Diva escrita por Palas Silvermist


Capítulo 14
Capítulo 14 - Sarau




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No domingo, Bela foi a última a levantar da cama. Sua garganta parecia bem pior do que na noite anterior, e ela só teve uma noção melhor da extensão da situação quando tentou dar bom dia a Alice... e a voz não saiu. Isso não podia estar acontecendo. O Sarau!

—Bela, você está bem? – Alice perguntou ao ver a amiga agitada

Bela fez um esforço enorme para tentar falar, porém Alice só entendeu pelo movimento dos lábios dela: "Rach".

—Rach já desceu para tomar café.

Bela se agitou para ir atrás da amiga e estava quase saindo do dormitório quando Alice aconselhou:

—Passa na Madame Pomfrey antes.

—Madame Pomfrey? – fez ela só com os lábios e pareceu surgir nela uma nova esperança antes de descer a escada

Rach estranhou a ausência de Bela no café da manhã. Do jeito que ela estava animada para aquele dia, era de se esperar que estivesse de pé antes de todo mundo. Por isso, a garota de cabelo pouco mais comprido que um chanel subiu de volta à Torre da Grifinória para ver o que tinha acontecido. Encontrou a amiga no Salão Comunal em uma mesa próxima à janela remexendo em vários papeis.

—Bela?

—Rach, - ela respondeu com a voz muito rouca – tenho uma má notícia para você.

—Sua voz. – fez Rach preocupada

—Pois é. Eu fui até a Ala Hospitalar, e esse é o melhor que Madame Pomfrey pode deixar minha voz agora. Pelo menos não estou tossindo.

—Mas o Sarau...

—Essa é a má notícia: você vai ter de apresentar o Sarau.

—Eu? – Rach arregalou os olhos em pânico – Bela, eu não posso!

—Tem de ser você. Está muito em cima da hora para pedir para qualquer outra pessoa.

—Bela, eu não posso. Eu vou travar.

—Eu sinto muito, Rach. – disse ela sinceramente – Mas não tem mais ninguém organizando isso. – ela olhou no relógio – Droga, tenho de ir para nosso trabalho de Poções. Te vejo depois. Desculpa mesmo.

Rach balançou a cabeça.

—Você não tem culpa.

Um tempo depois, Sirius desceu do dormitório e encontrou Rach em um sofá mexendo nos papeis que Bela estava mexendo antes.

—Bom dia, Rach. – ele sentou ao lado dela

—Oi, Sirius. – cumprimentou ela desanimada – Você não devia estar na Mostra?

—Peguei o segundo turno da manhã, deu para dormir um pouco mais. E você?

—Eu...? – ela revirava os pergaminhos a esmo – Eu não sei o que eu vou fazer.

—Por que, o que aconteceu?

Rach levantou a cabeça, mas olhou para frente em vez de olhar para ele.

—Bela está rouca e não pode apresentar o Sarau. Então eu vou ter de fazer isso.

—Você vai se sair bem.

—Não vou, não. – ela voltou a remexer nos papeis – Eu nunca consegui nem apresentar trabalhos em grupo para uma sala de vinte alunos, o que dirá isso. E está muito em cima da hora para convidar alguém para apresentar. Eu vou estragar tudo. – completou ela angustiada

—Ei... - ele começou a brincar com o cabelo dela – Você não vai estragar tudo.

Rach balançou a cabeça desesperançada olhando para baixo.

—E se eu apresentasse?

Rach virou para ele, e a mão dele sem querer encostou em seu rosto.

—Você faria isso? – perguntou ela surpresa

—Claro. – ele respondeu – Eu não me importo de subir em palcos. Eu estava em um teatro ontem, lembra? É verdade que eu esqueci uma fala... - ele olhou para o alto – mas imagino que posso consultar a ordem das apresentações...

—Pode, claro que pode. – disse ela depressa – Sirius... tem certeza de que quer fazer isso?

—Se você e Bela concordarem...

