“Oito mil trezentos e noventa e oito...oito mil trezentos e noventa e nove...”, o moreno suspirou e deixou sua cabeça pender para frente novamente, cansado de contar sem parar. Sentia seu crânio pulsar loucamente, sentindo uma dor de cabeça que o incomodava, o levando a pensar em que tipo de vampiro tinha dor de cabeça?  

A algazarra no andar de cima de manhã causara um ótimo estrago em seus tímpanos, já que ele achava muito irritante o choro de uma criança, mesmo estando silencioso pela maior parte do tempo, o último grito que ela deu valeu por todos que não deu.

Nico negou quase de imediato ao ver a portinha querer abrir, quase se obrigando a rezar ali no meio para que fosse só o vento tentando o matar, já que tinha virado um complô contra ele, não duvidava que o vento fosse seu aliado.

Uma fungada denunciou que era o que ele temia, suspirando baixinho e desviando o olhar para a parede tão costumeira, esperando até que a menina se colocasse de pé e começasse a falar loucamente.

— Senhor Presinhas...- Começou Thalia, passando as mãos sob o rostinho inchado de tanto derramar lágrimas.

Antes que ela terminasse de falar, uma ideia invadiu a mente de Nico e ele fechou a cara, tentando fazer a cara de ódio e nojo de sempre, olhando para ela. Ficou encarando aqueles olhos azuis grandes e esperando a hora que ela iria sair correndo, o que, é claro, não aconteceu.

— Que carinha fofa! – Ela exclamou jogando as mãozinhas para cima e juntando-as do lado da bochecha, dando um sorriso fofo e balançando seu corpo de um lado para o outro. – Porque nunca me mostrou essa carinha? Você fica extremamente fofo, bravinho.

“Ela não pode estar falando sério, né?” O vampiro se questionou, fechando os olhos com calma e suspirando baixinho, pensando em como foi burro de não ter matado ela assim que pode. Quando voltou a abrir, mirou os bracinhos da pequena, arqueando uma única sobrancelha ao ver marcas ovais e arroxeadas ali, sabendo que aquilo com certeza era resultado da briga de manhã.

 Deve ter demorado muito com os olhos na área, visto que Thalia seguiu seu olhar e se encolheu ao ver as marcas, se abraçando e tratando de esconder.

— Ah...isso não foi nada.

Ao longo dos séculos, muitos se atreveram a mentir para Nico, mas ao ver uma criança fazer isso, justo as criaturas que falavam mais a verdade e acabavam por ferrar todo mundo com sua sinceridade, o deixou surpreso, tanto que não conseguiu esconder sua cara e ela deu uma risadinha interna, como se fosse debochada, o que o levou a pensar que era bem ousada para uma criancinha.

— Tá...- fez uma pausa por alguns segundos. – Talvez o papai tenha descoberto que eu trouxe comida para você e tenha ficado bravo, mas ele não entende que eu gostei de você e quero que você seja meu amiguinho, Senhor Presinhas. Ele não quer que eu seja sua amiguinha.

“Que essa menina escute o Luke, eu nunca pedi nada”, o vampiro implorou mentalmente, tentando deixar de lado o amargo que surgiu em sua boca ao saber que uma parte da culpa dela ter sido atacada era sua, já que a pobre iludida achava que o bolo seria uma boa coisa a dar para um sanguessuga. Não que estivesse reclamando, de alguma forma saciou-se com aquela bomba calórica.

— Mas eu não me importo se o papai não gosta de você! Eu quero que você seja meu novo melhor amigo, então eu vou lutar para que isso aconteça, ignorar as broncas e os avisos bobocas do papai.

Ele comprimiu os lábios em resposta, sabendo que a pequenina nunca iria o deixar em paz e ele iria sofrer nas mãos dela e do pai dela pelo resto da eternidade.

{...}

A porta do quarto se abriu rápido demais, fazendo Leo ter um leve sobressalto, mesmo sentindo a presença da namorada antes dela ter sequer entrado no corredor, sendo esmagado segundos depois por um abraço apertado.

— Você está bem? – Questionou a morena, soltando o abraço e levando as mãos para o rosto do latino, acariciando as bochechas dele preocupada.

