Eu sou a Lenda escrita por Karina Ferreira


Capítulo 15
I-XIV Perdida




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Isabella saiu ainda nua do banheiro andando a passos lentos, a expressão de quem não estava conformada com seu destino e que jamais estaria. Duas doggens* estavam ali, paradas em silêncio a aguardando.

A vampira virou-se para o espelho permitindo que as fêmeas a cobrisse de azeite ornamentado com ervas, apenas erguendo os braços ou afastando as pernas quando necessário. Quando terminaram de purifica-la a embrulharam em uma túnica cerimonial branca bordada com fios de ouro, soltaram-lhe os cabelos que estavam presos no alto da cabeça escovando os fios até que os cachos se transformassem em ondas bem assentadas e por fim, a maldita cora no alto da cabeça indicando a casta nobre a qual pertencia

Assim que finalizaram seu trabalho, as servas fizeram uma profunda reverência e saíram do quarto deixando a vampira sozinha. A vampira olhou a princesa refletida no espelho, princesa essa em quem não conseguia se reconhecer e então lágrimas silenciosas começaram a descer por seus olhos

...

— A fronteira permanece enfraquecida – lamentava Jessica enquanto alimentava Anne no colo de Edward aquele começo de noite, como sempre, o humano estava sentado a mesa dos recrutas para a refeição quando a guardiã do outono o encarregars da missão de cuidar da pequena vampira alegando que a criança o adorava

— Enquanto não formos quatro novamente não podemos voltar lá – completou Irina com preocupação

— Ainda falta tanto para o próximo solstício – continuou Jessica em tom quase de aflição – Isso considerando a melhor hipótese que é ela resistindo a transição

— Ela vai dizer não! – colocou Emmett que até o momento estava apenas escutando a conversa das guardiãs. As duas vampiras o olharam com compaixão

— Ninguém nunca disse não – falou Irina com delicadeza – E acredite, nenhuma de nós sonhou ser guardiã

— Vocês não conhecem a Bella – falou decidido e as vampiras se entreolharam como se conversassem por telepatia e por fim desviaram o olhar como alguém que prefere não discutir com um leigo

— O que acontece se ela não passar na transição? – perguntou Edward em tom despreocupado olhando a pequena em seus braços

— A Virgem escolherá outra para assumir o lugar dela e teremos que esperar um outro solstício para que aconteça o ritual da transição – respondeu prontamente Jessica – E até lá, nada de fortalecermos a fronteira

— Entendi, mas eu quis dizer com ela, o que acontece com uma vampira quando ela não consegue passar pela transição?

— Ela morre – respondeu Irina. Edward não queria transparecer sua aflição com a frase da outra, mas algo em sua expressão o denunciou já que Jessica repreendeu a irmã de voto com o olhar

— A transição não é fácil, tem muito poder envolvido e é um processo longo e doloroso. Algumas vampiras acabam não resistindo, e é necessário que seja assim, o fardo que carregamos é muito pesado. Somos responsáveis por proteger um objeto que não somente possui a grandeza dos deuses como também é o motivo da briga entre eles desde os primórdios –

— Mas ela pode dizer que não aceita, pelo o que entendi – falou olhando a vampira

— Sim pode – respondeu Jessica fingindo esperança – A Virgem é justa, sempre! O processo ocorre da seguinte forma, ela foi escolhida essa manhã, então teve o dia para se preparar. Quando a lua estiver alta no céu, ela vai para o santuário e passa a noite lá sendo atendida pela auxhiliar*. Amanhã pela manhã, a própria Virgem conversará com ela e caso ela não deseje atender a mãe da raça, pode dizer não

— E se ela dizer não? Sofrerá alguma represaria?

