When will my life begin escrita por nywphadora, nywphadora, Blackinnon Squad


Capítulo 3
Capítulo 2 - Rebelde




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Uma mão pálida correu lentamente a cortina da pequena janela, procurando fazer o mínimo de barulho possível. Um pequeno feixe de luz era suficiente para iluminar a superfície lisa e transparente do grande espelho da penteadeira, localizada a um canto do pequeno quarto.

Essa mesma mão camuflou-se às sombras, enquanto que o corpo — aparentemente frágil — percorria o caminho até uma estante de livros, de onde tirou um pequeno objeto que reluziu a única luz presente no ambiente.

Aproximou-se do espelho, deixando transparecer a face rosada, os cabelos loiros quase escondendo sua esbelta figura, por tão longos e largos fios. Observou cada um de seus traços delicados, erguendo o objeto cortante à sua frente. Admirou a coloração prateada enferrujada, e levantou os seus olhos verdes, encarando o reflexo decidida.

Dois de seus dedos seguraram uma mecha de cabelo loiro entre eles, enquanto a outra mão segurou firme a tesoura, afastando as suas lâminas. Aproximou a tesoura ainda aberta.

— Marlene!

Ela deixou cair a tesoura com o susto.

A luz do quarto acendeu-se, e Druella entrou rapidamente no cômodo, pegando o objeto do chão antes que ela pudesse.

— O que você estava pensando? — ela gritou, erguendo a lâmina em sua direção, irritada.

— Eu só queria dar um corte — disse Marlene, tranquila.

— Você enlouqueceu? Onde conseguiu isso?

Ela deu de ombros, indo até a sua cama, olhando ao redor.

— Encontrei por aí — Marlene fez um gesto amplo — Nessas caixas de mudança...

Druella guardou a tesoura em seu bolso, aproximando-se dela.

— Você sempre morou aqui? — perguntou a mais nova.

— É claro que não, comprei para nós morarmos — disse Druella.

— É um lugar estranho para se morar...

Não era a primeira vez que tinham uma conversa daquele gênero, mas a mulher sempre se esquivava, como se a sua vida antes de Marlene não existisse, fosse um assunto proibido.

— Eu engravidei antes de você, Lene — disse Druella, cautelosamente — E eu perdi. Foi muito difícil para mim, você não pode nem imaginar. Eu só não quero que se repita. O mundo lá fora é muito cruel.

— Mas como eu posso me proteger de algo que não conheço? — perguntou Marlene, puxando as suas pernas para cima da cama.

Druella sentou-se atrás dela, puxando uma escova para pentear os longos cabelos cuidados da “filha”, que não parecia gostar tanto deles.

— Nem tudo na vida tem uma segunda chance — ela disse, suavemente — A vida não te dá oportunidades para se defender apropriadamente. Às vezes, o primeiro golpe já é certeiro.

Marlene encolheu-se.

— Por que eu não posso cortar o cabelo? — ela perguntou.

— Porque o seu cabelo é lindo — respondeu Druella.

— Pegue para você, então.

Mordeu a língua, ao sentir uma puxada mais forte da escova.

— Não seja mal criada! — ela reclamou.

Aquela devia ser a regra mais ridícula que Marlene tinha escutado, e isso porque tinha escutado muitas. Nos livros em que lia, haviam poucas garotas de cabelo curto, e era isso o que as faziam especiais, e era desse jeito que ela queria ser.

A regra mais a incomodava era o seu impedimento de sair daquela torre. Lembrava-se de quando tentou sair pela janela uma vez, apenas alcançou a sentir a grama sob seus pés, quando Druella a levou de volta para cima. Desde então, a janela tinha algum tipo de feitiço que a impedia de atravessá-la, mas ela percebia não sentir a superfície invisível quando encostava ao mesmo tempo que a mulher.

Então, talvez, só poderia sair dali se ela estivesse do outro lado, mas estaria sempre próxima demais para impedi-la.

Não importava o quanto tentasse argumentar para deixá-la, era como se Druella tivesse medo de que algo acontecesse se ela estivesse do lado de fora. Era apenas uma sensação, mas ela não conseguia acreditar em suas palavras, todas as vezes que discutiam sobre o assunto.

Druella parou de cantarolar, deixando a escova escorrer uma última vez pelo seu cabelo.

— Eu vou precisar ir para a cidade — ela disse, parecendo um pouco mais jovem depois daquilo — Resolver algumas coisas. Então não estranhe se eu demorar.

— Certo — respondeu Marlene.

Druella deu mais uma olhada para ela e para a janela, antes de deixar a escova em cima da mesa, e sair pela porta, trancando-a.

Seria tão melhor se conseguisse roubar a chave dela ou encontrar um jeito de arrombar a porta, mas sabia que a janela não seria o único lugar do quarto a ter um feitiço. E se tivesse um que avisasse o momento em que ela desaparecesse daquela torre?

