A primeira vez que fui a um baile, fiquei deslumbrada no meio daquele turbilhão de cavalheiros e damas, que girava em torno de mim sob uma atmosfera de luz, de música, de perfume.

Cinco Minutos – José de Alencar

Lily estava estudando Poções sozinha no Salão Comunal quando Sirius foi falar com ela.

—Lily, posso interromper? – disse ele sentando ao seu lado

—Pode, eu precisava parar um pouco.

—Quero perguntar uma coisa. – começou ele

—O quê?

—Com quem a Rach vai ao baile?

—Por que está perguntando isso?

—Eu só queria saber. – ele respondeu

—Por quê?

—Porque... eu só queria me preparar para vê-la com outro cara.

Lily não comentou nada sobre o significado da última frase.

—Sirius, - disse ela com cuidado – Rach não vai com ninguém.

—Como assim? Ela disse que não podia ir comigo, achei que alguém já a tivesse convidado antes.

—Não foi bem isso.

—Ela prefere ir sozinha a ir comigo?

—Sirius, calma. – ela colocou a mão sobre o braço dele – Rach estava chateada com algumas coisas e decidiu ir sozinha. Ela teve as razões dela pra isso, e não eram ruins.

—Eu não entendo.

—Eu não posso dizer quais eram, só ela pode.

—E me deixe adivinhar: agora não é uma boa hora para perguntar.

—Com os NIEMs começando amanhã? Não. – respondeu ela – Agora eu preciso fazer uma pergunta: por que você a convidou? Ela não é como nenhuma das outras com quem você costumava sair.

—Eu sei que ela não é. Era isso que ela estava pensando?

—Talvez tenha passado pela cabeça dela, não acho que ela pense isso agora. Mas ela acha que você tem um par.

—Ela acha?

—A uma semana do baile Sirius Black sozinho? – fez Lily

Sirius suspirou

—Eu vou mostrar a ela. – disse ele se levantando

—Sirius, só pense bem. Não quero vê-la se machucar.

—Eu entendo porque você e Remus pensem isso, mas eu realmente gosto dela.

Lily sorriu.

—Eu acredito em você. Boa sorte.

Sirius também sorriu e voltou para o dormitório masculino.

... ... ... ... ... ... ... ... 

As provas dos NIEMs foram longas e pesadas. Os setimanistas estudaram muito e dormiram pouco. Parecia que a semana não acabaria nunca. Quando a última prova, prática de Poções, passou, parecia até mentira que havia acabado. O sétimo ano tinha acabado! Faltava pouco para se despedir do castelo.

No sábado, no meio da tarde, as meninas subiram para começar a se arrumar para o baile.

—Já? – fez Sirius indignado – Faltam quatro horas ainda!

Bela ia tentar explicar que unhas, cabelos, maquiagens e vestidos demoravam, Alex, contudo, a poupou do trabalho.

—Bela, você realmente acha que um portador do cromossomo Y vai entender isso?

—Tem razão, não.

Uma vez todas lá em cima, Rach insistiu em pegar o último turno no chuveiro. Afinal, se atrasasse, não deixaria ninguém esperando. Ao sair do banheiro já vestida, deparou-se com a cena do dormitório: Lily terminava de enrolar as pontas do cabelo com a varinha, Alice fazia um coque deixando parte do cabelo solta, Alex calçava uma sandália prateada e Bela ainda se maquiava.

—Uau. – fez Alex ao levantar o rosto para Rach

—Isso foi um 'uau' bom ou ruim? – perguntou Rach insegura

—Existe um 'uau' ruim? – perguntou Alex ajeitando seu vestido azul marinho em frente ao espelho.

—Está linda, Rach. – elogiou Alice

—E vai ficar melhor depois que eu terminar. – avisou Bela

... ... ... ... ... ... ... ...

—Wormtail! – Sirius batia à porta do banheiro – Morreu afogado aí dentro?

—Padfoot, você reparou que até Peter tem um par para o baile? – provocou James

—Reparei, Prongs. Só que é a sua namorada que vai ficar sem par também se você não parar com as gracinhas.

James apenas riu e foi colocar os sapatos.

—Wormtail! – fez Sirius novamente

... ... ... ... ... ... ... ...

—Bom, eu já estou pronta. – anunciou Lily em seu vestido de um verde quase escuro – Já são sete e dez, vou descer para encontrar James.

—Vou com você. – disse Alice – Também já estou atrasada.

Pouco depois, Alex também saiu.

—E sobraram aqui só as encalhadas... - comentou Bela enquanto passava blush em Rach

—A única encalhada sou eu, Bela. Você vai com Remus.

—É, mas ele é só um amigo.

—Você vai encontrar seu príncipe encantado, Bela.

—Ah, eu sei que vou, não tenho pressa. Agora não se mexa que eu vou passar o delineador.

