I'm Yours escrita por Cherry Pitch


Capítulo 1
Capítulo Único


Notas iniciais do capítulo

Espero que gostem! :)



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Lily estava deitada no chão da sala em que estava, observando James. Era mais um escritório-estúdio do que uma sala, mas se referir ao lugar desse modo era bem mais simples. O moreno dedilhava as cordas do violão, seu olhar atento indo delas para a folha do caderno que estava no chão à sua frente. Era incrivelmente fascinante observar James enquanto este compunha. Ele ficava tão concentrado, seus olhos brilhavam, seus movimentos eram lentos e sutis, suas sobrancelhas ficavam mais juntas que o normal... Ele parecia um daqueles gênios da música retratados nos filmes. 

Lily suspira, e logo depois James se vira para ela. Ele ajeita a postura, o violão no colo, e a ruiva percebe o que aquilo significa: James terminou sua produção. 

— Hum... É pra você. - James diz, colocando uma de suas mãos na nuca e usando a outra para ajeitar os óculos. As sobrancelhas de Lily se erguem demonstrando surpresa sem que ela ao menos conseguisse impedir; era meio que impossível evitar aquilo, pelo menos, não naquela situação, e não com o jeito de Lily, totalmente impulsivo. 

— Para mim?! James, você sabe que-

— Eu sei, Lily — ele diz, interrompendo a fala da ruiva. — Eu sei tão bem quanto você e me lembro disso tantas vezes quanto você. — James respira fundo. —  Mas compor uma música não significa que alguém tenha que gravá-la, certo?

Um pequeno sorriso se forma nos lábios de James. Mesmo que seja um sorriso triste, este é sempre tão lindo e contagiante que Lily tem que sorrir junto com ele. 

— Tudo bem. — Lily finalmente diz, se ajeitando na poltrona que havia na sala. — Quando você estiver pronto... 

James assente. Ele morde os lábios e começa a dedilhar no violão as primeiras notas da música que acabara de produzir.

 

Olhe nos meus olhos

E diga o que você

Vê quando eles vêem 

Que você me vê

 

James ainda não tinha decorado todas as notas da música, e apenas isso fazia com que ele desviasse o olhar dos olhos verdes de Lily.  E esta estava simplesmente...

Boquiaberta. 

James dizia várias vezes por dia que ela era sua musa inspiradora, que os seus olhos eram a coisa mais linda, profunda e mais próxima da perfeição que existia, e que ele vivia para venerar aquele exato tom, aquele exato sentimento que eles transmitiam, mas... Lily nunca pensou que ele faria algo como... Como aquela música. Não. Era mais que uma música, aquilo era uma obra de arte, simples e pura, mas ao mesmo tempo complexa e profunda... de um jeito que Lily nem sabia descrever com palavras. 

James toca a última nota da música, e a melodia vai morrendo, as poucos, enquanto uma pequena e singela lágrima escorria dos olhos de Lily. 

Será que "lindo" era o suficiente para descrever o momento que tinha acabado de ter, o homem a sua frente, a obra de arte que este produzira há pouco? A resposta era óbvia para Lily. Claro que não. "Lindo" era um modo preguiçoso e desleixado de descrever aquilo. 

— James, eu... — Lily enxuga uma lágrima da sua bochecha.

— O quê? — James diz, abrindo um pequeno sorriso no rosto. — Está chorando porque esse foi o pior som que você já ouviu na vida?

Lily ergue uma sobrancelha.

— Na verdade... — os olhos verdes da ruiva estão fixos nos castanho-esverdeados de James. — Estou chorando porque essa música foi... Foi a coisa mais próxima da perfeição que eu já ouvi, e tenho certeza que não pode ser substituída. Por nada.

Isso faz com que James sorria ainda mais, e também faz com que Lily, logo depois disso, engatinhe pelo chão e se aconchegue nos braços do moreno, que já tinha deixado o violão dentro de sua caixa.

[...]

Lily está segurando uma de várias bolsas, malas e sacolas em suas mãos quando o táxi pára em frente a portaria do seu prédio. O dia estava nublado, como sempre. As mãos da ruiva já estão vermelhas por causa do peso que carregava, e agradeceu mentalmente quando o taxista a ajuda a colocar as coisas na mala. 

