mas o simples fato de Felicity me olhar desta forma já me faz ficar de quatro para escutar o que ela estiver disposta a dizer. 

— Eu queria lhe pedir desculpas.

— Não, você não tem pelo que se desculpar. Na verdade, eu quem tenho que pedir desculpas. Àquela noite foi apenas sexo, eu agi como um cafajeste sem escrúpulos e você apenas retribuiu da forma que eu merecia! Está tudo bem, não precisamos mais voltar a esse assunto.

Uma gargalhada irônica sai da boca de Felicity, o que me deixa confuso. — Você acha mesmo que eu estou me desculpando pela nota de cem que coloquei sobre aquele criado mudo? Não, eu nunca pediria desculpas por isso.

Franzo o cenho. — Então eu não sei do que está se referindo.

— Estou pedindo desculpas pela forma com que agi com você sobre os papéis que não chegaram a minha mesa no tempo que pedi. Eu fui grosseira e injusta, não sabia sobre William e muito menos imaginei que poderia ter acontecido o que aconteceu.

Eu não preciso ser um cão farejador da polícia para imaginar que Caitlin está por trás disso. — Caitlin te contou tudo, não foi?

— Ela foi... Bem educada ao me contar. — ela segura um sorriso.

— Mentira, ela deve ter sido o diabo com você. — rio. — Mas não leve nada para o pessoal, Caitlin é uma boa amiga ela apenas age como uma mãe protegendo seus filhotes quando acha que estão correndo algum perigo de vida.

— Eu percebi. — ela ri junto comigo, deixando o clima mais leve. — Enfim, espero que minhas desculpas tenham sido aceitas. Temos que voltar ao trabalhado ou senão não vamos conseguir chegar ao nosso objetivo.  

Pela primeira vez sou capaz de sentir total sinceridade nas palavras de Felicity, desta vez, ela não está querendo me enforcar com minha gravata ou querendo bater a minha cabeça em alguma parede deste escritório, ela apenas está pedindo desculpas. E o seu tom de voz é tão calmo e delicado, que me faz querer abraça-la e não solta-la até que ela volte a querer acabar com a minha vida.

— Você tem razão, precisamos voltar ao trabalho antes que meu pai se teletransporte até aqui e venha julgar a forma com que dou o nó em minha gravata.

A noite continua seu curso, agora mais rapidamente e não estamos mais da mesma forma que iniciamos os trabalhos. Meu blazer está jogado sobre o mini sofá encostado no fundo do escritório, minha gravata desfeita e as mangas de minha camisa social dobrada até a altura de meu antebraço. O mesmo posso dizer de Felicity, seus cabelos estão soltos, sua blusa de seda está amarrotada chegando a sair pelas laterais de sua saia. Seus pés estão livres dos saltos deixando os delicados pés expostos.

— Felicity, me passe o livro Código Civil, preciso rever algumas cláusulas contratuais importantes, Chase é um ótimo advogado não podemos falhar nesse setor! — meus olhos não saem de minhas anotações enquanto Felicity me passa o livro.

— Você parece conhecer bem o Chase. Vocês são íntimos?

— Já fomos um dia. Eu conheci Chase na faculdade, fizemos alguns longos períodos juntos.

— Estranho, assim que citei o nome de sua empresa você pareceu queimar pelos olhos.

Rio com sua expressão. — Sim, eu fiquei muito puto. Mas é que... Eu conheço muito bem Adrian Chase, e sei que ele é capaz de tudo pelo poder, eu não gosto de pessoas assim.

Felicity para de mexer em seu tablet como se quisesse me analisar. — Se ele é desonesto Oliver, eu preciso saber. Nós não podemos assinar contrato com uma pessoa dessas.

— Não estou querendo dizer que Chase está sendo desonesto conosco, pelas suas pesquisas sobre a empresa dele, eu pude ver que não há nada de errado. O problema é a índole dele, eu nunca me senti a vontade em confiar nele novamente.