O vestido da Rachel era tomara-que-caia com a parte de cima tendo o tecido franzido para o lado, a saia ia armando conforme descia da cintura até o chão. O tafetá rosa com uma gota de lilás escondia os passos hesitantes da moça quando ela entrou no Salão Principal.

—Respira. – Bela sussurrou para ela

Só então Rach pareceu se lembrar de como fazer isso. Ela passou os olhos pelo lugar e avistou Sirius conversando com uma corvinal. Três quilos de chumbo foram jogados em seu estômago.

—Vocês demoraram. – falou Alex a uma mesa

—Eu disse que nós deveríamos ter ido nos arrumar mais cedo. – falou Bela

—É verdade, você avisou. – Alex riu

—Penúltima noite como monitores... – falou Gustavo para ela e Remus

—Verdade! – disse Alex - Preciso aproveitar. Em pouco mais de vinte e quatro horas não vou poder mais dar detenções. Remus, você sabe se terei alguma oportunidade disso com os Marotos hoje?

—Não que eu saiba. – ele riu

—Ah, que pena...

—O que vocês ainda estão fazendo aqui? – disse Alice chegando com Lily – vem, vamos dançar.

Alex e Bela levantaram, Rach porém não se mexeu.

—O quê? Rach você não vai ficar aqui parada. – Lily começou a puxá-la

—Eu não sei dançar. – falou ela resistindo aos esforços da ruiva

—É só acompanhar a gente, vem!

Quando chegaram à rodinha que as outras tinham formado, Alex falou:

—Rach! Bom trabalho, Lily.

—Obrigada. – disse ela sorrindo

Sentindo-se muito desajeitada, Rach tentou imitar os passos das amigas. Levantou os braços e pulou com elas, divertindo-se como não achou que conseguiria. Sirius viu a risada dela do outro lado do salão e achou melhor por enquanto observá-la de longe.

James, Frank, Gustavo e Remus logo apareceram para se juntarem a elas.

—Bom trabalho, comissão. – elogiou Frank – As música estão ótimas.

—Obrigada. – falou James

Um tempo depois, Rach se afastou para beber alguma coisa. Aproveitou e saiu discretamente. No centro dos Jardins, estava a fonte que tinha sido motivo de tanta deliberação na Comissão de Formatura. Foi para lá que seguiu. O ar da noite estava mais fresco que dentro do castelo, o que era um alívio após uma hora dançando. Rach observou a água caindo em pequenas cascatas até fechar os olhos para apreciar o som.

—Será que uma pessoa sem um par oficial para o baile pode fazer companhia a outra que também não tem? – perguntou uma voz atrás dela

Rach abriu os olhos de repente com o coração disparado e virou-se para ele.

—Sirius. – disse ela surpresa – Você não tem um par?

—Não, - ele se aproximou dela – a única pessoa que convidei não pôde vir comigo. Ouvi dizer que ela acabou vindo sozinha.

—Talvez ela achasse que não seria nem sua última escolha...

—Ela era minha única escolha.

Rachel demorou um momento para conseguir falar de novo.

—Sirius, desculpe. Não era minha intenção ofender você.

—Nunca achei que fosse. – respondeu ele – Lily disse que você teve suas razões, eu acredito nela. Será que você podia me dizer quais foram?

—Não sei se estou pronta pra isso ainda. – ela abaixou a cabeça

—Tudo bem...

Ele se aproximou mais.

—Você é bonita normalmente, mas está deslumbrante hoje. – Sirius colocou uma parte do cabelo dela atrás da orelha e começou a brincar com ele

Rach queria dar um passo atrás, porém seu sapato encontrou o degrau da pequena escada que subia para a fonte. Não tendo mais para onde fugir, ela subiu o degrau, ficando ainda um dedo mais baixa do que o rapaz.

—Por favor, não faz isso. – pediu ela fechando os olhos por um instante

—Por quê? – ele perguntou sem entender

—Porque me faz bem e me machuca ao mesmo tempo...

Ela respirou fundo e olhou para ele com a coragem que não achou que fosse ter.

—Você quer saber porque não vim com você? – disse ela – Porque se você estivesse me convidando como sua amiga... já estava sendo tão difícil estar perto de você nas últimas semanas com tantos sentimentos dentro de mim...

—Não era como amiga. – falou ele

—E se não fosse, - continuou ela – seria ainda mais difícil.

—Por quê? – ele avançou um passo

—Eu não sou como elas. – falou Rach – não sou bonita, chamativa ou extrovertida como nenhuma das garotas com quem você já saiu. Se você se cansa delas tão rápido, comigo seria ainda mais rápido.

