Meu Eu Depois Dela escrita por LilyMPHyuuga


Capítulo 19
A Decisão de Hinata


Notas iniciais do capítulo

Oooii de novo! =D
Desculpem a quase demora de novo, leitores! Arranjei um emprego (graças a god) e fiquei morta essa semana, rs. Por precaução, vou deixar para postar os próximos capítulos apenas no final de semana, tudo bem? =)
Vou deixar os agradecimentos para as notas finais, para não perder o costume. xD
Só avisando que o "~*~" significa mudança de ponto de vista. =)
Espero que gostem do capítulo.
Boa leitura! ♥



Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/729976/chapter/19

Existe uma teoria que diz que o tempo passa mais rápido para uma pessoa quando ela está feliz ou vivenciando um período bom em sua vida. Por consequência, a mesma teoria diz que o tempo passa mais devagar quando se está entediado, triste ou com algum sentimento ruim, dando a sensação de que o sofrimento dura mais.

Naruto conheceu essa teoria depois da metade do mês de dezembro e tinha dúvidas se era realmente verdadeira. Concordava que o período bom que passou ao lado de Hinata passara rápido demais para que se desse conta ou pudesse aproveitar melhor. Mas discordava porque, quanto mais se aproximava do aniversário de Hinata, mais o tempo parecia correr, deixando-os deprimidos e impedindo-os de tirar proveito dos últimos momentos juntos. Ainda passeavam e treinavam aos finais de semana – quando não tinham missões –, mas sempre algo os lembrava que seu tempo juntos estava terminando, então, inconscientemente, preferiam não fazer muitos programas, com medo de se machucarem ainda mais quando a despedida enfim chegasse.

A situação ficou ainda mais complicada quando Sakura e Hanabi apareceram no apartamento de Naruto uma semana antes do aniversário de Hinata, animadas para fazer uma festa.

— Não! — falou a morena rapidamente. — Não quero festa.

— Por que, nee-sama? — Hanabi fez um bico. — São seus dezoito anos! É uma data especial.

— Não, não é. Desistam da ideia — disse firmemente. — Nada de festas.

Sakura cruzou os braços, chateada.

— O que tem, Hinata? — insistiu a ninja médica. — Você sempre comemorou seus aniversários.

— Mas esse eu não quero, simples — rebateu. — Não gastem dinheiro com uma festa. Eu não participarei. Está decidido.

Dito isso, levantou do sofá e saiu do apartamento, deixando a amiga e a irmã em choque.

— Naruto-kun, eu sei que pode convencer... — começou a mais nova, esperançosa.

— Não farei nada, Hanabi — falou no mesmo tom que Hinata. — Ela disse que não quer. Fim da história.

— Mas por quê?

Naruto engoliu em seco.

— Temos outros planos.

Talvez elas tivessem se convencido se ele tivesse falado sorrindo, demonstrando segundas intenções, pensou mais tarde. No entanto, ainda falava sério, e isso as deixou mais chateadas. E no caso de Sakura, intrigada.

Naruto percebeu isso, tanto que no dia seguinte a moça de cabelos rosados estava chamando ele e Sasuke para um almoço, com a desculpa de que o antigo time 7 estava passando pouco tempo junto. Nenhum dos rapazes acreditou na desculpa, mas aceitaram o convite mesmo assim. O loiro estava decidido a convencer a amiga de que uma festa para Hinata não seria aceita de jeito nenhum.

Horas mais tarde já estava revirando os olhos com a insistência da amiga, que quase choramingava de tanto repetir seus “por quê?”.

— Porque Hinata não quer — falou pela milésima vez enquanto comia seu lámen favorito no Ichiraku. — É tão difícil assim aceitar?

— É claro que é! — Sakura teimava. — Ela sempre comemorou seus aniversários e você sabe disso! Por que seria diferente dessa vez?

— Temos outros planos, Sakura. — Já estava tão cansado daquela insistência que nem percebeu a ausência do sufixo. Sasuke, ao contrário, até parou de comer, cauteloso.

— Você já disse isso. E mesmo assim, não explicou porque não podemos sequer fazer a festa outro dia.

— Porque Hinata não quer.