Quando entra no táxi e este começa a andar, o olhar de Lily se perde pela cidade. Ela conseguia ver as nuvens pesadas, tal como o seu próprio humor, os prédios altos, as pessoas andando apressadas, conferindo seus respectivos relógios ou aparelhos celulares. O café que costumava frequentar estava aberto. As paredes deste eram de vidro, de modo que era possível para Lily ver homens e mulheres idosos tomando suas xícaras de chá calmamente, aproveitando sua aposentadoria, jovens passando por ali apressados, com um daqueles cafés extravagantes em uma embalagem para viagem, e alguns que não eram nem idosos nem jovens demais, que apenas tomavam um café da manhã completo, com pães e bolos, enquanto conferiam as notícias do jornal. 

Quando frequentava o café, Lily normalmente se encaixava na última opção. Antigamente, ela ficava sentada, observando as pessoas presentes ali, criando uma história para cada uma delas: a idosa sentada na última mesa tinha perdido o marido na guerra, e por isso o olhar triste e as olheiras. O jovem que saía apressado com um cappuccino na mão era estagiário do departamento tecnológico de alguma empresa, que ganhava apenas o dinheiro suficiente para comida, roupas básicas e o aluguel de um pequeno apartamento na parte mais pobre da cidade. Porém, havia alguns meses que o olhar de Lily estava perdido. Não tinha mais aquele brilho cativante cheio de curiosidade, ela estava distraída, e ao menos reparava no jovem que saía da loja, ou que a idosa que sentava na última mesa não aparecia mais com tanta frequência. 

Lily suspira. A página no jornal na qual seus olhos estavam presos eram sempre sobre o mesmo assunto. 

James Potter. 

O antigo compositor de Lily Evans, a cantora que praticamente desapareceu da mídia, tinha começado sua carreira solo. Centenas de fãs comparecem ao show da nova estrela em ascensão, James Potter. As garotas começaram a escrever histórias inspiradas no romance do cantor e compositor James Potter e da empresária Emmeline Vance.

Lily revira os olhos. As pessoas realmente acreditavam naquela mentira, não é? As pessoas realmente acreditavam que o olhar tão sem brilho quanto céu cinzento de Londres que ambos trocavam era amor, as pessoas realmente acreditavam que a mulher com brilho nos olhos e que era pura magia... As pessoas realmente acreditavam que essa mulher era Emmeline Vance, não é?

Lily fecha os olhos por um tempo, sem conseguir mais observar os prédios, as paisagens, sem ao menos tentar analisar as pessoas que caminhavam pela calçada, ou atravessavam a rua. 

Imagens dela com James passavam pela sua mente enquanto seus olhos estavam fechados: os flertes no estúdio, as notas tocadas no violão de James, os beijos e abraços, a porta do estúdio sendo aberta rapidamente, enquanto eles trocavam carícias que ninguém podia ver...

Lily ainda está com os olhos fechados quando escuta uma melodia familiar, versos familiares... Uma voz familiar.

 

Sou sua, mas não posso ser

 

Lily estava de volta ao estúdio, estava de volta àquela tarde. Estava de volta àquela posição, sentada no pufe, lágrimas nos olhos, os cabelos ruivos despenteados devido à sessão de beijos que tinha acontecido antes de James começar sua composição. Lily estava de volta. Lily estava de volta ao tempo que aquela frase martelava em sua cabeça, de volta ao tempo que, a cada beijo, a cada olhar, a cada abraço, a cada dia, a cada movimento que fazia, aquela frase estava lá. Por alguns segundos, ela não dava atenção a isso, mas aquela frase sempre voltava à tona, para atormentá-la. 

 

Sou seu, mas ninguém pode saber

 

Será que James Potter ainda era de Lily, tal como ela ainda era dele?

Isso Lily não podia saber, e nem ele sabia sobre ela. 

Porque ninguém podia saber sobre eles, nem antes, nem agora.

 

Amor, eu te proíbo

De não me querer


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Notas finais do capítulo

Mereço reviews? ♥