Dear Diary escrita por Shianny


Capítulo 1
Capítulo 1


Notas iniciais do capítulo

Oi!
Uma parte dos diálogos nessa One eu usei da [Queen Vee], de uma cena de RP. Tenkyuuu and dont deixe de me lovar, eu te amo ♥
Espero que vocês gostem e apreciem a leitura~



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Querido Diário,

São exatamente 01:53 da manhã enquanto estou escrevendo isso – e talvez você se pergunte qual raios de motivo eu usaria de desculpa para não estar bem empacotado na cama, esperando o alarme tocar para poder levantar e ir pra escola outra vez. Afinal, não tenho o dia livre e nem a pretensão de me largar em casa (não posso ser irresponsável, certo? Não é como se eu tivesse alguém comigo pra me sacudir e falar o que fazer toda manhã. Você sabe disso.) logo quando as provas já estão inacreditavelmente próximas de começarem. Será que isso poderia ser considerado suicídio curricular de escola se eu tentasse? Uh.

Bem, questões à parte, devo algumas explicações, sem dúvida nenhuma. O problema é: Eu não consigo dormir. Quer dizer, eu poderia arriscar quebrar um vaso na minha cabeça, mas a) eu não tenho um vaso útil pra isso e b) vasos são caros para se desperdiçar assim. Eu sou só um colegial, ok? Não tenho como ficar torrando grana assim.

Minha insônia não é sem motivo. Pelo contrário: Ela tem aparência, nome e perfume natural.

Ou será que seria melhor (e mais coerente) dizer “ele”?

Nós não nos conhecemos há tanto tempo. Eu entrei nesse colégio tem algumas poucas semanas e, ainda assim, acho que não estou exagerando ao afirmar que Claus Edelstein é uma das melhores pessoas que eu já conheci na vida. E a parte mais maluca disso é que eu não acredito que seja uma simples amizade que possa estar se formando.
Bem, não se for considerar o meu lado da história.

Não tenho como dizer que sei o que é esse turbilhão que me arrebata o peito e me apresenta ao Paraíso a cada segundo que passo ao seu lado. Não faço ideia do motivo de apreciar tanto o seu sorriso doce, o brilho manso e marinho que circunda suas íris e tampouco seus trejeitos quando fica envergonhado por algum motivo qualquer. O modo como cada ínfimo traço me envolve tão fácil quanto as imensas constelações que cintilam à noite no manto escuro. Chega a ser engraçado e até mesmo injusto conosco, existências toscas e tortas, que exista tamanho deus que englobe em um único corpo a profundeza do mar e a imensidão do céu.

Ele me faz rir por horas como jamais julguei ser possível, mesmo das coisas mais bobas.
Ele me preocupa quando esconde o sorriso por trás de uma máscara de seriedade ou tristeza.
Ele me faz engasgar ao – por mais tolo que isso possa parecer – admirar pessoas mais belas.
Ele me leva além das galáxias em nossas conversas que duram minutos infinitos e, ao mesmo tempo, tão derradeiros.
Ele me.
Ele.

Parece bobagem, não é? Ficar assim por conta de alguém que conheço não faz nem, sei lá, três meses. Estremeço só de pensar que, de tantas coisas que nós dividimos e segredamos um com o outro, uma das mais importantes que me bambeiam as pernas seja justamente a única que não posso, não devo e talvez nem queira falar. No entanto, mesmo que possível fosse, o que exatamente eu poderia dizer? Que estou enlouquecendo aos poucos com sua presença? Que me faltam forças só de pensar que ele poderia sumir num estalar de dedos? Que mesmo os defeitos que ele tenta apontar, como o aparelho ortodôntico, são as mesmas características que me fazem suspirar em praticamente todos os horários de aula?

Querido Diário, eu tenho medo. Pois mesmo com toda a nossa proximidade construída dia a dia, não sei o que ele poderia fazer caso eu ousasse verbalizar esse tipo de coisa. Mas não posso enganar e esconder de mim mesmo as mais frequentes perguntas que me atordoam em diversos momentos do dia: O que é que esse garoto é para mim? Por que essa insistência em se estampar com cola nos meus pensamentos? Se soubesse tudo o que passa na minha cabeça, ainda teria o mesmo carinho por mim ou tudo isso se quebraria como a mais frágil porcelana?