—Você não é bonita como elas, Rach, - disse ele – você é muito mais. Seu rosto é invariavelmente sincero sem nunca ser rude. Você é doce, é tímida e tem... tantos outros detalhes que são encantadores... Perto de você não vejo o tempo passar, na verdade, eu sempre tenho a impressão de que passa rápido demais. Como eu poderia me cansar de você?

—Mas elas...

—Eu nunca senti nada por nenhuma delas e hoje não me orgulho disso, eu percebo quanto tempo joguei fora. Queria ter me apaixonado por você mais cedo... Só não me fala que eu cheguei tarde demais, diz que eu posso ter esperança. – pediu ele

—Esperança, não. – ela respondeu, e a expressão que viu nos olhos dele a fez acrescentar logo – Esperança indica a possibilidade de algo acontecer, não se usa para algo que já existe...

Sirius ficou ainda mais perto dela.

—Eu me sinto tão bem com você, – ela continuou – mesmo que eu me sinta boba e não consiga pensar direito. E nas vezes que fugi de você... cada vez que eu saía de um lugar porque sabia que você ia aparecer, tinha de fazer um esforço, porque eu queria tanto ver você e falar com você...

Sirius passou as costas da mão pela bochecha dela e segurou seu rosto.

—Por favor, não foge agora. – ele sussurrou antes de beijá-la

Com a testa encostada na dela, ele segurou sua mão e percebeu que ela tremia.

—Eu amo você. – ele murmurou

Rach afastou um pouco o rosto para poder olhá-lo.

—Não precisa falar nada. – ele continuou – A última coisa que eu quero é pressionar você. Só queria que soubesse.

Rach sorriu abaixando a cabeça novamente.

—Quando você vai sorrir olhando pra mim? – disse ele rindo de leve, inclinando a cabeça para encontrar os olhos dela e a beijou novamente

—Dança comigo. – ele pediu, e ao ver a expressão dela, acrescentou – Vai ser mais fácil do que quando Lily te puxou para o meio do salão.

—Ai, você viu aquilo. – fez ela fechando os olhos

—Eu guio você. Vem?

Rach aceitou a mão que ele estendia, e Sirius correu puxando-a de volta ao Salão Principal.

O novo casal de Hogwarts atraiu olhares ao passar entre os outros casais que dançavam. Estavam já na segunda música lenta quando Sirius perguntou:

—Você ficaria muito sem graça se eu a beijasse na frente de todo mundo?

—Sim... mas acho que eu posso superar... - ela respondeu sorrindo e olhando diretamente para ele – Também amo você.

Sirius também sorriu e se aproximou mais...

De um canto do Salão, Lily assistia feliz a essa cena. James chegou passando o braço pela cintura dela.

—Acho que merecemos parabéns... – disse ele – O baile está sendo um sucesso.

—Parabéns, senhor Potter.

—Parabéns, senhorita Evans.

—James, vai até o Lago comigo? Tem algo que quero te mostrar.

—Claro. – respondeu ele oferecendo o braço a ela

Uma vez chegando lá, ele perguntou:

—Vai sentir saudade da Lula Gigante?

—Como assim?

—Você disse que preferia sair com ela a sair comigo...

Lily riu da lembrança.

—Muita coisa mudou. – foi a resposta dela

—E o que queria me mostrar?

—Antes... Look at the sky, tell me what do you see. Just close your eyes (Olhe para o céu, diga-me o que vê. Apenas feche os olhos) – ela cobriu os olhos dele com as mãos tomando o cuidado de não encostar nas lentes dos óculos - and describe it to me. (E o descreva para mim)

James sorriu.

—É de noite, não há nuvens. O céu está forrado de estrelas e constelações. Mas – James tirou as mãos dela de seus olhos – nenhuma delas brilha mais do que você. A beleza e a personalidade tiveram em você um molde seu, próprio e original.

—Era essa a história sobre estrelas que não quis me contar no dia no Sarau?

—Era. – ele confirmou

Lily também sorriu. Abraçada a ele, sussurrou a continuação dos versos que estavam gravados em sua caixa de pintura.

—Here in the dark our two hearts are one. And love just took me by surprise looking through your eyes. (Aqui na escuridão nossos corações são um. O amor me pegou de surpresa olhando nos seus olhos).

James passou a mão pelo rosto dela.

—Agora, - disse Lily tirando um pergaminho enrolado de dentro de sua bolsa – queria dar isso de presente a você.

O rapaz ficou sem fala ao ver o que havia ali. Era um desenho seu, que mostrava seu rosto e seus ombros.

—Fiz com carvão e grafite na calada da noite. – dramatizou ela

—Lily... isso é... ficou incrível! Muito obrigado. – ele a beijou

—Que bom que gostou.

—Sei que geralmente se usa esse atributo a cantoras e atrizes notáveis, mas vou tomar a liberdade de usar para uma pintora notável.

—Qual tributo? – perguntou ela curiosa

—Diva.