London,

May 6, 2017.

Concentrado, Scorpius passava meticulosamente o pente escuro no cabelo loiro.

— Eu não acredito nisso, cara! – Alvo exclamou, deitado na cama do amigo.

O garoto moreno tinha um sorriso estampado de ponta a ponta da face.

— Por que você tá aqui mesmo, Potter? – Malfoy indagou, de cara feia.

— Porque eu precisava ver isso com os meus próprios olhos!

— Ver o que, por acaso?

— Você, Scorpius Malfoy, o símbolo da vagabundagem, se arrumando para um encontro! – lançou. – E com a minha prima! – Alvo estava se divertindo com a afirmação. – Você foi amarrado pela Rose, cara!

O garoto loiro tentou não ficar sem jeito.

— Eu não fui amarrado... – se defendeu. – Rose e eu estamos apenas fazendo um... teste, eu diria.

Parado a frente do espelho, Malfoy respirou fundo. Há quatro semanas o loiro vinha tentando se convencer de que a relação entre ele e Rose ainda era apenas um teste. No fundo, Scorpius sabia que era mais do que isso.

Alvo se levantou da cama e passou o braço pelos ombros de Malfoy. Pelo reflexo, seus olhos verdes se fixaram nos acinzentados do amigo.

— Desculpa, cara, mas teste de um mês já não é mais teste.

E já não era mesmo. Isso era mais que um recorde, na verdade. O loiro sabia que nunca havia ficado com alguém por mais de três dias. Talvez cinco dias, no máximo.

— Ok... não é mais um teste.

— A aceitação é o primeiro passo.

Alvo deu batinhas condescendentes na cabeça de Scorpius, de pirraça. Malfoy jogou uma almofada que estava ao seu alcance. Atingido, o moreno apenas riu, achando graça da confusão mental do amigo.

Demoraram cerca de mais vinte minutos até Scorpius terminar toda a sua arrumação. Ele e Alvo desceram para o piso inferior da casa, que quase poderia ser considerada uma mansão, pelo tamanho exorbitante que possuía. Apesar dos excessos, loiro esse acabou se acostumando a morar ali sozinho com o pai.

Por falar no pai do garoto, Draco Malfoy encontrava sentado na grande poltrona da sala de leitura, bebericando o seu café preto e lendo algumas matérias jornalísticas no iPad, de pernas cruzadas.

Scorpius atravessou a sala de jantar e o corredor inteiro, até passar direto pela frente ao cômodo onde o pai estava. Alvo seguia em seu encalço.

— Aonde você pensa que vai com tanta pressa...?

O tom de voz de Draco era calmo, porém firme. O garoto freou os passos. Após um longo suspiro, Scorpius adentrou a sala de leitura.

— Eu vou... sair... – disse, ao se aproximar.

— Para onde...? – Draco questionou, sem tirar os olhos da tela do aparelho.

O loiro mais novo travou na resposta. Era estranho falar sobre essas coisas com o pai. Intrometido, Alvo, que estava logo atrás, respondeu por ele.

— Ele vai sair com a minha prima, a Rose. De novo.

Se um olhar tivesse o poder de matar alguém, Alvo Severo Potter estaria morto naquele momento. Ou, Scorpius poderia voar em seu pescoço que matá-lo da maneira convencional, pois era isso mesmo que ele estava querendo fazer.

Draco ergueu as sobrancelhas e encarou o filho. Havia um quê diferente nas íris acinzentadas.

— De novo...? – outra interrogação. – Você não me contou que estava namorando, Hyperion. – completou.

— Eu não estou... namorando.

Talvez ele estivesse.

— Não...?

— Não...

— Hum...

Draco se ajeitou na poltrona e pôs o iPad no colo.

— É com essa garota que você conversa todos os dias antes de dormir? – inquiriu, interessado.

O rosto de Scorpius ficou quente. Como o pai dele sabia desse detalhe, ele não fazia a mínima ideia. Alvo prendeu o riso.

— Sim, pai... – respondeu, envergonhado.

— E foi por causa dela que você me ligou da Argentina, às três da manhã, me pedindo que eu escaneasse uma autorização judicial para você poder pegar um voo internacional sozinho, em cima da hora e sem nenhum planejamento...?

— Sim, foi por causa dela...

