Ela não servia para ser mãe, simplesmente não servia! Era impossível, ela era uma inútil, deveria ser banida da sociedade por isso. Como ousaria se chamar de mãe se nem ao menos tinha a decência de ser mãe.
—Você não devia se preocupar. - Oliver falou enquanto girava o volante do carro entrando na rua do prédio da QC, ele parecia saber exatamente o que ela estava pensando. - Isso já aconteceu com muitas pessoas. - ela revirou os olhos apertando a bolsa contra o abdômen. -Isso não significa que você é uma mãe ruim.
—Só uma péssima mãe. - afirmou olhando para a estrada.
—Lice não é sua culpa não ver o bebê.
—Ele está do tamanho de uma (insira a fruta), como é que diabo eu não o vi?!
—É como a doutora falou, às vezes as pessoas não conseguem ver por ser pequeno.
—Ou por serem extremamente irresponsáveis. - fez bico e cruzou os braços emburrada, Oliver riu e a cutucou no ombro.
—Ei, tira esse bico da cara e para de ser melodramática.
O carro parou, mas nenhum dos dois desceu, Oliver retirou o cinto e se virou para ela.
—Eu só queria o meu filho e saber o sexo dele. - resmungou.
—Feli, ainda temos alguns meses pela frente antes para você vê-lo e para descobrirmos o sexo dele ou dela.
Felicity suspirou descruzou os braços, ele estava certo, logo estaria com seu filho em seus braços e isso a acalmava.
—Ok, agora vamos, não quero chamar mais atenção do que já tenho. - retirou o cinto e abriu a porta do carro.
—Você não devia se importar com que as pessoas falam de você.
—Eu não me importo, mas tudo tem um limite, já chegaram a tentar invadir minha conta pra saber se eu estava ganhando mais.
Oliver parou a puxando pelo braço, seu olhar estava sério.
—Quem fez isso? - ele indagou preocupado. - Diz quem foi.
—Primeiro, eu não sei quem fez, e segundo, mesmo se soubesse não diria porque não quero ser o cento e das atenções de novo. - Oliver a soltou lhe lançando um sorriso torto.
—Acho que a culpa disso tudo é minha.
Ela o encarou, ainda estava um pouco irritada e nervosa por tudo o que estava ocorrendo.
—Você não devia ter me colocado naquele projeto de uma hora para outra, Oliver. As pessoas estão suspeitando que algo está acontecendo.
—Mas algo está acontecendo.
Ela suspirou e começou a caminhar em direção ao prédio, Oliver a acompanhou como um guarda-costas armado.
—Podemos conversar sobre isso depois? Estou cansada demais para ficar ouvindo seus dramas.
—Meus dramas? - ele arqueou a sobrancelha incrédulo.
—Claro Ollie, você é o dramático do casal. - disse apertando o botão do elevador.
—Agora somos um casal? - Oliver indagou, as portas se abriram e eles entraram. - Não sabíamos que éramos um casal.
—E não somos, apenas queria dizer que se fossemos, você seria o dramático. - tentou se corrigir, mas ele não pareceu acreditar.
—Ok Felicity. Mas ainda sim, eu adoraria que fossemos um casal.
Ela torceu a boca impedindo que o sorriso escapasse.

•••

—O que está acontecendo entre você e Oliver gostosão Queen? - Curtis indagou se apoiando na bancada.
—Nada. Você já provou o novo japonês no final da rua? - desviou o assunto torcendo para que ele esquecesse aquela história.
—Não tente me ludibriar, Smoak. Diga logo o que está acontecendo entre vocês dois.
—Olha Curtis, não te trouxe aqui para fofocarmos sobre minha vida, está bem? Você está aqui para conhecer minhas amigas. - disse enquanto terminava de ajeitar as garrafas de vinho branco e tinto na bancada. Logo Caitlin, Sara, Laurel e Thea estariam ali para finalmente conhecer Curtis.
—Estou ansioso para conhecer o quarteto, mas estou mais ansioso para saber o que está acontecendo entre você e Oliver!
Revirou os olhos, a campainha tocou e ela agradeceu mentalmente por ter algo para desviar o assunto. Sorriu para Curtis antes de dar a volta no balcão e correr para a porta.
—Oi, como foi a viagem? - abraçou Caitlin apertado, ela Barry haviam voltado da lua de mel a poucos dias, mas nenhuma das duas havia conseguido arranjar um tempo para se encontrar e colocar a conversa em dia.
—Ótima, trouxe presentes. - Caitlin ergueu as sacolas sorrindo.
—Não fez mais do que sua obrigação. - brincou fazendo ela rir. - Entra.
Deu um passo pro lado abrindo espaço para Caitlin passar. Curtis já estava com uma taça na mão quando se aproximou delas.
—Você deve ser a Caitlin, quase irmã de Feli. - ele disse a abraçando sem jeito.
—E você o Curtis, o cara que conseguiu espionar a acadêmica.
Ele sorriu satisfeito por ainda se lembrarem do seu pequeno feito.
—De nada a todas as mulheres da QC que conseguiram passar seu tempo livre olhando para alguma coisa além de caras de terno suados.
Eles riram, Felicity empurrou Caitlin para o sofá.
—Onde estão as meninas? - indagou se sentando ao lado da amiga.
—Sara e Laurel vão demorar um pouco já que estão na casa do pai delas, Thea disse que tinha uma reunião de família, mas logo estará aqui. - Caitlin se ajeitou no sofá jogando os pés sobre a mesinha de centro e tomando a taça da mão de Curtis. Franziu o censo confusa com tal comportamento.

