A Lenda dos Dragões escrita por Hakiny


Capítulo 7
A Taverna


Notas iniciais do capítulo

Os dragões sagrados pedem em coro pelo seu comentário amiguinho :)



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Algumas horas haviam passado e Karin havia conseguido ajuda de alguns pescadores para carregar Chow até um local seguro.

— Onde estamos?

Chow acordava, confuso.

— Estamos em uma hospedaria.

Karin estava em pé, próxima a única janela do quarto.

— Estamos no ocidente?

Chow se levantou com dificuldades e se sentou na cama.

— Sim.

— Está tudo bem?

Chow estranhava as respostas curtas dadas por Karin, afinal, estava acostumado com o quanto a garota falava em excesso.

— Aquele pirata… o capitão!

Karin tocava o queixo com a ponta dos dedos, pensativa.

— Aquele desgraçado fez alguma coisa comigo!

Chow cerrou os dentes.

— Sim… ele fez!

Karin se mostrava animada, o que irritou um pouco ao seu companheiro.

— Não percebe, Chow? A forma como ele conseguiu te enfraquecer com um toque? Que tipo de humano conseguiria fazer isso?

— Um bem treinado.

Chow dizia com desdém.

— Não!

Karin protestava.

— Você se surpreenderia com as coisas que o mestre Zeng consegue fazer, e isso não faz dele mais que um humano.

— Não!

Karin insistiu — Não viu a forma como ele te olhou? Era como se estivesse surpreso de você não ter caído… Ele não sabia que você era um dragão também Chow, até você permanecer de pé!

— Ou ele só se assustou com uma adaga cortando-lhe o ombro!

— Qual seu problema? Viemos ao ocidente para procurar dragões, e você está ignorando o mais próximo que temos de uma pista!

A princesa demonstrava irritação.

O garoto desviou o olhar.

— Só não acho que devemos nos agarrar a qualquer coisa…

— Parece muito que você só não quer dar o braço a torcer para o cara que praticamente te nocauteou.

— E você parece muito interessada nesse criminoso!

Chow elevava o tom de voz.

— O que?

Karin estava espantada, ela se sentiu profundamente ofendida e foi incapaz de perceber o nítido ciúmes de Chow.

— Onde vai?

Chow observava a garota se dirigir até a porta.

— Comprar comida.

Karin seguia destrancando a fechadura sem se importar muito com garoto.

— Espera, não pode sair sozinha por aí…

Chow tentou se levantar mas logo caiu sentado na cama, suas pernas estavam trêmulas e fracas.

— Você mal consegue ficar de pé Chow e eu estou com fome. Volto quando der, fique ai com seu orgulho ferido.

— Volta aqui Karin!

O som da porta batendo foi a última coisa que ele ouviu da garota.

Karin não estava com tanta fome assim, mas estava brava com Chow e queria distância dele por enquanto. Ela não fazia ideia de onde estava, por isso observava seu caminho cuidadosamente para não perder a localização da hospedaria.

O continente era um tanto diferente do que Karin imaginava, talvez fosse uma versão um pouco pior. O tempo que passou com os lobos a fez perceber que aqueles povos eram um pouco mais duros do que os orientais, além da preocupação com a aparência ser quase nula, mas ali, onde ela estava, as coisas eram bem mais intensas.

A cidade tinha uma cor cinza, as pessoas pareciam sempre irritadas ou tristes, as crianças usavam roupas sujas e rasgadas, e no ar estava impregnado um cheiro que fundia suor com podridão.

A princesa sentia todos olhares voltados para ela e se perguntava se estava escrito em sua cara que era uma forasteira, mas era mais que claro que estava. O formato dos olhos, a cor da pele, as vestimentas e até a forma como ela andava, difícil seria não saber que ela era de fora.

Depois de alguns minutos de caminhada, Karin parou em frente a um estabelecimento. Ao julgar pelo estado em que o local se encontrava, ela se perguntava se aquilo não estava abandonado, mas a movimentação de dentro logo tirou essa possibilidade de sua mente. Várias pessoas sentadas em mesas com copos nas mãos, Karin concluiu que ali encontraria comida.

Apesar de estar claramente assustada, Karin respirou fundo e tentou parecer o mais calma possível, mas no momento em que ela passou pela porta de entrada e todos os olhares a fitaram, toda a sua pose caiu por terra, e ela caminhou até o balcão como um animalzinho assustado.

— Boa tarde, senhor…

Karin dizia, quase como um cochicho.

Imediatamente, um homem que tinha o dobro da sua altura e talvez o triplo da sua largura se virou e bateu um copo com força no balcão.

