Encadeados escrita por Nipuni


Capítulo 6
Aristocrática


Notas iniciais do capítulo

Nossa, meu deus, muito obrigada por TODOS os comentários no último capítulo, foram especiais demais pra mim ♥ Boa leitura! >//////<.



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Os cobertores me engoliram como uma enorme criatura noturna. Meus pés reclamavam dos saltos de ontem – mesmo que só tivesse usado por menos de uma hora – e minha garganta estava um pouco seca. Puxei as cobertas sobre a cabeça quando a porta do meu quarto foi escancarada com fúria.

— O que aconteceu com você?! – a voz de Temari reverberou tão alto que minha cama estremeceu. Ela agarrou os lençóis e os puxou pra longe, fazendo com que eu me encolhesse sobre o colchão.

— Não! – sentei, tentando puxá-los de volta. Já era tarde.

— Eu estava até agora te procurando naquele maldito clube! Você faz ideia que horas são? Pois é, são sete da manhã! Sabe, Sakura, você podia ter avisado que ia embora! Eu e Hinata ficamos achando que você tinha sido drogada por algum maníaco e arrastada pra uma vala. Morta!

Quase isso.

Cocei os olhos e franzi as sobrancelhas. A alça do vestido de Temari estava caída e tinha um grande círculo roxo em seu pescoço. Fiquei de pé sobre o colchão num pulo, apontando pra ela.

— Sua mentirosa! Você tava se pegando com alguém, isso sim!

Seu rosto floresceu num tom vermelho e ela tropeçou pra trás.

— Mas antes disso eu estava te procurando!

Sentei sobre a cama, suspirando. Temari, definitivamente mais calma, sentou ao meu lado, as sobrancelhas ainda franzidas.

— Você foi embora com quem? – ela perguntou, cruzando os braços.

Meu coração se contraiu dentro das costelas e eu olhei para baixo. Torci pra que minha expressão não me denunciasse como denunciou Temari.

— Um amigo. – não era uma descrição muito exata, pra falar a verdade. Eu não sabia bem o que Sasuke era.

— Você não tem amigos.

Caí deitada sobre meus travesseiros.

— Claro que tenho, sou cheia de amigos!

— E eu conheço todos eles, porque são todos da faculdade. Sakura, com quem você foi embora?

Rolei para o lado, evitando olhar pra ela. Me fixei na maçaneta da porta, qualquer coisa pra não me descompassar. Respirei fundo e me sentei novamente.

— Com quem você estava se pegando? – desafiei, tudo pra não continuar naquele assunto. Vi uma veia se expandindo na testa dela.

— Com o mestrado.

Não consegui pra evitar, eu tive que espancá-la com as pelúcias que estavam no chão.

— Sua safada! — ri para mim mesma ao ver que ela também estava sorrindo.

— E é meio por isso que eu vim aqui. – ela enlaçou os próprios dedos e olhou para frente. Notei que começava a fazer um bico, e me preparei pra algum favor que me pediria. – Shikamaru tem esses ingressos incríveis pra uma matinê de filmes de terror em Shibuya. Você sabe que eu tenho que ir, ele tá me esperando lá fora.

— Você é tão falsa, Temari. E eu aqui achando que você tinha vindo ver se eu ainda estava viva. – cruzei os braços. – E o que eu tenho a ver com essa história?

— Então... – ela continuou batucando os dedos, evitando olhar pra mim. Guardaria esse ás na manga. – Eu pedi um livro há duas semanas e ele já tá bolando na loja já faz uns dias. Se eu não for buscá-lo até meio-dia, eles vão retirar a reserva e revender. Aquele livro custou muito, isso não pode acontecer.

— Então vá buscar!

— Qual parte do “Shikamaru tem ingressos incríveis pra uma matinê de filmes de terror que eu não posso perder” você não entendeu? – senti sua ênfase no “terror”.

Suspirei. Eu sabia muito bem da paixão que Temari tinha pelo ocultismo, mas já estava pronta para negar na premissa de ser um sábado e eu não querer pegar dois trens pra buscar uma porcaria de livro do outro lado de Tóquio. E então ela botou seu ás em prática – os olhos de cão que caiu da mudança.