— De forma alguma. A Virgem escolherá uma nova fêmea e ela seguirá a vida dela. Mas acho que você não compreendeu – falou ainda delicada – Acho que nenhum de vocês entendeu – olhou para Emmett - A própria Virgem falará com ela. Quem consegue dizer não a deusa? - Edward engoliu em seco e então olhou diretamente para o vampiro que ainda prestava atenção a conversa

— Você a conhece bem? – perguntou de cenho franzido

— Como a palma da minha mão – garantiu o vampiro

— Ela conseguirá dizer não a deusa?

— Não tenho duvidas disso! – O humano assentiu para o outro e voltou a olhar a vampirinha ainda em seu colo

— Hei Bella! – falou Jasper com empolgação e todos a mesa se agitaram fazendo gestos para que ele se calasse

— Ela está se purificando, não pode falar. – explicou Irina ao humano que se encolhia no lugar – precisa manter a mente limpa e em comunhão com a Virgem

A vampira não falou, mas Edward viu o exato momento em que ela revirou os olhos ao sentar-se ao lado de Emmett. Apenas verduras, legumes e frutas foram servidos a vampira que o tempo inteiro permanecia concentrada em sua refeição enquanto os demais faziam silêncio em respeito ao seu ritual

Edward ficou ali, mesmo quando um a um, todos os outros saíram e curiosamente, a vampira também ficou, mesmo após terminar sua refeição. Os dois olhavam-se discretamente por diversas vezes.. O humano não sabia o porquê de continuar sentado à mesa olhando a vampira, ela não merecia seu apoio, não merecia sua preocupação. Mas ainda assim, ele permanecia ali, querendo lhe dar tudo o que não merecia

— Vamos? – perguntou Jasper ao terminar sua refeição. Edward olhou para Isabella encontrando o olhar da vampira que brincava com os próprios dedos em cima da mesa

— Eu acho que vou comer mais alguma coisa – respondeu e pode escutar Emmett bufar contrariado. Jasper por sua vez deu de ombros saindo dali

— Leelan*, eu a acompanho até seu quarto – falou gentil se colocando de pé. Bella olhou do braço estendido do amigo para o humano que a olhou em expectativa e então voltou a olhar os próprios dedos sobre a mesa. Emmett respirou fundo – Bella, ele não é um de nós, não conhece nossos costumes e rituais então posso tentar aceitar o comportamento dele. Agora você, você é uma fêmea bem instruída, sabe que se não estiver pura quando o momento chegar, não será recebida no santuário e não poderá dizer não a Virgem – tentou chamar a amiga de volta a razão de maneira calma para não estressa-la. A vampira permaneceu imóvel sentada a mesa. Emmett aparentou não gostar da atitude, olhou em fúria para o humano claramente se esforçando para não arrumar uma briga ali – Ela está em processo de purificação. Não pode ficar nervosa, ter pensamentos impuros ou se ligar mais aos assuntos desse plano do que os do espiritual. Se a minha melhor amiga for submetida a um ritual torturoso e trancafiada dentro de uma pedra por não ter tido a oportunidade de se apresentar a Virgem e dizer que não deseja ser guardiã. Eu irei garantir que sofra tanto quanto ela! – finalmente o vampiro os deixou sozinhos

Por um momento, o silêncio reinou entre eles. A vampira sustentava a expressão inexpressiva no rosto, mas o humano podia ver nos olhos dela toda a preocupação e o medo que estava sentindo, sabia, que por dentro, a fêmea estava aterrorizada

— Eu tenho um irmão mais novo – contou com um sorriso nos lábios ao lembrar-se do pentelho que era seu irmão. A vampira prestou atenção na fala dele, tal como alguém prestes a se afogar segurando-se em uma corda – ele é realmente uma peste com um grande talento para se meter em confusão – existiam muitas coisas profundas que desejava dizer ela, queria lhe falar sobre como sentiu-se quando foi rejeitado por ela antes mesmo de conhece-la. Queria entender os motivos que a levaram a tomar tal atitude. Mas não naquela noite. Não quando claramente a vampira já tinha muitos assuntos confundindo sua mente