—Como foi a lua de mel em Florença?
—Bem. - Caitlin disse dando de ombros, arqueou a sobrancelha, conhecia a amiga muito bem para saber que aquele "Bem" não significava que tudo havia ido realmente bem.
—Foi tão ruim assim?
—Não quero falar sobre isso. - ela disse soando um pouco fria. - Mas me conta como anda as coisas aqui?
—Nada demais, apenas Felicity que conseguiu uma vaga no projeto de suma importância na QC e agora todos acham que ela está transando com Oliver. - Curtis relatou como se contasse que o dia era claro e a noite escura. - O que na minha humilde opinião é verdade.
—Claro que é, eles apenas são orgulhoso o suficiente para não revelar isso. - Caitlin a encarou em uma mistura de desdém e descrença.
—Primeiro, não estamos aqui para falar sobre a minha vida amorosa e segundo, Ollie só me indicou para o projeto porque acha que sou competente o suficiente para isso. - disse se levantando do sofá e caminhando para a cozinha, queria apenas se livrar do rumo que aquela conversa estava indo. Obviamente uma hora ou outra teria que contar a verdade para eles, mas enquanto mais pudesse enrolar mais enrolaria.
—Você não pode negar. Curtis, você sabia que no mês passado Oliver disse que amava ela? - olhou por cima do ombro e viu Caitlin virar o resto do conteúdo da taça em sua boca, arqueou a sobrancelha. Curtis a encarou abismado.
—Como assim ele se declara para você e  você não me diz nada?!
Ignorando completamente o amigo, Felicity voltou para sala encarando Caitlin.
—Qual o problema? O que houve?
A morena suspirou.
—Quando estávamos em Florença eu meio que comecei a passar mal, então Barry me levou no médico e eu meio que descobri que estou grávida. - Caitlin disse hesitante, Felicity entreabriu a boca surpresa, Curtis gritou ao pé do seu ouvido.
—Minha nossa, Parabéns! - ele disse abraçando Caitlin com força.
—Eu sei, mas não devia ser assim, não agora. - ela revelou, Felicity balançou a cabeça deixando a sensação esmagadora em seu peito de lado e focou a atenção na amiga.
—Qual o problema?
—Barry e eu acabamos de nós casar, ainda tem os nossos empregos que exigem nossa atenção e ainda moramos naquele apartamento minúsculo. Não estamos prontos para isso.
Pegou as mãos de Caitlin entre as suas.
—Ninguém está pronto para isso, a maternidade não vem com um manual de instruções, nem com vídeo aula, as coisas acontecem você querendo ou não, e essa é a parte mais maravilhoso. Nem sempre a vida vai te dar as coisas como você quer, ela vai te dar o que o você precisa. - falou tentando transmitir toda a calma que ainda habitava em seu corpo. - Como Barry reagiu?
—Ele está feliz, o que é óbvio porque ele sempre quis ter um filho, mas eu estou assustada Feli.
—Eu sei, qualquer um fica. Ter um filho é uma coisa assustadora e mesmo que estivéssemos preparados, nunca conseguiríamos acompanhar isso. - as palavras saiam tão facilmente de sua boca que até pareciam ensaiadas. - Caitlin tem um bebê dentro de você, um pequeno protótipo de pessoa. Você vai enlouquecer nos primeiros meses? Com certeza. Vai surtar para descobrir o sexo do bebê? Claro. Mas no fim, quando estiver com seu filho no colo, nada mais vai importar.
Caitlin limpou algumas lágrimas que caiam pela sua bochecha.
—Como você pode saber disso?
—Porque é a verdade. - sorriu encoranjando-a. - Você será a melhor mãe do mundo. Disso eu tenho certeza absoluta.
Caitlin abaixou a cabeça parecendo mais calma, a campainha tocou.
—São as meninas. Vai contar pra elas?
—Claro, por que esconder uma gravidez se minha barriga vai crescer?
Aquilo era óbvio, mas obviedade nunca foi seu ponto forte, colocou a mão sobre a barriga inchada e se levantou para abrir a porta.