Se sua mãe era uma bruxa, por que ela não conseguia desenvolver esses poderes?

Mesmo que conseguisse sair, não sabia quanto tempo demoraria para ser notada. Não conhecia nenhum lugar do lado de fora, e a visão da janela não colaborava para os seus planos, então não saberia para onde deveria ir. Só sabia onde queria ir, mas pedir informações não era uma boa ideia.

Olhou para a janela, desejando poder sair, como se o feitiço fosse desaparecer de um momento para o outro. Revirou algumas caixas, irritada, perguntando-se como que Druella adivinhou os seus planos de cortar os cabelos justo naquele momento. Seria o horário? Ou tinha algum feitiço sobre isso também? Uma intuição bizarra de mãe?

Voltou a revirar as caixas, mas viu a sua distração impedida por Nymphador. Fazia alguns anos que sua mãe chegou em casa trazendo o pequeno camaleão como um presente de aniversário. Infelizmente, ela não conseguiu lembrar-se qual foi a data em que ganhou o animal. Seria bom saber o dia em que nasceu, embora Druella parecesse achar ridículo isso.

Qual era o problema de saber um pouco mais sobre si?

Estava tentando afastar um Nymphador teimoso de cima de um espelho de mão quando escutou um baque vindo do lado de fora da torre. Automaticamente, pegou o pequeno animal, abafando um grito e foi para o outro lado do quarto. Meio escondida por trás das caixas, viu uma figura masculina escalar pela janela, olhando para o lado de fora, parecendo preocupado. As sombras impediam-na de ver mais do que os seus contornos, mas uma de suas mãos segurava um saco de couro, que fazia um som engraçado sempre que o vento o fazia esbarrar na mesa da penteadeira.

Aproveitou que o homem estava de costas e pegou uma frigideira de dentro das caixas. Enquanto aproximava-se, esperava que ele virasse repentinamente, pegando-a desprevenida, mas isso não aconteceu, ele parecia perdido demais em seus pensamentos e interessado no cômodo em que se encontrava.

Marlene levantou a frigideira e bateu-a com o máximo de força na parte de trás de sua cabeça, fazendo-o cair desmaiado.

— Isso foi mais fácil do que os livros dizem ser — ela murmurou para si mesma.

Nymphador olhou para o homem caído e mudou a coloração de sua pele, pulando de seu ombro até a mesa da penteadeira, para voltar a observar-se no espelho. Desde que o tinha, ele vivia fazendo isso, não conseguia entender o que via de tão interessante em seu reflexo — embora fosse bem legal vê-lo trocando as escamas de cor, ele devia gostar também.

Sem opções, Marlene deixou a frigideira de lado, puxando o homem caído pelos braços até uma cadeira. Alguns minutos se passaram e ele não acordou. Quanto tempo demorava para alguém desmaiado acordar? Sem saber como, desistiu de procurar uma corda, perguntando-se quantos metros de seu cabelo poderiam ser usados para prendê-lo à cadeira.

O tédio devia torná-la idiota, pois vivia fazendo esse tipo de experimento. Era uma sorte que um fio de cabelo fosse mais resistente do que parecia, ou ele não estaria mais lá, e ela nem precisaria mais tentar cortá-lo às escondidas.

Começou a arrastar o seu extenso cabelo pelo chão do quarto, puxando-o com as mãos — pequenas demais para o seu gosto. Jogou em direção ao ombro do rapaz — acabou acertando o seu rosto, mas ele não pareceu notar. Depois disso, começou a contar as voltas que conseguia dar sem ficar muito próxima.

Ela realmente precisava cortar aquele cabelo.

Pegou a frigideira novamente — precisava estar armada — e sentou-se em sua cama, que estava atrás da cadeira, observando o tal garoto. Depois de alguns minutos entediantes, lustrando a frigideira, sentiu alguns fios de seu cabelo sendo puxados. Levantou o olhar, erguendo o utensílio. Nymphador estava parado olhando para o seu reflexo, mas Marlene tinha a certeza de que estava tão atento à cena quanto ela, embora a falta de luz não colaborasse.

— Mas o que...?

Ela levantou-se da cama, andando até a frente da cadeira e então acendeu a luz, tentando demonstrar uma pose perigosa, embora a força com que segurava o cabo não ajudasse muito nessa imagem.

Assim que ele levantou o rosto, conteve o impulso medroso de batê-lo novamente. Na verdade, quase deixou a frigideira cair. O invasor desconhecido, fosse quem fosse, era lindo, e isso ela não podia negar.

Viu um movimento no canto do olho e conteve-se para não gritar, era apenas Nymphador descendo da penteadeira e indo até o saco de couro esquecido do canto, que era o que o invasor segurava antes de subir até a torre.

— O que é isso? — Marlene perguntou, esquecendo-se temporariamente de quem estava à sua frente.