Sakura ainda tagarelou sozinha por mais dez minutos. Naruto também parou de comer, impaciente. Sasuke ainda sinalizou que aguentasse mais um pouco, mas já era muito tarde.

— Me diga, Naruto! — insistiu a moça mais uma vez. — Por que...?

— Porque ela vai embora! — gritou, perdendo o controle e batendo a mão na mesa para calar a jovem, assustando-a. — Porque a última coisa que eu quero é me lembrar que daqui a seis dias perderei para sempre a mulher que eu amo!

Bufou, levantando da cadeira e lançando algumas notas em cima da mesa antes de sair do restaurante, ignorando os olhares chocados sobre si. Não demorou muito até Sasuke e Sakura o alcançarem, e dessa vez a garota permaneceu quieta ao seu lado. Caminharam por uns bons minutos antes de pararem no tão querido Campo de Treinamento 3, recheado de lembranças.

— Desculpe, Naruto — começou tristemente a Haruno. — Eu não podia imaginar...

— Eu sei — cortou. — Desculpe ter gritado. Eu só... — Engoliu em seco. — Eu não quero lembrar, mas... mas sempre tem algo...

Ela o abraçou, pegando-o de surpresa. Naruto não resistiu mais, passando os braços ao redor da moça e enfim cedendo às lágrimas e à dor que o perseguiam desde o dia em que Hinata desistiu do noivado. Há um bom tempo tentava controlar aqueles sentimentos, sem muito sucesso. Mas quando Sasuke se uniu ao abraço, ele soube que, por mais que a dor não diminuísse, sempre teria aqueles dois para ajudá-lo a superar tudo.

 


Naruto contou o plano inteiro para os amigos quando se recuperou, surpreendendo-se quando Sakura não contestou, apesar de ter muita vontade. Ela o olhava apreensivo, mas então mirava Sasuke e o Uchiha negava discretamente com a cabeça, incentivando-a a apenas consolar o mais novo, sem dizer nada. O loiro se sentiu grato com o autocontrole dos dois, pois não tinha mais forças para argumentar sobre os motivos de Hinata. Apenas repetiu o que já tinha dito para Sasuke em outra ocasião:

— Não há nada que eu não faça por ela... até mesmo deixá-la partir.

Voltou-se para os olhos verdes, tendo certeza que ela o compreenderia melhor do que ninguém. Somente o amor que Sakura sentia por Sasuke a fazia suportar todas as idas e vindas do moreno.

— Você conhece o ditado sobre liberdade? — Sakura segurou sua mão carinhosamente. Ele negou. — “Se você ama algo ou alguém, deixe-a livre. Se voltar, é porque é seu para sempre. Se não voltar, é porque nunca te pertenceu”. — Ela soltou um suspiro. — Não concordo que ela vá embora, Naruto. Mas se deixá-la ir... tenho certeza que Hinata voltará para você.

— Tomara, Sakura-chan... tomara!

 


Era fim de tarde quando se despediu dos amigos. Não teve vontade de voltar para casa, então seus pés o levaram até aquela que poderia ter sido sua casa.

O apartamento enorme que ganhara de Tsunade como presente de casamento.

Não acendeu as luzes quando entrou. Foi direto para a varanda, mirando o Monte Hokage e respirando fundo.

Céus, como explicaria para Tsunade que o casamento foi cancelado? Pior, que estaria devolvendo o apartamento que ela escolheu com tanta empolgação com Shizune?

Suspirou mais uma vez. Há dias pensava naquilo e não conseguia achar uma resposta. A ex-Hokage provavelmente iria querer matá-lo quando contasse que Hinata preferiu sair da vila do que arriscar ganhar a liderança do Clã Hyuuga.

Sentiu o perfume dela antes que a moça aparecesse ao seu lado, os olhos perolados também fixos no monte.

— Não sabia que costumava vir aqui.

— Eu não venho — ela respondeu calmamente. — Dói demais.

— Então por que...? — Ele a olhou, confuso.

— Eu estava procurando por você. Fiquei preocupada quando não voltou para casa depois do almoço com Sasuke-kun e Sakura-san.

— Nós ficamos conversando — mentiu. — Perdi a noção da hora.