— Ah, tá! Tá bom, tanto faz. Mas você me deve!

Temari se atirou em mim, me abraçando e repetindo “obrigada” tantas vezes que a palavra parou de fazer sentido. Me afastei de seu abraço e levantei da cama.

— A loja fica em Osaka, mas aqui tá o endereço certinho. – ela me entregou uma folha dobrada e sua identidade. – É só entregar isso que eles te dão o livro.

Ela saltou para fora da cama e arrumou o sapato. Correu para seu quarto e, em menos de dois minutos, passou correndo pelo corredor vestindo outra roupa. Ouvi a porta da sala abrir e fechar, e então, o silêncio. Suspirei. Eu tinha que aprender a dizer não às pessoas.

Arrastando os pés, segui para o banheiro afim pegar o celular que estava na carga. Bocejei ao colocar a senha, indo ver minhas mensagens. Era verdade, Temari encheu meu inbox com perguntas de onde eu estava. Naruto tinha me mandado uma foto que tiramos ontem antes de sair e tinha uma única mensagem de um número que nunca havia me mandado nada antes.

Olha só o que eu encontrei, esperta. Seu número não é tão secreto assim.

Estremeci. Não tinha a menor possibilidade de Sasuke ter conseguido meu número. Tinha? Por algum motivo, vi meu reflexo no espelho com um meio-sorriso.

Meu deus. Você é um perseguidor.

Coloquei meu celular sobre a pia e comecei a tirar a roupa para entrar debaixo do chuveiro. O celular vibrou no mármore.

E aí, o que tá fazendo? Vai tomar banho?

Meu queixo caiu. Puxei as roupas de volta e olhei ao redor.

Você colocou câmeras no meu banheiro ou o que??

De novo, o aparelho estremeceu na minha mão.

Por que eu faria isso se você acabou de me contar?

Assim fica fácil, esperta.

Eu, literalmente, conseguia visualizá-lo sorrindo agora. Cerrei os dentes e respirei fundo para não digitar uma resposta idiota.

Arranje o que fazer, Sasuke.

Sério.

Já ia colocar o celular sobre a pia quando ele vibrou pela última vez.

Ué, mas eu acabei de arranjar.

E então ele mandou um emoji piscando. Precisei de muita força de vontade para não rir. Bloqueei o celular e entrei debaixo da cortina de água quente, deixando que lavasse todos os resquícios da noite passada para que eu pudesse, enfim, começar meu sábado. Me enrolei num roupão azul-bebê e parei na porta do banheiro. Precisava definitivamente arrumar aquele quarto. A situação era caótica.

Apanhei a blusa que usei ontem e a dobrei, colocando sobre a escrivaninha. Puxei a calça do chão e dei um passo pra trás quando algo caiu. O pedaço de papel flutuou no ar e repousou no chão, virado para baixo. Joguei a calça pro lado e o peguei. Na luz do dia, vi como a folha era amarelada e velha, percebendo como a textura também era áspera. No fundo, li os números:

1887

Tinha uma cursiva em itálico e os números eram rebuscados demais, escrita na folha em tinta preta. Virei o pedaço e vi que não era um desenho como eu havia imaginado.

Era uma fotografia.

Meu queixo foi do céu à terra. Havia duas pessoas na fotografia, uma mulher lindamente vestida e um homem em pé ao seu lado. Detalhe: a mulher era idêntica a mim.

A mulher estava dentro desse lindo vestido cheio de babados e seu busto exibia uma faixa que cruzava sobre seus seios, pendurada pelo ombro na diagonal. Seu cabelo estava preso num coque rodeado por tranças e ela tinha um pequeno diadema sobre a cabeça. Carregava uma expressão muito calma e um sorriso disfarçado. Congelei ainda mais ao ver quem estava ao seu lado.

