Let Your Heart Hold Fast escrita por Keilla de Amigo


Capítulo 1
Let Me Love You


Notas iniciais do capítulo

I'm back! o/
Eu sei, eu sei, demorei uma eternidade e agora que voltei ainda não foi com atualizações, mas eu juro que posso explicar.
Mas Keill! Como é que você pode ter começado outro projeto sem ter terminado os outros?
— Vou explicar pra vocês uma das partes da minha cabecinha. Eu tenho muitas, muitas, ideias diferentes, mas algumas acabam quase que se elaborando sozinhas aqui dentro e quando eu vejo tenho um enredo. Foi o caso dessa aqui. Eu já queria fazer outra One e quando tive essa ideia não consegui resistir. Eu já tentei, mas a cabeça chega a doer quando não passo essas ideias pra escrita e tenho até insônia.
Primeiro: Cara, você não veio aqui pra ler minhas desculpas, então rola pra baixo e vai lá ler! Só não pulem as notas, o.k?



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"I used to believe

We were burnin' on the edge of somethin' beautiful

Somethin' beautiful"

São duas e dezoito da madrugada, bem no meio do inverno da Califórnia.

Eu estou sentado na droga de um banco de parque há três horas.

Estou congelando.

Por que eu estou sentado aqui? Por que eu ainda continuo aqui mesmo depois de começar a sentir os pés dormentes o e rosto  queimar de frio?

Se alguém me perguntasse eu jamais admitiria que estava agindo como uma garotinha de filmes clichês, mas ei! Eu estava sozinho, levemente alcoolizado e mesmo que isso soe bem gay, de coração partido.

Foi quando alguém estacionou uma Scooter preta no canto do meio fio. A pessoa que a pilotava retirou o capacete, revelando ser uma garota.

De longe eu não pude dizer quem era, mas enquanto ela se aproximava foi quase impossível pra mim não reconhece-la. Ela vinha caminhando cautelosamente, hesitando a cada passo, as mãos escondidas nos bolsos frontais de uma jaqueta escura e a cabeça levemente inclinada para o lado.

Eu só conhecia uma garota que caminhava daquela forma e duvidava muito que estivesse enganado, considerando que aquela noite já me mostrara o quão embaraçosas as coisas poderiam ficar sempre que eu pensava "não tem como piorar".

— Jackson?

Diana Walker, minha ex-namorada.

— Jackson, o que esta fazendo aqui a essa hora? – ela perguntou parando a minha frente  – Você tem noção de que os seus amigos encheram minha caixa postal perguntando se eu tinha alguma ideia de onde você estava?

Eu já esperava por isso.

— Vamos. Levanta daí. – Diana me puxou pelo braço, fazendo com que eu ficasse de pé. Odiava quando ela fazia aquilo.

— Um expresso com café e canela pra mim e um descafeinado pra ele. – ela pediu e logo que a garçonete se afastou, Diana me encarou com seus enormes olhos castanhos - Agora você  pode me explicar o que estava fazendo vestido como John Bender no Seaford  National Park a essa hora da madrugada?

Estávamos em uma pequena cafeteria de frente para a construção da antiga estação de trem da cidade, que hoje em dia era um museu.

— Eu não estava bem, o.k? Só precisava caminhar um pouco para esfriar os pensamentos. – respondi. Minha cabeça ainda doía um pouco.

— Claro, claro. E aí você andou por uma hora e meia, sem um destino específico? Você não é idiota. Sabe que essa é a primeira  vez em três anos que neva em Seaford e os registros indicam que essa é a noite mais fria do ano na Califórnia? – Diana ergueu um das sobrancelhas em sinal de descrensa. Ela esticou o braço até que encostou sua mão quente em minha testa. – Você não esta com febre. Por acaso bebeu demais?

Diana era o tipo de garota que você provavelmente iria preferir manter uma certa distância. Ela tinha o costume de invadir o espaço pessoal alheio – mesmo sem ter a intenção, ela nem percebia quando o fazia – e de fazer perguntas demais, sem mencionar a insistência. Sempre acabava soltando comentários do que pensava e na maioria das vezes nos momentos menos propícios.

— Pela quarta vez, Diana, não. Eu não estou bêbado. – resmunguei – Olha eu só saí andando e quando me cansei parei por lá. Só isso. Não tem nenhuma história grandiosa.

Ela ainda me encarava com a mesma expressão de descrença.

É como eu disse, garota insistente.

— A Seaford High e o Park são dois lugares especificamente bem distantes um do outro. Mesmo que tivesse corrido não conseguiria fazer isso nem sonhando, ainda mais com a neve acumulada em alguns pontos. Minha teoria é que você no minimo pegou um táxi. - ela abriu a jaqueta e passou as mãos pelo cabelo, bagunçando a franja – 16 milhas, inverno e uma cidade deserta são três coisas que não combinam. Quer mesmo que eu acredite que tudo isso não esta relacionado com uma garota loira pela qual você esta caidinho há alguns meses?

Tudo que eu menos queria a essa altura era falar sobre ela. Não depois do que fiz essa noite.

— Não da só pra sentarmos aqui, tomarmos café e falarmos de qualquer outra coisa? – suspirei. Alguém adentrou a cafeteria fazendo com que o vento frio lá fora entrasse pela porta e eu automaticamente apertei mais o cachecol vermelho em meu pescoço – Afinal de contas, o que é que você esta fazendo aqui? Nova York fica do outro lado do país.

Diana jogou o corpo pra trás, batendo o corpo contra o estofado da cadeira e cruzando os braços.

— Talvez tenha a ver com o convite que me fez um mês atrás depois de eu ter insistido pra que você fosse ao baile, mesmo que não fosse com as suas duas paixonites?

Droga, Jackson, droga.

— Diana, eu nem sei o que te falar. – me desculpei.