— Eu devia ter imaginado. — Um sorriso pequeno surgiu no rosto dela. — Mas por que veio aqui?

Naruto desviou o olhar dela, envergonhado.

— Estou pensando em como vou devolver o apartamento para a vovó.

— Ah! — Ela soltou uma risadinha. — Ela vai querer nos matar.

— Foi exatamente a minha conclusão.

Riram baixinho, aproveitando a calmaria da noite. Naruto suspeitava que não faltava muito para nevar e resgatar o cachecol vermelho do guarda-roupa. Sorriu com o pensamento. Muitas coisas aconteciam com ele durante os invernos...

— Onde está o quadro “sem lámen, sem vida”? — a moça perguntou a certa altura.

— Ah, já o tirei. Sei que não gosta dele — provocou, arrancando uma risada dela. — Está guardado lá em casa. Não há mais nada meu aqui.

Hinata não percebeu que suas próprias palavras o afetaram. Ele a olhou por um momento, com um sorriso no rosto e os olhos fechados, aproveitando a brisa gelada de início de inverno.

“Porque você já é minha” ele dissera muitos meses atrás. “E será para sempre”.

“Tenho certeza que Hinata voltará para você” ecoou a voz de Sakura em sua mente.

Segurou a mão dela, chamando sua atenção.

— Vamos para casa, Hinata. Está ficando frio.

Ela concordou, sem soltar a sua mão. Naruto agradeceu mentalmente por isso.

Sentiu que ia precisar de todos esses pequenos momentos com Hinata para não enlouquecer.

 


Naruto acordou bem cedo no dia vinte e seis de dezembro. O sol mal tinha despontado quando ele saiu da cama e andou silenciosamente até a sala, confirmando que Hinata ainda dormia. Tentou sentar o mais delicadamente possível no sofá-cama, mas a moça sempre teve sono leve, abrindo os olhos assim que ele afundou no colchão.

— Desculpe — falou baixinho. — Pode voltar a dormir.

Como se adivinhasse seu desejo, Hinata abriu um braço, convidando-o a deitar. O rapaz aceitou sem hesitar, abraçando-a apertado e colando seus corpos. A moça se acomodou em seu peito e voltou a dormir. Naruto nem tentou, pois sabia que não conseguiria... só de tê-la tão perto, seu coração acelerou como se não coubesse mais no peito.

Ele beijou a testa dela devagar, sem voltar a acordá-la.

“Não vá” ele rezou em pensamento. “Por favor, fique comigo”.

Passou longos minutos repetindo tais frases, implorando a todos os deuses para que intervissem na decisão de Hinata e a fizessem mudar de ideia. Ele faria qualquer coisa, desde que a morena ficasse ao seu lado.

Ficou tanto tempo pensando nisso que não percebeu quando adormeceu. Foi despertado com um beijo na bochecha e um carinho nos cabelos.

— Acorde, Naruto-kun. Já são quase nove horas.

Ele abriu os olhos devagar, sorrindo. Imaginou que fosse um sonho, pois há tempos Hinata não o acordava daquele jeito, chamando-o para o café. Porém, até desejou que estivesse mesmo sonhando com a época que ainda era noivos, pois poderia beijá-la e imaginar um futuro com ela sem preocupações.

Naruto a puxou de volta para a cama, rindo quando ela deu um gritinho de susto.

— Só mais cinco minutinhos. — Escondeu-se no pescoço dela, perdendo-se em seu perfume.

— Seus cinco minutos demoram meia hora, Naruto-kun. — Ela ria, mas não se esforçava para sair de seus braços. — Já está tarde e você precisa tomar café.

— E se eu quiser passar o dia todo aqui com você?

Ela se afastou um pouco, procurando seus olhos. Naruto não identificou o brilho nas íris peroladas, mas seu coração se apertou ao perceber que não estava em um sonho.

— Se prometer se cuidar direitinho, eu prometo que passo o dia com você.

Naruto voltou a esconder o rosto no pescoço dela, confirmando devagar com a cabeça.

Hinata começava a se despedir...

