Inquebrável escrita por Larissa Carvalho, MorangoeChocolate


Capítulo 9
Start of Time


Notas iniciais do capítulo

Olá meus amores
Chegueeeei
Espero que vocês gostem do cap e que fiquem curiosos para as inúmeras surpresas. Já escolheram a opção da enquete passada? Vamos ver se ele cap ajuda.
XOXO
Boa leitura



Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/727942/chapter/9

Quando eu era pequena, lembro-me de um dia, mamãe me arrumar com um belo vestido rosa florido e sapatilha branca com lacinhos. Ela prendeu meus cabelos cacheados e colocou uma calça jeans e uma blusa de manga comprida em si.

Decidimos caminhar por um parque – e era um daqueles dias que não tremíamos de frio. Então – caminhamos até acharmos um banco de frente para uma árvore enorme – que diziam ser bem antiga.

Mamãe analisou todo o local em silencio – e eu, resolvi imitá-la. Encarei todas aquelas pessoas de um lado para o outro, algumas com mais pressa do que outras e fingir estar pensando, até meus olhos pararem em alguém.

A mulher não era muito alta e se vestia de maneira simples – com uma blusa azul clara e uma calça jeans clara. Tinha um casaco branco em sua mão e ela segurava uma menina com a outra – não tão mais velha que eu.

A mulher não tinha cabelo – e eu não sabia o que levava uma pessoa a não ter cabelos. Será que ela tinha piolhos? Ou não gostava de seus cabelos. Então, eu virei para a minha mãe e ela sorriu. Seus olhos verdes se encontraram com os meus e eu me senti segura por alguns segundos.

— Mamãe? – perguntei.

— Sim, Rose. – disse ela, em resposta.

— Por que aquela moça não tem cabelos? – perguntei.

Minha mãe procurou por alguns segundos a pessoa na qual eu me referia e depois voltou-se para mim com os olhos meigos. Ela passou a mão pelo meu rosto e sorriu, beijando-me a testa.

— Querida... – começou. – Na vida enfrentamos muitas coisas. Talvez algumas boas e outras ruins. Ela está doente.

— E ela ficará bem? – perguntei, sentindo meu coração se apertar.

— Não sabemos, querida. – disse para mim, forçando um sorriso confortador. – Mas vamos torcer para que fique.

Então, eu olhei novamente para a mulher, que passou à minha frente devagar – e apesar de qualquer coisa, com um leve sorriso em seu rosto. Eu senti que deveria fazer algo por ela, mas não podia. Não tinha o que fazer por aquela moça ou pela menina que sorria para ela e pulava enquanto lhe dava a mãozinha.

Eu era só uma criança, com desejos e inocência. Nem sabia o quão grave era essa doença e nem como ela me afetaria anos depois – com a minha própria mãe. Depois de algum tempo em silencio e de mamãe olhar para mim indecisa com a minha reação perante a tal revelação, eu sorri para ela.

— Já sei. – falei.

— O que já sabe?

— O que eu posso fazer para ajudar. – falei. Mamãe sorriu, um pouco mais aliviada com a minha reação e pegou minha mão.

— E o que é?

— Ser médica. – disse ela. – Vou ajudar todo mundo mamãe. – murmurei, apertando sua mão. – Quantos eu puder.

                                                       ***

— Rose? Rose, acorda. – senti aquela lembrança sumir, através de um terremoto.

Terremoto esse causado pela mão gelada de Melanie. Abri meus olhos e pulei do sofá no susto. Eu tinha parado para cochilar e pelo que eu me lembrava, tinha posto o celular para tocar assim que meus sete minutos e meio acabassem.

Conferi meu relógio de pulso e bufei. Olhei para Melanie e ela ainda parecia assustada.

— Ainda tenho dez minutos. – resmunguei, encarando-a.

O quartinho não era tão grande, mas ainda sim cabiam umas três pessoas. Tinha uma pequena janela e um sofá bem confortável, depois de boas horas de trabalho, em um hospital cheio de contratempos.

— Você tem que vir comigo. – disse ela, arregalando seus olhos azuis. – Nós temos um problemão. Houve um acidente, o lugar está lotado e tem uma garotinha em estado grave.

Eu pulei do sofá e ajeitei meu jaleco.