—Eu vou falar com ela, mas acho que ela não se importa. – Rach parou de falar por um momento conseguindo respirar de novo. – Obrigada. Eu não sei como agradecer.

—Um sorriso seria o suficiente. – disse ele

Espontaneamente, Rach sorriu de seu jeito de sempre: abaixando o rosto.

—Eu quis dizer um sorriso que eu conseguisse ver. – fez ele bem humorado inclinando a cabeça para tentar encontrar os olhos dela

Gentilmente, Sirius levantou o queixo dela.

—Assim está melhor. – ele também sorriu

—Obrigada. – ela repetiu

Rach nunca tinha ficado tão perto dele quanto naquele momento. A curta distância não parecia estar fazendo bem a ela. Seu coração estava disparado, e ela tinha certeza de que estava corando.

—Eu preciso encontrar Bela. – disse ela levantando – Até depois.

—Até depois. – ele respondeu

... ... ... ... ... ... ... ... ...

A Feira de Profissões era certamente a parte da Mostra mais cheia naquela manhã. Para os alunos do sexto e sétimo anos não fazia tanta diferença, porém para os de quinto ano para baixo era alvo de grande interesse.

Alex e Gustavo deram uma rápida passada por lá já que eram os monitores responsáveis pelo projeto. Após verificar com os alunos organizadores que não havia nenhum problema, os dois ficaram um tempo conversando com as duas moças que estavam ali para falar sobre Jornalismo. Ana White e Maia Swan ficaram contando histórias do início de suas carreiras e das bobagens que fizeram nos começos dos estágios.

—Vocês pretendem fazer Jornalismo? – Maia perguntou

—Não. Direito Mágico. – disse Alex

—E você? – Maia dirigiu-se a Gustavo

—Curandeiro. – ele respondeu

—Bom, não se animem muito. – disse Ana fazendo graça – Não importa a carreira, no início sempre há bobagens.

—Muito inspirador, Ana. – disse Maia.

... ... ... ... ... ... ... ... ...

Em outra sala do primeiro andar, Sirius chegou para seu turno no projeto de Transfiguração Humana.

—Sirius, sua vez de enfiar a cabeça do tanque de água. – avisou Alice

—O quê?

—Transfiguração Humana, guelras, respirar embaixo da água, tanque. – ela associou as palavras – Por que você acha que nos demos ao trabalho de colocar um tanque aqui?

—Para jogar algum primeiranista que por acaso fizesse perguntas demais? – respondeu ele esperançoso

—Só que não. – fez Alice

—Por que eu?

—Você é o cavalheiro aqui, não?

—Vocês garotas gostam de se lembrar disso nos horários mais convenientes, não?

—Sorry. – disse ela sorridente – Lá vem mais um grupo.

—Que seja. – ele acabou concordando

... ... ... ... ... ... ... ... ...

Apenas no almoço todos os setimanistas da Grifinória se encontraram de novo.

—Sirius, muito obrigada. – falou Bela sentando ao lado dele

—Por nada. – ele respondeu – Você está bem rouca mesmo, não?

—Está melhor agora depois de uma poção de Madame Pomfrey. Quando acordei não saía som nenhum. – comentou ela fazendo esforço – Que horas você está livre hoje para eu te passar tudo do Sarau?

—Depois do meio da tarde estou tranquilo.

—Ótimo. Encontro você no Salão Comunal, então.

Naquela hora, Lily chegou radiante com Rach.

—Bela, sabe aquelas poções que nós fizemos para o nosso trabalho?

—Aquelas que demoraram dois meses para ficarem prontas?

—Essas mesmas. – concordou Rach também muito feliz

—Slughorn acabou de aprová-las para irem para a Ala Hospitalar!

—Sério? – fez Bela espantada

—Sim!

E as três se abraçaram rindo.

... ... ... ... ... ... ... ... ...

No fim da tarde, Bela e Sirius já conversavam em frente à lareira apagada do Salão Comunal quando Rachel chegou.