— Corta essa. Eu sabia que algo assim ia acontecer de um jeito ou de outro mesmo.- ela se aproximou mais da mesa e apoiou os braços, ainda cruzados, sob a mesa. Um sorriso zombateiro surgiu em seus lábios e a franjinha composta por fios negros cobriu sua testa. – Agora você vai me contar cada detalhe dos últimos seis meses e eu quero tudinho. Principalmente as partes que resumiu no telefone.

— Não…

— Vai…

— Diana, não…

Eu realmente odiava quando ela fazia isso. De verdade.

— É que é estranho conversar com sua ex-namorada sobre…

— Não nesse caso! Você sempre fala dela quando me ligava. E o que tivemos deixou de se qualificar como namoro a partir do momento em que te beijar se tornou desconcertante. Eu sentia como se estivesse beijando meu irmão. – ela fez uma careta ao dizer a ultima parte - Vamos lá, eu tenho a madrugada disponível.

Eu não tinha outra opção.

— É uma história bem comprida. – cedi.

Ela olhou pra cima e após alguns segundos respondeu dando de ombros:

— Ainda bem que não temos pressa então.

Tudo começou no início do primeiro semestre do ultimo ano, no penúltimo dia das férias de verão. Faltava apenas uma semana para o Outono.

Todos os anos a Seaford High programava uma noite repleta de atividades para os alunos do último ano. Era um viradão que ia das dez da noite até as seis da manhã com a coordenação dos professores. Palestras, atividades em conjunto e praticas em grupos nas quadras.

 Naquele sábado em questão o céu parecia estar caindo. Sem exageros. Até o telejornal local havia sugerido que as pessoas evitassem de sair de casa.

Estávamos escorados nos armários próximos a porta principal. Jerry e eu. A todo momento pessoas entravam encharcadas e reclamando do tempo lá fora. Faltavam quinze minutos para o início da primeira palestra. Milton e Julie estavam em algum lugar no andar superior do prédio em uma reunião conselho estudantil e Eddie estava preso em um monstruoso engarrafamento na estadual.

E foi aí que ela apareceu.

Passando pela porta rindo de braços dados com Elena Delgado, da equipe de torcida, enquanto tirava de cima dos ombros um casaco escuro encharcado.

Não importava quantas vezes Jerry fizesse o desfavor de me lembrar o quão idiota eu parecia ao dizer isso, mas  sempre que eu a via era a mesma coisa. Por alguns instantes chegava a imaginar que ela era um anjo ou a personificação de uma deusa.

No último semestre do segundo ano ela fora minha parceira em Química Laboratorial. Não tínhamos o costume de conversar sobre nada que não envolvesse a matéria e trocávamos apenas breves palavras fora da classe. No entanto já se tornara impossível pra mim não reparar nela.

Mika costumava dizer que ela lembrava muito uma boneca de porcelana e de fato ela estava certa. A maneira como os cabelos moldavam o rosto, sua postura delicada e o jeito como ela apertava os olhos quando ria de algo.

— Cara, você passou os últimos seis meses vidrado nela. – Jerry disse bufando enquanto batia a cabeça contra o armário – Toma uma atitude ou passa pra frente.

Eu havia saído de um relacionamento no mínimo peculiar poucas semanas antes das festas de fim de ano e decidi que seria bom para mim passar um bom período de tempo sem compromissos ou envolvimentos.

No entanto meus planos foram por água a baixo no momento em que entrei no laboratório de Química, dezessete minutos atrasado e o professor mandou que eu me sentasse ao lado da garota com um suéter vermelho sangue. Passei alguns bons minutos olhando sem interesse algum para os slides exibidos no quadro branco enquanto agradecia mentalmente a Deus por ela ter estado ocupada procurando algo em sua bolsa no mesmo momento em que eu me dirigi até a cadeira vaga ao seu lado. Tinha quase certeza de que teria paralisado em frente a toda sala enquanto a encarava com cara de bocó. Um bocó de treze anos.

— Você esta com aquela cara de bocó de novo.

 O celular vibrou no bolso traseiro da minha calça assim que Julie apareceu no alto da escada com um megafone pedindo pra que todos os alunos se dirigissem a quadra interna.

— Mensagem do Eddie. Ele esta a uma quadra daqui. – disse enquanto andávamos

— Quer saber? Nós vamos dar um jeito nisso amanhã. – ele passou um dos braços por cima do meu ombro dando duas batidas em minhas costas.

— Nós já falamos disso. Eu não vou nem a pau em um encontro duplo em que você esteja no meio.

— Cara, você sabe o que eu penso sobre isso. Funciona muito bem pra mim, mas não é como se isso fosse dar certo nesse caso. Amanhã você, meu caro Jack Brewer, irá dar seu pontapé inicial em sua jornada para conquistar Emily Drake. – Chegamos a quadra a tempo de ver Sussie Mitchel dar um belo chute nas partes baixas de um cara de moletom branco – Um pequeno passo para a humanidade,um salto gigantesco para um adolescente no último ano cheio de hormônios.

— E qual das suas ideias estupidas vai ser capaz de fazer isso?

— Ela se chama Kim Crawford e se ela não conseguir juntar vocês dois nem o próprio cúpido consegue.

                                            ***

Eu não pus fé alguma naquilo. Parecia até aquelas histórias idiotinhas de filmes mais idiotinhas ainda onde alguém tem a brilhante ( perceba a ironia ) ideia de juntar casais. Chegava a ser tosco saber que alguém ali realmente tivesse disposição pra fazer isso.

Ainda faltavam quarenta minutos de aula quando Jerry foi expulso da sala de aula por ter tirado os parafusos da cadeira do professor de Economia.

O alarme de incêndio foi acionado alguns segundos depois que ele cruzou porta. Todos os alunos juntaram o material dentro das mochilas e seguiram para fora da sala da forma como erámos instruidos durante os avisos da primeira aula ou nas simulações.

