Ela ouvia o despertador tocar estridente ao seu lado, informando-a que ela tinha que se levantar naquele momento para ir à escola.

Gina bufou e logos desligou seu despertador, ela sentou-se em sua cama e se espreguiçou. Estava cheia de preguiça para ir para a escola naquele dia, tinha a certeza que não faria a menor falta na escola, não havia ninguém lá que pudesse sentir isso por ela, até mesmo seu irmão, que havia feito seu próprio grupo desde que começara a namorar a grudenta e patricinha da Lilá Brown e entrara para o time de futebol masculino da escola.

Era fato que Gina não tinha amigos, mas não era por isso que deixaria de ir para a escola. Precisava de conhecimento para, no futuro, conseguir ter um bom emprego na profissão que ela quisesse. Gina estava indecisa entre ser jogadora de futebol ou jornalista, eram profissões completamente diferentes, mas Gina gostava do diferente; na verdade, na escola ela era considerada a esquisita do local.

Gina era o que as outras meninas chamavam de desleixada e feia. Possuía uma timidez muito grande, e o que as meninas mais julgavam nela, eram os seus longos e ondulados cabelos cor de fogo, que, de acordo com elas, era muito acabado. Geralmente, não se importava com o que as pessoas falavam dela, mas muitas vezes, a solidão a pegava de jeito quando a ignoravam simplesmente por ser ela mesma… mas era a maneira que vivia e estava bem desse jeito… certo?

— Gina, querida, já se levantou? – Ela ouviu sua mãe chamando-a pela porta fechada de seu quarto.

— Sim, mamãe. Daqui a pouco estou descendo. – Gina respondeu ainda com a voz cheia de sono.

— Está certo. – Sua mãe respondeu de volta e Gina ouviu os passos dela se afastando no corredor e em seguida descendo as escadas.

Gina suspirou cansada. Não quero mesmo ir para a escola hoje, ela pensou enquanto se dirigia para o banheiro de seu quarto. Ela fez suas higienes pessoais, se vestiu – camiseta folgada e short rasgado – e desceu para tomar seu café da manhã com sua “adorável” família.

Não que ela não gostasse de sua família, ao contrário, ela os amava profundamente, o problema era que eles não a entendiam, falavam sempre que ela precisava sair com amigos, curtir a vida enquanto ainda podia e socializar com as pessoas. Não entendiam que, para Gina, isso era muito difícil.

Gina tinha seis irmãos homens, todos do mesmo pai e mãe. Sua mãe era uma típica dona de casa perfeita, fazia tudo em casa muito bem, principalmente na cozinha. Seu pai era trabalhador da prefeitura e quase não parava em casa, Gina, na maioria das vezes, apenas o via nas refeições.

Seu irmão mais velho, Gui, apesar de ser maior de idade a muito tempo, ele agia como um adolescente descolado.

Seu outro irmão, Carlinhos, amava animais e era com ele que ela se sentia mais à vontade e era mais próxima, pois, como ele, ela tinha esse amor pelos animais, até trabalhava no abrigo que o irmão havia fundado.

Seu outro irmão, Percy, era o maior CDF e puxa saco que Gina já conhecera em toda a sua vida, bem, ela não podia reclamar muito de Percy por que também era uma CDF, não tanto quanto o irmão, mas isso não queria dizer que o irmão não fosse chato, ele ainda era um puxa saco e tinha uma voz que fazia a maioria das pessoas dormirem a terem apenas uma conversa com ele, onde Percy só falava de coisas, digamos, intelectuais demais para as outras pessoas.

Seus outros irmãos, os gêmeos Fred e Jorge, apesar de, assim como seus outros irmãos, já serem maiores de idade, viviam feito duas crianças levadas, aprontando de tudo.

E tinha Rony, o mesmo que estudava com ela em Hogwarts, seu gêmeo. Desde que tiveram um desentendimento e logo em seguida ele começara a namorar Lilá, ele se afastou completamente de Gina, e ela não tentou uma aproximação por conhecer o irmão que tinha. Gina lembrava que eles eram muito próximos e que a briga feia que tiveram os separou.

Gina comeu seu café da manhã tranquilamente, ainda tinha alguns minutos antes que o ônibus da escola chegasse.

— Como anda aquele cãozinho que foi resgatado na semana passada? – Gina perguntou para seu irmão Carlinhos, o qual sentava-se ao seu lado na mesa do café da manhã.

— Está se recuperando rápido, ira vê-lo hoje? – Carlinhos a respondeu.