Queria distrai-la, fazer com que esquecesse seus problemas ao menos por hora. E foi o que fez, durante o que pareceu-lhe muito tempo, contou das trapalhadas do irmão caçula, da devoção que o mais novo tinha por ele, mesmo quando não se achava digno disso. E sobre tudo, contou a vampira com exatidão o tamanho do sentimento que nutria pelo mais novo

Isabella embora não pudesse interagir no monólogo do humano, sorria sempre que a história partia para um tom cômico e prestava muita atenção a cada palavra saída da boca do homem. Em dado momento, olhou a lua alta no céu, indicando que precisava ir. Edward acompanhou o olhar da outra e voltou a olha-la com pesar

— Eu posso te acompanhar até o seu quarto, se você quiser – não foi necessário nenhuma confirmação, a vampira se colocou de pé e prontamente o humano se colocou ao lado dela. Ele não sabia se tinha permissão ou o direito de fazer, mas ainda assim, passou um braço na cintura dela a trazendo para mais perto em conforto. A vampira repousou a cabeça sobre o ombro dele e ambos caminharam em silêncio para o quarto

...

Na porta do quarto, o casal parou um na frente do outro se olhando nos olhos enquanto mantinham as mãos entrelaçadas. Edward pela primeira vez curvou-se a frente da princesa, levando as delicadas mãos a boca em um beijo casto e demorado. Enquanto levantava-se, virou o pulso da fêmea para cima analisando a marca gravada ali. Com o polegar, alisou a imagem enquanto o trágico destino que os aguardava caso ela se tornasse guardiã brincava em sua mente o enchendo de temor

— Quando eu era criança, um garoto inseguro e desprezado por ser o mais fraco de todos. Eu gostava de fantasiar com o dia em que conheceria a minha shellan*, na minha imaginação, ela seria uma fêmea delicada, meiga, gentil, frágil, e eu a defenderia de tudo e todos – voltou a olhar a vampira nos olhos – E então ela tentou me matar – sorriu em deboche – você é completamente o oposto do que eu fantasiei, não é nem de longe meiga ou delicada e por... – pigarreou – pelos deuses, você é qualquer coisa, menos frágil. Você é forte Bella, muito forte, e eu tenho certeza que se alguém aguenta o tranco de ser guardiã e passar pela tal transição, esse alguém é você. Mas por favor, eu estou implorando, se você tem alguma consideração ainda que mínima por mim, diga não! Se não tiver, faça pelo vampiro de ego grande a quem você parece amar, não me importa o por que, desde que diga não – suplicou e a vampira pareceu o analisar, tal como se soubesse exatamente os motivos que o levavam a fazer aquele pedido e então assentiu

Edward não pensou se estava quebrando algum ritual, se a estava poluindo com sua atitude, ou comprometendo sua ida ao santuário, apenas a puxou para um beijo ansioso de alguém que teme a partida do outro. A vampira enlaçou os braços no pescoço dele o puxando pelos cabelos para ainda mais perto com o mesmo nível de ansiedade e então o afastou.

Com um último olhar, abriu a porta e entrou no quarto o deixando ali sozinho. Edward apoiou a cabeça sobre o objeto de madeira de olhos fechados e respirou fundo suplicando que somente daquela vez, suas decisões não ficassem ainda mais complicadas do que já eram

...

Isabella caminhou lentamente até o espaço que suas doggens* haviam preparado para suas orações. No canto do quarto, os lençóis de seda brancos estavam ao chão, cobertos por pétalas de rosas brancas. Os incensos acesos inebriavam o ambiente com perfume amadeirado e almofadas também brancas dariam um pouco de conforto a princesa.