Jerry estava escorado próximo a um dos dispositivos de alarme vermelho com uma pequena alavanca.

— Pode me agradecer depois, cara. – ele ajeitou a alça da mochila nos ombros enquanto trocava um high five com Eddie. – Pronto para fazer um acordo com o amor?

— Ele vai falar com a Kim? – Eddie perguntou.

E também havia aquele pequeno detalhe. Ao que parecia todos na Seaford High conheciam Kim Crawford, menos eu.

— É ele vai sim. – Jerry respondeu – E aí vai ser só questão de tempo até que ele e Emily se tornem um casal.

Realmente não botava fé alguma naquilo.

— Ah cara, ela é realmente boa no que faz, mas Kim tem obsessão por atrasos. Só respeite os horários dela.

— Érr… quanto a isso, a primeira reunião do grupo de teatro é em uma hora e pode ser que não tenha falado com ela ainda. – Jerry coçou a nuca fazendo a mesma careta que sempre fazia quando precisava de uma desculpa esfarrapada. – Mas ta tranquilo. Kim é gente boa e nos damos super bem.

Eddie estava certo quando disse que ela era boa no que fazia. Milton e Julie reataram o namoro com a ajuda dela. Jerry também acertou ao dizer que ela fazia parte do grupo de teatro e que era gente boa, entretanto errou… não, mentiu, ao dizer que eles “se davam super bem”.

— Se você veio me pedir pra “dar um jeitinho” no que chama de relação com Donna Tobin minha resposta continua sendo não. – ela disse fechando a porta de seu armário com força assim que nos viu. Na verdade assim que que ela pôs os olhos em Jerry.

Eu não a culpava.

— Qual é Kimmy? Você melhor que ninguém entende de relacionamentos. Eu sou só mais um cara em busca de amor que não sabe…

—…como se expressar. – Kim completou com um revirar de olhos – Realmente, Jerry? Pensei que você tivesse mais criatividade ao mentir pra garotas. Minha resposta continua sendo um curto e definitivo não! E não ouse me chamar de Kimmy outra vez.

A verdade é que Jerry fazia o tipo de cara que não se prendia a compromissos, não de longo prazo. Mika foi a primeira e única excepção.

— Não me diga. – Jerry debochou – Mas eu não vim aqui pra falar sobre mim. – Ele me empurrou de leve pelas costas. Eu estava muito desconfortável em meio a troca de farpas entre os dois. – É sobre esse cara aqui.

Ela me encarou pela primeira vez com uma de sua sobramcelhas loiras arqueadas.

— Jack Brewer.

— Isso mesmo. – respondi engolindo um seco.

Ela bufou e arregalou suas belas orbes castanhas e em seguida bateu na própria testa murmurando  algo que não consegui ouvir.

— Eu quero você no em vinte minutos. - Kim disse se referindo a mim e em seguida segurou os ombros de Jerry – E quanto a você, eu espero que não esteja me fazendo perder tempo.

E quando abri a grande porta dupla e a vi sentada na beira do palco, com as pernas cruzadas e tomando seu café, tive certeza de que aquilo era um grande erro. Não tinha chance alguma de dar certo.

— Senta aí. – ela deu duas batidas ao seu lado.

Parecia bem idiota contar algo tão pessoal para alguém que eu nem ao menos conhecia.

Era bem idiota.

         - O que exatamente você precisa saber? – perguntei.

         - Pois bem, eu quero que me dê um único motivo pra te ajudar com isso.

          Continuei em silêncio.

         Eu realmente não devia estar ali.

         - Me deixe adivinhar. – Kim apertou os olhos com força repuxando os lábios em um bico para a esquerda como se estivesse fazendo esforço para ler minha mente. Até que de olhos fechados ela não parecia tão intimidadora – Você não quer minha ajuda pra encontrar uma garota, você quer ajuda pra conquista-la.

         - Como é que você…

         - Seu amigo Jerry tem uma insistência desnecessariamente insuportável. – ela disse após um suspiro – Digamos que ele quer mesmo que isso dê certo e apesar de não ir nenhum pouco com a cara dele eu não tenho o hábito de julgar ninguém pelas companhias. Então eu volto a perguntar – Kim fez uma pausa e me olhou bem no fundo dos olhos – porque eu deveria de ajudar e não aos outros dois caras que já me procuraram atrás de Emily Drake?

         Era hora.

         Kim bufou, puxando os cabelos pra trás e enrolando as pontas nos dedos.

         - Começa me falando sobre a sua ex namorada. – ela disse – Diana Walker? Ela se mudou, não foi?

         1..2…3…

         - A maioria das pessoas sabem que ela foi pra Nova York com a família e que nenhum de nós queria um namoro a distância. O que ninguém sabe é que esse só foi o motivo pra sentarmos e falarmos sobre isso.

         “Em algum momento do nosso relacionamento acabamos nos tornando mais amigos que namorados. Eu não sei como chegamos aquele ponto, mas foi o que aconteceu. Não era estranho, só incoveniente demais, sabe? E isso ficou bem claro pra mim no dia em que uma garota tentou flertar comigo, com Diana bem ao meu lado e a reação dela foi olhar pra baixo, como se os vans azuis que ela calçava fossem a coisa mais interessante do mundo enquanto prendia o riso, muito mal, devo acrescentar.”

         Ao fim da narração Kim tinha as sobrancelhas franzidas, fazendo com que uma pequena ruga se formasse no canto esquerdo da texta.

         - Ouvi que vocês eram um casal apaixonado.

         - Não, nós erámos só um casal. – respondi – Nada de demostrações de afeto e essas coisas.

         - Vocês ainda tem…

         - Contato? – eu ri – Não é como se conseguissemos ficar muito tempo sem nos falarmos.

         - E quando é que a coisa com a Emily teve início?

         - Início do ultimo semestre.

         E aí se seguiram alguns segundos de um silêncio constrangedor.