•••

Ela tentou não revirar os olhos enquanto ajeitava o celular no ouvido e descia as escadas em direção a velha confeitaria.
—Thea eu já te disse mais de uma vez, eu posso muito bem levar os bolos quando eu for, não é necessário Roy vir com Jonh. - tentou pela milésima vez explicar que não havia a mínima razão para importunar os garotos para eles fazerem um coisa tão tola. - Olha eu já estou aqui, vou encomendar os bolos e amanhã passo aqui pra pegar.
—Ok Felicity, mas se algo der errado, eu juro que te mato.
—Nada vai dar errado, Ok? Quero que esse aniversário seja tão especial e perfeito quanto você. Ollie merece isso. - empurrou a porta de vidro com o ombro, o aroma doce invadiu seu nariz, seu estômago revirou em uma mistura de enjôo e desejo. - Olha eu tenho que ir, Tchau.
—Tchau.
Desligou o celular e o colocou na bolsa, prende a respiração de encaminhou até o balcão, o cheiro dos doces estava lhe fazendo mal, então tudo teria que ser muito rápido.
—Bom dia, bem vinda a Doce vison. Em que posso ajudar? - a garota que aparentava ter 20 e poucos anos indagou sorrindo. Felicity tentou retribuir o sorriso, contudo estava enjoada demais para isso.
—Vim encomendar três bolos. Dois de aniversário. - disse, Thea havia pedido dois para o aniversário de Oliver que ocorreria no dia seguinte, um aniversário surpresa.
—Claro, quais os sabores? - a atendente perguntou olhando para a tela do computador.
—Chocolate com recheio de pistache e o outro de massa branca com recheio de abacaxi. - disse se lembrando exatamente do que Thea havia falado.
—Claro e o outro?
—Vocês fazem bolo de bebês?
A garota arqueou a sobrancelha diante da pergunta, Felicity reformulou a pergunta.
—Vocês fazem bolo para revelar o sexo do bebê?
—Ah, um bolo revelação.
—Isso.
—Claro, é nossa especialidade. Quer encomendar um?
Assentiu e puxou o envelope da bolsa, havia passado na sua ginecologista no caminho da confeitaria, queria fazer uma surpresa para Oliver, e não havia nada melhor do que saber o sexo do seu filho no dia do seu próprio aniversário. Deslizou o papel pardo sobre a bancada.
—Para amanhã. - disse, levaria o bolo para sua casa depois iria para festa de Oliver e então quando todos tivesse ido embora o levaria para sua casa onde poderiam comemorar em paz.
—Para que horas?
—Lá pras oito da noite.
—Tem algum modelo específico?
Pegou o celular e abriu a foto que Thea havia mandado.
—Esse, mas eu queria que o... - a frase morreu em sua garganta quando a porta que levava a cozinha se abriu e um garoto entrou carregando uma bandeja com cupcakes, seu estômago apertou e todo seu café da manhã começou a voltar. Colocou a mão sobre a boca, olhou para a atendente que apontou para os banheiros no lado esquerdo.

•••

Caitlin ajeitava a mesa com as bebidas, o que era uma ironia já que ela não poderia beber nada durante um bom tempo. Ela estava grávida de poucas semanas, talvez três ou quatro, mas o importante era que ela estava grávida e havia contado para todo mundo. Enquanto Felicity escondia sua gravidez de quase cinco meses do mundo.
—Ollie sempre odiou festas surpresas. - Tommy disse pegando uma das taça com champanhe. - Vai ser engraçado ver a cara dele.
Ela revirou os olhos tentando não socar Tommy naquele momento, estava ansiosa demais para isso, porque logo estaria sozinha com Oliver e além descobrir o sexo do seu bebê, ela finalmente diria a ele como se sente em a eles. Poderia ser uma chance de ter seu final feliz.
—Tenho certeza que Oliver ficará feliz com isso. - assegurou puxando a taça da mão de Tommy e colocando sobre a mesa. - Não se embebede antes do aniversariante por favor.
—Não será a minha intenção. - Tommy sorriu sacana para ela. - Laurel, querida, podemos abrir aquele vinho que iremos dar pó Ollie? Feli não deixa eu chegar perto das bebidas.
Laurel que estava sentada no sofá ao lado de Cisco e Sara, o ignorou, parecia tentada a socar a cara dele, eles estavam brigados desde de há semana anterior por algum motivo que ela não sabia.
—Não dê chilique por causa de bebida, não irei te arrastar para casa novamente.
Sorriu para ele arrogantemente.
—Fique longe das bebidas Merlyn ou quebro os seus dedos.
Tommy se afastou.
—Relaxa Feli. - Caitlin sussurrou.

