Lily jogou as flores no lixo assim que conseguiu se levantar da cama e guardou aquela folha de obituário entre as páginas do livro que lia. Na sexta-feira voltou para casa com seus pais e passou o dia com a mãe e o pai ao seu lado e quando o sábado chegou, Scorpius apareceu na hora do almoço com sua avó ao seu lado. Como esperado, Narcissa mimou a menina durante toda a tarde e, quando estava indo embora, prometeu visitá-la durante a semana para que ela não ficasse sozinha. O namorado cochichou pelas costas da avó que era ela que não queria ficar sozinha e recebeu um tapa na nuca da mulher.

Domingo foi um dia preguiçoso da família com a visita de sua avó e tios. Com a casa cheia e a família a rodeando, foi impossível falar com o irmão a sós. Seu pai estava errado quanto às ameaças e tinha sido uma péssima ideia falar com alguém além de Albus sobre isso. Na segunda-feira seus pais saíram para o trabalho deixando os irmãos sozinhos durante todo o dia. Enquanto ele a ajudava a se ajeitar no sofá, próximo de onde ele havia montado um pequeno e improvisado escritório para trabalhar, ela puxou a folha que tinha guardado dentro do livro que trouxe para a sala consigo.

— Me mandaram um arranjo de flores no hospital. – Disse como quem não quer nada, mexendo na folha em sua mão enquanto ele se certificava de que o pé quebrado da mesma estava confortável sobre as almofadas.

— O pessoal do trabalho? – perguntou distraído enquanto afofava os travesseiros em que ela se apoiava e trazia tudo o que ela poderia precisar para perto.

— Não sei quem foi, mas veio com um bilhete.

Albus murmurou em concordância enquanto arrumava as coisas da irmã e lhe servia chá. Ao terminar sorriu orgulhoso e se voltou para ela.

— Precisa de mais alguma coisa? – perguntou sorridente com as mãos na cintura.

— Que você preste a atenção em mim?

— Tudo bem. – Suspirou e se sentou ao seu lado no sofá. – Você tem um admirador secreto. Ótimo, parabéns para você.

— Severus! – Exclamou irritada.

— Ok, pobre Scorpius.

— Dá pra me levar a sério? – Bateu na mão do irmão que tentava pegar um dos biscoitos que havia posto ao lado. Desamassou a folha que tinha em mãos e a estendeu para o irmão. – Recebi esse bilhete com as flores.

Albus abriu e correu os olhos pela folha do falso obituário, franziu o cenho e abaixou a folha olhando indignado a irmã.

— Que porra é essa? – Perguntou balançando a folha. – Quer dizer que eu sou o próximo?

— Evite carros. – Disse tomando um gole do seu chá. – Papai estava errado, tinha alguém perigoso atrás do James e agora veio atrás de mim.

— O que você fez para irem atrás de você? – Perguntou abaixando a cabeça e amassando a folha nas mãos.

— Isso não importa, - Respondeu puxando a folha das mãos do irmão – temos que saber o que o James fez.

— E como vamos fazer is...

Lily se levantou abruptamente, caindo logo em seguida. Albus a olhava com o cenho franzido.

— Dá pra me ajudar? –exclamou apontando exasperadamente para a escada.

— Mas a gente acabou de descer. – Gemeu frustrado enquanto se levantava e dava as mãos para a irmã se apoiar.

— Se queremos achar algo sobre isso vamos começar pelo quarto do Jay. – Disse fazendo uma careta pelo o esforço que fazia.

— Acha que podem ter mais bilhetes como os que achamos nas coisas dele?

— Tenho certeza.

*

— Nunca vamos achar nada aqui. – Albus bufou, sentado no chão com vários papéis ao seu redor. Ele olhou para Lily, que analisava alguns livros sentada na cama. – James sabia muito bem como esconder as coisas dos outros, vamos levar dias procurando para não achar nada.

— Ele não pode esconder algo para sempre. – Respondeu se arrumando na cama e jogando mais um livro na pilha de descartados. – Ainda mais
da gente.