— Não, irei amanhã. – Gina disse sorrindo feliz ao saber que o cão estava bem.

— Irá trabalhar hoje no abrigo, querida? – Perguntou Molly para a filha.

— Darei apenas uma passada rápida amanhã, mamãe. – Gina respondeu e em seguida revirou os olhos. – Carlinhos disse que estou de folga.

— Você trabalha demais Gina. – Carlinhos justificou sua decisão.

— Eu gosto do trabalho! – Gina disse em sua defesa.

— Mas, não precisa trabalhar tanto. Por isso te dei folga sem que você quisesse. – Carlinhos repetiu.

— E fez muito bem, meu filho. Gina, não trabalhe até cair de exaustão, querida. – Molly a aconselhou. – Precisa ter seu tempo para descansar.

— Tudo bem. – Gina desistiu de argumentar enquanto pensava se a mãe também falava aquilo para seu pai. Ela se aproximou do ouvido de Carlinhos e falou sarcástica. – Muito obrigada, Carlinhos.

— De nada! – Com um sorriso divertido, Carlinhos a respondeu e nesse momento eles ouviram uma buzina de ônibus na frente de casa.

— O transporte de vocês chegou. – Arthur anunciou levantando-se ao mesmo tempo que seus filhos mais novos. – Tenham um bom dia na escola, crianças.

Ele deu um beijo na testa de Gina e um abraço em Rony e fez o mesmo com os outros membros da família antes de se dirigir até a porta.

— Pode deixar, pai. – Rony falou com um sorriso.

— É, pode deixar. – Gina falou sem a mesma alegria de Rony enquanto pegava mais uma torrada antes de seguir o irmão para entrarem no ônibus que os levaria para a escola. Eles se despediram do resto da família e seguiram para fora de casa.

Ao entrarem no ônibus, o caminho dos irmãos se diferenciaram. Gina ficara no primeiro banco, onde quase ninguém sentava e Rony dirigiu-se para os últimos bancos, onde seus amigos e namorada estavam. Assim que se acomodou, Gina ouviu um barulho parecido com um desentupidor de pia soar do fundo do ônibus indicando que Rony e a namorada se beijaram. Gina revirou os olhos e pegou seu celular e seus fones de ouvido em sua mochila, e pôs-se a ouvir música.

Gina passou o trajeto inteiro escutando suas bandas e cantores favoritos, enquanto admirava a paisagem que a janela do ônibus lhe proporcionava. O ônibus parou mais umas duas vezes antes de chegar na escola. Uma dessas vezes, em uma casa diferente. Uma casa nova, onde o ônibus escolar de Hogwarts nunca havia parado desde que Gina começara a estudar lá.

Gina, absorta em seu mundo particular, não percebeu que três novos estudantes subiram no ônibus. Os três muito diferentes um do outro e bastante peculiares por assim dizer. Todos olhavam para eles, menos Gina. Esse fato chamou a atenção dos três novatos, mas não comentaram nada e apenas se dirigiram aos lugares no meio do ônibus, um pouco afastados de Gina e nada dela perceber eles.

Ao chegarem na escola, Gina “despertou” e foi uma das primeiras pessoas a descer do ônibus. Enquanto descia, ela colocava seu fone e celular de volta na mochila.

Gina seguiu para o portão de entrada do colégio Hogwarts, um dos melhores de sua cidade. Ao redor de Gina, risadas, gritos animados, abraços e cumprimentos aconteciam entre os grupos do colégio, como se eles não se vissem a dias.

Ao entrar na escola, Gina encaminhou-se para os armários. O seu sempre ficava perto ao de seu irmão Rony, mas ela preferia chegar sempre primeiro que Rony e sair antes que ele chegasse para não ter que aturar sua adorável cunhada lhe falando baboseiras lhe dando uma guisa de bom dia que não precisava.

Gina abriu o seu armário e pegou todos os livros que usaria naquele primeiro período para não ter que voltar ali nem tão cedo e foi para sua classe, ninguém a parou no corredor para qualquer tipo de conversa, porém, a olhavam e cochichavam, alguns davam até risinhos. Era essa a rotina de Gina e ela estava acostumada e como em todos os dias, Gina sentou na primeira banca da fileira próximo a mesa do professor. Sempre era uma das primeiras a chegar na sala de aula, por isso, ficou a esperar pelo professor jogando um dos jogos baixados em seu celular. A sala foi enchendo e Gina, novamente absorta, dessa vez em seu jogo, só voltou ao mundo real quando o professor mandou todos que estavam em pé se sentarem para que a aula pudesse começar. Ela guardou seu celular na mochila e observou o professor arrumar-se em seu birô e logo a aula começou.