A vampira suspirou audivelmente e então ajoelhou-se sobre as almofadas e sentou-se sobre os calcanhares em uma postura perfeitamente ereta. Depositou as mãos sobre as coxas e fechou os olhos tentando controlar a respiração e esvaziar a mente em busca do equilíbrio entre o corpo e o espirito

— Eu não vou entoar cântico de louvor algum – avisou ainda de olhos fechados – Já fiz muito por esse ritual e louva-la não é algo que esteja disposta a fazer – escutou uma risada contida atrás dela e imediatamente abriu os olhos deparando-se com a parede branca, olhou em volta o quarto completamente branco, das paredes e piso á mobília e cortinas

A menina permanece a mesma rabugenta de sempre— uma voz feminina falou no antigo idioma atrás dela e imediatamente Bella virou-se olhando a fêmea em pé ali vestida em vestes religiosas a olhando emocionada, tal como alguém que vê um ente querido depois de muito tempo longe

Eu não compreendo— respondeu também no antigo idioma supondo que a fêmea não conhecia o idioma dos mortais. A fêmea não explicou-se, caminhou até ela com os olhos ainda emocionados e alisou seu rosto com ternura enquanto lhe sorria

Sente-se criança, vou prepara-la para estar a presença da Virgem— claramente, aquelas não eram as palavras que a auxhiliar* queria dizer, mas ainda assim, Bella sentou-se a poltrona que a fêmea indicara a olhando começar a lavar-lhe os pé com uma bacia branca enquanto entoava cânticos baixinhos. Quando terminou a auxhiliar* puxou uma outra poltrona a posicionando de frente para Isabella e sentou-se nela a olhando de maneira divertida – Eu preciso te instruir a maneira correta de estar na presença da Virgem, embora tenha certeza que não levará em conta nada do que eu diga

As horas se passaram com a fêmea presa a um longo monólogo sobre o quanto poderia ser gratificante servir a mãe da raça, as honras, os privilégios. Sobre como uma guardiã era escolhida entre as mais puras de sua linhagem. Deu-lhe instruções de como deveria se portar na presença da deusa, o tom de voz adequado, o que poderia ou não ser conversado diretamente com a Virgem. O tempo inteiro, Isabella escutou em silêncio, apenas revirando os olhos ou bufando quando queria demonstrar sua insatisfação. A auxhiliar* sorria da menina em cada um desses momentos, como se estivesse habituada ao jeito carrancudo da outra

A mãe da raça logo estará aqui— avisou colocando-se de pé, pronta para deixar a vampira sozinha – se manteve muito calada criança. Tens alguma duvida?

Por que ela me odeia? – perguntou em revolta. A auxhiliar* sorriu de maneira amável para ela enquanto tomava as mãos da outra nas suas

Eu sempre soube que você não mudaria. Eu avisei, mas não me deram ouvidos – falou parecendo estar orgulhosa

Eu não compreendo— falou pela segunda vez desde que chegara ali e mais uma vez a fêmea acariciou-lhe o rosto a olhando nos olhos

Você precisa encontrar.

— Encontrar o que?

Precisa encontrar a história que você esqueceu, a história que foi tirada de você— Bella a olhou confusa, mas antes que tivesse oportunidade de fazer qualquer pergunta, a porta se abriu e as duas olharam o manto negro flutuar para dentro do quarto. Imediatamente a auxhiliar* colocou-se de pé fazendo uma profunda reverência a Virgem

Fez um excelente trabalho com nossa escolhida Pany, deixe que eu assuma agora— falou a voz de sinos, como sempre soando de maneira afetiva. A fêmea fez uma nova reverência, olhou uma ultima vez a princesa e então as deixou sozinhas – Como estás escolhida? – perguntou ainda no idioma dos deuses

— Vamos pular a ladainha toda e economizar tempo para nós duas. – iniciou no idioma habitual dos mortais somente na infantil intenção de afrontar a deusa – Eu só vim dizer que não aceito ser guardiã, protetora, o que seja, de pedra alguma

— Eu sei – respondeu também no idioma dos mortais

— Não vai me obrigar? – perguntou embasbacada – Ou tentar me persuadir a dizer sim?

— Eu jamais faria isso – garantiu de maneira gentil

— Então por que me trouxe até aqui?