—Apenas quero que hoje seja perfeito. - murmurou expirando pela boca e expirando pelo nariz. Faltava pouco para Oliver chegar com seus pais e Thea do jantar comemorativo.
A porta se abriu e Barry entrou carregando a caixa com um dos bolos, seguindo seguido por John.
—Os bolos na cozinha. - gritou apontando freneticamanete. - Eles logo vão chegar. 

—Calma pequeno gafanhoto. - Cisco disse sorrindo. - Sempre há tempo.
Ela bufou caminhando para a cozinha, se apoiou na bancada e respirou fundo.
—Qual o problema? - Caitlin se encostou na porta. - Você está nervosa.
—Apenas ansiosa.
—Por que?
Umedeceu os lábios, teria que contar uma hora e talvez a hora fosse aquela. Levantou a cabeça pra olhar para Caitlin, mas parou encarando as caixas em cima da pia.
—Por que temos três bolos? Eu só pedi dois.
—Deve ter vindo errado. - Cait deu de ombros.
Assentiu, porém de repente se lembrou, havia passado mal e ido embora da confeitaria, deixando apenas o modelo do bolo e nenhum especificação a mais. Ou seja.
—Ah merda. - sussurrou olhando fixamente para as caixas, então correu até elas as abrindo. Todos os três bolos eram iguais, cobertura branca de glacê, tamanho médio.
—Felicity o que houve? - Caitlin colocou a mão sobre seu ombro. - O que está acontecendo?
—O bolo, o meu bolo, eu não sei qual é ele!
—Você encomendou um outro bolo?
—É um bolo revelação, era para gente descobrir o sexo do bebê. - disse colocando as mãos na cintura e tentando manter a calma.
—Espera aí. - Caitlin a girou pelos ombros virada para ela. - Como assim sexo do bebê? Você está grávida?
—É uma longa história, só me ajuda a descobrir qual é o bolo certo e eu te conto depois.
Caitlin assentiu e pegou um dos bolos, Felicity pegou outro e levou para a bancada de costas para a pia.
—Pega uma faca que a gente abri com jeitinho e ninguém percebe. - disse, Caitlin lhe estendeu a faca, com cuidado a enfiou no bolo, só precisava  de uma pequena amostra.
—O que vocês estão fazendo? - a voz de Cisco as assustou.
—Nada. - falaram juntas sem se virar.
—Ok...Thea acabou de mandar uma mensagem eles já estão no elevador. Então vamos nos preparar.
—Já estamos indo. - disse e esperou os passos de Cisco se distanciarem antes de puxar a faca. - Chocolate com pistache.
Olhou para o outro bolo, não havia tempo para delicadeza, meteu a faca de uma vez e puxou para o lado, o abrindo.
—De abacaxi. - resmungou. Olhou para Caitlin e então elas se viraram em direção ao último bolo, mas ele não estava mais na pia. Arregalou os olhos em desesperou. - Ah não.
—Cisco. - Caitlin sussurrou.
Correu para fora da cozinha no exato momento em que a porta da frente se abria, as luzes se acendiam e todos gritavam:
—Surpresa!
Não foi intencional, muito menos premeditado, mas ela não tinha muito o que fazer se não pular em cima de Cisco que carregava o bolo, porém, com um minúsculo erro de cálculo, um desvio, tropeço de pé, ela apenas empurrou Cisco e quase caiu de barriga no chão se não fosse segurada por John, seu salvador, mas então o bolo voou, parando em cima de Thea, o glacê se espalhou pelo seu vestido preto e a massa se esfarelou no chão.
—Felicity! - Laurel gritou, ela também havia sido atacada por pedaços de bolo.
—Você enlouqueceu por acaso? - John indagou, ela se aprumou pronta para dar uma desculpa, quando Caitlin disse:
—É rosa.
Felicity voltou a atenção para Thea e o resto do bolo no seu vestido, havia pedaços ainda grudados no tecido preto junto com o glacê, pedaços rosa, pedaços de bolo rosa.
Seu coração começou a saltar pela boca, não se importava mais com os olhares incrédulos, descrentes e confusos das pessoas ao seu redor. Só se importava com aqueles pedaços de bolo pregados no vestido e espalhados pelo chão.
—É rosa. - repetiu a informação ainda não acreditando no que seus olhos viam, desviou o olhar para Oliver, que embora a encarasse confuso, parecia saber o que aquilo significava. - É rosa.
Oliver se afastou de seus pais e a envolveu em um abraço que a tirou do chão.
—É uma menina. - sussurrou no ouvido dele.
—É, uma menina.
Ela não se importaria de responder todas as perguntas que se sucederiam à aquele momento peculiar, ela definitivamente se importaria de contar para todos o que estava acontecendo. Porque, naquele momento, ela só se importava com aquela linda bebê que viria a vida, ela só se importava com sua filha.