Acompanhei Melanie até a sala de Alberta e o hospital parecia um caos. Corremos assim que vimos Alberta dando alguma ordem rápida para alguns paramédicos. Ela parecia nervosa.

— O que está acontecendo? – perguntei, fitando-a. – Quase fui atropelada por uma maca.

— Houve um acidente perto do píer 39. – disse Alberta, parando para respirar. Estava tudo muito barulhento e rápido. – Parece que dois carros perderam o controle e atropelaram quem pudesse em seu caminho.

— Mas o que eles estavam fazendo no píer 39? – perguntei, enquanto tentava entender todo o caos.

— Racha. – disse alguém atrás de nós.

Senti o cheiro de pós-barba e reconheci aquela voz grossa carregado de um sotaque bem conhecido e sorri internamente. Alberta olhou para detrás de mim e Melanie sorriu ao meu lado, não contendo sua felicidade.

Por alguns segundos eu entendi – que qualquer garota em um juízo perfeito teria essa reação com Dimitri, mas ela não escondeu e ele teve algo parecido. Cristian estava lá atrás, conversando com algumas pessoas na maca – mas já aparentemente melhores.

Analisei Dimitri com seu distintivo no pescoço como um cordão, sua blusa de manga preta com gola V e sua calça jeans escura e sorri – tentando não parecer confusa com tudo aquilo – afinal, eu tinha acabado de acordar.

— Dimka. – disse Melanie finamente fazendo o que eu tanto temia. Abraçando ele.

Eu pisquei algumas vezes e olhei para Alberta. Ela parecia estar sorrindo para a minha expressão confusa – e Dimitri, nem parecia ter notado. Ela finalmente o largou e sorriu, ainda apertando seus ombros musculosos.

Por que estou com sintomas de ataque cardíaco? – perguntei para mim mesma.

— Que bom ver você. – disse Melanie.

— É bom ver você também, Mel. – disse ele, feliz em vê-la.

Mel? Dimka? – gritei sem que ninguém além de mim escutasse.

— Rose. – cumprimentou-me. Eu sorri para Dimitri de forma forçada e recebi um olhar preocupado por sua parte.

— Dimitri. – murmurei, mordendo a boca. Senti meu coração bater mais rápido.

Alberta pigarreou.

— Mel, venha comigo por alguns segundos, preciso que você vá para a ala de ortopedia. Tem três cirurgias por lá que ainda não foram realizadas.

— Tudo bem. – disse ela. – Bom te ver. – murmurou para Dimitri, tocando levemente em seu braço. Ele sorriu e acompanhou enquanto Melanie se afastava de nós com Alberta.

Eu entortei a boca para Dimitri ainda pensando no grande abraço que ele tinha recebido de uma colega de trabalho, que aparentemente era Tímida – mas bem intima dele. Eu nunca tinha visto Dimitri dar um abraço desses em alguém – e sinceramente – se o imaginava fazendo isso, era com um urso bem grande e nocivo – como ele.

Ele sorriu para mim de forma gentil, guardando seu bloquinho de anotações no bolso e depois analisou-me melhor. Eu ajeitei meus cabelos e nem tinha reparado que eles pareciam um ninho de passarinhos – sem ofender aos passarinhos, claro.

— Você estava dormindo? – perguntou depois de alguns segundos.

— Sim. – retruquei. Dimitri gargalhou.

— O quartinho. – disse, fitando-me.

Eu levantei o cenho para Dimitri.

— Quartinho? – perguntei, confusa. – Como você sabe do quartinho?

— Mel é a rainha dele. – disse Dimitri, sorrindo.

— Oh... – murmurei comigo, mas Dimitri pareceu não perceber o sentido do som que eu tinha emitido.

Ela tinha me falado algo sobre isso uma vez – assim que nos conhecemos. E para saber algo tão intimo – Dimitri tinha que ser intimo. O que me fazia ter altas teorias.

— Há quanto tempo está trabalhando?

— Eu? – perguntei, saindo de meus devaneios e de uma leve crise de curiosidade. – Não faço ideia.

Dimitri gargalhou.

— Levando em consideração que não me liga, manda mensagem ou aparece para comer meu macarrão com queijo, eu acho que boas horas.

Eu sorri.

— Talvez. – murmurei. Ele sorriu para mim. Aquele sorriso que tirava o ar de qualquer pessoa sensata. – Mas agora, eu acho que devo fazer a segunda parte do seu trabalho salvando quem você resgatou.

