— HERMIONEEEEEEEEE! — ele gritou colocando a cabeça para fora do carro.

Hermione que acabava de fechar o portão da passagem de pedestres do condomínio correu até ele e com sua mão tampou a boca dele, empurrando-o de volta para dentro do táxi. Assim que o fez, abriu a porta do veículo e adentrou-o também, pronta para passar uma bronca no ruivo.

— Você ficou maluco? Quer me fazer passar vergonha? — esbravejou.

— Você demorou, estava só te chamando.

— Eu sei que demorei! E você não tem meu celular não? Não poderia ter enviado uma mensagem? — ela estava com a voz esganiçada.

— Não surtiria o mesmo efeito.

— Não surtiria o mesmo efeito. — o imitou com nojo na voz — Babaca!

— Você sabe que quando fica brava assim leva surra, não sabe? — ele perguntou ao vê-la de braços cruzados e logo o motorista pigarreou.

— Ele não está falando de uma surra de agressões, entendeu? É uma surra de beijos. — Hermione explicou para o motorista antes que Rony fosse mal interpretado — Aliás, pode seguir a viagem. 

Rony olhou-a agradecido quando o motorista deu a partida no carro, mas Hermione ainda estava irritada.

— Coloca o cinto de segurança. — tentou começar um diálogo.

— Já coloquei.

— Hermione pare de ser dramática vai.

— Você ainda não me viu sendo dramática, Ronald.

— Ah, não. Com certeza não! — disse rindo — Mais de uma década convivendo com você e não, nunca te vi sendo dramática.

— Você é um bobo mesmo. — disse começando a desfazer a carranca.

— E olha só que coincidência: é exatamente por isso que gosta de mim! Mas e aí, por que você demorou? É sempre pontual, nunca se atrasa... Estava dormindo?

— Não, quem me dera. Eu passei o dia com minha sogrinha, mas hoje ela vai dormir na casa do Vítor, então fui deixá-la lá já que ela não conhece a cidade.

— Ela não ia passar os dias com você?

— Ia, mas hoje o Vítor ligou pra ela pedindo que desse uma passada na casa dele pra dar uma arejada no ambiente e tudo o mais.

— Mas você já não faz isso?— Assumo que ultimamente ando fazendo bem menos do que deveria... Ando muito atarefada.

— Imagino... Pelo menos assim você se livrou um pouco da dona Krum.

— Não tem nada de me “livrar”, Ronald! Tenho certeza que a Luna e a Tory estão colocando coisas na sua cabeça.

— Ah, mas tenho certeza que é bom pensar que vai ter sua casa só pra você hoje quando voltar.

— Bem, isso eu não posso negar...

— Viu, só? — ele riu.

— Mas não tem nada a ver com eu não gostar da dona Kat, muito pelo contrário...

— Está tudo bem, Hermione. Já entendi que gosta da nariguda.

— Pois para sua informação a dona Kat não tem o nariz igual o do Vítor... E pare de chamá-lo assim!

— Em nenhum momento eu mencionei o nome dele, mas se a carapuça serviu... — deu de ombros — Estou muito ansioso!

— Eu também! Será que vamos chegar lá num horário bom?

— Vamos chegar lá praticamente com uma hora de antecedência, acho que sim.

— Assim espero... Ah, não vejo a hora! Dessa vez eu nem trouxe meu bloquinho de anotações prós e contras, tenho certeza que será tudo de bom!

Os dois rumavam a mais um dos trabalhos de Hermione, dessa vez ela cobriria um show para o jornal. Naquela vez seus amigos brigaram para disputarem quem seria o acompanhante dela no evento, mas Hermione decidiu dar uma lição neles que sempre ignoravam os pedidos dela e levar consigo o único que ia com ela em todos os eventos, principalmente nos eventos em que os outros a dispensavam por os considerarem chatos.

Então era Rony que a acompanharia no show da banda que os dois adoravam: Marron 5. Os dois ficaram eufóricos a semana inteira, desde que Hermione recebera os ingressos para o show o evento era uma pauta constante nas conversas dos dois.

Rony que a buscara de táxi fizera questão – como sempre – de pagar a corrida sozinho e Hermione – como sempre – o convencera de deixá-la pagar uma parte também. Então assim que o fizeram os dois desceram do veículo e encaminharam-se para a fila de entrada, os portões já haviam sido abertos e a rua estava lotada de fãs enlouquecidos.

— Caramba, a fila está enorme! — Rony reclamou.

— Espera! Temos credenciais, acho que podemos entrar direto... Vem aqui, vamos tentar. — então os dois encaminharam-se até os seguranças que rapidamente permitiram a entrada dos dois, deixando Rony visivelmente satisfeito, já que o ruivo era o mais impaciente entre os dois.

— Ainda bem que não precisamos enfrentar aquela fila toda!

— Benefícios da equipe cultural do jornal.

