Boku no Hero Academia Oneshots escrita por Nanahoshi


Capítulo 7
A ideia da vovó [Mirio Togata x Reader]




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Mirio se lembrava bem...

Primavera. O vasinho de hortênsias na mão de sua vó e o lançamento do videogame. A loja apinhada de gente e um bando de crianças sorridentes. Um vilão e todos reféns. Um choro alto demais. Um tiro e uma queda. O corpo de uma menina no chão.

Que ressuscitou para salvá-los.

Queria ter perguntado seu nome. Queria ter dito o quanto ela fora incrível.

Mas a garota desapareceu.

Mirio nunca mais a viu.

***

Quando Mirio chegou ao quarto 304 do hospital, não ficou de todo surpreso ao ver a cama vazia. A janela aberta com as cortinas róseas esvoaçando ao redor pareciam dedurar [Nome] com delicadeza e elegância. Um pequeno sorriso curvou seus lábios enquanto ele baixava os olhos para o vasinho de barro que trazia nas mãos.

— É claro que ela não ia ficar dentro do quarto. – Ele passou um dedo delicadamente sobre as flores rosinhas que formavam um pompom bonito no vaso – Ela nunca fica dentro de lugar nenhum na primavera.

Mirio seguiu direto para o jardim. Sua vó com certeza teria solicitado falar pessoalmente com o responsável para fazer um elogio. Principalmente agora, com aquela profusão de pétalas coloridas muito bem cuidadas que mal deixavam espaço para o verde das folhas. As enfermeiras estavam loucas em pensar que [Nome] ficaria dentro daquele cubículo bege cheio de aparelhos e bipes com um jardim daqueles bem em frente à sua janela.

Como esperado, encontrou-a quase mergulhada num amontoado de viburnos floridos. Estava de pernas cruzadas, a cabeça muito abaixada. Mirio logo viu o porquê. Um livro estava apoiado no ponto de cruzamento entre suas canelas. Este, em especial, não trazia a capa encoberta por um plástico colorido como de praxe. Uma interrogação franziu as sobrancelhas de Mirio.

— Por que esse livro não está encapado?

[Nome] demorou alguns segundos para erguer os olhos; estava terminando um parágrafo. Ela nunca interrompia a leitura de um parágrafo no meio, mesmo sob ameaça de morte. [Nome] piscou, parecendo levemente surpresa de ver o colega de residência ali.

— Porque não é meu. Peguei emprestado.

Mirio gostou da naturalidade da resposta. Ela parecia bem melhor que no dia anterior. Sem cerimônia ou qualquer comentário, sentou-se ao lado dela entre os arbustos perto o suficiente para que seus joelhos roçassem um no outro. Quando o colega se sentou, [Nome] fechou o livro com cuidado, o que permitiu a ele ver a capa. “Cartas na mesa”*. Era esse o título. Mirio sorriu com os olhos, mas não permitiu que seus lábios rissem de sua piada particular.

— Então, voltou para o romance policial? – perguntou o terceiranista, animado. 

— Estava precisando de um pouco de lógica – comentou [Nome] com um vinco começando a aparecer entre as sobrancelhas – Por que parece tão animado com isso?

— Porque agora vai voltar a comentar as histórias comigo. Você nunca comenta quando está lendo um...

— Ah, meu Deus. Não começa, Mirio.

— Poxa, mas eu queria que você comentasse.

[Nome] olhou chocada para o colega.

— Você tem zero de noção do que você tá pedindo, né?

— Eu estou sendo sincero. – Já sentindo que o assunto talvez enveredasse para o caminho que não queria, Mirio ofereceu o vaso que trazia para [Nome] – Toma. Pra você.

Pela segunda vez, a garota piscou, surpresa. Devagar, ergueu as mãos e segurou-o. Mirio percebeu que seus braços ainda estavam enfaixados até os pulsos. Não dava para ver até onde as bandagens iam, pois elas sumiam sob as mangas do traje hospitalar.

— São hortênsias – disse [Nome] ainda parecendo surpresa. – Que gentil, Mirio. Obrigada.

— Minha vó preparou o vasinho. Disse a ela que você gosta da primavera. E que provavelmente te acharia fora do quarto do hospital, enfiada no jardim. Daí ela sugeriu as hortênsias. Pode plantar no seu quintal se quiser fazer virar um arbusto. Palavras de vovó.

[Nome] sentiu o rosto esquentando. Tão atencioso. Tão sincero. Uma proatividade espontânea que nunca falhava em arrancar um sorriso de alguém. Aquilo era...

