Já fazia quase uma semana desde que chegara a Londres, não tinha desfeito as malas, ainda tinha esperanças de que pudesse voltar para sua cidade natal. Tinha um colega de quarto, Luke Castellan, filho de um comerciante endinheirado, na faculdade de direito só havia espaço para os ricos e afamados. Nenhuma mulher obviamente, embora ainda existissem aquelas responsáveis pela limpeza da universidade, alias a melhor universidade.

—Vamos Percy, é só um bar, nada demais só uma festinha para comemorar o inicio das aulas. -insistiu Luke.

—Eu prefiro ficar aqui. - afirmou convencido da ideia.

—Vamos lá só se vive uma vez grande amigo! Esquece sua noivinha e vamos, ela nunca vai saber.

—Luke... - começou entediado.

—Qual é cara! O Will furou comigo, vamos...

Percy já sentia a cabeça doer, pressentiu que ele nunca pararia de falar, o que ele em nenhum momento duvidou, mesmo que com pouco tempo de convivência ele já havia traçado um perfil para seu irritante colega de quarto.

—Tudo bem. - se rendeu. - Eu vou com você.

***

O ambiente era abafado, era difícil achar lugares assim em Londres, as mulheres tão esnobes e refinadas mal imaginavam o quanto de dinheiro seus ilustres maridos gastavam naquele recinto. O lugar não era um prostíbulo, mas mesmo assim era um local promíscuo.

—Esse lugar é incrível, não é?- perguntou Luke a Percy.

Porém o mesmo não o respondeu, aquele lugar não parecia nada incrível na opinião de Percy.

—Eu vou pegar uma bebida. -informou vendo a oportunidade de fugir.

—Tudo bem, vou falar com uns conhecidos por aí. - concordou.

***

—Já vai embora?-perguntou a mulher ruiva.

Percy a olhou constrangido, aquela mulher era muito bonita, tinha um tipo de beleza de um felino prestes a pegar sua presa. E Percy sentiu que ele era o pedaço de carne ambulante.

—É já vou indo, tenho faculdade pela manhã e...

—Vamos é só uma dança, depois você vai embora para sua faculdade. - ofereceu.

Ela tinha olhos verdes que exibiam um brilho de malicia, ela parecia ser alguns poucos anos mais velha do que o próprio Percy, a mulher trajava um vestido vermelho decotado que contrastava com a pele pálida e cheia de sardas.

—Acho que isso pode dar certo. - concordou.

Os lábios vermelhos se abriram em um sorriso felino.

—Você não vai se arrepender. -comentou animada. - Rachel E. Dare,

—Percy Jackson.

***

 —Eu era só um moleque quando cheguei a Londres. - explicou Percy na poltrona oposta a de Annabeth. - Rachel é uma dançarina, conheci quando a minha turma da faculdade comemorou o inicio das aulas em um bar, ela era mais velha e eu, bem, eu me deixei seduzir por sua beleza.

Notou que Annabeth nem mesmo o olhava, permanecia calada e com o olhar concentrado nas mãos que apertavam os joelhos firmemente sob o tecido azulado. Ela estava em uma luta pessoal nesse momento, à raiva ameaçou explodir em seu peito por isso afundou as unhas nas pernas numa tentativa de se controlar.

—Eu nem sei por que comecei a sair com ela. - continuou explicando. - Quando eu vi já estava envolvido demais para dar um fim a história.

—A garotinha fresca e mimada que aguentasse não é?- fungou irritada.- Você alguma vez já pensou em mim? Você poderia ter evitado tudo isso, mas arrumava desculpas para não poder me ver. Esse casamento poderia ter sido evitado, você poderia estar com ela agora, não precisava me aguentar, poderia estar com ela na sua preciosa Londres.

—Você já esta exagerando!- disse Percy contrariado. - Nos dois não queríamos esse casamento, não se lembra?

—Lembro perfeitamente bem, se quer saber! -falou revotada. - Se fosse eu Percy? Se fosse eu que me deitasse com outro homem, que passasse dias da minha vida com ele, se fosse eu a o beijar...

—Chega!- ordenou Percy, só por pensar na cena já sentia o sangue ferver. - Isso é uma grande idiotice.

—Você me perdoaria? Mesmo que isso acontecesse antes de me casar com você? Você me olharia de outra forma se soubesse que já compartilhei minha cama com outro alguém? Perdoaria Percy?

—Não! Eu não perdoaria. -confessou irritado, passou as mãos nos seus fios negros de cabelo.

—Então por que eu deveria te escutar, por que deveria te perdoar?-riu seca, era uma situação constrangedora demais.

—É bem diferente.

—Por que, por que você é um homem e eu sou uma mulher?-perguntou ácida.

—Não é isso.

—Então não exagere Percyto. - encerrou a discussão irritada, ia se retirar, mas sentiu ele agarra o seu braço, impedindo sua saída. - Me larga.

—Não posso Annabeth... Eu sinto muito. - falou.

—Me solte. Você já se explicou e eu entendi perfeitamente bem. Céus como pude ser tão idiota?

— O que eu posso fazer para que me perdoe?- perguntou, sentia as entranhas se contorcerem, sentiu como se ela escapasse por suas mãos.

—Nada. Olha você realmente não entende não é? Não consegue sentir a humilhação que eu estou sentido. Aquela mulher veio a minha casa e jogou na cara o que fazia com meu marido. - confessou arrancando o braço das mãos do homem. - Minha avó tinha razão. Você só me apoiou em todos os meus sonhos para que eu o perdoasse quando descobrisse isso.

—Isso não é verdade. Eu fiz por que queria fazer. Isso aconteceu bem antes que começássemos a nos gostar, isso já faz algum tempo.

—Percy essa traição pode ter acontecido há cinco anos ou há cinco dias, ainda sim é uma traição. Não muda o fato de que eu era sua noiva, não muda o fato de que agora eu não aguento olhar para você. -afirmou irritada.

—Annie...

—Eu não sou esse tipo de mulher. -disse Annabeth.

Percy balançou a cabeça confuso, realmente não entendeu o que ela quis dizer com aquilo, ela costumava falar em códigos, Percy não conseguiria entender aquela mulher nem se passasse uma vida a estudando, ela era simplesmente confusa demais, complexa demais, uma mulher avançada demais.

—Percy eu não sou o tipo de mulher que me escondo atrás de um casamento apenas por vergonha do que a sociedade vai dizer, ao contrario das outras eu não tenho nenhum medo da solidão e consequentemente não tenho temor de pedir um divorcio se for necessário. - informou sombria se retirando do recinto logo em seguida.

Percy engoliu em seco, ficou calado remoendo aquelas palavras, o pior de tudo e o mais doloroso era que ele tinha total consciência da veracidade por trás daquela frase. Annabeth falou a verdade e foi por isso que ele sentiu o coração falhar algumas batidas

Ela não mentia.