         - Vamos combinar assim – ela quebrou o gelo – Qualquer coisa eu te procuro mais tarde. Agora, recomendo que você sai.

         Seu eu não me xinguei com todo tipo de ofensa que conhecia depois disso? Saiba que eu o fiz.

         Durante aquela segunda feira o pensamento do quão idiota eu era por ter dito algo aquela garota aparecia constantemente.

                         ***

         Depois de ter me envolvido em alguns problemas, meus pais chegaram a brilhante conclusão de que seria melhor para todos que eu fosse morar com a minha irmã.

         Minha mãe sempre prezou acima de tudo o bom relacionamento familiar e acredita que bons exemplos são a base para que a família não venha a desmoronar. Meu pai faz mais o tipo de pessoa que sempre preferiu não bater de frente com a minha mãe, então era basicamete ela quem colocava moral em casa.

         Há quatro anos meus pais deram todo apoio necessário para que Jasmine, minha irmã mais velha, alugasse um apartamento e enfim se reponsabilizasse completamente por si mesma. Nós ficamos bem. Jasmine passava os domingos conosco, nosso cachorro sujava o carpete de terra e meu irmã caçula constantemente dava um jeito de entrar no meu quarto, mesmo que a porta estivesse trancada.

         Até que Frank Bickle aconteceu.

         Jay tinha dez anos e meio e era um garotinho adorável,  segundo outras pessoas. Parecia uma versão bem menor e mais hiperativa de mim. Eu sempre ia busca-lo na escola no fim da tarde e depois o levava pra comer comida de fast food ( sem o consentimento da minha mãe, claro ).

         Eu estava estacionando o carro enquanto Jay reclamava de ainda não ter encontrado sua bola de baseball.

 Resumidamente Frank Bickle era um grandalhão, que repetiu o 9° ano três vezes e tinha o péssimo costume de implicar com aqueles que eram fisicamente menores ou inferiores a ele. E lá estava ele, no estacionamento do Mc Donald’s , empurrando um garoto franzido do primeiro ano.

         Eu não tinha nada a ver com aquilo. Poderia facilmente ter virado a esquerda e contornado a contrução até a entrada, mas não foi o que eu fiz. Rudy dizia que eu deveria controlar minha raiva e que partir para a briga era só caso eu fosse atacado ou em último caso. Pois bem, Frank Bickle era exclusivamente fluente na pancadaria e que tipo de exemplo eu estaria dando ao meu irmão caçula deixando aquele garoto apanhar e fingir que nada acontecia?

         É, a minha mãe ficou uma fera quando eu voltei pra casa com o nariz sangrando. Jason não era tão bom quanto Jasmine e eu para inventar desculpas, então assim que teve a chance ele contou detalhadamente tudo que aconteceu.  Eu não costumava me envolver tanto assim em brigas, mas quem nunca? Ainda assim todas as minhas justificativas não foram suficientes para contrariar a decisão final.

         Agora eu dividia um apartamento no centro com a minha irmã e seu porquinho da indía, onde eu tenho moradia, comida e menos tempo pra ensinar a Jay a usar a força.

         Jasmine não reclamava das minhas coisas deixadas pelos cantos ou em cima dos móveis, ela até dizia que aquilo a fazia lembrar que tinha mais alguém em casa ) e eu não precisava me preocupar com os sermões da mamãe, as conversas estranhas do meu pai e nada de Jason correndo pela casa.

         Até meus pais prolongarem a viagem para o Mediterrâneo, fazendo com que duas semanas após o início das aulas Jason ainda estivesse conosco.

         O despertador na cabeceira da cama marcava 07:00 e eu ainda tinha alguns quinze minutos de folga. A persiana da minha janela estava fechada, bloqueando a entreada da luz do sol e meu cobertor nunca fez a cama parecer tão confortável.

         Foi quando Jason, com a franjinha castanha quase tampando os olhos, abriu a porta e correu em disparada para a minha cama. Eu não podia esquecer de trancar a porta enquanto ele ainda estivesse aqui, ainda mais levando em consideração a parte em que ele pulava em cima de mim.

         Ele estava pulando em cima de mim!

         — Vamos! Vamos! Precisa levantar! – ele gritou antes de se jogar em cima das minhas costas cobertas pelo cobertor. Graças a Deus eu estava deitado de bruços.

         O joguei no chão juntamente com a coberta, sabendo que ele não se machucaria.

         Pus o travesseiro sob a cabeça.

         - A sua amiga ligou! Com u-r-g-ê-n-c-i-a! – ele soletrou, levantando em um pulo e se jogando novamente em cima de mim – Disse que precisa falar com você.

         Ah sim!

         Também tinha isso.

         Faziam duas semanas desde de que Kim e eu demos início a coisa toda com Emily. Ela era realmente boa no que fazia e extreamamente organizada, sem exageros. Tinha uma pequena agenda repleta de nomes e anotações que estava sempre com ela, um enorme quadro claro prendendo fotos ligadas por linhas azuis e nomes circulados com caneta, alguns bilhetes e ainda uma sequência de alarmes em seu celular.

         Ainda era um mistério pra mim como demorei tanto pra conhece-la, visto que ela e Grace são primas. Tinha certeza que não a conhecia. Seria impossível não lembrar dela.

         Ela tinha um sorriso de tirar o folêgo e as vezes eu tinha que me bronquear por reparar demais nos pequenos detelhes dela. Sem contar com o jeito tímido ( que ela insistia em intitular como “ser reservada” ) adorável e o que eu chamava de “delicamente brutal”.

         No segundo dia de aula ela se tornou minha parceira nas aulas de Quimíca. É, de primeira fiquei desapontado por isso, até saber que Emily não estava na minha turma. Decepcionante, mas não é como se eu já não contasse com isso. Seria muita sorte.