Comecei a me afastar de Dimitri, sentindo meu coração curioso bater mais rápido. O cheiro de pós-barba ficou cada vez mais próximo de uma hora para outra, e então algo me agarrou pelo cotovelo e me puxou levemente.

Dimitri olhou para mim com seus olhos chocolate e sorriu, de modo que meu coração bateu ainda mais rápido. Tudo bem, eu não era o tipo de garota que sentia isso com muita facilidade. Também não era tão santa, eu já tinha dado meus pulos na adolescência. Mas Dimitri, por mais que seja um grande novo melhor amigo – me causava isso.

Ele passava para a minha pele e meu corpo algo como um arrepio, uma eletricidade que fazia cada parte de mim ascender como uma enorme árvore de natal.

Engoli a seco e sem ele perceber meu nervosismo, eu sorri.

— Sim?

— Eu falei com o Cristian e ele me convenceu a ir naquela boate com você e Lissa. – disse Dimitri. Eu respirei aliviada quando ele tirou a mão de meu braço. Eu me endireitei e sorri. Ele parecia animado.

— Claro. – disse para ele. – Podemos ir amanhã.

— Então, tudo bem. – disse ele, afastando-se de mim. – Nos vemos lá. – gritou, em meio à confusão e macas chegando.

Senti uma mão nas minhas costas e pulei. Alberta gargalhou por alguns segundos e depois eu ri também. Era incrível como eu viajava depois de ter contato com Dimitri.

— Se quiser me matar, podia ter me colocado no esquema do racha.

— Tenho certeza que você ia ganhar. – disse ela, relembrando meus velhos tempos de adolescência.

— Eu também. – disse para ela. Alberta gargalhou.

— Preciso de você cuidando de uma garotinha que chegou. – disse Alberta.

— Sim, senhora. – murmurei, começando a me afastar de Alberta e desviar de tanto enfermeiro correndo. Pobres residentes!

— E Rose... – chamou-me. Virei-me para Alberta e sorri. – Não é pecado gostar de alguém novamente. Não bloqueei isso.

Eu pisquei algumas vezes para Alberta, assenti e voltei para meu trajeto inicial.

                                                         ***

Joguei minhas luvas fora e respirei fundo.

Comecei o processo de higiene e estava bem irritada. Tinha acabado de passar minhas últimas horas de plantão tentando salvar a vida de uma garotinha de cinco anos com uma ruptura no baço, porque foi comprar o bolo de aniversário com a mãe e teve o carro destruído por dois animais brincando que pensam que sabem dirigir.

Depois de passar todas as informações para o pai da menininha chamada Juliette, eu fiz um acordo com Deus. Se ele me ajudasse nessa, eu teria que ajudar ele a compor o quadro de pessoas em uma missa ou coisa do tipo – ainda não tinha muita familiaridade com esse tipo de coisa, mas Lissa tinha.

Desde que éramos pequenas, Lissa tinha sua fé sem precisar de Tia Rhéa ou qualquer outra pessoa para reforça-la. Quando eu decidi lidar com a morte ou vida, não quis tanto me aprofundar no assunto como Lissa. Eu tinha feito um belo acordo – até agora bem sucedido, eu teria que começar a acreditar na presença dele. E sinceramente, depois dessa cirurgia eu estava acreditando.

Enquanto a menina ia para o pós-operatório, eu caminhei até seu pai na sala de espera. O homem de cabelos grisalhos tinha os olhos vermelhos. A sala de espera tinha mais gente que loja de doce em promoção. Respirei fundo e alguns olhos curiosos foram direcionados a mim.

Senti meu coração e apertar – as pessoas ali, tão vulneráveis esperando por uma noticia boa ou ruim. Eu limpei a garganta.

— Responsável de Juliette Jones? – perguntei. O pai da menina levantou em um pulo e andou até mim. Ele tinha um terno cinza, com uma blusa social branca e gravata vermelha sangue. Eu sorri para ele delicadamente.

— Como ela está?

— Está bem. – disse para ele. – Sua filha teve uma ruptura de baço causada pelo impacto brusco em seu abdômen, mas o quadro está estável.

Ele suspirou de alívio.

— E minha esposa? – perguntou.