Um silêncio confortável pairou entre os dois. Os olhos de Mirio vagaram pelo jardim, mas não deixaram de captar imagens periféricas de [Nome] admirando seu presente. Havia três pompons de hortênsias: um azul e dois róseos. Um tendia um pouquinho para o roxo. Os dedos da segundanista tocavam as pequeninas pétalas com delicadeza, traçando seus contornos.

— Como está se sentindo? – perguntou Mirio de repente, quebrando o silêncio primaveril.

Os dedos de [Nome] interromperam o movimento de forma quase brusca. Uma tristeza resignada vincou seu rosto ainda adornado com esparadrapos e arrancou-lhe um suspiro pesado.

— Estou... melhor. – Ela não soava convincente.

— A Alquimia* já se desfez?

— Ainda está ativa em alguns órgãos internos. Mas logo some.

Mirio fitou-a, preocupado.

— Então ainda está tendo os quadros de intoxicação. – Não era uma pergunta.

[Nome] hesitou por alguns segundos antes de responder.

— Estou.

A preocupação de Mirio se transformou em tristeza. Odiava vê-la passar por aquilo. Odiava os sintomas. Odiava o sofrimento. Mas acima de tudo...

Odiava como [Nome] se odiava naqueles momentos.

— Um completo fracasso – soprou ela num sussurro quase inaudível. Mas Mirio escutou. E muito bem.

— [Nome], por favor, não diga...

— Mirio.

O tom rascante e gelado com o qual pronunciara seu nome fez o herói emudecer. Um nó dolorido pareceu se formar na região do seu peito enquanto via a frustração e a tristeza turvando os olhos de [Nome].

— Por favor... Não tente amenizar o que aconteceu. Eu falhei. Falhei miseravelmente como uma heroína. Se não tivéssemos recebido socorro, eu estaria... Você estaria...

—  [Nome].

Usando a mesma estratégia, Mirio conseguiu lhe roubar as palavras. Mas não com frieza. Ao invés de uma voz rascante, o herói injetara todo o calor e carinho que tinha dentro de si nas sílabas do nome da amiga. Ela o fitou, perdida, lágrimas já escorrendo pelo rosto. Com muita delicadeza, Mirio pousou sua mão enorme sobre a de [Nome] e apertou-a com afeto.

— Está tudo bem agora – continuou ele no mesmo tom de voz.  – Vamos nos concentrar aqui. Olha só. Você está se sentindo melhor, está num jardim maravilhoso e acabou de ganhar um vaso de hortênsias da minha vó.

Um sorriso fraco, mas verdadeiro, curvou os lábios de [Nome]. Por algum motivo, o coração de Mirio deu um salto dentro do peito.

— E comigo aqui, nenhuma enfermeira vai ter desculpa para te mandar de volta pro quarto. Estou te acompanhando. Podemos ficar aqui até a hora do jantar.

O sorriso de [Nome] cresceu. A mão livre subiu para enxugar as lágrimas que haviam escorrido, enquanto ela parecia impedir as outras de fazerem o mesmo, com fungadinhas.

— Eu não volto praquele quarto a não ser pra dormir. Elas acham mesmo que vou melhorar mais rápido dentro daquele retângulo de concreto sem graça? Com um jardim desses aqui fora? Durante a primavera!? Nem pensar!

Mirio amou como ela parecia muito mais confiante agora. Alguma parte de si mesmo ficou muito orgulhoso por ter aplicado um dos conhecimentos mais úteis que tinha acerca de [Nome]: ela sempre se acalmava quando limitada a pensar apenas no momento presente.

— Por falar nisso, quer dar uma volta pelo jardim? – convidou Mirio.

[Nome] assentiu sorrindo mais ainda, gesto espelhado pelo herói. Ele se colocou de pé primeiro, ajudando-a a ficar de pé talvez com mais cuidado do que o necessário. Num gesto pomposo e galante, que arrancou uma gargalhada de [Nome], Mirio ofereceu o braço para que ela o segurasse. Como um casal saído de um romance de época batido do século XIX, os dois passearam entre as árvores e arbustos customizados. No braço livre, [Nome] carregava a hortênsia, enquanto Mirio, o livro que ela estivera lendo.