E eu suspiro novamente, pois não faço ideia das respostas que podem servir para essas lacunas vazias.

Sabe... Eu não queria começar a escrever outra vez sobre ele. A cada página que passa, parece que meu moreno – em meus pensamentos, pelo menos, posso fingir que o é – ocupa mais espaço nas linhas dos meus segredos, se escondendo nos pequenos vazios entre as palavras ou até mesmo das letras que as compõem. No entanto, você é capaz de acreditar que até mesmo nas entranhas da madrugada ele tenta destruir qualquer vestígio de sanidade que ainda me resta? E, inacreditavelmente, nunca de uma maneira ruim. Isso é algo bom, na verdade, mas tenho medo que seja o meu maior infortúnio: Não ser jamais capaz de esquecê-lo.

Claus me ligou essa noite.

Mais cedo, ainda não eram nem uma da manhã, me mandou uma mensagem. Perguntou se eu ainda estava acordado. Quis fingir que não, tentar organizar minha cabeça e me preparar para um novo dia que estava pra vir. Mas, bem, já que estou escrevendo isso, deve saber que não consegui esse mísero objetivo. Então, ele discou. E eu atendi.

Vou colocar abaixo a pequena conversa que tivemos, e tentarei ser o mais objetivo e próximo da realidade possível já que, para ser sincero, ainda estou nas nuvens.

“— Tá fazendo o que acordado a essa hora, hein?” Foi o alô que recebi. Pra quê melhor?

“— Eu tava tentando dormir, mas é meio difícil com todo o peso da paixão que você sente por mim.”

“— Uau, que profundo, amorzinho!” Mal sabia ele o quão grande era a verdade dessas palavras. Só que... Bem, com os papéis invertidos.

“— Mas, mwn, e você? Tá acordado por quê? Algum motivo em especial?”

“— Ah, sei lá. Não consigo dormir. Tô aqui divagando sobre a existência do universo e o motivo de sanduíche ser tão gostoso.” Seria impossível não erguer pelo menos uma das sobrancelhas ouvindo isso. Confesso que, se não fossem por essas pequenas coisas, talvez eu não estivesse tão emaranhado por esse rapaz. Ah, maldição. Ah, benção.

“— Não acredito.”

“— Amo sanduíche.”

“— Não acredito que você tá realmente procurando um motivo.” Aí, ele riu. Considerando as coisas que eu já disse anteriormente, não deve ser difícil de imaginar como isso me fez tremular e, ao mesmo tempo, me aqueceu. E eu sorri na pequena pausa que aconteceu...

“— Tava pensando em você, também.” ...Até que ele acertou meu coração com uma flechada. Acreditem, só quem já passou por isso sabe como é difícil juntar coragem para falar direito sem deixar tão na cara assim a confusão que acontece dentro da gente. Eu não sei se consegui fazê-lo direito, ou mesmo se ele não suspeitou de nada, mas, bem, respondi.

“— Ahá! Eu sabia que eu não tava sem conseguir dormir de graça. A culpa é sua, que não consegue me esquecer. Vai, pode ir desembuchando.” Ok. Talvez não tenham sido exatamente essas palavras, mas não me julgue. Estou tremendo até agora. É compreensível ter confusões mentais.

“— Besta! Não é nada. Só fiquei me perguntando se a gente não podia sair pra comer sanduíche e pensar sobre o sentido do universo juntos!”

“— Você tá me chamando pra um projeto de encontro dos deuses e tem coragem de falar que não é nada???” Essa é a parte pra pensar que ‘uau, o cara joga verde desse jeito e depois quer reclamar?’. Faria mais sentido se você visse como funciona a nossa amizade. É cheia dessas coisas!

“— Encontro, Leandro...?”

“— Tudo bem. Eu aceito sua tentativa de sedução.”