Albus paralisou com as folhas que revirava na mão. James sempre soube esconder um segredo, e ensinou os irmãos a fazer o mesmo.

— Ele não pode esconder da gente, - sussurrou se levantando e dando olhando em volta por todo o quarto. – Ele não pode esconder da gente porque nos ensinou a fazer isso. – Exclamou animado, batendo palmas.

— Ele nos ensinou o que? – Perguntou lentamente, observando o irmão girar em torno de si mesmo observando atentamente cada espaço do quarto.

— Lembra daquela placa que a mamãe ganhou quando éramos crianças? - perguntou agitado enquanto remexia na mesa do irmão.

— A que o Almofadinhas quebrou?

— Aí é que está. – Respondeu rindo e se virando para a irmã com alguns papéis na mão. – Almofadinhas nunca quebrou nada, eu quebrei.

— Você quebrou a placa da mamãe e deixou que meu cachorro levasse a culpa? – Indignou-se jogando um dos travesseiros no irmão.

— James ficou sabendo e me ajudou a esconder. – Continuou, se desviando do travesseiro. – Disse para deixarmos onde estava, porque...

— A melhor maneira de esconder algo é deixando ele bem à vista. – Ela recitou junto do irmão. – Acho que era um de seus mandamentos.

— Deu certo na época, mamãe só descobriu uma semana depois e James disse que tinha sido o cachorro.

— Os outros bilhetes estão aqui em algum lugar. – Ela se moveu para a beira da cama com dificuldade e começou a olhar em volta. Seus olhos passaram por cada livro e quadro nas paredes verdes até pousarem no grande pôster ao lado da porta. – Albus. – Chamou o irmão e logo depois apontou para o grande pôster de O Segredo do Pântano. – Quem pensaria em esconder algo atrás de um poster que tem segredo escrito em caixa alta?

Albus pulou por cima dos livros e papéis espalhados no chão, se encaminhando em direção à parede onde o pôster estava pregado.

— Cara, James era estranho. – Balançou a cabeça enquanto retirava o grande quadro da parede, ao movimentá-lo foi possível escutar o barulho de algo se arrastando dentro do forro que continha atrás dele. – Bingo.

Ele o colocou sobre a cama ao lado da irmã e foi atrás de algo para cortar o papel que protegia o forro. Voltou com um abridor de cartas antigo e cortou a fina camada que escondia o que eles procuravam. Dentro do forro tinha um grande e recheado envelope velho e manchado. Albus despejou seu conteúdo na cama e se sentou ao lado de Lily para olhar um por um. Todos começavam da mesma maneira – Querido Sr. Potter - E eram escritos na mesma caligrafia.

Alguns tinham ameaças óbvias enquanto outros traziam mensagens ambíguas. Um dos bilhetes estava colado atrás de uma nota de 100 libras, e nele estava escrito:

“Querido Sr. Potter, é assim que os mantém em silêncio?”

— Mantém quem em silêncio? – Lily perguntou em um fio de voz.

— Precisamos descobrir o que James que gerou isso. – Exclamou apontando para os diversos bilhetes em seu colo. – Ele deve ter recebido essas ameaças por anos.

— Precisamos dos arquivos do caso de Sophia. – Ela falou depois de alguns minutos em silêncio, encarando o nada. – Um dos bilhetes indicava aquele lago por um motivo e é muita coincidência que papai tenha feito questão de pegar um caso que aconteceu a quilômetros daqui em um lugar que James frequentou.

Albus a olhou em silêncio por cerca de dez segundos antes de abaixar a cabeça e suspirar.

— Posso tentar entrar no escritório daqui a dois dias. – Respondeu com a voz determinada e firme. – Papai vai estar em reunião depois das cinco e eu sei como entrar e sair sem ninguém me ver.

— Acredita que ele pode estar envolvido com algo? – Perguntou baixinho, com medo da resposta.

Mas ela nunca veio, pois Albus se levantou e começou a recolher as coisas do chão. E, mesmo não dizendo uma só palavra, Lily soube que ele acreditava que sim.