— O que vai querer?

A voz do estranho homem, era tão grotesca quanto a sua aparência. Karin estava apavorada, seu coração parecia que iria parar a qualquer segundo, ela definitivamente nunca havia visto tantas cicatrizes em uma pessoa só, talvez nem a junção de todas as cicatrizes que ela já viu em sua vida, se comparava ao corpo daquele homem.

— P-pão?

Karin gaguejou alguma coisa.

— Pão?

O homem a encarou com estranheza — Está achando que isso aqui é o que, mulher?

O homem esmurrava o balcão.

Antes que a menina tivesse chance de dizer alguma coisa, sentiu uma mão envolver-lhe a cintura.

— Vejo que a qualidade da clientela tem melhorado, Billy.

Uma voz masculina falava em voz alta, enquanto encostava o queixo no ombro de Karin.

A princesa tinha uma mistura de medo e nojo do estranho, e do hálito de álcool forte que ele soprava em seu rosto. Karin se sentiu completamente paralisada diante daquela situação, muitas coisas passavam pela sua cabeça, dentre elas o arrependimento de ter vindo sozinha. O ocidente era um lugar horrível e se ela sobrevivesse hoje voltaria para casa imediatamente.

— Ei você!

Uma estranha chamava o homem que assediava a garota.

— O que foi?

O homem se irritava diante do incômodo.

Um som de lâmina seguido de um berro de desespero, chamou a atenção de todos no estabelecimento.

— MINHA MÃO! VOCÊ ARRANCOU MINHA MÃO!

Karin estava completamente perdida, e ao se virar para trás, pôde ver o homem que a incomodava caído no chão. Ele se vestia como um soldado, a princesa logo notou que não se tratava de um vagabundo qualquer. Do seu lado uma bela mulher de cabelos vermelhos, segurava uma cimitarra ensanguentada.

— Se a sua mão lhe fizer pecar, corte-a fora e a lance para longe de ti.

A mulher recitava enquanto limpava a sua lâmina em um lenço.

Dois homens se aproximaram da suposta heroína.

— Você tomou uma péssima atitude, vagabunda.

Um dos comparsas do outro homem avançou para cima da mulher com um soco, habilmente ela desviou do punho inimigo e com um movimento rápido enfiou uma pequena adaga que carregava na cintura dentro da boca do homem, quebrando-lhe os dentes e rasgando sua língua.

— Vagabunda? Que palavreado chulo…

A mulher sussurrava bem próxima ao rosto do homem enquanto girava a adaga em sua boca de uma lado para o outro, silenciosamente ele agonizava de joelhos.

— Se a sua língua lhe fizer pecar, corte-a fora, e a lance para longe de ti!

A desconhecida encerrou sua frase puxando sua adaga com força, juntamente com a língua do homem.

O terceiro homem tentou se aproximar mas antes que pudesse tomar alguma atitude se viu rendido na parede com a adaga suja de sangue parada no meio de suas pernas.

— Você sabe como isso termina.

A mulher mostrava um sorriso diabólico para o homem.

Ela não precisou dizer mais nada, o último homem correu para fora do local com desespero de um rato.

— Não acredito nisso…

O dono do estabelecimento resmungou.

— O que foi, Billy? Estou apenas ajudando esses honrados homens de Deus, a seguirem seus princípios bíblicos.

A mulher sorriu de forma inocente para Billy.

— Dane-se todos vocês, Maia! Estou preocupado com o meu chão sujo de sangue!

O homem apontava para a poça vermelha no carpete velho.

A estranha deu uma gargalhada e em seguida retirou uma moeda de prata do bolso.

— Flink, dê um jeito nisso!

Um homem magro e sujo se levantou de alguma mesa da qual Karin não fez questão de prestar atenção, pegou a moeda e conferiu seu valor.

— Deveria desmembrar oficiais com mais frequência, além de livrar o mundo desses vermes, me ajuda nos negócios.

O homem sorriu para a estranha, mostrando alguns dentes podres, e ela retribuiu o gesto com orgulho estampado no rosto.

Karin estava realmente sem ação, ela não sabia se corria desesperadamente para fora, agradecia ou se começava a chorar e implorar pela sua vida. Agradecer parecia perigoso para Karin, ela tinha medo que a sua benfeitora dissesse alguma frase do tipo “Eu não te salvei, apenas queria matá-la pessoalmente”. Ela tinha lido algo assim em um livro, e o ocidente parecia mesmo uma narrativa de horror.

— O que uma garotinha veio fazer em um lugar como esse?