— Eu gostaria de apresentar a todos vocês os três novos alunos que chegaram na cidade a pouco tempo. – Começou falando o professor.

Gina estranhou. “Alunos novos?” Ela olhou para onde o professor olhava e viu, não muito longe de si, três desconhecidos de pé prontos para se apresentarem. Gina os observou, os três tinham aparências e estilos muito diferentes um do outro, eram duas garotas e um garoto. Estavam sentados próximos um do outro, fazendo Gina suspeitar que fossem amigos ou parentes, apesar de que nenhum deles não se pareceriam fisicamente em nada.

Uma das garotas possuía cabelos muito cheios e cacheados, olhos castanhos claros, estava séria, completamente reta, passava à Gina um ar superior e mandão e também desagradavelmente a lembrava de Percy. Gina esperava que a garota não fosse assim.

A outra garota era uma loira de cabelos muito longos, de olhos azuis muito grandes, como se ela estivesse sempre surpresa, passava à Gina um ar sonhador, que ela gostou bastante, além do pequeno sorriso que ela mantinha no rosto.

Já o garoto tinha cabelos rebeldes, que iam para todos os lados, usava óculos de lentes redondas que não tiravam a beleza dos olhos verdes esmeraldas, que, ao contrário das garotas, que estavam olhando para o professor, estavam direcionados para o fundo dos olhos de Gina. Proporcionando à Gina, um arrepio que ela gostou de sentir.

— Esses são… Hermione Granger. – O professor indicou a garota de cabelos revoltos. – Luna Lovegood e Harry Potter. – Ele completou indicando a outra garota e o garoto, que olhou para o professor quando ele falou seu nome.

Eles acenaram com a cabeça para os alunos e voltaram a se sentar. Gina voltou seu olhar novamente para o professor e ela deu um pequeno sorriso. Já havia gostado dos novatos, mas precisava de mais tempo para ter certeza se daquela vez seria diferente e eles gostassem dela também.

Foi uma aula tranquila, mesmo com algumas pequenas bagunças de seus colegas, Gina anotou tudo de importante. Agora teria duas aulas seguidas de química.

Gina se surpreendeu quando uma das novatas sentou na cadeira ao seu lado na mesa de química do laboratório. Gina ficou a olhando atordoada durante alguns minutos, ela olhou ao redor e viu que existia cadeiras vazias, mas a garota escolhera ali para se sentar. Hermione finalmente percebera o olhar de Gina.

— Está guardando esse lugar para alguém? – Hermione perguntou a olhando como se não fosse nada.

— Não, nunca senta ninguém aqui. – Gina respondeu ainda um pouco confusa.

— Ninguém nunca a acompanha na aula? – Hermione questionou.

— Não, a não ser que sejam obrigados. – Gina voltou a responder.

Hermione sorriu.

— Ótimo, agora você tem uma nova companheira e permanente ajudante na aula de química. – Hermione sorriu lhe estendo uma das mãos para Gina apertar. Gina olhou para mão da garota que abriu mais o sorriso.

— Qual o seu nome? – Hermione perguntou quando Gina pegou sua mão.

— Gina Weasley.

— Prazer, Gina. Tenho certeza que seremos boas amigas. – Hermione disse ainda mantendo o sorriso no rosto.

— Amigas? - Gina arqueou as sobrancelhas olhando-a admirada e surpresa.

— Sim… não gosta da ideia?

— É… sim, acho que sim.

Com um sorriso no rosto, Hermione olhou para frente e prestou atenção na aula que acabara de começar e Gina fez o mesmo.

Depois que a aula acabou, o sinal tocou para o intervalo. Todos os alunos dirigiram-se ao refeitório, Gina acabou perdendo Hermione de vista, não dando muita importância para esse fato, caminhou sozinha até o refeitório. Colocou em sua bandeja a comida do dia e com isso ela se dirigiu até a mesa mais distante, como era de seu costume. Porém, diferente das outras vezes, quando Gina estava se preparando para comer, uma pessoa sentou-se na cadeira à sua frente, como se não fosse nada demais. Gina levantou os olhos para ver quem era e viu a outra novata, Luna, sentada à sua frente. Percebendo que estava sendo observada, Luna direcionou seus olhos para cima e sorriu para Gina.