E eu não estou mentindo, nos primeiros meses estudando juntos Chase e eu nos tornamos grandes amigos, dividíamos tudo desde a república onde morávamos até as mulheres em que levávamos para a cama, era divertida a forma com que nos respeitávamos. As festas para promover nosso curso de direito eram organizadas por nós dois, o que fazia de nós os populares, conseguíamos tudo através disso.

As melhores bebidas, os melhores carros e as melhores mulheres que imploravam para passar uma noite conosco. Eu não vou me esquecer do dia em que chapamos mais de 600 gramas de maconha juntos e depois comemos as mais lindas lideres de torcida do time de beisebol que jogávamos no final de semana. Com toda a certeza, esse dia foi épico eu muito mal lembrava o meu nome no outro dia, e assim que nossos juízos voltaram e acordamos, descobrimos que as mesmas garotas saquearam todo o nosso dinheiro, incluindo cartões e documentos e para completar também haviam levado as nossas roupas, nos deixando totalmente fudidos. 

No entanto o problema começou a partir do momento em que estávamos preparados para concluir a faculdade, meu pai nos ofereceu dois cargos em sua empresa e eu os neguei sem perguntar a opinião de Adrian, que não me perdoou por isso. Mas em minha defesa, eu pensei que após concluirmos a faculdade iriamos primeiro nos divertir por mais um tempo, mais um pouco de festas e mulheres não iria nos atrapalhar e quando cansássemos disso, poderíamos então virar adultos e trabalhar como a sociedade nos obriga. Por outro lado, Chase tinha mais ambição que eu, ele não queria isso para ele, talvez ele tivesse cansado dessa vida.

E foi o que aconteceu, depois de uma semana chegou a nossa república os resultados de uma prova que a faculdade obriga aos formandos a fazerem para propostas de emprego em umas das melhores empresas em Nova Iorque, e nós dois havíamos passado. A única diferença é que mesmo eu tendo feito aquela merda sem nenhuma vontade, eu havia passado em um cargo superior ao dele. Mas havia algo no contrato que dizia que se algum de nós não comparecesse a entrevista, o cargo maior automaticamente ficaria para o que havia passado em segundo lugar e aí foi o momento em que Adrian Chase puxou o meu tapete garantindo o primeiro lugar e o maior cargo na empresa de Nova Iorque. Quando descobri, tratei de ir ao escritório desse filho da puta e cravei meu punho em seu nariz, finalizando todos os laços que um dia chegou a nos unir.

— Novamente?  — Felicity volta a perguntar.

— Sim, Chase já me passou a perna. Eu apenas não gostaria de ter alguém como ele por perto.

— Você me parece conhecer ele melhor do eu, se você achar melhor não fecharmos com ele, terá meu apoio.

— Sua pesquisa foi minuciosa Felicity. Você não confiaria a QC em algo que não valesse a pena, talvez ele tenha mudado.

— Eu espero que sim. — ela deposita o tablet sobre a mesa e senta em uma cadeira ao meu lado. — Você está com fome? Porque eu seria capaz de comer as folhas desses livros.

Assim que concordo em pedir algo para comermos, ligamos então para um restaurante ao lado do prédio da empresa que serve uma ótima comida, e para a minha surpresa, Felicity faz seu pedido nada parecido com que eu tinha em mente ou estava acostumado com as mulheres que costumo sair, nada parecido com saladas ou comidas vegetarianas sem nenhum tempero. Uma comida digna de mulheres fúteis que só pensam em emagrecer para caber em um padrão exigido pela sociedade – eu sei que vocês devem estar me achando um hipócrita, mas por mais que eu esteja acostumado com mulheres assim, eu sinto falta da liberdade que mulheres como Felicity podem me proporcionar.