— Estou melhor. – Ele sorriu com o jeito fofo dela, querendo puxa-la para sentir seus lábios novamente, justo que quando estava morrendo, não tinha visto ela e não se arriscaria a ver e ataca-la como fez com Annabeth.

— Que bom.

E em alguns segundos, o Valdez estava encolhido e tentava segurar as mãos furiosas de Bianca que acertavam ele em seu peitoral ou braço, ou o que ela visse pela frente, provável que estava se vingando pelo que ele fez outro dia, de quebrar seu pescoço e literalmente despencar para a morte certa.

— Você é um idiota, eles levaram meu irmão por sua causa! Eu poderia ter salvo ele, mas você foi um tremendo...- sua fala fora interrompida por um grunhido vindo dela mesmo, que parou de estapear ele e cobriu o rosto, se segurando para não torturar o namorado até a morte para depois traze-lo de volta a vida usando alguma bruxa.

— Por minha culpa? Você estava fraca e iria se jogar no meio de lobos para salva-lo, eu estava quase no tédio no meio daquela batalha! Por diabos você não engole seu orgulho idiota e fala pelo menos um obrigado, di Angelo?

— Você quase morreu...- ela começou com a voz baixa e sombria, fazendo o latino erguer o corpo e se preparar para qualquer movimento que ela fizesse a mais: ele já tinha enfrentado Bianca em uma batalha corpo a corpo, coisa que se arrependeu, já que fora derrubado na frente de todo seu clã. -...levaram meu irmão, eu pensei que tinha perdido você, eu perdi ele, minha vida está em ruínas, Valdez. Você ainda tem essa maldita ousadia de falar que eu tenho orgulho e não disse obrigada?

— Eu quase morri, mas não morri, estou aqui na sua frente, ouvindo você respirar e falar irritada comigo, como se fosse voar em cima de mim a qualquer momento, eu estou aqui para qualquer coisa Bia...- começou se arrependendo do que havia dito um pouco antes, se aproximando e puxando para um abraço em movimento rápido, acariciando seus cabelos ao sentir sua camiseta molhar por conta das lágrimas que ela estava derramando silenciosamente.

— Vai dar tudo certo, nós vamos salvar seu irmão, vamos acha-lo e traze-lo de volta, eu juro.

Ela assentiu contra o peitoral do namorado, fungando baixinho e sendo arrumada, de modo que ambos ficassem deitados juntos na cama.

Leo não era muito de quebrar juramentos, então ele daria um jeito de conseguir ajuda de uma bruxa para achar seu melhor amigo, cujo falhou miseravelmente em ajudar, o que pesava tanto em seus ombros, quanto em suas costas.

{...}

O Alpha saia da adega com uma careta em seu rosto, tentando limpar o sangue do vampiro que estava em suas mãos em sua calça jeans, tendo sucesso, porém sentindo que havia de tomar um banho para o cheiro dele sair de seu corpo.

Ele estava tão imerso em seus pensamentos que não sentiu o cheiro e nem a presença da pequenina que se esforçava para se esconder entre os vãos dos corredores, se espremendo o máximo possível ali e contendo um bocejo em sua garganta.

Assim que seu pai passou, ela andou em passos apressados até onde seu amigo estava e entrou pela portinha, jogando Fred primeiro e fechando a portinhola assim que passou, vendo que o Senhor Presinhas estava com a cabeça baixa e parecia respirar com dificuldade, fazendo-a arregalar seus olhinhos enormes e chegar mais perto, vendo-o subir o rosto inexpressivo.

Mas o suspiro aliviado da criança fez Nico abaixar a cabeça novamente, sabendo que tinha conseguido engana-la, visto que tinha acabado de passar por uma sessão de tortura.

— Senhor Presinhas eu não consigo dormir, os lobinhos estão fazendo um baita barulho na sala e isso ta chegando nos meus tímpanos, coisa que eu reprovo, porque eu não consigo dormir, então eu vou ficar aqui conversando com você, ok? Ok!

E pelo visto, aquela madrugada iria ser muito longa para Nico.