         No início foi bem estranho. Estranho e desconfortável ao extremo. Durante o ultimo ano me familiarizei em ter a companhia de Emily no laboratório. O habito de falar com os olhos sempre pra baixo, porém uma vez ou outra ela os erguia e era inevitável, nossos olhares se cruzavam e ela escondia o rubor das bochechas com o cabelo escuro. Eu precisava confessar, gostava quando ela fazia aquilo.

         Mas com Kim era diferente. Diferente demais.

         Seus olhos eram escuros, ela falava com qualquer um ( qualquer um mesmo ) olhando no fundo dos olhos, descaradamente. Ela era intimidante.

         Repito. Era estranho. Um estranho bom.

         E três dias depois, quando eu percebi… nos tornamos amigos. Ainda era estranho, mas não de um jeito “estranho bom e confortável”. Se encaixava melhor como “estranhamente inesperado”.

         O dia amanheceu frio naquela quarta-feira em Seaford. O céu estava nublado, mas não como no último domingo do fim do verão. Os corredores da Seaford estavam cheios, uma vez que o tempo lá fora não era dos mais agrádaveis.

         Kim estava sentada, de pernas cruzadas e vestindo um casaco vermelho, em uma das poltronas da primeira fila do teatro.

         - Você ta atrasado, pra variar. – ela me acusou repuxando os lábios. Era uma mania dela. Tão involutária quanto a coisa de “olho no olho”. – E sabe que eu odeio atrasos. Que feio, Jack. Meus pais me ensinaram antes mesmo de sair do berço a respeitar horários.

         Ela também tinha essa fascinação por pontualidade, mas nada era nada com que eu não pudesse lidar.

         - E você sabe que me advertir por isso é perda de tempo, não é?

         - Advertir? Desde de quando você usa palavras como essa no seu vocabulário de neandertal?

         O que me faz lembrar que sexta passada ela me presenteou com um dicionário alegando que garotas gostavam de caras que usavam palavras mais sofisticadas.

         É, eu dei uma lida.

         - Vem logo, senta aqui. – ela riu – Sabe a brecha da qual te falei?

         - Aquela que daria início a isso tudo?- perguntei tomando o lugar a sua esquerda.

         Ela enrugou o nariz em uma careta. Mais uma das suas manias.

         - Pra sua informação nós já demos início. O que acha que fiquei fazendo durante essas duas semanas?

         E queria responder um curto não, mas era ela quem sabia das coisas.

         - Nós tivemos aquela reunião ontem e grupo de teatro escolher a peça que iremos encenar. – Kim contou com a voz carregada de entusiasmo – E por acaso uma certa garota de olhos claros decidiu tentar o papel da protagonista.

         Uma das características mais marcantes de Emily era sua timídez. Não era preciso conhece-la tão bem pra saber – o que infelizmente não se aplicava a mim – pra notar isso.

         - Romeu e Julieta? – perguntei. Sabia que Kim era uma amante das obras de Shakespeare e qualquer outra coisa que se relacionasse a romances, mas por algum motivo ( que ainda é desconhecido por mim ) ela tinha aversão ao clássico.

      - Por Deus! Não! – ela reclamou tirando de dentro de sua bolsa algumas folhas presas por um prendedor de papéis. – É tão repetitivo que já me tornei qualificada o suficiente para interpretar qualquer que for o papel sem seuqer me preocupar com o roteiro. Escolhemos o mito de Eros e Psiquê.

— E o que você quer que eu faça? – perguntei passando a mão pelo cabelo.

Seja lá qual fosse a resposta eu tinha uma breve noção de que não me agradaria.

— Antes de começar a reclmar eu só peço que me ouça.

Com toda certeza eu reclamaria.

— Eu não preciso que você consiga o papel, só que faça o teste. – ela explicou – Mas vou precisar que passe esse semestre no grupo de teatro.

— De jeito nenhum.

— Só me ouve! Não são todos os dias e você só precisa aparecer uma vez ou outra, ok? Em casos como esse o processo de seleção é feito em duplas, é mais fácil julgar logo de início se você sabe ou não contracenar com outras pessoas. Ainda não decidimos a cena e o ato, mas posso dar um jeito de encaixar o nome dela junto com o seu na hora dos testes.

“Como eu disse antes, você não precisa conseguiar o papel, mas se quer realmente conquista-la essa é o melhor momento. Depois posso te encaixar na equipe dos roteristas, figurinistas ou com os aparelhos de som e iluminação, só pra tornar sua presença mais diária e aos poucos vocês vão se aproximando. Posso dar um jeito pra que não interfira nos seus treinos no karatê.”

                         ***

Uma dica muito útil para levar consigo: Nunca fique atoa encanrando o relógio e pensando “Daqui a pouco eu vou”.

De verdade, isso já me rendeu inúmeros atrasos pra vários compromissos. Mas aquele sem dúvidas foi o pior de todos.

— Merda! Merda! Procura na última gaveta! – gritei de dentro do banheiro, tentando por as calças do kinomo ao mesmo tempo que a parte superior.

Eu tinha um campeonato hoje. Sendo mais específico faltavam apenas quinze minutos. O caminho do apartamento até o dojo levava dez minutos, eu não encontrava minha faia pretra e de quebra ainda tinham os sermões da Kim.

— Por Deus, Jack! Você sabe o significado de organização? – ela gritou de volta dentro do meu quarto – Eu ainda te avisei! Por que você tem que ser tão teimoso?!

Sim, foi irresponsabilidade da minha parte ter ignorado os avisos dela e o amante no meu celular, mas vamos analisar direito essa situação. A culpa não era totalmente minha.

Mais cedo no dia de hoje, uma quinta-feira ensolarada, nossa professora de Física bateu com o carro. Nada grave, ela esta bem.