“— Lê, sai logo desse armário.” Foi aqui que eu senti um deserto que repentinamente se mudou para a minha garganta. Ele estava brincando, eu sabia – dava pra sentir na entonação. O frio na barriga, entretanto, veio pra ficar. Para o resto da ligação.

“— Logo depois de você! ...Amanhã, depois da aula?” Uma pausa “— Não sair do armário, digo, o sanduíche e tal.” Acrescentei. E não me arrependi quando o riso cristalino novamente preencheu a linha.

“— E tem que ter horário marcado pra sair do armário, é??? Que tal daqui a uns, sei lá, treze anos?” Pobre de mim, pensei. Que chances eu ainda podia tentar ter em treze anos? ...Não que eu estivesse considerando, claro. Claro que não. “— Claro, vamos sim!”

“— Que tal depois que a gente casar? Pra ser mais dramático e tal. Você invade a igreja correndo e gritando ‘parem o casório!’.”

“— Hmm... Dramático demais. Aposto que você ia cair durinho de vergonha no altar!”

“— É possível. Eu podia tentar te expulsar jogando o buquê na sua cabeça... E isso não seria uma proposta de casamento.”

“— Iam expulsar é a gente da igreja!”

“— Mas ia valer a pena, não?” Ri, e dei alguns segundos de silêncio. Respirei fundo... “— Ei, Claus?”

“— Mwn?”

Naquela hora, eu podia dizer tudo. De certa forma, estávamos os dois cansados e, no dia seguinte, ele não se lembraria de nada. Talvez pensasse que tinha sido um pesadelo ou um sonho esquisito, qualquer coisa assim. Podia ser sincero e descarregar todo o peso das costas, todo o choro escondido pela inutilidade em não conseguir correr atrás do que quero, independente dos resultados. Talvez eu até mesmo pudesse mudar a minha realidade, quem sabe?

Ao invés disso, porém, eu só juntei ar.

“— Valeu por ligar.”

“— Obrigado por atender.”

Podia ter terminado ali. Mas era casual demais. Eu não queria terminar uma ligação daquele jeito e foi exatamente esse o motivo de tentar enrolar um pouquinho mais, ainda que da forma mais boba e simples possível:

“— Amanhã, fliperama?”

“— E sanduíche.”

“— Vou com meu melhor perfume!”

“— E tem um pior?”

“— Uau.”

“— Era pra ser um elogio!” Ele riu e, logo ao fim disso, eu senti uma quietude confortável pairando no ar. “— Mwn, ei, não desliga ainda.” Como se fosse minha pretensão. Por mim, falaríamos pelo resto da noite. “— Eu posso falar uma coisa esquisita? E engraçada?”

“— Você sempre pode.” Outra pausa. Dele, porém. E nesse tempo eu só soube que ele não tinha desistido e desligado na minha cara por causa da respiração suave que, mesmo longe, acariciava meu pescoço. Mas era só ilusão misturada com vontade e, por mais que custasse admitir, eu sabia.

“— Sua voz me conforta.” Finalmente, ele disse. Junte isso ao fato de tudo que estava me atormentando no escuro e temos um coração que quer subir pelo meu esôfago, pular pra fora da boca e sair correndo atrás de Claus para que pudesse se entregar por inteiro. Aquela era minha chance de fazer uma declaração de amor! Certo?

“— ...Por quê?” Errado. Na hora, a única coisa minimamente inteligível que minhas cordas vocais aceitaram pronunciar foi aquilo. E me senti idiota por isso.

“— ...Não sei. Me faz sentir seguro. Eu... Eu sei que é esquisito, mas...”

“— A sua também.” Parece que essa parte eu já estou inventando, né? Eu também acharia isso se não tivesse tido resposta. Ou tudo foi só uma ilusão e eu desliguei sem querer na cara dele logo depois que ele tentou explicar. Essa versão é mais coerente comigo, infelizmente.

“— Sério?” Só que aí seria meio esquisito falar que era brincadeira. Claus não estava me zoando. Tentar zombar naquele momento era algo, no mínimo, cretino. E aí ele nunca mais falaria comigo.

“— É, sim.”