 


Ela cumpriu o combinado e passou o dia ao lado dele, fazendo as refeições que mais gostavam e ainda compartilhando doces enquanto assistiam filmes na televisão. Mas conforme a teoria que aprendeu há poucos dias, Naruto notou o tempo passar rápido demais enquanto tentava aproveitar cada minuto daquele último dia com Hinata. Quando se deu conta, já tinha anoitecido e a moça já estava escovando os dentes e indo tomar banho antes de dormir.

O Uzumaki deu um suspiro cansado antes de bater na porta do banheiro e pedir para que ela fosse ao quarto, para que pudessem conversar. Andou lentamente até o cômodo, colocando o pijama e pegando uma mochila escondida no fundo do guarda-roupa, sentando com ela na ponta da cama, à espera de Hinata.

“Vim pra lhe encontrar, dizer que sinto muito
Você não sabe o quão amável você é
Tenho que lhe achar, dizer que preciso de você
E te dizer que eu escolhi você
Conte-me seus segredos, faça-me suas perguntas
Oh, vamos voltar pro começo
Correndo em círculos, perseguindo a cauda
Cabeças numa ciência à parte”

— Naruto-kun?

Tomou um susto quando ela apareceu. Perdera-se com seus próprios pensamentos, ansioso pelo que estava por vir. O coração bateu depressa, e ele lutou para não se acovardar. Pôs uma mão ao seu lado, pedindo para que ela sentasse ali. A moça o fez, curiosa com o objeto que ele segurava.

— O que é isso?

— Seu presente de aniversário.

Naruto virou o rosto por um instante, já imaginando o semblante surpreso e corado. Riu um pouco quando teve certeza que a imagem em sua mente era igual ao que seus olhos encaravam.

— M-Mas, N-Naruto-kun, e-eu...

— Por favor... — Ele depositou a pesada mochila no colo dela. — Não aceito “não” como resposta.

Hinata a pegou, concordando de leve. Girou o objeto lilás nas mãos, estranhando seu peso. Antes que fosse abri-lo, o loiro resolveu continuar:

— Eu não sabia o que lhe dar de presente — falou rouco. — Eu não quero que isso pareça uma despedida... odeio despedidas. Mas eu queria lhe dar algo para lembrar-se de mim de vez em quando. — Hesitou. — A mochila será útil, assim como o que tem dentro dela.

A curiosidade foi enfim saciada, dando lugar a um rosto chocado.

— Naruto-kun!

— Tem pouco mais de nove milhões de ienes aí dentro.¹ — O queixo da Hyuuga não podia cair mais. — Eu vendi o apartamento e juntei com o dinheiro que tínhamos economizado para o casamento. Deve bastar para a viagem e para você se manter por um bom tempo até se estabilizar. E... — A moça notou sua hesitação e ele respirou fundo, tentando controlar os próprios batimentos cardíacos. Abriu a gaveta do criado-mudo e tirou de lá uma caixinha que a fez arregalar os olhos mais uma vez. — Tem isso também. Não tive coragem de vender — confessou. — É seu, de qualquer forma. Deixei para que você decidisse o que fazer com ele. Pode vender por aí, trocar por uma noite de boa comida durante a viagem, ou até mesmo para subornar alguém. Deve valer uma pequena fortuna... vai ajudá-la.

Soltou a caixinha, contendo o antigo anel de noivado, sobre a mochila no colo dela, fazendo força para não a olhar mais.

— Apenas me prometa que vai ficar bem.

Hinata não foi tão vitoriosa quanto ele ao tentar esconder a voz chorosa.

— E-Eu vou ficar bem. P-Promessa.

Confirmou com a cabeça e levantou. Deitou do outro lado da cama, de costas para a garota.

— Boa noite, Hina.

“Ninguém disse que era fácil
É uma pena nós nos separarmos
Ninguém disse que era fácil
Ninguém jamais disse que seria tão difícil assim
Oh, me leve de volta ao começo”

Naruto não se corrigiu, e ela, no estado que estava, jamais pediria para ele fazê-lo. Enxugou o rosto no travesseiro e fechou os olhos com força. Ouviu uma movimentação na cama, mas não se virou para saber o que Hinata fazia. Só queria poder dormir de uma vez e esquecer que aquela poderia ser a última vez que veria a mulher mais doce, linda e gentil que conhecia...