—Desculpa, - disse ela sentando – estou muito atrasada?

—Não. – Bela respondeu – Eu acabei de passar como vai ser a logística. Agora, Sirius, antes de as apresentações começarem, nós pensamos em fazer uma introdução explicando de onde vem o Sarau. Quer explicar a ele, Rach?

—Claro. – disse ela – Sarau era um evento cultural muito comum no século XIX geralmente realizado em casas particulares. Ali as pessoas se encontravam para...

—... se manifestarem artisticamente. – falava Sirius para todos que estavam reunidos em frente ao palco mais uma vez aquela noite – Para dar início a este Sarau, quero chamar ao palco uma grifinória do sétimo ano que irá declamar o poema Motivo de Cecília Meireles. Lily Evans.

Antes de sair das coxias, a garota fez um aceno com a varinha e a música Greensleves tocada por uma flauta de madeira começou a ser ouvida.

—Eu canto porque o instante existe

e a minha vida está completa.

Não sou alegre nem triste,

sou poeta.

Por mais simples que fosse a apresentação, Lily manteve a atenção de todos. Sua voz era alta e clara. As pessoas sentadas na primeira fileira podiam ver seus olhos brilharem enquanto ela pensava no significado das palavras que pronunciava e as aplicava a si mesma e seus quadros. Havia algo de apaixonante em sua voz.

—[...] Sei que canto. E a canção é tudo.

Tem sangue eterno e a asa ritmada.

E um dia sei que estarei mudo

mais nada.

Lily agradeceu os aplausos com um sorriso e uma reverência.

—Realmente encantador, Lily. – disse Sirius de volta ao palco. Para nossa próxima apresentação...

Já no meio do Sarau, James entrou com um violão.

—Minha voz não é das melhores, - disse ele – mas espero que gostem da música mesmo assim.

Ele começou a dedilhar as cordas e precisou de uma segunda tentativa para acertar a harmonia.

I found you in the most unlikely way

But really it was you who found me

(Eu encontrei você da forma mais incomum

Mas na verdade foi você que me encontrou)

Seus olhos encontraram os de Lily nesses dois primeiros versos, e ela sorriu. Esse trecho cantado por ele fazia muito sentido entre os dois. Eles haviam se conhecido com Lily batendo nele com força ao virar um corredor com pressa no primeiro ano, fazendo-os cair no chão.

Essa lembrança tinha quase sete anos. Parecia tanto tempo atrás, quase uma outra vida. Naquele dia, Lily tinha todas as expectativas do mundo por entrar em uma outra realidade completamente diferente do que vivera até então. Magia era real. Apesar de algumas coisas estranhas que já tinham acontecido com ela, parecia inacreditável.

—And I watch as the cold winter melts into spring

(E eu vejo como o frio inverno se derrete na primavera)

E aquele menino de cabelos arrepiados e óculos redondos que ela tinha acabado de encontrar? Ele poderia ter sido apenas mais um entre tantos a quem ela seria apresentada naquelas primeiras semanas. Nem de longe foi o que aconteceu.

—Oh and I'll smell the flowers and hear the birds sing

(Oh, e eu sinto o perfume das flores e ouço os pássaros cantarem)

No primeiro ano, ele era um dos melhores alunos, que parecia aprender qualquer coisa facilmente. Conforme os anos foram se passando, embora continuasse com notas excelentes, passou a ser mais conhecido pelas peças que pregava e pelos fabulosos jogos de Quadribol.

Até que a idade dos namorinhos começou, e, para a infelicidade de Lily, ela se tornou o alvo de James. Nessa época, eles já discutiam frequentemente por diversos assuntos, e esse súbito interesse de James pareceu à ruiva muito improvável. Por isso, ela foi recusando os sucessivos pedidos do garoto. A situação não mudou muito até o início do sétimo ano.