Era Sasuke. Eu tinha certeza que era ele, certeza! Ele usava uma espécie de terno, mas era mais longo e feito sob medida. Uma faixa também cruzava seu peito, e ele mantinha uma mão no bolso e a outra sobre a cadeira em que a mulher estava sentada. Seu sorriso também era ínfimo.

Meu. Deus. O que era aquilo? Porque Sasuke tinha aquela foto?

Fiquei encarando a foto em sépia enquanto tentava surgir com alguma justificativa. Qualquer uma. Talvez ele tenha visto isso em algum site e notou a semelhança. É, talvez só fossem sósias! Quem sabe ele até tivesse a intenção de mostrar isso pra mim como uma brincadeira.

Era improvável. Eu tentei me agarrar àquilo, mas algo dizia que não. Não era isso.

Corri para o banheiro segurando a foto e peguei o celular, tirando uma foto da própria fotografia. Corri o polegar sobre a lista de contatos até encontrar o certo.

Hinata, tudo bem? Se liga, acabei de encontrar essa foto da minha tataravó num álbum de família e queria saber se você conseguiria me dizer mais ou menos de quando é? Ou onde foi tirada, qualquer coisa, meus pais não sabem me dizer...

Eu sabia que Hinata entrou na faculdade muito cedo e já estava fazendo sua pós em história, e encontrei confiança nisso para pedir ajuda. Claro, não poderia dizer a verdade, então maquiar meu pedido foi a melhor escolha que eu encontrei. Fiquei sentada na cama por dez minutos segurando a foto enquanto esperava por sua resposta.

Nossa, vocês são igualzinhas! Tá aí a prova de genes recessivos. Eu acho meio difícil te dizer agora de cara (acabei de chegar em casa), mas se não tiver problema com você, eu posso encaminhar essa foto pra um antigo professor meu pra ver o que ele acha. Eu tenho uma noção, mas não quero te passar nenhuma informação errada.

Saltei quando o celular vibrou com a resposta, lendo as palavras apressada.

Não tem problema nenhum, pode encaminhar pra quem você quiser! Obrigada pela ajuda, Hina.

Ela não demorou pra responder dessa vez.

De boa! Mais tarde eu te ligo, ok?

Respirei fundo mais de vinte vezes. Iria arquivar aquela agonia por agora e deixar para analisar tudo quando Hinata me desse a resposta. Eu poderia estar fazendo estardalhaço por nada, no fim das contas. Guardei a fotografia debaixo do travesseiro e terminei de arrumar a zona que meu quarto estava. Levei o papel com o endereço da loja e a identidade de Temari comigo ao sair do apartamento.

Nenhum trem atrasou e eu cheguei em Osaka antes das dez. Por ser dia, a maior parte dos bares e restaurantes que ascendiam aquela parte da cidade à noite estavam fechados e as ruas, vazias. Alguns proprietários varriam a calçada na porta de seus bares ou arrumavam os letreiros. Um senhor muito gentil me direcionou até a loja que Temari me disse.

Um sino de vento cantou quando eu entrei. A loja de ocultismo tinha um cheiro forte de cidreira e um véu fino de fumaça – provavelmente de incenso. O departamento de luz erma era o lar de bonecas de voodoo, gaiolas com corvos empalhados e enormes prateleiras com livros de capa dura, tapetarias estranhas e caixinhas com avisos de “não toque” exibidos.

Caminhei desconfortável até o caixa vazio, dando um tapinha no sino que ficava sobre o balcão. Um homem com longos cabelos escuros e olhos verdes afiados veio me receber. Ao me ver, ele sorriu.

Minha coluna recebeu um arrepio gelado que seguiu até minhas pernas e eu quis sair correndo daquele lugar estranho. Respirei fundo e mantive a compostura.

— Vim buscar um livro pra Temari – busquei sua identidade no bolso, mas o homem fez um gesto de dispensa com as mãos.

— Não precisa se preocupar, tenho certeza que ninguém iria querer roubar um livro desses. – o homem continuou sorrindo numa maneira que ele provavelmente achava que era amigável, mas seria a mais nova fonte dos meus pesadelos. Sua voz pareceu estranhamente familiar, arrastada e desgastada, uma voz velha. Onde eu já havia ouvido ele antes?