E então, nós dois ficamos num silêncio, julgo eu, agradável. Ouvindo sua respiração, pensando no que ele podia estar imaginando àquela altura e aceitando o que quer que surgisse a partir dali. Antes que o conforto tivesse a chance de virar incômodo, no entanto, juntei meus cacos de coragem e arrisquei me pronunciar outra vez.

“— ...Claus...? Tá ficando tarde, a gente tem que dormir ou não vai aguentar amanhã.” Suave. Suave como a brisa, tão sutil quanto a minha falta de vontade de ter que dizer isso. Como o silêncio dele continuou, porém, me limitei a fechar os olhos e esperar.

“— Hm? Ah! Ah, é... Verdade. Então eu vou e... A gente se vê amanhã?”

Foi como acordar de um transe. Sem nenhuma rejeição ou coisa a mais, de um jeito que eu não me martirizaria pelo resto da noite, mas também com o toque suficiente para que eu não tivesse a oportunidade de fingir que nada tinha acontecido. Ah, vigarista. Ah, Claus.

“— Unhum. Vê se você não me dá bolo amanhã, viu?”

“— Pode deixar.”

“— Boa noite, Clá.”

“— Boa noite, Lê.”

Depois disso, nós desligamos. Sem enrolação ou firulas. E aqui estamos, você e eu, enquanto tento acalmar meu coração e registro tudo para depois não pensar que foi só uma alucinação do meu cérebro. Devo admitir que é um bom “ouvinte”, ou acho que à essa altura já teria criado pernas e fugido pra bem longe daqui. Quem quer conviver com todo esse drama adolescente por algo que nem mesmo o próprio consegue definir do que se trata? É insuportável ter que sobreviver com inúmeras dúvidas rodeando sua mente até um ponto em que se torna impossível discernir se você já está imaginando algo ou se aquilo realmente aconteceu.

Querido Claus, a culpa disso é toda sua.

É por sua causa que me atormento com vários “E se”, dia e noite. É pensando em você que eu viajo em pensamentos noite adentro e me encontro inúmeras vezes em estado de insônia. Por sua conta, o mundo de repente parece mais apático se você não tem pelo menos alguma participação nele. Se eu não presto atenção nas aulas enquanto mergulho no seu sorriso ou no seu semblante por vezes disperso, quando eu me perco nas conversas enquanto admiro, simples e somente, você.

Mas também é por sua causa que eu arranjo forças para enfrentar tudo aquilo que me joga no chão, que continuo caminhando – ainda que devagar -. Você transforma o que seria um dia a dia maçante em algo cheio de cor e vivacidade simplesmente por conta de sua presença e, ainda que me tire de órbita, me joga numa nuvem acolhedora que eu tinha medo de nunca mais sentir outra vez. Bagunçando minha vida, você me deu a vontade de viver.

Eu gostaria de dizer o que sinto, mas a verdade é que eu também não sei. Então, por favor, me diga: Isso é amor?

É amor que tanto me bagunça, ou é só uma paixão passageira que logo vai se acomodar como amizade e nós dois vamos poder continuar juntos por longos anos e conhecer nossa verdadeira cara metade? E se formos, quando, onde e como vamos encontrar a pessoa que nos transborda? Mas se realmente formos, como eu vou ser capaz de lidar com um sentimento ainda mais forte do que estou sentindo nesse exato momento por você?

Eu quero uma luz. Eu não sei de quem, mas eu preciso de uma.

Ou será que eu só preciso me convencer do que isso realmente é?

Com carinho,

Leandro.


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Notas finais do capítulo

✿ Outra vez: Oi!
Essa parte das notas está sendo inclusa pós-postagem, mas é por culpa da mesma senhorita citada anteriormente já que ela SACOLEJOU MEU CORAÇÃO DE UMA MANEIRA TOTALMENTE NÃO ESPERADA
Como eu meio que disse no começo, o Claus não me pertence. Essa é a visão só do Leandro e, bem... Para quem interessar, também tem o lado do Sr.Edelstein bem aqui, ó:
https://fanfiction.com.br/historia/734124/Metaforas_Sobre_Borboletas/
P.s: Eu autorizo o acoplamento, tá, Queen? Te amo.



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