Os olhos de Karin se arregalaram, a mulher estava perguntando a ela.

— P-pão…

Foi a única coisa que saiu de sua boca seca.

— Em uma taverna?

A mulher demonstrava total incredulidade.

— Isso é uma caverna?

Pequenas rugas surgiram na testa de Maia, ela finalmente tinha se dado conta de que estava lidando com uma forasteira.

— Venha, vamos sair daqui!

Karin teve o braço agarrado e foi arrastada para fora do local.

— De onde você veio?

Maia perguntava enquanto andava em alta velocidade, levando Karin junto.

— Oriente!

Karin respondia em meio a tropeços.

— Está sozinha?

— Não, estou com um amigo.

— Um homem?

Maia parou.

— Sim…

Karin estava confusa.

— Olha…

A mulher olhou firme nos olhos de Karin enquanto segurava seus pequenos ombros — … isso não é algo que eu me orgulho em dizer, mas aqui no ocidente, uma garota frágil como você, não pode andar sozinha por aí. Antes que tenha tempo de contar até dez, terá um homem nojento em cima de você te forçando a fazer coisas que te marcaram pelo resto da vida! E você terá sorte se ele te deixar ir embora depois, porque você pode facilmente parar em um prostíbulo e ser explorada até morrer, o que não demora muito a acontecer.

Os batimentos de Karin estavam descontrolados, ela se perguntava se agora era a hora certa de chorar.

— Qual o seu nome?

— Karin…

A princesa sussurrava.

— Escute Karin, você precisa estar perto desse amigo. Por aqui eles só te respeitaram se estiver com um homem do seu lado, ou com uma faca na garganta deles.

A mulher explicava com seriedade.

— Obrigada… Maia.

Karin dizia bem baixinho, o nome que ouviu o dono da taverna dizer.

— Não há de quê, Karin.

A mulher sorriu para a garota.

— Agora me diga, Karin, onde está o seu amigo?

— Em uma hospedaria no fim da rua.

Karin apontava para a direção que ela torcia para ser a certa.

— Ok, você tem dinheiro?

Karin acenou positivamente com a cabeça.

— Então venha comigo.

Karin, não questionou e seguiu a estranha. Elas não andaram por muito tempo, logo pararam em frente a um estabelecimento. Karin seguia a Maia em silêncio, observava cautelosamente aquele local, diferente da taverna, esse lugar era muito mais limpo e agradável.

— Onde está o seu dinheiro?

Maia estendia a mão para Karin. A princesa não pensou muito, entregou tudo o que suas pequenas mãos conseguiam agarrar para Maia.

— O que é isso? Por acaso você é da nobreza?

A mulher encarava Karin. A garota se lembrou do que Chow havia dito sobre os barcos caros, ser uma princesa não parecia ser muito seguro no ocidente, então ela apenas acenou negativamente com a cabeça.

— Ei garota, não entregue todo o seu dinheiro assim! São apenas alguns pães, sabe Deus quanto tempo você demorou para juntar tudo isso. Precisa ser mais atenta, ou roubaram de você com facilidade!

Maia explicava.

Aquelas palavras não faziam o menor sentido para Karin, o dinheiro que havia dado a Maia, não era nem metade do quanto ela tinha em seus bolsos, fora o que estava na hospedaria. E todo esse dinheiro junto, não era significativo diante dos tesouros que sua família tinha no oriente. Mas ela não questionou, pegou de volta o que Maia lhe devolveu e guardou.

— Aqui está!

Maia lhe entregou uma sacola com alguns mantimentos.

As duas andaram por mais alguns minutos, durante o percurso, Maia falava sobre as perigos da cidade. Karin não conheceu a sua mãe, mas imaginava se Maia não seria a representação perfeita de uma, não fisicamente falando, Maia parecia ter menos de 25 anos e era extremamente bonita, tinha alguns centímetros a mais que Karin e olhos verdes vibrantes.

— Está entregue.

A mulher disse ao parar.

Karin não sabia se estava muito distraída ou se simplesmente não conhecia a cidade, mas ela nem sequer desconfiou a aproximação da hospedaria.

— Muito obrigada!

Karin sorriu para a sua benfeitora.

— Não há de que!

Maia se afastou da garota e seguiu seu caminho.

— Se cuide estrangeira!

A voz da mulher gritava ao longe.


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Notas finais do capítulo

O dragão negro atacará o seu reino e uma pantera das sombras arrancará a sua alma, caso você não comente esse capitulo!
Não quebre essa corrente, ele está na parte mais escura da sua casa, esperando a sua falha.
Boa noite gente ♥



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