Sentia-me como as ondas do mar, que iam lentamente sendo levadas até se quebrarem perto da areia. A brisa do vento ecoava por todo meu corpo, fazendo esquecer tudo. Focava apenas nas memórias com meu pai.

O som da copa da árvore sendo chacoalhada, faz-me acordar daquele momento de lembranças e uma paz interior equilibrada. 

Fecho os olhos. Em seguida abro novamente ao respirar profundamente. Não tinha certeza se o que tinha feito foi o correto, mas era o que sentia e precisava botar aquilo para fora. 

Nesse momento vem meu pai em minha cabeça, colocando suas mãos em meus ombros após brincarmos a tarde toda no balanço, em seguida levando-me embora para casa. Minha mãe com a janta pronta em cima da mesa, e Theo ainda criança com seu video game portátil em mãos. Sentia tanta falta daquilo tudo, nem era possível explicar... 

Posso afirmar que conheci o amor. Carter me mostrou coisas que nunca havia sentido antes, fez-me sentir bem comigo mesmo sem importar com nada nem ninguém. Também afirmo que conheci uma amizade inigualável. Melissa foi a primeira com quem falei quando ingressei no ensino médio, meu medo desvaneceu completamente com suas palavras angelicais. Fora todas aquelas outras pessoas... 

Agora precisava de um tempo só meu, precisava ficar ali sem pensar em mais nada que poderia vir a acontecer...   

Foi quando de repente recebi aquela maldita ligação. Desbloqueei meu celular, haviam tantas mensagens de Elizabeth e Theo, estavam preocupados, tanto a ponto de meu irmão abandonar a faculdade para vir me ver, ou no caso me procurar. Meu maior arrependimento foi ter atendido... 

— Alô? Dylan? 

— Adan, eu sei onde você está. Melissa me contou sobre o campo. 

— Que seja. O que foi? - ele parecia receoso. 

— Sei mais que ninguém que você está mal, acredite sei muito bem... 

— Não precisa se preocupar se for só isso que vai falar. 

— Sua mãe e seu irmão chagaram aqui em casa algum tempo atrás Adan. Se falar que não estão preocupados, estaria mentindo. 

— Dylan eu gosto muito de você, só que não estou legal. Sei que estão preocupados, mas se for só isso vou desligar... - preparo para encerrar a ligação. 

— ESPERE! - estava aflito. - É sobre seu pai. 

Deixo o celular cair no chão. Meu corpo gela, meu coração palpita. Quando vejo já estava correndo, sem me tocar que já era noite. Havia ficado muito tempo refletindo em meio a brisa e as folhas da árvore, que me pedi completamente. 

Corro desesperadamente, não sabia ao certo o por quê, mas tinha toda a certeza que não era algo bom. Todo aquele ódio que sentia de Carter e Melissa, parou por um instante. 

Chego a casa de Dylan em poucos minutos. O carro de Elizabeth e a moto do meu irmão estavam parados em frente ao portão. Entro como um vulto, todos se assustam ao me ver. 

O clima estava mais pesado do que nunca. Elizabeth e Theo choravam sem parar. A senhorita Miller entregou-me uma carta um tanto quanto amassada e suja. Era de um soldado amigo de nossa família. O Sr. Bellamy Louis. Se soubesse, escolheria não ler aquilo... 

"Olá família Blake, faz muito tempo desde a última vez que jantei em sua residência não? Estava evitando enviar essa carta, mas assim é melhor. O assunto é delicado, ou melhor, é devastador. 

Devem ter notado que o Sr. Blake não escreve a algum tempo. Meses atrás ele foi baleado em combate, os paramédicos estavam cuidando dele, sua recuperação era inacreditável, um homem forte e cheio de raça. Semanas atrás tudo isso mudou. Sua situação piorou lamentavelmente, além de que fomos bombardeados de surpresa e isso o afetou ainda mais. 

Não consigo mais enrolar para dizer a vocês, sinto-me culpado fazendo isso. Sinto muito, mas o Sr. Blake faleceu tempos atrás."

De: B. Louis

Para: Família Blake

Não conseguia falar, muito menos me mover. Dylan abraçou-me chorando também, assim que terminei a leitura. Consegui levantar os braços em um momento de reflexo e contribuir o abraço, até minha cabeça inclinar-se sob o ombro dele, e então desabei. 

Não conseguia conter minha berros de dor e sofrimento, o abraço se tornou um aconchego para minha tensão. Meu pai, a pessoa que mais amava e mais sentia falta, estava morto. Eu era o que sempre tinha fé que ele iria voltar, todas as vezes acalmava Elizabeth em relação a isso. Agora ele não ia mais estar conosco. Nunca mais... 

Ajoelhei-me no chão chorando desesperadamente. Em seguida Theo abaixou-se ao meu lado e me abraçou também. Era a primeira vez em tempos que via meu irmão chorando. 

Tudo o mundo desmoronou para mim. Todo feixe de luz em meio a escuridão se extinguiu. Toda esperança agora havia morrido. O sentimento do passado não tinha voltado, era engano meu. Dessa vez era algo sem comparação. 

— PAPAAAAAAI! - gritava feito louco. Soluçando em meio as lágrimas. 

Dylan mais uma vez me abraçou e tentou me acalmar. Mesmo sendo como um irmãozinho para mim, não consegui dar a devida atenção a ele. Só queria e precisava do meu pai, só que nunca mais poderia vê-lo. 

Srta. Miller tentava acalmar minha mãe com um copo de aguá com açucar. Dessa vez fechar os olhos não adiantou, nada mudou. Fiquei encolhido no chão por horas e horas, derrubando as minhas lágrimas sem para um minuto. Nunca senti tanta dor quando aquele dia. Diziam que a dor passava, mas dessa vez eu tinha a absoluta certeza de que não iria. 

— PAPAAAAI! - mais uma vez. 

— Maninho, ele estará sempre com a gente. - Theo acariciava meus cabelos tentando me acalmar, mas ele estava quase do mesmo estado que eu. 

Tudo aconteceu de uma vez... O acidente, a traição, a morte... A morte... Havia morrido por dentro, mas ninguém tinha percebido... 

As vezes a tristeza invadia o coração e depois ia embora. Dessa vez ela veio para ficar... PRA SEMPRE.

Sentia que Elizabeth queria estar ao meu lado, mas ela mal conseguia se expressar. Talvez ela tivesse ficado maluca com a notícia, ou talvez só estivesse processando para depois poder seguir em frente cuidando de dois filhos sozinhas... Sozinhos... Todos acabam assim no final. 

Levantei-me de repente. Dylan caiu sentado no chão, ela ainda me abraçava até então. Andei lentamente até a porta da casa dos Miller. Olhei para o céu que brilhava em um estalar azul royal. Uma última lágrimas escorreu, então por fim consegui falar... 

"Adeus papai..."