— Acho que poderíamos tentar ir mais lá pra frente, o que acha? Ficarmos perto do palco.

— Como vamos conseguir chegar lá? Está lotado.

— Nos impondo, oras!

— Eu me impondo no meio de fãs enlouquecidos? Acho que não!

— Você confia em mim?

— Confio.

— Ótimo, eu vou na frente. Não solta a minha mão, beleza?

Então ele entrelaçou seus dedos nos dela, o que a deixou nervosa com a atitude dele. Logo os dois estavam passando pelo meio de várias fãs escandalosas, ele sempre a guiando até chegarem o mais próximo do palco que conseguiram. Hermione pediu para que não se encostassem na grade para não serem massacrados durante o show.

— Viu só? Nós conseguimos! — ele disse.

— É, e graças a isso estou quase sem cabelo! — Hermione reclamou tentando arrumar os cabelos que foram bagunçados durante o percurso.

— Está linda do mesmo jeito! Vem, vamos tirar uma foto pra mandar pro pessoal... Eles vão nos odiar ainda mais! — disse pegando seu celular — Faça uma cara triste e depois uma extremamente animada, quero pirraçar aqueles doidos.

E então os dois posaram para as duas fotos que o ruivo tirara. A primeira com as caras tristes ele enviara para o grupo com os amigos dizendo que estavam tristes, pois estavam sentindo falta da presença dos amigos, e na segunda com as caras animadas ele enviara logo em seguida dizendo que era tudo uma mentira e eles não estavam sentindo a mínima falta deles.

As respostas enraivecidas dos amigos logo vieram em enxurrada, mas o ruivo não se importava com as palavras de ódio designadas aos dois, ao contrário de Hermione que estava sendo acusada de compactuar com maldades de Rony.

— As meninas vão ficar bravas comigo. — ela disse ao ler as mensagens do grupo em seu celular.

— Vão nada! Amanhã estarão loucas pra saber como foi o show! Vem, agora vamos tirar uma foto boa para eu postar no meu facebook.

E assim os dois tiraram mais uma foto juntos. Hermione guardara seu celular, mas o ruivo não o fez antes de postar a foto dos dois.

— O que você acha de invadirmos o palco? — Rony perguntou para Hermione e ela riu.

— Você não está falando sério, né?

— É claro que estou.

— Ron! — ela riu mais ainda.

— O que foi? — ele riu também.

— Nós não vamos invadir o palco!

— Nós não, você vai. Eu te ergo e te coloco lá em cima e você pula em cima do Adam...

— Rony, menos né? Bem menos! — ela ria.

Assim que o show começou Hermione se juntou as fãs enlouquecidas e passou a gritar também. Tanto ela quanto Rony estavam empolgados com o show, os dois gostavam muito da banda e sabiam cantar várias canções.

Rony, apesar de sua empolgação com a banda, assumia que para ele o espetáculo estava acontecendo bem ao seu lado. Há anos seu passatempo favorito era ver Hermione feliz, e há muito tempo ele não a via como estava agora. Enquanto seus braços balançavam no ar ela cantava cada nova canção que se iniciava. Seus olhos brilhavam e ela parecia sentir cada nota da música transformando-se em uma nova emoção dentro de si.

De vez em quando ela olhava para ele e lhe lançava um sorriso animado. Era gratificante vê-la se divertindo.

— Aí meu Deus, Ron! Essa é a minha favorita! — ela gritou agarrando o braço do ruivo quando os primeiros assobios de Moves Like Jagger foram ouvidos.

Ela cantou e dançou a música completamente animada e Rony tentou acompanhá-la. E pouco tempo depois tocaram a favorita dele.

— Agora é a sua favorita! — ela disse alto por conta dos gritos e da música alta.

— É sim! — ele disse com um grande sorriso no rosto pelo fato dela ter se lembrar de tal fato.

Os dois cantaram juntos cada palavra de She Will Be Loved, e enquanto cantava o ruivo refletia em seu íntimo. Ainda se lembrava da primeira vez que fora num show com ela, Harry e Gina os acompanhavam naquela ocasião. Quando ainda eram adolescentes eles foram ao show do Coldplay juntos. Eles já eram um casal naquela época.

Rony sentira um grande aperto no peito ao lembrar-se daquilo. Sentia saudade de fazer programas como aquele com ela, aliás, sentia saudades de tudo que a envolvia. De poder levá-la ao cinema toda semana e assistir a um filme qualquer que estivesse em cartaz, de levá-la para tomar sorvete de chocolate - o favorito dela, de ir até a casa dela passar à tarde de domingo com a família dela ou levá-la para passar à tarde com a família dele. Saudades de sentir as mãos pequenas dela massageando suas costas enquanto o bronqueava por não manter a coluna encostada na cadeira enquanto trabalhava.