Enquanto ouvia-a comentar algo sobre tirar fotos com as cerejeiras na frente da UA assim que saísse do hospital, Mirio lembrou-se do motivo de ter trazido as hortênsias. Na verdade, sentiu como se, subitamente, tivesse sido lançado num túnel de recordações. Lembrou-se de quando vira [Nome] pela primeira vez na agência de Sir Nighteye. De como o motivo de ela ter entrado subitamente para aquela agência parecia tão estranho. E como a estranheza sumira tão rápido quando ela se mostrara ser uma garota tão peculiar. Tinha se divertido horrores incentivando-a a fazer coisas engraçadas, mas o único resultado que conseguira fora sua reação de vergonha ao seu flagrada lendo um romance erótico. Aquilo fora de fato muito engraçado. Sir Nighteye aprovara tanto que estimulara Mirio a repetir a receita. Claro que nunca mais tinha dado certo. Pelo menos não na agência. Lembrou-se de como os treinos subiram a um nível completamente diferente graças à Peculiaridade de [Nome], e de como fora descobrindo a inteligência absurda que ela construíra para poder desenvolvê-la ao máximo. Mirio jamais encontrara alguém capaz de memorizar números e fórmulas tão perfeitamente quanto [Nome]. Lembrou-se da vez que a vira numa floricultura babando em umas flores muito exóticas, mas que não tinha dinheiro para comprar nem condições de cuidar. De como descobrira sua paixão por flores, primavera e tudo relacionado à estação. Ah, menos o dia dos namorados. Ela achava aquilo absurdamente fútil. Por que dar chocolates para os meninos? “Muito melhor comer eu mesma”, fora isso que ela dissera. Bom, mal sabia ela que já era o segundo dia dos namorados que Mirio passava ansiando por uma caixa de chocolates dela até às 23:59. Só para poder empanturrá-la de marshmallows depois. E ursinhos de pelúcia. E buquês com todas as flores que ela mais gostava.

Fora por isso que trouxera as hortênsias, não era? Não podia se esquecer. Não podia passar daquele dia. Não depois da última missão. Precisava contar a ela. Precisava que ela soubesse de tudo o que ele guardara na memória esse tempo todo... e de tudo o que sentia.

Os dois se sentaram em um banquinho ao lado de uma linda magnólia. [Nome] pousou o vaso de hortênsias no colo e voltou a passar os dedos em suas pétalas. Mirio olhou em volta. Por onde começaria?

— Hm... [Nome].

— Sim?

— O que a primavera significa pra você?

Pega de surpresa pela pergunta, [Nome] encarou-o. Depois, assumiu uma expressão reflexiva, cedendo ao tique de pinçar a pele do queixo.

— Que pergunta difícil... Tem tantas coisas... Acho que eu poderia colocar a associação mais direta com “vida”. É o período do ano em que me sinto mais viva. – Ela lançou um olhar curioso para Mirio e devolveu: – E pra você?

O terceiranista fingiu refletir por alguns instantes, pois, na verdade, sempre tivera a resposta na ponta da língua.

— Significa começo.

— Começo?

— É. Sabe, as aulas sempre começam na primavera.

— Que simplório. Por que será que não estou surpresa?

Mirio riu, mas ao mesmo tempo sentiu o coração acelerando. Era agora ou nunca.

— Na verdade... Não é por causa disso.

[Nome] piscou, retomando o ar curioso.

— É por causa de uma história que aconteceu quando eu era criança. Me lembro que era primavera por causa das cerejeiras floridas por toda a cidade. Estava indo com vovó e papai para uma loja onde seria lançado um videogame que eu queria muito. Lembro que vovó carregava um vaso de hortênsias. Acho que passamos na floricultura antes. Entramos e tinha um monte de crianças e adolescentes lá. Todos loucos para o lançamento do console; ia ter um evento e tudo. Só que aí um vilão entrou na loja. Fez todo mundo de refém. Exigia resgate e ameaçava atirar nos reféns caso algum herói tentasse se aproximar. Ele tinha Peculiaridade de longo alcance, creio eu, pois realmente manteve os heróis afastados. Um menininho começou a chorar. Eu estava bem atrás dele. O vilão ameaçou atirar se a mãe não o fizesse calar. Pensei que ele não seria capaz de fazer aquilo, mas... Ele fez. Só que, no último segundo, alguém pulou na frente. Uma menina. Não era muito mais nova que eu. Ela se colocou entre o vilão e o menino sem pensar. Num ato puro de heroísmo. Eu a vi cair no chão, praticamente na minha frente. O vilão gritou uns palavrões, dizendo que era aquilo que ia acontecer com o resto de nós se o berreiro continuasse. Ele só não contava que a menina ressuscitaria e... o transformaria numa estátua prateada bastante detalhada, salvando todos os reféns de uma vez.