— Porque quero que seja a primeira a conhecer a minha segunda opção. – Bella revirou os olhos com descaso

— Eu dispenso

— E eu insisto. Tenho certeza de que vai adorar conhece-la, ela é ótima. Claro que a favorita permanece sendo você – completou em tom de sorriso – Quero a sua aprovação, você a conhece agora e em seguida poderá voltar para casa sem problema algum – Isabella bufou contrariada

— Vamos acabar logo com isso então

O manto negro indicou o caminho e Isabella a seguiu por um longo corredor branco. A Virgem parou em uma porta a abrindo e logo deu passagem para que Isabella entrasse

Bella passou pela porta e estacou no lugar olhando a fêmea parada ali a olhando com olhos lacrimosos. Mesmo sem desviar os olhos da fêmea viu pelo canto do olho o momento em que a Virgem passou por ela com o manto mudando de forma e logo a imagem de Emmett estava parado ao lado da vampira loira, claramente debochando de Isabella

— Ela não é linda? – perguntou enquanto alisava o rosto da loira – eu não sei o que seria de mim, se algo acontecesse a ela – a loira derramou as lagrimas que acumulara em silêncio e Isabella fechou os olhos respirando fundo

— Eu aceito ser a guardiã – falou ainda de olhos fechados, o coração sendo esmagado dentro do peito ao lembrar de todo o futuro a que suas palavras a levaria enquanto visualizava os olhos de outono a encarando em reprovação.

Abriu novamente e viu Emmett lhe sorrindo de maneira vitoriosa, logo o vampiro se transformou voltando a figura da Virgem Escriba

Tem certeza disso? Não quero que faça nada contra sua vontade— falou a deusa em seu próprio idioma

Estou certa de minha decisão— respondeu também no idioma dos deuses, dando-se conta de que era a deusa quem ditava as regras daquele jogo e ela precisava segui-las se quisesse preservar seu nallum* - Eu serei a sua guardiã, mas quero a palavra de minha deusa de que, Rosalie não será nunca mais uma opção, assim como nenhuma de suas descendentes— a sacerdotisa a olhou surpresa

Você tem a minha palavra

...

— Vocês terão alguns dias para estarem com suas famílias. Aproveitem bem – falava Rhage ao pouco que restara do grupo de recrutas reunidos no pátio da torre de verão aquela manhã – Quando voltarem, serão consagrados guerreiros e sua família será essa guarda – a atenção de todos foi tomada por Isabella caminhando de maneira enfurecida em direção ao bosque. A vampira já estava de volta a suas vestes habituais. Imediatamente Emmett correu na direção da amiga a parando no lugar

— Agora não Emmett! – rosnou

— O que foi que aconteceu lá? – perguntou aflito o vampiro. Alguns curiosos se aproximando do casal

— Eu disse agora não Emmett! – esbravejou a vampira e perdendo a paciência, o vampiro puxou o braço da amiga levantando a manga cumprida da camisa negra que usava até a altura do cotovelo. As linhas negras e finas que saiam de dentro do circulo na palma da mão subiam se entrelaçando formando novos símbolos pelas costas da mão indo até próximo ao pulso

— Você disse que ia dizer não! – gritou exaltado olhando a fêmea em cobrança. Isabella puxou o braço da mão do amigo com violência o olhando de maneira irritada – Por que você nunca cumpre as suas promessas? Ou melhor, por que eu ainda acredito em você?

— Eu já te disse que agora não! – gritou – Depois eu falo com você! Depois! Agora eu não suporto sequer olhar para você – virou de costas pronta para ir embora

— Depois por que precisa de um tempo para pensar em qual mentira vai me contar dessa vez? – a vampira respirou fundo tentando conter o nó na garganta e então voltou-se novamente para o amigo

— Rosalie era a segunda opção, caso eu dissesse não – o vampiro paralisou no lugar a olhando boquiaberto – Vamos lá nallum* - disse irônica – responda-me, eu deveria ter dito não? – o vampiro engoliu em seco sem saber o que responder – foi o que pensei! – correu em direção ao bosque

...