No entanto nos últimos períodos de aula, que eram dadas por ela, fomos liberados mais cedo e o editor-chefe da Kim, Nicholas, a deixará com o resto do dia livre. Então, como ambos não tínhamos nada pra fazer nem tão cedo decidimos ( Ela! Ela decidiu. Foram interminaveis dias de insistência de sua parte para que fizessemos aquilo ) passar o dia assistindo a série favorita dela, How I Meet Your Mother.

— Como pode não assistir séries de comédia? É quase como morar ao lado de um fast food e não gostar de carne! – ela me acusou quando eu disse que prefiria documentários policiais – Como você pode se dizer americano?

Em compensasão ela ficava sussurando algumas explicações enquanto abraçava as pernas junto ao corpo em cima do sofá. Caso a situação fosse contrária Kim me olharia com aquela expressão “isso não é nada educado da sua parte, mocinho”, mas eu deixei passar. Não é como se eu já não estivesse acostumado a conversar e me concentrar no que assistia, mas a empolgação dela compensava a chance de repreende-la da mesma maneira como ela fazia comigo.

Então sim, eu tinha culpa por ter deixado o meu compromisso pra segundo plano, mas a culpa era dela por ter me feito fazer isso. Kim me conhecia, ela deveira saber que eu faria isso.

         …

         …

         - Droga! Da uma olhada no porta-luvas, Kim.

         A picape preta que estava ao nosso lado buzinou e passou a frente.

      - Céus! Você pode por favor tomar mais cuidado? – ela se encolheu no banco do carona e em seguida se inclinou para frente, abrindo o compartomento do porta-luvas – Por Deus! Você não mantém nada organizado? Tem uma coleira aqui e você nem tem um cachorro!

Não me julgue. Organização não é meu forte.

— Só procura, ta?

— Não use esse tom de voz comigo! – Kim me repreendeu com um tapa no braço, que cai entre nós, eu quase não senti – Você precisa se organizar mais. Da próxima vez que nós tivermos um tempo livre você vai arrumar tudo. Tudo mesmo, Brewer.

Revirei os olhos.

— Ta, o.k? Eu arrumo tudo. Só procura. – respondi revirando os olhos.

Foram mais necessários mais sete minutos, dois sinais vermelhos ultrapassados, uma série de gritos vindos da loira ao meu lado e uma quase colisão com a vã do Aquário Municipal de Seaford até que finalmente a encontrassemos.

— Oh god! Seu avô não ficaria nenhum pouco satisfeito com esse tipo de atitude vinda de você. – Kim me olhava com aquele olhar de “que feio, mocinho”. Ela o usava com muita frequência e na maioria das vezes era dirigido diretamente a mim. – Nós vamos comprar um recipiente vidro especial onde você possa guarda-la.

                                      ***

Rudy costumava nos dizer que não valia a pena guardar rancor ou ter ódio de ninguém.

— Guardar rancor é como segurar um carvão em brasa para joga-lo em outra pessoa. você é o único que se queima.

Eu tinha certeza de que ele havia lido aquilo em alguma porta de banheiro.

Mas eu não era de ferro e por mais que tentasse – eu realmente tento – era inevitável.

De todas as pessoas por quem eu nutria os piores sentimentos no topo estava o meu primo Kai. Ele era um babaca. Do tipo que nunca aparecia nas reuniões de família, até porque ele  não era bem-vindo. Mas atrás dele, no segundo lugar, se encontrava Brody Carlson.

O cara era um imbecil e até eu, que nunca troquei mais que meia dúzia de palavras com ele, sabia disso. Meus amigos sabiam, o professor de Educação Física sabia, metade da Seaford High sabia e até mesmo Joan, a segurança de Shopping, sabia. Mas ao que parecia Kim, com seu gênio forte e ar ameaçador, não sabia.

Era sabado e estavamos, os dois no laboratório de química vazio. A matéria da última aula sobre misturas heterogênias ainda estava no quadro.

— Você ao menos se deu ao trabalho de ler as únicas duas folhas que eu te dei? – ela perguntou.

Eu não respondi.

Na verdade eu não havia dito absolutamente nada desde de que passei pela porta.

Kim se levantou da mesa em um pulo e deu um tapa – um senhor tapa, porque para uma garota que parecia se vestir usando como base catálogos de moda ela tinha a mão bem pesada – em minha nuca. E depois puxou uma mecha do meu cabelo com força o suficiente pra me fazer acreditar, por alguns segundos, que ela conseguira arranca-la.

— Ai! Qual o seu problema?

— Meu problema é você realmente acreditar que esse tipo de atitude infantil vai me fazer te pedir desculpas por discordar do que você diz ser verdade. – suas bochechas estavam vermelhas, mas não da mesma maneira como quando ela saía da sala do Departamento de jornalismo após ter aprovação de mais um dos seus artigos. Estavam extremamente vermelhas, como quando eu disse que não acreditava que alguém como ela poderia ser capaz de machucar alguém e ela me deixou com o olho roxo por cinco dias.

Na noite passada fomos com alguns dos meus amigos e a prima dela ao único restaurante da cidade onde qualquer coisa que estivesse no cardápio poderia ser usado para rechear um burrito. E estava tudo bem, até ela lembrar que precisava ligar para o seu editor chefe e se dar conta que estavamos no único restaurante da cidade em que o sinal do telefone era instável.O lugar mais próximo se conseguia uma conexão mais estável era a praça do outro lado da rua.

Vinte minutos se passaram e nem sinal dela. Eu fui atrás.

Foi a pior coisa que fiz naquele dia.

— Ele é um idiota! – argumentei exasperado. O que? Parecia uma resposta bem a altura na minha cabeça.

— Você mesmo me disse que nunca, never, se quer uma única vez, manteve uma conversa com ele ou algo do genêro! – ela cruzou os braços em frente ao corpo e bufou – Me adimira esse tipo de atitude vinda de você. Desde de quando você tem o direito de ficar bravo porque eu falei com alguém?

Kim tinha um cerebro genial dentro daquela cabecinha loira, mas as vezes parecia ser tão inocente.