Sem rodeios, Felicity pede um dos maiores sanduíches de ricota que há no cardápio acompanhado de uma boa porção de fritas. Eu devo estar ficando louco, mas até a forma que ela segura esse sanduíche quer dizer muito para mim, é bom estar assim com ela, e por incrível que pareça durante esse breve momento de descanso, nós podemos trocar algumas conversas sem chegarmos a discutir. Nada muito profundo ou pessoal, mas que gera certo conforto. Eu pedi comida japonesa e acabo descobrindo que Felicity é amante de comida japonesa, por algumas vezes ela se sente a vontade em roubar alguns Hot Philadelphia de meu prato, nem parecemos os famosos cão e gato.

Mas esse momento não é tão duradouro como eu desejaria que fosse, logo temos que voltar ao trabalho, porém eu poderia passar a noite apenas assim conhecendo mais dela por mais que ela não tenha me mostrado muito. Porém, estou orgulhoso de mim, porque mesmo que ela não tenha me deixado falar sobre minha vida ou perguntar sobre a dela, sem que ela percebesse acabei descobrindo sua cor favorita e que ela adora filmes regados a drama.

— Ficou perfeita, Oliver! — ela se refere à proposta que irá ser apresentada a Adrian Chase logo pela manhã.

— Digamos que formamos um belo time! — cruzo meus braços enquanto olho os slides sendo passados pelo projetor.

— Digamos que eu vou ser obrigada a concordar com você!

Olhamos um para o outro e soltamos uma risada por isso soar totalmente contraditório.

— Amanhã assim que eu apresentar essa proposta, teremos Adrian Chase em nossas mãos.

— Como assim depois que você apresentar a proposta? Pensei que estávamos juntos nessa. Você não vai apresentar sozinho!

Felicity desliga de imediato o projetor e aumenta seu tom de voz ao se aproximar completamente de mim.

Estava bom demais para ser verdade, o inferno anuncia sua volta. — Felicity, vai ser melhor assim! Eu conheço Adrian Chase melhor que você e sei que ele não te respeitaria da mesma forma como vai me respeitar.

— O que você está querendo dizer com isso?

— Chase é um completo idiota com as mulheres.

— Então não vejo problemas quanto a isso, eu sei muito bem lidar com esse tipo de homem. — ela dá mais um passo, podendo acabar com o espaço que nos distancia.

Engulo a seco assim que sinto a indireta. — Eu já decidi Felicity, quem vai apresentar essa proposta sou eu e você não vai me fazer mudar de ideia.

— Você não vai apresentar sozinho! Eu não vou me submeter a você.

— Por que você insiste em ser tão implicante? — a seguro pelo braço a trazendo mais para mim, o que a assusta um pouco.

— Por que você insiste em querer ser superior em tudo? Eu não vou permitir que você ganhe todos os méritos por esse trabalho.

Reviro meus olhos. — Não estou me importando em ganhar méritos, não preciso disso. Eu apenas quero te proteger das ironias de Chase, será que você não entende que eu não suportaria alguém agindo da mesma forma que eu agi com você? Eu fui um idiota machista, te desmereci como mulher e Chase fará da mesma forma ou até pior.

— Eu não preciso de sua proteção, Oliver. — ela empurra meu peito com seu dedo indicador.

— Mas eu insisto em protegê-la mesmo assim.

E como se alguém tivesse acendido o fósforo em uma linha de pólvora, uma de minhas mãos ainda solta alcança seus óculos de graus e os retira jogando-os sobre a mesa. Com minha outra mão segurando seu braço a deslizo até sua cintura a puxando para mim. Felicity desvia seu olhar do meu para minha boca em questão de segundos, e como se o fogo seguisse até chegar ao fim da linha de pólvora, sinto sua mão puxar meu maxilar para seus lábios até alcançar minha boca, explodindo em um beijo.

Um beijo em que o ritmo é dado por ela, sua língua percorre por todos os cantos de minha boca até encontrar a minha novamente, como se estivesse com saudade do meu gosto, e eu a deixo comandar o quanto ela quiser.