Deu alguns passos antes de ser impedida pela armadilha que tinha montado em volta da cadeira. Nymphador ajudou-a, empurrando o saco até ela.

— Não abra! — o jovem pediu, aparentando desespero.

Mesmo assim, um brilho prateado captou a atenção de Marlene, que retirou o objeto lá de dentro.

— Você roubou isso? — ela perguntou.

A empregada acompanhou do lado de fora os minutos em que a sua soberana passou dentro do quarto. Deu uma espiada para dentro do cômodo, indecisa se deveria despertá-la de seu repentino sono ou deixá-la ali. Por fim, fechou a porta silenciosamente, seguindo o seu caminho.

— O que está fazendo caminhando a essas horas?

Alice paralisou ao escutar a voz ríspida do guarda.

— Eu só estava indo até os meus aposentos — ela respondeu, procurando soar convincente.

— Então é melhor eu acompanhá-la — Lucius deu um sorriso desagradável.

Engoliu em seco, sem saber o que respondeu. Abaixou a cabeça, tímida, enquanto seguia o caminho já conhecido. Assim que chegou às portas de madeira que indicavam o corredor dos empregados, Lucius parou à frente, virando de costas. Um recado bem claro.

Alice girou a maçaneta, entrando pela passagem, antes de fechá-la atrás de si. Permaneceu encostada à madeira, respirando fundo, secou o suor que escorreu da testa, afastando uma madeixa de cabelo solta do coque, antes de seguir o caminho para as cozinhas.

— Você demorou — disse Augusta, sem nem olhá-la.

— Fui ver se a rainha queria alguma coisa — Alice torceu um fio solto do avental.

— Ou procurar uma fofoca, não é?

Encolheu-se quando a mulher passou ao seu lado, indo para a outra porta de madeira, ao canto.

— O que é aquele quarto? — ela perguntou a Frank, assim que se viram a sós.

— Era da princesa. Ela foi sequestrada — ele resumiu em poucas palavras a história sem, no entanto, querer soar desagradável.

Então o mantinham com a esperança de encontrá-la? Aquela era, definitivamente, uma triste história, concluiu Alice.

— Malfoy me seguiu até aqui — ela disse, ainda torcendo o fio solto da roupa.

— Ele só quer amedrontá-la, só ignore-o e faça o seu trabalho — Frank verificou que estavam mesmo sozinhos, antes de pegar uma de suas mãos, acariciando-a.

— Você acha que o sequestro e esses crimes todos do reino tem alguma relação? — perguntou Alice.

Antes que ele pudesse responder, a porta da cozinha abriu-se mais uma vez. Eles afastaram-se rapidamente, tensos de serem vistos naquela intimidade toda.

— Poderiam preparar-me algo, por favor? — perguntou o príncipe Ian, ao acreditar que não tinham percebido a sua chegada.

Alice trocou um olhar com Frank, antes de pegar um pão de dentro do cesto e começar a cortá-lo com cuidado.

— Como foi a caçada, vossa alteza? — ousou perguntar, sem conseguir manter-se em silêncio por mais tempo.

— Excelente, obrigado por perguntar — respondeu Ian, olhando curioso para ela, já que todos os criados eram reservados demais.

Terminou de preparar o lanche pedido e ergueu o braço para pegar um cesto que estava longe de seu alcance. Foi poupada por Frank, que resolveu ajudá-la, antes de voltar ao seu canto, parecendo um soldado de tão silencioso e ereto.

— Obrigado, boa noite — disse Ian, pegando o cesto e saindo da cozinha.

— Boa noite, alteza — os dois responderam em uníssono.

Assim que a porta fechou-se, Alice colocou as mãos em sua boca, abafando uma risada nervosa.

— Não faça mais isso — pediu Frank, relaxando.

— Desculpe-me — ela disse — É tão difícil acostumar-me.

Augusta entrou novamente na cozinha, e Alice despediu-se dele com um aceno de cabeça, antes de ir para o seu quarto.

— Você não deveria dar conversa para as outras empregadas — disse Augusta ao filho, parecendo desgostosa.

Frank, por fim, pareceu irritar-se, puxando-a pelo braço. Ela arfou, surpresa pela atitude brusca.

— Mãe, eu não vou encontrar a princesa e não vou casar-me com ela, tire essa ideia de sua cabeça — ele murmurou.

Soltou-a tão bruscamente quanto aproximou-a, e foi para o lado contrário de Alice, onde ficavam os quartos dos homens.

— Se essa garota, ao menos, soubesse comportar-se como a realeza, poderíamos conseguir um bom dinheiro com isso — Augusta murmurou consigo mesma, ofendida por ter sido repreendida pelo próprio filho.

Certificou-se de que estava tudo certo na cozinha, antes de voltar para a dispensa. Alguém tinha de ficar acordado durante a noite para atender às necessidades dos reis, caso precisassem.


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