P.O.V Riley
 Eu já desde de pequeno não sabia muito bem o rumo que minha vida tomaria. Eu precisava de atenção e ajuda, mas meus pais nunca notaram isso. Então eu me isolava, ficava longe deles, e isso me fazia bem.
 A única pessoa que me ouvia e me queria por perto nos meus 14 anos era Bryce, minha irmã gêmea. Mas isso logo teve um fim trágico. Ela sofria de depressão, e já havia tentado se matar uma vez, então eu tinha medo de deixa-lá sozinha por muito tempo. Todos os dias, assim que eu me libertava do colégio, ia correndo embora, para ver se ela ainda estava bem.
 Em um desses dias, não fui rápido o suficiente. Cheguei em casa, estava um silêncio total. Chamei por minha irmã, mas não tive resposta, então fui até seu quarto, o encontrando vazio. A chamei de novo, indo em direção ao banheiro. Quando abria porta, senti uma sensação horrível seguida de uma dor imensa. Ela estava ali, no chão, com uma poça d'água em volta de seu corpo. Me aproximei dela, e examinei rapidamente seu corpo; meu tremor não ajudava muito. Seus pulsos estavam cortados, na vertical, profundamente, a lâmina a qual ela havia utilizado estava presa em seus dedos já sem movimento. Mesmo sabendo que seria em vão, tentei acordá-la, desesperado. Então liguei para a ambulância, eu precisava de ajuda naquele momento. Não fiz questão de avisar meus pais do acontecido, aliás, a culpa era deles, então deixei para que dessem o recado. Eu sabia que no fundo, isso foi algo bom pra eles, um peso a menos.
 Depois que a perdi, minha vida ficou sem nexo. Passei a sair mais de casa, mesmo sozinho. Eu me distraía com algumas coisas, mas a ideia de repetir o que eu já havia feito uma vez não me saía da cabeça. Não me pegaram uma vez, talvez não me descobrissem na segunda.
 Mas tudo melhorou depois que conheci Grace. Eu sou uma pessoa melhor comigo mesmo agora. A família dela sempre me aceitou, mesmo sabendo o que eu havia feito, e que fiz de novo já quando namorava com ela. Considero Carlisle e Esme meus pais, e os outros meus irmãos. Kellan é meu melhor amigo. Moro com eles agora, e isso é bom, por que não fico sozinho e não me falta nada, e não digo somente coisas materiais, mas sentimentais. Não há distinção aqui. Somos todos iguais, independente de ser humano ou não, biológico ou não. Somos uma família de verdade, agora eu tenho uma família de verdade.
      P.O.V. Grace
 Sábado. Finalmente, eu não aguentava mais ir pro colégio. Fiz tantos trabalhos essa semana que estou exausta. Me acordei 10:35 horas. Olhei para o lado e ali estava meu anjinho dormindo. Seus cabelos louros e com cachinhos estavam um pouco amassados, mas ainda assim lindo. Não sei se era somente aos meus olhos, mas a beleza dele era surreal pra mim. E ele tem covinhas! As vezes eu sentia medo de acordar e ele não estar ali. Claro que já aconteceu, ele acordou antes de mim e se levantou, normal né. Mas em uma dessas vezes, logo quando ele se mudou para cá, eu fiquei tão assustada que me levantei apressada e sai correndo pela casa à procura dele, que estava na sala. Mas enfim, é bom acordar e tê-lo ali, me sinto segura.
 Deixei um beijo em sua bochecha e me levantei, fui ao banheiro e fiz minha higiene pessoal. Não troquei de roupa, continuei de pijama, e desci para o café da manhã.
 Maggie já havia acordado, e estava sentada à mesa.
 -Bom dia.- Falei para quem estava ali.
 -Bom dia Grace.- Respondeu minha mãe, normalmente, sendo a primeira.
 - Bom dia!- Os outros depois.
 Me sentei ao lado de Maggie, sentindo um cheiro doce, que vinha dela.
 -E então, dormiu bem? - Me perguntou ela, enquanto eu me servia de café e passava requeijão nas torradas.
 -Dormi sim, a primeira vez essa semana.- Falei a ela. - E você?
 -Bem também, apesar de que demorei para apagar ontem. Mas sabe, quero ensaiar um pouco hoje, a gente pode cantar um pouco, não tenho nada pra fazer hoje, o que você acha?
 -Tudo bem, por mim, só precisamos ver se a Nessie e a Jessa topam. -Respondi. Ela assentiu com um 'uhum'.
 Nas horas vagas, nós 4 cantamos. Um hobbie. Tínhamos nossas ídolas e inspirações. Little Mix. Eu interpretava Jesy, Maggie a Jade, Nessie, Leigh-Anne e Jessa a Perrie. De vez em quando, nos chamavam para cantar em algum lugar, e adorávamos isso, nos trouxe uma pouca fama de início. Temos fãs em alguns lugares, depois que alguns vídeos nossos circularam na internet. Mas nada demais.
 Riley levantou, desceu as escadas coçando os olhos, deixou um bom dia e se sentou ao meu outro lado. Ele me deu um selinho antes de se servir. Ele parecia exausto mesmo depois de ter dormido um pouco mais que o normal.
 -Dormiu bem? Parece cansado.- Falei a ele, que tomava um gole de café.
 -Sim, eu só... tive um sonho ruim...- Falou ele hesitante.
 -Com o que?
 Ele não respondeu, apenas balançou a cabeça, negativa e pesadamente. Eu já tinha ideia do que fosse, mas não insisti.
 Tomei meu café da manhã, e fiquei ali sentada, esperando Riley terminar o dele, conversando com Maggie e Kellan que ainda estavam ali.
 Riley me olhou nos olhos, então peguei sua mão, e o puxei para o quarto novamente. Ele se deitou logo na cama e vi seus olhos lacrimejarem.
 Sem dizer nada, coloquei a mão sobre seu rosto, estava quente, talvez pelo café, acariciei levemente, e depois o abracei pelas costas, entrelaçando meus dedos nos dele, e comecei a cantar baixinho Nothing Feels Like You.
 Isso era a única coisa que eu podia fazer as vezes. Só ficar ali com ele, o ouvindo chorar, mesmo que me doesse muito. Os acontecimentos da vida dele ainda o perseguiam, e o torturavam durante o sono. E isso foi tudo o que ele me pediu. "Não me deixe sozinho."