Notei então a pequena cobra enrolada ao seu pescoço. Era escura e rajada, suas escamas parecendo algo como roxo. A cobra deslizou pelo braço pálido do homem quando ele foi pegar o livro, indo até o balcão e fazendo um círculo com o próprio corpo. Pisquei quando ela mostrou a língua cortada pra mim. Notei dois pares de chifres pequenos saindo de sua cabeça achatada.

— Parece que o Manda gostou de você. – o homem colocou o livro ao lado da pequena serpente, seus olhos incisivos ainda grudados em mim. – Qual seu nome, amiga de Temari?

Forcei um sorriso pra ele. Sabia que só estava tentando fazer conversa, mas cada célula do meu corpo me mandava sair dali gritando.

— Sakura. – peguei o livro do balcão e o segurei próxima ao corpo como se fosse uma proteção. O homem pegou o tal Manda do balcão e o enrolou em volta do braço.

— É um belo nome. – ele suspirou, fazendo carinho na cabeça da cobra. – Você pode me chamar de Oro.

— É um prazer. – não era. Me virei pra sair quando ele me chamou.

— Volte sempre! Se bem que, eu tenho a impressão que vou te ver de novo, Sakura-chan.

Rezei para que ele estivesse violentamente enganado. Saí da loja e quase caí de joelhos no chão ao perceber o peso que saiu das minhas costas. Nunca mais eu botaria os pés naquele lugar dos infernos de novo. Comecei meu caminho de volta para a estação de metrô quando meu telefone tocou.

— Alô? – falei enquanto descia as escadas. Precisava ser uma conversa rápida já que não podia usar o telefone dentro do trem.

— Sakura, é a Hinata. – ouvi seu tom manso do outro lado. – Eu falei com meu professor.

Meu coração saltou pra fora.

— Sério? E aí?

Parei no meio da escada enquanto esperava ansiosa por sua resposta.

— Ele só confirmou o que eu achei. A foto é do século dezenove e, se eu fosse arriscar, diria que é da metade final. – lembrei dos números escritos no fundo da foto. 1887. Seria o ano? – E, meus parabéns, sua tataravó era da aristocracia.

— Como você sabe?

— Aquela faixa que ela tá usando é uma faixa muito específica. Os únicos que usavam aquilo pertenciam à nobreza russa. Depois dá uma olhada, tem um escudo costurado nela, é um escudo que só era feito no palácio do Czar. O homem do lado dela também era um nobre, o que não é de se assustar já que eles estão numa foto juntos.

Nobreza russa. Aquilo só fazia menos sentido ainda.

— Ah, Hina, muito obrigada! Vou avisar meus pais.

— Não há de quê. Até depois.

— Até.

Fiquei encostada no corrimão por um tempo que parecia não acabar. Minha cabeça doía com a velocidade que meus pensamentos tinham tomado. O ar quente entrou nos meus pulmões e eu fechei os olhos por alguns segundos.

Arquivar. Isso. Vou manter isso arquivado na minha gavetinha mental até que alguma coisa nessa história faça algum sentido. Quando isso acontecesse, confrontaria Sasuke – porque ele tinha aquela foto? Como ele a conseguiu? Quem eram aqueles dois e porque se pareciam tanto com a gente?

Tive a impressão que isso ficaria arquivado por um bom tempo, no entanto. Não conseguia imaginar quando algo finalmente fizesse sentido nessa história toda.


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Notas finais do capítulo

Espero que tenham gostado! Continuei com o capítulo maior já que foi o que me pediram, e eu concordo também!
Outra coisa, se você está gostando da fanfic, comente e favorite! ♥ Juro que sou legal e isso vai me ajudar muito muito muito, sério! Prometo que não vou estragar essa história então podem ficar tranquilos hehehe ♥
De novo, muuuito obrigada pelos comentários maravilhosos :3 amei todos! Até mais!



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