Não havia palavras para descrever o choque que vincava cada músculo do rosto de [Nome]. Com a boca levemente entreaberta, a heroína fitava Mirio com os olhos vidrados.

— Quando a vi fazer o que fez, senti que algo inchava dentro de mim. Uma criança que viu uma outra criança realizar um ato de heroísmo desse... Viu tudo numa perspectiva muito mais real. Naquele dia, tive certeza de duas coisas: que aquela garota tinha sido o grande início da minha jornada como herói; e que ela com certeza se tornaria uma das heroínas mais incríveis do mundo – Mirio fez uma pausa, na qual olhou para baixo com um sorriso tenro. – Queria ter perguntado o nome dela. Pra, pelo menos, caso o ouvisse algum dia, saberia onde ela estava. Para poder ir agradecer. E dizer o quanto eu a admiro.

O rosto de [Nome] estava encharcado de lágrimas silenciosas. Haviam escorrido sem sequer pedir licença, mas com uma educação até admirável. Mirio fitou-a com doçura, colocando sua mão sobre a dela novamente, que agora repousava sobre seu colo. Completamente incapaz de encontrar sua voz, [Nome] lutou contra o nó de sua garganta e o choro. Depois de quase um minuto tentando, encontrou-a ainda como um fio:

— A-As... Hort-tênsias...

Mirio sorriu daquele jeito que fazia cada célula do corpo de [Nome] derreter.

— Brilhante, não? Ideia da vovó! Não tinha a menor ideia como te dizer tudo isso, então ela sugeriu as hortênsias. Acho que aí, do vaso, elas me sopraram tudo o que eu precisava. Gratidão, respeito e admiração. É isso não é?

O rosto de [Nome] ferveu e seu coração disparou. Porém, não por causa da recém-descoberta ligação com o passado de Mirio. Acabara de se lembrar que havia um quarto significado para as hortênsias. Um quinto se considerasse que havia um pompom no vaso que era azul. Assumindo o silêncio de [Nome] como o tempo que ela precisava para absorver tudo, Mirio começou a tagarelar sobre como ficara chocado ao descobrir como ela sobrevivera ao tiro.

— Uah! Quem iria imaginar que você estaria quietinha, convertendo o próprio tronco em algum metal a prova de balas? Deve ter doído, né? Foi a queima-roupa praticamente! Isso só prova o quanto você é incrível, [Nome]!

— Mirio.

Daquela vez, a voz não era gelada e rascante. Estava trêmula de expectativa. Mirio virou-se para ela, atento.

— Essas hortênsias... Estamos falando só desses...três significados? É?

O brilho que havia nos olhos do terceiranista mudou. Seu sorriso minguou para uma expressão determinada. Então ela tinha entendido.

[Nome] entendera que o quarto e o quinto significado, que valia para as hortênsias azuis, haviam sido considerados ao montar o vasinho.

— Você sempre foi, aos meus olhos, o ideal de uma verdadeira heroína. Nunca me senti à sua altura, mas corria todos os dias pra tentar alcançar você.

— Pelo amor de Deus, Lemilllion! É claro que sou eu é quem está atrás!

Foi Mirio quem entendeu dessa vez. Sem uma única palavra a mais, o herói inclinou-se na direção de [Nome] depositando um beijo doce em seus lábios. A heroína os recebeu com um leve sobressalto, mas logo fechou os olhos e se perdeu no toque e no cheiro de Mirio. Com a progressão dos movimentos, [Nome] sentiu que o jardim, não, a primavera se misturava com o beijo. A brisa primaveril contrabalanceava com o calor de seus rostos muito próximos, as pétalas carregadas por elas roçavam suas pernas no que parecia uma complementação dos carinhos de Mirio. Os galhos de uma cerejeira próxima se curvaram, como se aprovando o beijo. As hortênsias se agitavam no vaso, satisfeitíssimas por terem transmitido a mensagem. Tudo a fez se sentir absurdamente viva.

Quando a mão de Mirio subiu para segurar o rosto de [Nome], deixando cair o livro “Cartas na mesa”, a heroína deixou-se envolver por completo, passando os braços por seu pescoço e suspirando.

Como ela amava hortênsias.

Como ela amava Mirio.

Como ela amava a primavera. 


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