— Interessante... – Draco deu batidinhas no braço da poltrona com a ponta do indicador. – Então, eu posso acreditar que também é ela a pessoa que voc...

— Chega papai, por favor!

A vontade do garoto era de esconder a cara dentro de um buraco, como uma avestruz. Draco riu.

— Desculpe por te informar isso, meu filho, mas eu acho que você está namorando. – ele disse, por fim.

— Ok, eu entendi.

Ele conferiu as horas no relógio de pulso. Estava à beira do atraso.

— Bom, eu tenho que ir. – avisou.

— Tudo bem. – Draco assentiu.

Eles se despediram brevemente. Já a porta de saída, o loiro fora chamado novamente pelo pai.

— Ei... Scorpius?

O garoto deu dois passos para trás e colocou o rosto entre o vão da porta.

— Que foi? – questionou, encarando o pai.

— Traga a Rose para jantar aqui em casa qualquer dia desses.

Involuntariamente, Scorpius sorriu. Ele assentiu com a cabeça rapidamente e foi embora. Draco bebeu o último gole do seu café amargo e voltou a ler as notícias em destaque. No canto dos seus lábios finos qualquer um podia ver que o seu ar também era de riso.

—-- Ω ---

— Rose, o Scorpius já chegou! – Hermione avisou, enquanto terminava de fechar a porta.

Mione sorriu para o garoto.

— Ela já vem, querido. – avisou, simpática.

Apesar do tom de voz solicito de Hermione, Scorpius percebera que havia algo de errado com a mulher. Seus olhos castanhos pareciam confusos, perdidos no espaço.

— Estou pronta... – uma voz avisou.

Da ponta do corredor, Rose Weasley sorria graciosamente. O loiro retribuiu o ato, bobo.

— Podemos ir. – a garota disse.

Scorpius observou Hermione de soslaio, como se esperasse uma autorização formal. Sentada no sofá, a mãe da menina acordou com a cabeça.

— Se divirtam bastante. – Mione desejou aos adolescentes.

— Obrigada, mamãe.

Rose andou até a mãe e lhe deu um beijo no rosto.

— Até mais tarde. – ela disse.

— Até.

A ruiva retornou para junto de Scorpius. Os dois saíram do apartamento de mãos dadas. Já no carro o garoto resolveu perguntar sobre algo que o deixara cismado.

— Rosie, tá tudo ok com a sua mãe?

Rose franziu o cenho, sem compreender o motivo da pergunta.

— Eu acho que tá tudo bem sim. – a ruiva sorriu de leve. – Pelo menos estava de manhã, antes dela ir para o médico.

— É que, sei lá, a achei meio calada hoje. – explicou. – Reservada eu acho que seria a palavra certa.

— Deve ser algo no trabalho. A data da palestra tá chegando. Mamãe sempre fica meio para baixo antes de eventos importantes.

O loiro deu partida na BMW, pensativo.

— É, deve ser...

Eles saíram da garagem do prédio. Malfoy deu a seta e pegou a principal.

— Para onde vamos? – indagou.

— Eu queria ir a Dedosmel.

— Ah, logo a Dedosmel, Rose...?!

A cabeça de Scorpius doía só de pensar no quanto aquele lugar era cheio. Ainda mais num fim de tarde de sábado.

— Vamos, Scorp... Lá é legal.

— E entupido de gente estranha.

— Por favor... – a ruiva fez manha. – Você vai gostar...

— Não tenho tanta certeza.

— Eu te garanto que vai.

Rose deu alguns beijinhos no maxilar do garoto. A pele do corpo de Scorpius se arrepiou com o toque.

— Você está tentando me subornar, Weasley? – ele questionou, mas deixou tranquilamente que ela continuasse.

— Talvez. – a ruiva piscou um dos olhos azuis, marota.

— Isso é golpe baixo...

 – Eu sei...  mas, eu quero ir...

O loiro respirou fundo quando parou no cruzamento. Se namorar era fazer concessões, naquele momento estava mais do que claro que ele estava namorando.

— Ok... – ele suspirou mais uma vez. – Vamos a Dedosmel.

O sorriso que Rose abriu foi o suficiente para Scorpius entender que não tinha feito à escolha errada. Em nenhum momento daquele ano.