— Ela também ficará bem. – falei. Alberta ficou responsável pela cirurgia da mãe da menininha e disse que o quadro dela estava estável, assim como o da filha. – Mas preciso de assine alguns papéis e veja se tem mais alguém que possa ficar com sua esposa ou sua filha.

— Sim. – disse ele. – Sim, claro. Obrigada, Dra. Hathaway.

Eu assenti.

— É só meu trabalho.

— Não. – disse ele. – É mais que um trabalho. Você salvou minha família. Minha vida. Obrigada.

Eu sorri para o homem e sua sinceridade. Ele era um pouco mais alto que eu e com os olhos verdes. Eu assenti para o homem e caminhei lentamente para longe dele.

Será que mamãe ficaria orgulhosa de eu ter cumprido a minha promessa?

“Salvar quantos eu pudesse.”

                                                       ***

Coloquei o café na xícara rosa que eu tinha comprado para deixar no armário da sala de biscoitinhos e respirei fundo. Já faziam duas horas que meu plantão tinha finalmente acabado – mas eu nem tinha pensado em tirar meu jaleco e ir embora.

Quando o pai daquela garotinha me disse o quão grato estava – eu lembrei novamente daquele sonho antes de um acidente grave. Eu queria salvar quantos eu pudesse.

Eu não podia ir embora, não com uma garotinha ainda correndo risco e pessoas que podiam precisar da minha ajuda. Meu trabalho não era algo que eu poderia fazer entre algumas horas – eu tinha que fazer meu tempo.

Terminei de tomar o café e depois de guardar a minha caneca, caminhei até a recepção e peguei todos os prontuários. Quantos eu pudesse carregar.

Fui até uma menininha na emergência e recebi alguns olhares preocupados de Alberta, mas ela não falou comigo – apenas me apontou uma mulher com um corte no braço por causa da vitrine de uma loja que arrebentou em cima dela no acidente.

Terminei de fazer os pontos e as recomendações e sorri para a moça loira com aproximadamente vinte e cinco anos. Peguei mais prontuários e nem senti as horas passando e me deixando cansada.

Apenas estava no automático – tentando ajudar quantas pessoas eu pudesse. Depois de ajudar com algumas pessoas feridas e diagnosticar algumas outras gripes, eu caminhei pelos corredores já calmos.

Já estava de noite novamente e eu sabia o quão cansada estava – mas não importava. Caminhei mais um pouco pelos corredores da emergência e sorri quando percebi tudo bem tranquilo e finalmente sobre controle.

Fui até o pós-operatório da menininha que eu tinha operado e observei-a do vidro. Ela tinha alguns equipamentos para ajuda-la a respirar melhor durante aquela noite – que eu esperava ser tranquila para ela.

Respirei fundo, assim que meu celular vibrou no bolso do jaleco. Peguei-o e o nome de Dimitri brilhou no visor. Eu toquei na tela e atendi ao telefone.

Rose? – perguntou ele. – Você está aonde?

— Desculpa. – murmurei. – Eu esqueci completamente, camarada. Eu não vou poder ir hoje.

— Aconteceu alguma coisa? Precisa que eu vá ao hospital novamente?

— Não. – falei, ainda olhando para a menininha. – Eu só precisei ficar. – eu respirei fundo, enquanto Dimitri permaneceu em silencio. – Você se importa de irmos amanhã ou outro dia?

Não. – disse ele. – De jeito nenhum.

— Obrigada. – falei.

Fica bem.— disse ele, por fim. Eu sorri, sem que nem eu mesma entendesse.

— Você também, camarada. – falei.

Desliguei o telefone e o guardei no bolso do jaleco, voltando-me para a garotinha plena e tão perto de se perder.

Eu já fui frágil como ela, e já tive um irmão frágil como ela – e eu queria fazer alguma cosia para compensar todos os anos perdidos. Eu salvava vidas e agora, mesmo encarando a realidade – eu tinha que salvar a minha.

Tinha que saber quem eu realmente era.


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!


Notas finais do capítulo

Gosstaraaaaam??
Comentem, comentem!
XOXO



Hey! Que tal deixar um comentário na história?
Por não receberem novos comentários em suas histórias, muitos autores desanimam e param de postar. Não deixe a história "Inquebrável" morrer!
Para comentar e incentivar o autor, cadastre-se ou entre em sua conta.