Mas acordou no meio da madrugada com a porta rangendo e uma reclamação baixa de Hinata. Continuou a fingir que dormia, tentando controlar a respiração para que ela acreditasse em sua atuação. Segurou o lençol com tanta força que deixou a mão dormente.

— Adeus, Naruto-kun...

Foi a despedida que ele pediu para não terem.

E que partiu seu coração em tantos pedaços que ele duvidada que pudessem se juntar novamente um dia.

“Diga-me que me ama, volte e me assombre
Oh, e eu corro para o começo
Correndo em círculos, perseguindo nossas caudas
Voltando a ser como éramos”
(The Scientist – Coldplay)

 

~*~

 

Confirmou que não era vigiada antes de abrir a janela. Não evitou a chateação com a falta de segurança cercando sua irmã.

— Hana?

Ela dormia profundamente, largada na sua enorme cama. Hinata sorriu ao vê-la. Tão pequena... parecia um anjo. “Só parece” pensou com um sorriso bobo.

Andou até a cama devagar, temendo ser ouvida por qualquer outro habitante da casa. Deitou-se sob o lençol, sem conseguir acordar a caçula.

— Acorde, Hanabi — sussurrou.

Teve que mexer nela e sacudi-la um pouco antes que a menina despertasse. Ela abriu um sorriso ao vê-la.

— Nee-sama...

Em vez de se surpreender por encontrá-la ali, Hanabi se agarrou na irmã, se aconchegando em seus braços e planejando voltar a dormir.

— Acorde, dorminhoca! — Teve que segurar o riso com a manha da menina. — Precisamos conversar.

— Não pode ser de manhã?

— Não, não pode.

O tom sério a fez levantar o rosto do colo da mais velha. Hanabi franziu o cenho, enfim acordando de verdade.

— O que está fazendo aqui a essa hora? — A garotinha perguntou, sentando-se e olhando rapidamente para o relógio na parede, que marcava pouco mais de três da manhã. Hinata a acompanhou.

— Já disse: precisamos conversar.

— O que pode ser tão importante que não pode esperar amanhecer?

O tempo que Hinata demorou para responder foi o suficiente para que a outra avistasse a mochila abandonada próxima à janela.

— Está indo a algum lugar?

— Sim... — Hesitou. Não segurou a entonação triste. — Estou indo embora de Konoha.

Viu Hanabi engolir em seco, negando a verdade a si mesma.

— E volta quando? — O sorriso forçado só durou alguns segundos antes de Hinata negar com a cabeça.

— Não volto. Eu... eu vim me despedir.

— Por quê? — Hinata admirava sua irmã mais nova. Ela mesma já estava à beira das lágrimas, enquanto Hanabi apenas lutava para não perder a compostura. — Por que vai embora? Aconteceu alguma coisa? Naruto-kun lhe fez algo errado? Eu fiz algo errado?

— N-Não, Hana! Não é isso, eu... — Respirou fundo e agarrou as mãos da menina. — Eu pensei muito, e... é o melhor a fazer. Para todo mundo.

— Não é para mim!

— Shiu! Fale baixo! Não quero que nos escutem.

Os lábios infantis tremeram, indecisos se obedeciam ou não ao pedido.

— Escute sua irmã, ok? Você não fez nada. Naruto-kun não fez nada. Mas eu não posso ficar. Eu sou maior de idade agora. Se descobrirem que não há mais nenhum casamento...

— Não há mais nenhum casamento? — perguntou chocada. Hinata negou. — É só você ficar noiva de novo!

— Não é tão simples, Hanabi! Eu não poderia fazer isso.

— E por que não?

Soltou o ar que estava prendendo, nervosa. Piscou algumas vezes, deixando lágrimas teimosas saírem de uma vez.

— Ainda está com medo de te colocarem na liderança?

— Não é só isso, eu... venha aqui.

Puxou a menina para o colo, abraçando-a forte. Hanabi retribuiu, trêmula.

— Naruto-kun não é um homem de um sonho só, entende? Eu descobri, nesses meses que passei ao lado dele, que se tornar Hokage não é seu único objetivo. Descobri... — A voz ficou chorosa sem que se desse conta. — Descobri que Naruto-kun sonha com uma família... uma família grande e feliz! Algo que ele nunca teve, entende?

