Marlene se recostou na porta da sala de aula e aguardou pacientemente enquanto a amiga terminava de guardar o material. Sentiu uma satisfação travessa ao ver a garota se enrolar e amassar um pedaço de papel com raiva, antes de enfiá-lo no bolso do casaco.

— Será que você poderia parar de me mandar bilhetinhos durante a aula? — Lily grunhiu passando por ela apressada, sem se importar em lhe esperar.

— Eu posso tentar. — Tirou a pena de açúcar da boca, fazendo um alto “pop”. — Se e quando você me der uma resposta.

Lily revirou os olhos e se segurou no corrimão da escada, que havia começado a se mover.

— Você não tem nada melhor para fazer do que ficar insistindo nessas ideias equivocadas?

— Tenho. Mas é divertido ver você tentar fugir do assunto.

— Por Deus! — Lily se exasperou.

— Uau. — Riu. — Acho que eu subestimei as coisas... se está apelando para divindades trouxas a situação deve estar feia mesmo.

— Ele não... — A ruiva engasgou encurralada. — eu quero dizer que... argh! Você é o meu problema!

As escadas pararam de se mexer e a garota saiu praticamente correndo.

— Só porque eu jogo as coisas na sua cara. — Respondeu apressando o passo para alcançá-la. — Agora chega de enrolar. Vamos lá, Lily, admita. Você não tem nenhum motivo plausível.

— Mas é claro que eu tenho! — Bateu o pé. — Por favor, Marlene, os defeitos de Potter são gritantes.

Os quadros observavam a discussão com interesse, para poder repetir palavra por palavra mais tarde para o resto do castelo. Veja bem, quando se é um quadro não há muito o que fazer além de fofocar ou informar a direção errada para os alunos novos.

— Então nomeie um. Um defeito e eu acredito que os defeitos de Potter é que são gritantes, e não sua vontade de agarrá-lo.

Lily ficou quieta, encarando desconfiadamente a amiga.

— Vamos lá, só um. — Marlene insistiu.

A garota abriu a boca alguma vezes, como se quisesse dizer alguma coisa. Sentia o olhar intenso e determinando de Marlene queimando em sua pele. Esperando pela resposta que não vinha. Simplesmente não vinha. Por que não vinha? Isso tudo era extremamente perturbador e desconcertante.

— Eu, é,... quer saber? — Bufou. — Não tenho tempo para isso. Tenho que organizar a ronda dos monitores para a reunião mais tarde.

Marlene suspirou cansada enquanto via a amiga desaparecer de vista, andando o mais rápido que pôde sem querer dar na cara que estava fugindo. A Marlene ama a Lily. Ela realmente ama. Mas às vezes é cansativo tentar fazer a garota enxergar através de toda aquela teimosia massiva.

O que quer que ferva o caldeirão de James..., pensou fazendo uma careta.

Além de amar a amiga, Marlene McKinnon também era a pessoa que mais bem conhecia Lily Evans. E vice e versa. Isso pode ser uma coisa muito chata, principalmente quando se vê em uma daquelas situação em que acha que tem um segredo.

E essa definitivamente era uma daquelas situações.

Durante praticamente dois anos e meio, o castelo todo vibrou e chorou com os foras que James Potter levou de Lily Evans. Sem falar nas brigas épicas que rolavam nos primeiros três anos. A torre da Grifinória definitivamente era uma das mais animadas. Há essa altura, todos já haviam entendido que Lily Evans possuía um ódio eterno por James Potter - mas Marlene não era todo mundo.

Ela simplesmente se negava a acreditar que Lily pudesse detestar tanto o garoto quando mal conseguia apresentar um motivo plausível para isso.

Ela até tentava. Era bonitinho.

"— Tudo bem, James é arrogante. Mas é um arrogante bonitinho. O ego faz parte do charme, Lily!

— Cale-se, Marlene. Eu estou tentando decidir no que eu transformo aquele imbecil se ele aparecer por aqui.

— A-há! Então você quer que ele apareça por aqui!"

Ou às vezes simplesmente muito idiota.

"— Não, Lily. Pela última vez, o fato dele ser melhor do que você em transfiguração não é um motivo plausível.

— Tá bem. Mas você tem que considerar que aquele cabelo dele é irritante!

— Não é irritante, é sexy.

— Alice!

— Quê? Tá com ciúmes do namoradinho?

— Parece que ele acabou de descer de uma vassoura!

— Exatamente!

— Eu vou simplesmente ignorar o que você disse. E Marley?

— O que é, Lily?

— Admita que aquele bom humor matinal é suspeito."

Lá no fundo, a morena sabia que a amiga estava se preparando para baixar as defesas. Já se decepcionou antes por gostar de algumas pessoas. Além de ser orgulhosa e teimosa pra caralho, dizendo o mínimo.

Não foram poucas as vezes em que em que flagrou a amiga sorrindo para si mesma, pouco depois de James lhe fazer alguma gracinha, quando já estavam sozinhas. Às vezes, quando estudavam nos jardins, ela espiava discretamente o treino de Quadribol da Grifinória.

Diabos! Até mesmo poderia jurar de pé junto que viu um brilho de orgulho quando o garoto fora eleito Capitão do time.

No entanto, o que confirmou as suspeitas dela, fora a vez em que Lily se distraiu do dever de casa, enquanto observava James ajudar Pedro a estudar, num canto mais afastado da biblioteca. Ele ria vez ou outra, mas sua expressão rapidamente tornava a ficar séria.

Com a luz da janela sobre ele, até mesmo a morena teve que admitir. James Potter é bonito pra cacete. Se as circunstâncias fossem outras, ela com certeza investiria.

Mas como não era de seu feitio pegar as coisas dos outros... Porque ele definitivamente era de Lily. E ela dele. Um dia a ruiva perceberia isso.

Mas enquanto isso não acontecia, Marlene iria se divertir provocando-a com a pergunta do bilhete: "Por que você odeia James Potter?".