— Então pergunte a sua prima o que ele já fez com algumas das amiguinhas dela!

— Isso tem três anos! Três anos! E nós só conversamos…

Tão inocente…

— … e pode ser que ele tenha me chamado pra sair.

… tão inocente.

 Você só pode estar brincando. – murmurei.

— Você mesmo disse na semana passada que eu deveria me focar um pouco na minha vida pessoal.

— É! Mas não com ele! – levantei parando bem a sua frente – Você não deveria ir.

Kim franziu a testa e mordeu o labio inferior – uma de suas manias – abraçando o próprio com mais força, mas em ato repentino, ela endireitou sua postura e se avançou dois passos, fazendo com que eu recuasse para trás.

— Jack, eu não estou pedindo a sua permissão.

— O.k, mas quando você quebrar a cara com ele não venha dizer que não tinha ideia! – eu disse antes de deixar a sala.

No auditório do colégio haviam mais pessoas do que eu tinha imaginado. Algumas semanas antes Kim comentou que os alunos que atuavam no palco não eram nem metade do número que completava tudo aquilo.

O espaço era escuro e iluminado por algumas luzes fracas, mas que brilhavam o suficiente para não causar qualquer incomodo. O palco era extenso e ar costumeiras cortinas vermelhas estavam abertas.

Eu estava sentado na periada do palco. As folhas que Kim havia me entregue há alguns meses estavam depositadas em meu colo.

Vários alunos se encontravam espalhados pelo auditório. Alguns liam o roteiro, ajustavam a iluminação e ainda havia um grupo reunido em volta da Sra Tarnner, a professora de História que também era responsável pela turma de teatro.

— Eles são do grupo do cenário. – uma voz feminina disse atrás de mim.

Emily estava de pé, com uma das mãos segurando a alça de uma pequena bolsa e a outra se ocupava com algumas folhas. Seu corpo estava coberto por uma camisa jeans com as mangas dobradas e uma saia branca.

Eu não conseguia deixar de pensar o quão linda ela consegia ser de uma maneira tão simples.

— Achei que esse tipo de coisa era decidida depois. – foi tudo que consegui dizer.

É eu sei que costumavamos ser parceiros de Química toda semana, mas como já dito antes, nós só falavamos sobre coisas relacionadas a matéria. Eletroquímica não era o tipo de assunto que poderia ser inserido em meio a uma conversa casual.

— Na verdade essa parte começa a ser elaborada assim que definimos a escolha do que será apresetado. – ela falou ocupando o lugar ao meu lado – Eu confesso que fiquei um tanto quanto supresa quando vi que você seria meu parceiro no teste de elenco.

Foi aí que lembrei do combinado com Kim quando a ideia toda foi proposta.

“…Ainda não decidimos a cena e o ato, mas posso dar um jeito de encaixar o nome dela junto com o seu na hora dos testes”

— Não fazia ideia do seu interesse pelo teatro. – Emily acrescentou.

Dizer que eu só estava fazendo aquilo por sua causa naquele momento seria tão estúpido…

— Na verdade eu estou explorando novos talentos. – respondi.

Não foi nada hétero da minha parte dizer aquilo. Boa Jackson!

— E começou pelo teatro? – ela poerguntou, erguendo a sobramcelha direita – Eu poderia jurar de pés juntos que um cara como você optaria por Futball ou Basquete.

E é assim que você faz a garota dos sonhos te achar um tremendo gay…

— Eu não levo jeito com nenhum dos dois. – confessei. Se era pra mentir pelo menos algo tinha que ter ao menos um fundo de verdade.

— Gosto disso. – ela disse sorrindo. E que sorriso.

— E você? Eu nunca te vi durante as apresentações.

— Humm… eu costumo me encarregar pelo roteiro. – ela pôs uma das mechas negras atrás da orelha – Mas  Dianna insistiu que eu fizesse os testes esse semestre,  apesar de saber que eu sou péssima quando se trata de ter vários olhares focados em mim.

Meu olhar foi desviado da garota a minha frente para os fundos do auditório, mais precisamente na entrada. Algumas pessoas haviam acabado de chegar, causando um certo do tumulto, e entre elas estava Brody Carlson.

Senti como se uma onda de raiva se quebrasse sobre mim ao vê-lo acenar para Kim e perceber que em seguida ela respondeu seu gesto.

— Ãhnn… você ta bem? – Emily perguntou me olhando com cautela.

Foi quando percebi que meu punho direito direito estava fechado e as duas páginas do roteiro, que antes estavam sobre minha perna,  agora se encotravam amassadas entre meus dedos.

— É só o extress, nada demais. – respondi de volta, na tentativa de encerrar o acontecido.

— Tem certeza? Olha, eu posso…

— Em?

Kim veio caminhando em nossa direção, mas manteve os olhos focados apenas em Emily, ignorando completamente a minha presença.

         - Sra Tarnner vai quer começar os testes daqui a quarenta minutos – ela explicou mantendo voz com um tom de indiferença – Vocês são depois de Elena Delgado e Shaw Campbell, os penúltimos.

         Ah cara, se eu soubesse como aquilo terminaria…

         … tão inocente.

         - Falando como alguém totalmente de fora eu podia jurar que vocês tinham alguma coisa. – Emily comentou logo assim que Kim se afastou.

         - Érr… Nós não somos um casal, somos só amigos. – expliquei rapidamente – Só amigos.

         - Claro, se você diz. – ela concluiu – Não querendo me meter, mas parece que vocês não estão lá nos melhores dias.

         Era tão evidente assim?

         - Nós tivemos uma discussão desnecessária.

         Ela mordeu o lábio inferior e olhou em volta discretamente, não o suficiente pra que eu não percebesse.

         - Tem algo a ver com Brody Clarkson, não é? – Emily perguntou e eu assenti, franzindo o cenho. Como? – As pessoas daqui não perdem tempo na hora de espalhar boatos.