— Não. Basta você se casar com ele e tudo será resolvido, nee-sama! — insistiu, olhando firme para os olhos tão parecidos quanto os seus.

— Já disse que não é tão simples... você se lembra quando nos encontramos pela primeira vez depois que eu saí de casa? Lembra que pedi para que me visse com o Byakugan? — Hanabi confirmou. — Todo aquele dano resultou em algo ruim, Hana... eu não posso engravidar. Não posso dar a família que Naruto-kun deseja.

Os olhos brancos da aspirante à líder se arregalaram. Desviaram por um momento, escondendo o medo que agora sentia pela mulher que sempre vira como irmã e mãe.

— Não posso ficar, Hana. — A voz saiu embargada. — Não quero assumir seu sonho. Não quero iludir Naruto-kun...

— Mas você o ama. E ele te ama de verdade.

Aquelas palavras pegaram a irmã mais velha de surpresa. Não era a primeira vez que ouvia de outras pessoas que Naruto a amava.

— Naruto-kun nunca lhe disse isso? — Estranhou Hanabi. Hinata balançou a cabeça levemente, em negação. — Mas é tão óbvio! Naruto-kun nem consegue disfarçar!

Hinata negou mais uma vez, preferindo não pensar naquilo.

— Não tem mais importância, Hana. Só o amor...

— Não é só isso, não é? — Hanabi franziu o cenho. — Você poderia muito bem escolher Naruto-kun se o problema fosse apenas sua infertilidade. Tsunade-sama é uma das melhores médicas que esse mundo já viu. Você poderia esperar.

— Hana...

— Tem algo a ver com o meu envenenamento e de Naruto-kun?

Seus olhos arregalados foram o suficiente para sua esperta irmã.

— Papai me contou que Naruto-kun foi parar no hospital por envenenamento no mesmo período que eu descobri que meus chás estavam envenenados. Eu continuei fingindo que os tomava para Natsu-san, para descobrir quem estava por trás disso. Não tive grandes resultados até agora, mas papai está me ajudando. De qualquer forma... foi impossível não ligar um caso ao outro. Sabemos que tem alguém querendo atingir você.

Os olhos de Hinata voltaram a marejar, e ela escondeu o rosto, chorando nervosa.

— Eu pedi para que parasse de tomar aquele chá...

— E você nunca me disse o porquê! Eu não tinha como saber, nee-sama!

— Eu sei, desculpe. — Abraçou a menina com força, acariciando os macios fios castanhos. — Eu não tive coragem de acusar Natsu-san. Sei que não foi ela, mas...

— Mas como poderia ser outra pessoa, não é? — completou a mais nova, se afastando para encarar a outra. — Fique, Hinata. Me ajude a descobrir quem está por trás do meu envenenamento. Vamos desmascarar essa pessoa que está te amedrontando e fazendo você desistir dos seus sonhos!

— Hana...

— Uma vez você me disse que nunca mais ia desistir de sua felicidade por minha causa ou por qualquer outro Hyuuga, lembra-se? — Mais lágrimas afloraram nos olhos de Hinata ao recordar do dia que reencontrara a irmã pela primeira vez depois de sair do clã. — Mantenha sua palavra, nee-sama. Se for mesmo Natsu-san quem está ameaçando a vida de Naruto-kun e a minha, papai nos ajudará a colocá-la na cadeia. — Hanabi segurou firme suas mãos, obrigando-a a olhá-la. — Eu garanto a você, nee-sama: papai não ama somente a mim, mas a você também. Nós dois te ajudaremos a ficar.

Hinata a puxou novamente para seus braços, chorando no ombro da irmã mais nova. Às vezes era inacreditável como uma menina de doze anos poderia encorajá-la e lhe oferecer palavras de consolo melhor do que qualquer adulto. Beijou a cabeça dela, sabendo que aquela menina, tão escandalosa para o padrão Hyuuga, seria uma das melhores líderes que aquele clã já viu.

— Por favor... — sussurrou a menina em seu colo. — Não vá embora.