Bella estava sentada em baixo de uma arvore ainda blasfemando contra a Virgem, quando Edward chegou ali andando em passos lentos. Sem dizer nada, o humano sentou-se ao lado dela olhando as demais arvores ao longe.

— Eu tenho uma coisa para você – falou a vampira quebrando o silêncio e o humano finalmente a olhou – Como está a sua fluência em antigo idioma?

— Humanos não possuem o conhecimento do antigo idioma – respondeu confuso

A vampira revirou os olhos enquanto puxava o papel que escrevera antes de sair do quarto de dentro da bota de soldado que usava e estendia para ele. Edward pegou o papel ainda em confusão, desdobrou a folha se concentrando nas palavras escritas ali sem dar-se ao trabalho de fingir que não as entendia

— Foi isso o que fez naquela noite? – perguntou engolindo em seco

— Pensei que gostaria de ter as mesmo escolhas que eu, se pudesse – respondeu com os olhos fixos a frente, evitando contato visual com o outro

Edward também desviou o olhar enquanto redobrava o papel o guardando em sua própria bota. Mais alguns minutos de silêncio se passaram, mas não era incômodo ou constrangedor. Os dois apenas desfrutavam da companhia um do outro enquanto ainda o podiam. A maldita marca na mão de Isabella ardeu e a vampira levantou a manga olhando as finas linhas se arrastarem para pouco acima do pulso

— O que significam essas linhas? – olhou para o humano que tinha os olhos fixos na imagem

— Correntes. Elas vão continuar se arrastando até que estejam sobre todo o meu corpo. – virou a mão para que ele tivesse uma melhor visão da palma – Quando chegar o momento, a joia vai ser colocada aqui – mostrou o símbolo arredondado com escritos no antigo idioma – e então, ela vai usar as correntes para arrastar minha alma para dentro de si e me aprisionar – Edward trincou os lábios com a informação e mais uma vez desviou o olhar da vampira, pegou uma pedra no chão e começou a roda-la por entre os dedos. Bella bateu com a cabeça contra a árvore e ficou olhando o céu – Você sabe que a única forma de alguém que não é guardiã usufruir do poder da joia é a quebrando. Não sabe?

— Enviando automaticamente as quatro almas presas dentro dela ao fade* - falou jogando com revolta a pedra para longe – Sim eu sei – também encostou a cabeça na árvore se mantendo de olhos fechados por alguns minutos – Eu pensei que não gostasse da sacerdotisa – falou olhando para o céu e Isabella respirou fundo

— E não gosto mesmo

— Por que se sacrificar por ela então?

— Ela é a shellan* de Emmett. Não me importo com a sacerdotisa é verdade, mas Emmett é a única pessoa no mundo com a qual eu me importo, se algo acontecer a ela ele vai sofrer. Eu jamais permitiria isso

— Mas e eu? – os dois se olharam ainda com as cabeças encostadas à árvore – Quero dizer, essa marca que temos significa que somos emparelhados não é mesmo? O que quer dizer que eu também vou sofrer se algo acontecer a você. Não se preocupa com isso? – jogou em tom de brincadeira enquanto sorria descontraído para a vampira que imitou a postura relaxada dele

— Dizem que a sua espécie foi criada para não ter sentimentos, tenho certeza de que vai sobreviver se algo me acontecer – debochou

— Hei, nós humanos somos muito sentimentais tá? – respondeu em falsa indignação

— Não estou me referindo ao seu lado humano – imediatamente o humano sentou-se a olhando de maneira tensa

— O que quer dizer?