—And I'll be remembering you

(E eu estarei me lembrando de você)

Com aquele acordo, Lily esperava meramente suportá-lo em troca de sossego. Ela sinceramente não imaginava que ele se tornaria um amigo. Não esperava encontrar nele as qualidades que havia encontrado nos últimos meses. E nunca supôs que falaria com ele tão abertamente sobre quem era, sobre o que sentia, sobre o que suas pinturas representavam e o que mostravam do que ela pensava do mundo. Lily podia contar nos dedos das mãos quantas vezes já havia feito aquilo na vida. Tinha sido para bem poucas pessoas e nunca mais do que uma vez para cada um. Falar com James parecia fluir naturalmente.

—You showed me love and no words could explain

(Você me mostrou o amor e nenhuma palavra poderia explicar)

Seus olhos se encontraram mais algumas vezes durante a apresentação de James. Seria muita loucura imaginar que ele também pensava nela com aquela música?

—And I'll be remembering you

(E eu estarei me lembrando de você)

O Sarau tinha um ar bem mais informal do que o teatro na noite anterior. As pessoas levantavam, andavam, assistiam um pouco de pé, um pouco sentadas, conversavam eventualmente, na maior parte das vezes inspiradas por algo que acabavam de ouvir.

Mais tarde, Lily percebeu James mais afastado observando o céu.

—Também admira as estrelas? – perguntou ela ao se aproximar

—Quais? As do céu?

—Existem outras?

—Nunca te disseram?

—Não. – ela respondeu

Ficaram ambos em silêncio. Lily esperava uma resposta... que não viria.

—Talvez você possa me contar. – ela pediu

—São... - mas ele se arrependeu do que ia falar – Não quero incomodar você.

—Por que falar sobre estrelas iria me incomodar?

—Não importa. – ele pareceu desanimado – De qualquer maneira, acho que vou voltar para lá, Remus vai tocar daqui a pouco.

Ele saiu deixando uma Lily surpresa para trás.

... ... ... ... ... ... ... ... ...

Nos bastidores, Rach e Bela organizavam a entrada e saída das pessoas do palco. Estava correndo tudo como planejado.

—Faltam só duas apresentações. – anunciou Rach enquanto uma corvinal do sexto ano fazia uma performance de ballet.

—Eu sei! – fez Bela animada – E está dando tudo certo! Eu vou lá fora chamar o próximo. – disse ela saindo e deixando Rach e Sirius sozinhos

Rach ficou desconfortável no instante em que perdeu a amiga de vista. Para disfarçar, se apoiou em uma coluna e ficou observando os arabesques e giros que a corvinal executava com graça. Sirius tentou seguir o exemplo dela, mas nem toda uma Companhia de Ballet conseguiriam distraí-lo.

—Vou ver se Bela precisa de ajuda. – disse ela

Rach ameaçou sair, ele porém a segurou pela mão. O olhar assustado da garota foi camuflado pela sombra das coxias.

—Fico feliz de poder ajudar. – disse ele por fim

—Obrigada mais uma vez. – disse ela e saiu atrás da amiga

Duas apresentações depois, o rapaz entrou no palco para despedir a plateia.

—Antes de voltarmos para nossos Salões Comunais, agradeço a presença de todos e gostaria de pedir uma salva de palmas para as duas encantadoras organizadoras desse Sarau: Isabela Cardelini e Rachel Turner.

Ele saiu de cena e pegou Rach pela mão puxando-a. Nessa situação completamente inesperada, ela tentou resistir. Vendo que não daria certo, puxou Bela com a outra mão e os três receberam os aplausos daquela noite.


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Notas finais do capítulo

N/A - Olá, pessoas!

Para quem leu Meu Jeito (minha outra fic), tivemos duas aparições interessantes da Feira de Profissões. Estavam com saudade delas? rsrsrs

Aliás, gostaram no Sarau? Será que aquela música trazia lembranças só para Lily?

Até o próximo capítulo!

Beijos, Palas



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