— Está guardando esse lugar para alguém? – Ela perguntou com uma voz amigável.

Acho que essa é a pergunta do dia. Pensou Gina enquanto olhava intrigada para a loira a sua frente.

— Não, essa cadeira está sempre vazia. – Gina respondeu.

— Não ficará mais. – Luna declarou com simplicidade e com um sorriso parecido com o de Hermione lhe dera mais cedo, Gina a olhou mais intrigada ainda, enquanto comia. - Qual o seu nome?

— Gina. – Ela respondeu quando terminou de mastigar.

— Prazer, Gina. Tenho a sensação que seremos boas amigas. – Luna disse com mais um sorriso.

Essa é outra frase do dia. Gina voltou a pensar, olhando-a sem expressão. Dessa vez, a garota pareceu não se importar de estar sendo observada e continuou a comer em silêncio olhando para os lados vez ou outra. Gina não tirou os olhos dela.

Depois de um tempo, o sinal tocou novamente indicando que o intervalo acabara. Gina também perdera Luna de vista, novamente sem dar importância para isso, ela foi para o seu armário antes que Rony aparecesse devolveu os livros do primeiro período e pegou os que iria precisar para esse período de agora.

Com todos os livros em mãos e na mochila, Gina voltou para sua classe, sentou-se na sua costumeira cadeira. Hermione e Luna, ao passarem por ela para se sentarem em seus lugares perto do garoto Harry Potter, sorriram como um cumprimento. Sem saber como reagir, Gina devolveu o sorriso um pouco sem graça.

As aulas, assim como as outras, passaram tranquilamente. Gina assistiu a tudo com atenção e foi mecânico o fato de, ao tocar o sinal, ela arrumar suas coisas rapidamente e se dirigir ao seu armário. Lá, ela guardou os livros dos quais não tinha dever de casa, pegou o que precisava e foi para a saída do colégio esperar pelo ônibus para ir para casa.

O ônibus era pontual e não demorou a chegar. Ela subiu no ônibus e sentou-se no mesmo banco de sempre, o qual se sentara mais cedo. Gina conseguiu colocar apenas um dos fones de ouvido quando o lugar ao seu lado foi ocupado, dessa vez, era Harry Potter.

Ao sentar ao seu lado, ele olhou diretamente em seus olhos com um sorriso de lado em seus lábios. Gina ruborizou-se com a intensidade do olhar.

— O que está ouvindo? – Harry puxou uma conversa, fazendo com que Gina lhe olhasse um pouco surpresa.

— Imagine Dragons. – Gina respondeu.

— Boa escolha. – Harry comentou. – Posso ouvir com você?

Gina o olhou intrigada enquanto lhe estendia o fone que ela não havia colocado.

— Aliás, qual o seu nome? – Harry perguntou ao mesmo tempo em que pegava o fone estendido.

— Gina.

— Prazer, Gi.

— Gi? – Gina repetiu com as sobrancelhas arqueadas e começando a ruborizar de vergonha.

— É como eu vou te chamar. – Harry falou colocando o fone olhando fundo em seus olhos. Foi quando Gina ruborizou de verdade e olhou para o outro lado tentando disfarçar.

— Ok. – Gina disse estranhando totalmente aquela situação.

Harry apenas sorriu. A viajem se seguiu com eles apenas curtindo a música, até que chegaram em frente à casa onde Harry supostamente morava, ele lhe devolveu o fone e se levantou, sempre olhando nos olhos de Gina.

— Até amanhã, Gi. – Ele disse ajeitando a mochila nas costas.

— Até, Harry. – Ela se viu respondendo. E com um último sorriso, ao ver que ela estava vermelha, Harry seguiu Hermione e Luna para fora do ônibus.

Gina ficou pensativa o resto do caminho até sua casa, pensando em como aquele dia tinha sido completamente diferente dos outros dos últimos anos. Ela teve companhia como a muito ela não tinha. E o mais estranho, eles acabaram de se conhecer e Gina já gostava deles todos. Hermione e Luna disseram que seriam amigas. Esperava mesmo que fosse verdade.

Ao descer do ônibus, quando este estacionou em frente à sua casa, Gina pensou que ela teve um ótimo dia e, mesmo que uma vozinha irritante em sua consciência lhe dissesse para não ter tanta esperança quanto as novatas se tornarem suas amigas, Gina não podia evitar gostar da ideia. Ela sentia que os novatos eram diferentes, e Gina gostava do diferente.