         Boatos…

         - Não é nada disso! Meu Deus, não se preocupe. – ela se apressou em explicar – Só estou tentando dizer que ela… Não parece garota pra ele.

                                            ***

— Não, não, não. Você não pode estar falando sério. – Diana suspirou, seu tom de voz diminuia a cada palavra – Jack, é ótimo que a amizade de vocês tenha um nível itímo, que ela não tenha problemas em te contar algumas coisas, mas isso não te da direito de querer opinar no que ela faz ou não.

Eram por falta das onze da noite e eu estava deitado na cama conversando com a minha ex—namorada pelo telefone.

— Não é bem assim – murmurei, observando a brisa balançar levemente a cortina  -  Ela tem todo o direito de fazer o que ela quiser, é a vida dela. Eu seria um completo ignorante…

—… Esta sendo meio ignorante. - ela comentou.

— … se pensasse assim. Mas sair com o Clarckson é motivo o suficiente pra uma intervenção.

— “Aquele babaca não vale nada”. – ela fez uma péssima imitação da minha voz –Vamos lá, Jack, é só uma questão de bom senso. A Kim é só uma garota de dezessete anos querendo viver a própria vida e ter encontros faz parte disso, mesmo que seja com Brody Clarkson. – sua voz assumiu um tom mais calmo que o habitual, mas ainda assim não foi suficiente para que a palavra “encontro” não me afetasse de certa forma – Ele pode até ser um otátio e tudo mais, mas é bem provável que ela tenha que lidar com caras assim futuramente.

O barulho de passos rápidos ecoou pelo corredor e em seguida a porta do quarto foi bruscamente aberta por Jasmine, com uma toalha escura enrolada nos cabelos e usando uma das minhas camisetas de flanela.

— Jackson, preciso que coloque o Jason na cama hoje. – ela disse, apoaindo as costas no batente da porta e esfregando  a toalha escura enrolada na cabeça e esfregando a toalha nos cabelos molhados – Ele não tem aula amanhã e a vai vir busca-lo cedo.

Jason passou correndo pelo corredor novamente em direção a sala com seu pijama azul de carrinhos.

— Jay! – minha irmã gritou, o repreendendo e virando a cabeça novamente em minha direção, antes de fechar a porta com força – Quero ele na cama em meia hora e não me espere acordado.

Aquele era seu jeito discreto de dizer que passaria a noite fora.

— Eu entendo o que você esta dizendo e não tiro sua razão, mas você sabe tanto quanto eu que isso não vai terminar bem. – bufei, revirando os olhos – Eu só quero o bem dela.

Respirei fundo. A conversa com Diana deveria me acalmar, de alguma forma ela tinha que conseguir me convencer o quão idiota era o que estava fazendo.

— Jack, por que você ligou? – ela perguntou após alguns demorados segundos – Nós dois sabemos que você é cabeça dura e é quase um milagre quando deixa algo de lado, então por qual motivo você fez isso? Sabe de uma coisa, eu não conheço essa garota, mas acho que ela tem em você um amigo e não quer algo a mais que isso. Não tente ser o pai dela.

— Eu não estou!

— Bem, então eu quero que você vá tomar um banho de água fervendo e depois vá dormir, mas antes – sua voz se tornou exitante e ela prosseguiu após um longo suspiro. Eu quase podia imaginar seu olhar pesado, os ombros tensos e a franjinha quase cobrindo os olhos – Dê espaço pra ela. No momento pode até não parecer, mas de certa forma se magoar é importante. A vida é composta por experiências, tanto as boas quanto as ruins e é exatamente por isso que você não deve intervir. Sua parte já foi feita. Você a alertou e isso já é suficiente. As vezes uma garota só precisa fazer coisas de garota e se ela quer mesmo sair com o Brody, então deixe que ela o faça.

Eu não queria que ela fizesse isso. Não quando eu sabia onde Kim estava se metendo.

Mas por mais que eu detestasse admitir Diana estava certa. Eu não podia controlar a vida dela, mesmo tendo apenas as melhores intenções.

— Eu prometo tentar, mas não posso garantir nada.

"Don't you give up, nah-nah-nah

 I won't give up, nah-nah-nah

Let me love you

Let me love you"


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Notas finais do capítulo

O que acharam?
Só preciso esclarecer duas coisas:
1 - Eu sei que muita coisa ficou em aberto e precisando de uma explicação melhor. Tudo vai ser preenchido no 3° capítulo, ok? É realmente proposital. Caso tenham alguma dúvida sobre qualquer coisa podem perguntar e eu posso acrescentar depois.
2 - São 4 partes que compõem essa fic. A segunda só precisa da conclusão, a terceira e a quarta estão em andamento. Era pra ser dividida em 2 capítulos, mas era muita coisa e daria preguiça de ler só de olhar.
Agora aqui seguem a baixo minhas sinceras desculpas.
Eu não tenho conseguido escrever nada além dessa pequena história desde minha última postagem. Pra quem não sabe eu fiz uma One de dia dos namorados no ano passado. Pois bem, aconteceu uma coisa, mais especificamente, uma perda no dia seguinte. Eu fiquei mal, ainda fico, mas basicamente de lá pra cá não tenho produzido nada. Tive bloqueios, descobri algumas coisas não muito agradáveis em relação ao meu psicológico, te o ENEM e só pra fechar bem direitinho eu tive aquela linda desilusão clichê de romances adolescentes em que a garota acaba no chão com o coraçãozinho magoado porque o carinha de quem ela gostava não era tudo aquilo. Mas ta tudo bem. A vida é composta por isso.
Logo as outras partes estarão postadas, eu juro. E não, não abandonei as outras fics. Assim que eu terminar isso os capítulos dessa aqui volto com as minha histórias.
Então gostaram?
Favoritem e recomendem!
Sejam educados e deem um oi para a autora



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