Sentia falta de senti-la se aconchegando em seu peito, de ouvi-la pedindo um beijo ou um abraço seu. De deitar-se com ela em seus braços para maratonarem alguma série durante a madrugada e vê-la adormecer após poucos episódios, de ir pra cozinha com ela e tentar colocarem em prática alguma receita maluca que encontravam na internet ou de pedirem uma pizza marguerita por pura preguiça.

Mas do que ele mais sentia falta era de poder assumir e dizer abertamente que ela era o amor de sua vida. Não passava um dia sequer sem dizer aquilo para ela, era como se ele tivesse a necessidade de afirmar aquilo para ela como tinha a necessidade de respirar. E como ele não podia viver sem oxigênio, ele não podia viver sem aquela garota.

Assim como a música dizia, após milhas e milhas ele parara na porta dela. Era como se o acaso estivesse a favor dos dois.

Realmente, nem tudo que viveram foram arco-íris e borboletas. Mas o amor que sentiam um pelo outro sempre pareceu o suficiente para sobreviver em meio às picuinhas e obstáculos que apareciam em seus caminhos, mas por um deslize, um deslize dele, aquilo tudo acabara.

Inúmeras vezes ele se sentira um tremendo idiota, e aquele sentimento era inevitável. Seu egoísmo o fizera perdê-la, e achava que nunca mais a teria de novo. Mas ali, naquele momento, olhando-a toda encantada com o show ele pareceu esquecer-se de toda a situação que os envolvia.

Naquele segundo ela não era mais a Hermione noiva do Vítor, muito menos aquela que ele quebrara o coração há anos atrás. Aquela era a Hermione por quem ele sempre estivera apaixonado e também era a Hermione que sempre fora apaixonada por ele. E quando ela voltara o olhar para ele mais uma vez, com aquele sorriso tímido e meigo que só ela tinha ele não conteve o impulso e atendeu ao pedido que seu coração gritava dentro de si.

Rony puxou-a pela cintura e beijou-a. Nos primeiros segundos ela pareceu um pouco relutante, mas logo ela cedera e permitiu que o ruivo aprofundasse o beijo, correspondendo-o. Ela apertou os ombros largos dele e subiu suas mãos, embreando seus dedos pelos cabelos ruivos de Rony quando ele apertou sua cintura, colando seu corpo no dela. Sentiu o ar lhe faltando, mas não queria que aquele momento acabasse. Ele desejara tanto sentir os lábios dela sobre os seus novamente... Mas infelizmente ela pausara o beijo e ele manteve suas mãos pressionadas na cintura fina dela. Colou sua testa na dela, ela estava ofegante. Abriu os olhos e encarou-a lhe oferecendo um sorriso e tudo que recebeu de volta foi um olhar amedrontado, angustiante e desesperado e no segundo que se seguiu sentiu-a se desvencilhar e correr para longe de si.

— Hermione... — ele disse tentando segurá-la pelo braço, mas ela fora mais rápida e logo se desaparecera em meio à multidão. Deixando para trás um Rony atônito demais para sequer conseguir correr atrás dela.

(...)

Dentro do táxi de volta para sua casa ela chorava, os soluços eram incontroláveis e ela nem sabia o porquê de estar chorando.

Ainda sentia o gosto do beijo dele. O beijo que não devia ter acontecido.

Estava nervosa e completamente desesperada com todas as coisas que passavam por sua cabeça. Sentia-se mal e perturbada. Por que Rony tinha que beijá-la? Por que ele tinha que ser tão cruel com ela? Por que ela não conseguia manter-se longe dele nem mesmo indo para o outro lado do mundo?

O que Rony estava fazendo em Nova Iorque? O que ela estava fazendo em Nova Iorque?

Tudo era uma complicação. Ela parecia não ter paz na vida dela. A última vez que se lembrava de ter tido um momento de tranquilidade era quando estava ao lado dele... Porque tudo que precisava para ficar bem era ele. Sempre fora ele. Ele era seu porto seguro, seu caminho quando estava perdida. Mas também era ele a razão da sua perdição. Rony era uma incógnita na sua vida, o X que ela nunca conseguira resolver e odiava o fato de nunca ter desistido daquela equação.

Sentiu o celular vibrar, tinha recebido uma mensagem de Vítor. Secou suas lágrimas e respirou fundo. Desbloqueou o telefone e foi olhar a mensagem que receberá do noivo e arrependera-se de tal ato. Vítor havia salvado a foto que Rony postara em seu facebook e enviara para ela junto com a mensagem "Espero que tenha se divertido, amor!".

Chegava a ser irônico ela estar recebendo uma foto dela com Rony de Vítor com a palavra "amor" no meio daquilo tudo. Olhando para a foto ela encarava a imagem dela e de Rony mostrando a língua para a câmera, como se zombassem com ela enquanto seu mando caía sobre sua própria cabeça.