— Você me entendeu – respondeu com descaso voltando a olhar o céu, enquanto pensava no quanto os dias que viriam seriam difíceis. Suspirou pesadamente – Eu só queria entender o que fiz a essa maldita deusa para ela me punir tanto. Primeiro me vincula a alguém incapaz de ter sentimentos, com o qual não posso me relacionar, ao menos não sem trazer de volta a vida a maior força maligna já existente no mundo. Depois, me torna responsável pela maldita pedra que o povo dele deseja desde o inicio da criação para que eu viva todos os meus dias tendo que fugir e me esconder de meu próprio hellren* - Edward soltou a respiração que havia prendido, deixando-se cair novamente recostado ao tronco encarando o céu, enquanto absorvia as informações que acabara de escutar

— A quanto tempo sabe? – perguntou sem olha-la

— Naquela noite, quando fiz o ritual, a própria Virgem Escriba me impediu de completa-lo. Quando perguntei o por que de sua intromissão ela me disse que a criança da profecia havia nascido, o sangue mais forte unido ao mais fraco. Um híbrido, metade humano, metade elemental e que eu estava vinculada a ele – Edward a olhou boquiaberto, depois olhou os próprios dedos tentando se recompor

— Por que não me entregou?

— Uma vez, eu perguntei a Virgem por que ela tinha me emparelhado a você, ela me respondeu que quis dar uma chance aos vampiros. Você nasceu e cresceu em meio a elementais, não sei o que aprendeu com eles, mas tenho certeza de que tem a verdade deles como absoluta. Talvez, eu também tenha querido dar uma chance aos vampiros, para que os conhecesse, pudesse ver a nossa versão da história – deu de ombros – ou talvez, eu só não acredite nessa história de lendas e crianças proféticas – riu tentando quebrar a tensão do momento

Edward também sorriu a olhando, Isabella viu a pupila se dilatar invadindo a íris extremamente verde a consumindo, em seguida a córnea branca, até que tudo estivesse preto, tal como um buraco negro

— Pode acreditar – falou levantando a mão – Eu sou a lenda – uma chama de fogo surgiu na mão do híbrido brilhante e feroz enquanto ele sorria orgulhoso de si

 


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Notas finais do capítulo

Glossário do antigo idioma
Auxhiliar: sacerdotisa que serve a Virgem Escriba de modo muito próximo

Doggen: classe servil dos vampiros

Leelan: muito amada

Shellan: companheira

Nallum: amado

Fade: reino atemporal onde os mortos se reúnem com seus antepassados

Hellren: companheiro

Primeira fase concluída com sucesso kkk
Parabéns para a Lucy24 que quase acertou chutando que Edward era um elemental. Nosso BB é um híbrido (palmas pra ela)

Assim como os vampiros tiveram a oportunidade de contar sua versão nessa guerra, a partir de agora os elementais a terão tbm

Cronograma para a próxima semana:
Sexta-feira: história dos deuses
Sábado: primeiro cap da 2 fase
Domingo: one Tessaiga

Aquela q eu disse que postaria contando o dia em que Edward conseguiu a espada. Espero ver vcs lá, a história é paralela mas vai ser importante para entendermos muitos pontos que aparecerão na próxima fase. Alguns já ate apareceram (os dragões), nessa one vamos ver tbm como foi a noite do ritual para o Edward. Temos uma boa visão do Emmett sobre essa noite e através do que Bella contou imaginamos como foi para ela. Mas não sabemos como foi para Rosalie e Edward (as vitimas Kkk) e é necessário que seja em formato de one por ser muita informação e não caber dentro do contexto que propõe a próxima fase já q, espero que tenha ficado claro, ela vai girar em torno desse segredo q a bella precisa descobrir.

Prometem que vão ler a one? *.*

É isso meninas. Por favor comentem o cap, deixem eu saber o que acharam, se já imaginavam, se foram surpreendidas (deixei muitas pistas da natureza dele no decorrer dos caps hem, ninguém aqui pensou que ele fosse bom em acender fogueiras só pq sabia bater bem as pedrinhas né? Kkkk)

Beijos meninas



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