Não sabia como resistiu ao mesmo pedido feito por Naruto, mas quando Hanabi a encarou com as íris peroladas marejadas, Hinata teve certeza que, para aquele pedido, jamais poderia dizer não.

— Eu ficarei. — Decidiu, por fim. — Vamos prender aquele homem e realizar meus sonhos e os seus.

Hanabi estranhou, mas não tinha mais forças para fazer perguntas. Apenas confirmou com a cabeça e se acomodou de novo no colo da irmã.

— Qual é o seu sonho, nee-sama?

— Meu sonho?

A garotinha concordou, ansiosa pela resposta que já sabia há anos.

— Se eu pudesse...

— Você pode! Qual é o seu sonho?

Sorriu, voltando a afagar os cabelos macios da menina.

— Eu gostaria de ser a esposa de Naruto-kun. Viver ao lado dele para sempre. Fazê-lo feliz, como ele sempre me fez sem que soubesse.

— Sinto que esse sonho aumentou um pouquinho.

— É... — Riu junto com a irmã. — Gostaria de formar uma família com ele... e dar-lhe quantos filhos ele quiser!

— Parece um sonho que vale a pena. — Hanabi se afastou pela última vez, sorrindo amorosamente para a mais velha. — Eu já volto!

Hanabi pulou da cama e correu para o banheiro, para lavar o rosto choroso. Quando voltou, parecia a menina sapeca de sempre, apesar dos olhos ainda inchados. Hinata riu baixinho.

— Linda a mochila. — Hanabi apontou para o chão ao se deitar. — Foi Naruto-kun quem lhe deu?

Hinata confirmou com a cabeça, emocionada.

— Ele já te conhece bem demais, não é? — Outro aceno. — Que burrice seria largar um homem assim, tão bom quanto Naruto-kun! Ainda bem que você tem a mim, para lhe impedir de fazer besteiras... tenho que ensinar esse método a Naruto-kun também. Não posso ficar salvando sua vida para sempre.

— É verdade.

Sorriu em meio às lágrimas, decidindo fazer o mesmo que sua pequena e sábia irmã caçula: limpou o rosto no banheiro e deitou de volta, decidindo passar o restante de noite ali.

Hanabi dormiu primeiro, como esperado. Hinata ainda demorou a pegar no sono, absorvendo sua nova decisão.

Precisaria correr contra o tempo para provar que estava sendo ameaçada e que ainda desejava passar o resto da vida ao lado de Naruto.

 


Hinata chegou na cozinha na ponta dos pés, mas vacilou quando avistou o único habitante da casa que não gostaria de encontrar.

— Bom dia, Hinata. — Hiashi tomou um longo gole de café. — Dormiu bem?

Ela quase riu em deboche.

— Acho que é a primeira vez em anos que me dá bom dia. — Sentou à frente dele, se servindo. — A que devo a honra de sua presença, Hiashi-sama?

— Você fala igual ao seu noivo.

Controlou a língua. Hiashi não precisava saber que Naruto não era mais seu noivo há meses, concluiu. Então apenas o ignorou. Queria tomar rapidamente seu café e sair daquela casa o quanto antes! Mal havia amanhecido ainda. Talvez pudesse voltar ao apartamento antes que Naruto acordasse...

— Eu trouxe suas malas para dentro. Estão na sala de visita.

Engasgou com o pão.

— Eu não pretendo voltar — falou assim que se recuperou.

— Foi o que eu pensei. Por isso as deixei lá, e não em seu antigo quarto. Achei melhor trazê-las do que deixá-las ao relento. Não concorda?

A sensação que teve foi que engolia um sapo. Mal se lembrava das malas depois da conversa com Hanabi...

— Claro. Obrigada.

Fez menção de se levantar e correr dali. Preferia tomar café dali a algumas horas, ao lado de Naruto, do que na presença daquele homem que a fazia mal só de estar no mesmo ambiente que ele.

— Espere um pouco. Precisamos falar.

— Não — falou de pé. — Não precisamos, não.

Deu as costas ao homem. Ouviu ele se levantar depressa, e antes que saísse da cozinha, ouviu as mesmas palavras dolorosas de semanas atrás:

— Hinata, por favor... me perdoe...