Não consigo conter um sorriso entre o beijo enquanto nossas cabeças trocam as posições em uma total sincronia. Involuntariamente, sinto meus pés dando passos para frente guiando nossos corpos até o mini sofá encostado no fundo do escritório. À medida que derrubo o corpo de Felicity com certa força sobre ele, posso ouvir um gemido sair de sua boca, provocando-me. E a partir desse gemido, meu pau é acionado como se estivesse sedento para sair de dentro de minhas calças, não consigo não sorrir ao sentir essa sensação de estar vivo novamente.

Felicity coloca sua mão sobre a fivela de meu cinto com o intuito de me puxar de volta para ela, e de imediato deixo meu corpo cair sobre o seu, acomodando-me entre suas pernas. Assim que levando minha cabeça para olhar em seus olhos, não consigo enxergar nada além de puro desejo que parece indiretamente gritar por mais de mim sem que isso precise ser dito por sua boca.

Ao rir para Felicity que me corresponde da mesma forma, volto a abaixar minha cabeça novamente até a curvatura de seu pescoço onde seu cheiro floral está mais concentrado e urro ao voltar a sentir a fragrância que parece me acompanhar por aonde quer que eu vá. Felicity então leva seus braços ao redor de meu pescoço os prendendo por ali, enquanto que suas mãos parecem puxar meu cabelo forçando minha cabeça contra sua pele, o que faz com que meu pau queira ultrapassar todas as camadas de pano que o separa do corpo de Felicity.

Minha língua passa por toda a extensão da pele quente do maxilar de Felicity, trilhando um caminho novamente até a superfície de seu pescoço, fazendo com que Felicity solte uma respiração mais pesada e quente próximo ao lóbulo de minha orelha. Sorrio enquanto continuo a trajetória com minha língua até o decote de sua blusa de seda, dando uma leve mordida na região sem ainda deixar marcas, quando ouço um gruído vindo da boca de Felicity a fazendo sussurrar.

— Oliver... — sua voz é quebradiça e rouca, fazendo com que minha cabeça se levante e meu olhos se abram a procura dos seus.

— Não precisamos dizer nada...

Procuro forças para dizer e novamente aproximo nossos lábios em uma carícia sensual, entreabrindo sua boca com minha língua para um novo beijo. Mas Felicity com suas mãos ainda em meu peitoral, volta a impedir que o beijo prossiga.

— Não podemos.

Ela reuni suas forças e com suas mãos me empurra para o outro lado do sofá.

— Felicity... — observo-a se levantar e ir até seus óculos sobre a mesa, tentando se recompor. — Podemos conversar sobre isso.

— Você não entende! — ela busca sua bolsa em uma das poltronas.

— Então me ajude a entender.

— Apenas preciso ir.

Felicity parece inquieta enquanto desamarrota sua roupa. E nesse exato momento eu não consigo construir nenhuma linha de raciocínio possível que me mostre onde eu errei. Meu corpo pede para segura-la dentro dessa sala e não a deixar partir sem me dar uma explicação, que me permita leva-la para casa e terminar o que começamos nesse sofá que nunca foi usado para algo desse tipo. Meus olhos não conseguem sair dos dela que agora parecem me olhar sem desejo, na verdade, eu não sou capaz de decifrar o que seus olhos querem me dizer.

Pela primeira vez eu estou realmente de mãos atadas, porque em um momento eu a tenho em meus braços querendo tudo de mim da mesma forma como que a quero, e em outro momento ela está distante como um animal assustado e indefeso e eu só consigo querer abraça-la e pedir desculpas mesmo sem ter um motivo para tal.

— Me deixe ao menos te levar em casa?

— Por favor, preciso ficar sozinha.

Mesmo que eu queira segura-la impedindo de deixa-la ir embora nesse estado, minha cabeça decide optar pela razão, e assim que faço um sinal positivo com a cabeça permitindo que ela vá, Felicity o retribui com um sorriso forçado em seus lábios e antes que eu possa dizer qualquer coisa, ela sai pela porta.


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Notas finais do capítulo

Aguardo vocês nos comentários. ♥



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