A moça estancou na saída do cômodo, o coração acelerado.

“Não deixe seu orgulho falar mais alto que seu coração”. Parecia que Naruto estava ao seu lado naquele instante, pedindo-lhe para deixar o tão famoso orgulho dos Hyuuga de lado.

— Eu sei que errei com você... de novo. Mas o que Hanabi disse ontem é verdade, Hinata: ela não é a única filha que eu amo. Vocês duas são as coisas mais preciosas que tenho em minha vida.

— Ouviu nossa conversa? — perguntou chocada, virando-se no mesmo instante.

— Sim, ouvi. Fui eu quem deixou a janela de Hanabi aberta para você. Imaginei que iria tomar alguma atitude radical em seu aniversário. — Ele suspirou. — Você é como sua mãe, Hinata: são de natureza pacífica. Preferem fugir do que lutar...

Ela teve vontade de rebater, mas pensou duas vezes, afinal, realmente cedeu a uma chantagem sem revidar.

— Naomi demorou meses para me contar que estava doente, sabia? — Ele desviou o rosto, perdendo-se em tristes lembranças. — Ela disse que não queria me incomodar, que eu já tinha trabalho suficiente para ter mais um. Mas se ela tivesse me contado antes... talvez tivéssemos tempo de curá-la...

— Vovô disse...

— Eu sei o que ele disse para você e sua irmã — interrompeu calmamente. — Ele nunca gostou de mim e eu não o culpo. Eu praticamente arruinei a vida de vocês três...

Os lábios dela tremeram. Hiashi nunca falara sobre sua mãe antes.

— O que quero dizer... — retomou, voltando a olhá-la. — É que não vou perder você também por ter medo de me contar qualquer coisa. Eu moverei céus e terras, Hinata, mas não deixarei que saia de Konoha contra sua própria vontade. Sei que ama o menino Uzumaki e eu farei o que estiver ao meu alcance para que fique ao lado dele e seja feliz.

Os olhos perolados da garota marejaram.

— Eu só preciso de um nome, Hinata. Um nome e eu juro a você: nada mais a impedirá de realizar seus sonhos. Eu não vou deixar.

Ela fechou os olhos com força, tentando impedir as lágrimas. Respirou fundo antes olhar firmemente para o homem que ainda poderia perdoar e voltar a chamar de pai.

— Koji — disse decidida. — Hyuuga Koji.

 


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!


Notas finais do capítulo

1 - 1 Iene é aproximadamente 3 centavos. Ou 1 Real é aproximadamente 31,5 Ienes. 9 milhões de Ienes são, aproximadamente, 270 mil reais.

E aí? Alguém esperava essa? ^^" Acho que todo mundo já tava agoniado esperando que Hinata falasse algo, não é? ^^" Por favor, não matem a menina, rs. Sei que muitos esperavam que o Naruto fosse o salvador da pátria (afinal, o nome da história é dele, rs), mas eu quis mudar um pouco... quis redimir (não sei se consegui ^^") a família que tanto machucou a Hina. Hanabi acho que já estava perdoada por aqui, já que é uma criança que foi influenciada pelo pai. Agora Hiashi... acho que ainda não, não é? ^^" Vamos aguardar mais episódios dessa novela. xD
Quero agradecer, do fundo de meu coração, pelos 174 acompanhamentos e 57 favoritos! ♥ Quero agradecer também a callalily, NHsol e Tulip OHare pelos comentários no capítulo anterior! ♥ Muito obrigada pelo apoio, de coração! ♥

Para quem tiver interesse, a pasta no Pinterest da fic foi atualizada (somente com as capas de alguns capítulos, por enquanto). O link: https://br.pinterest.com/isisbrito8/meu-eu-depois-dela-fnh/

Muito obrigada pelo carinho e apoio, leitores! Se eu esqueci de alguma coisa, por favor, me avisem. ^^"
Um abração! Até semana que vem! =* ♥



Hey! Que tal deixar um comentário na história?
Por não receberem novos comentários em suas histórias, muitos autores desanimam e param de postar. Não deixe a história "Meu Eu Depois Dela" morrer!
Para comentar e incentivar o autor, cadastre-se ou entre em sua conta.