Prólogo

A garota abriu os olhos alarmada, no mesmo instante em que seu corpo ergueu-se num rompante. 

O cabelo de coloração incomum caia sobre seu rosto e ela o afastou com a ponta dos dedos. 

Os olhos arderam devido a claridade e ela os esfregou tentando fazer com que eles se acostumassem rapidamente. 

As paredes eram brancas, assim como a mobília, os lençóis, os travesseiros e até mesmo o vaso de flores que estava acomodado no criado-mudo ao lado da cama; as pétalas das flores eram esbranquiçadas. 

Sentou-se e com o apoio das mãos sobre o colchão, se levantou, sentindo uma breve tontura ao fazê-lo. O corpo pendeu e para que não caísse, ela tornou a afundar contra o colchão respirando fundo, antes de levantar-se novamente. 

Os pés estavam calçados com meias e a calça cobria-lhe até a altura dos tornozelos, a blusa de mangas compridas deixavam expostas somente suas mãos. Havia uma pulseira em seu pulso direito e escrito com uma tinta azulada em uma letra caprichosa existia um nome. 

Sakura Haruno.

Aquele era seu nome. Ela sabia disso. 

Olhou novamente para o quarto, um espelho que possuía uma moldura delicada estava acomodado na extremidade oposta. 

Seguiu até ele, a única coisa que rodopiava em sua mente era seu nome. Não cogitou, em momento algum, a estranheza por não ter lembrança alguma de quem era.

A princípio, Sakura pode ter um vislumbre de sua aparência. Os cabelos róseos caindo com suaves cascatas por seus ombros e os olhos esmeraldinos confusos. 

Porem, sem que ela fizesse movimento algum, o reflexo no espelho se moveu. A cabeça pendeu para a esquerda e o olhar vago tornou-se maldoso, assim como o sorriso que tomou seus lábios. 

As roupas da Sakura no espelho, eram pretas e isso fez com que a garota olhasse para as próprias peças para concluir que elas continuavam alvas como antes. 

A Sakura que permanecia dentro do espelho olhou ao seu redor e sua expressão tornou-se raivosa. Suas mãos fechadas em punho foram contra o vidro, fazendo com que a outra se afastasse com o susto. 

— Está com medo? – Grunhiu a de preto, espalmando suas mãos contra o vidro. – ME RESPONDA! – Gritou ao socar o espelho novamente. 

Um dos cantos, próximo da moldura, havia começado a rachar. 

— O que é você? – Questionou a outra Sakura olhando para o que julgava ser ela mesma. 

A que estava dentro do espelho riu com escárnio. Os punhos voltaram a se chocar contra o vidro e dessa vez, mais rachaduras surgiram. 

— Eu sou você. – Disse aproximando seu rosto o máximo que podia. – Sou o que você não pode controlar. – As luzes oscilaram e o quarto começou a adquirir a coloração negra. – Fique calma, sou apenas eu. Infectando tudo o que você conhece. – Ela tornou a socar o vidro e dessa vez, alguns pedaços cederam e estilhaçaram-se no chão. 

— Fique longe de mim! – Gritou Sakura recuando. O coração estava acelerado e com temor, ela vou quando as mãos da outra atravessaram o vidro do espelho, cortando-se enquanto ela tentava estraçalhar mais pedaços. – FIQUE LONGE! – Bradou no mesmo instante em que a Sakura que trajava preto, chutara o espelho com fervor. 

Eram como anjo e demônio. 

A presença de uma, repelia a outra. 

Suas costas bateram contra uma maçaneta e ela reprimiu o gemido de dor. Olhou para Sakura, que agora, tentava passar o restante do corpo pela moldura do espelho. 

Os olhos verdes repletos de ódio estavam cravados nela.

Colocou ambas as mãos na maçaneta, surpreendendo-se com a facilidade que conseguira abrir a porta.

— Eu vou caçar você. – Avisou a outra Sakura quando ela fez menção de fugir. – E vou matar cada um dos que você ama. – Metade de seu corpo ainda estava dentro do espelho. – Vou destroçar você! – Gritou ao tentar impulsionar o corpo para frente; suas mãos estavam sangrando e existiam cacos de vidro nelas. 

— Primeiro você precisa conseguir sair. – Rebateu Sakura desafiadoramente. – Talvez depois, você consiga alguma coisa. 

A outra grunhiu e ao tentar sair novamente, gritou de dor. 

Sakura balançou a cabeça negativamente e saiu da sala, fechando a porta atrás de si. Os gritos tornaram-se ainda mais violentos, porém, a intensidade com que eles eram ouvidos diminuía gradativamente, enquanto ela caminhava pelo corredor de vidro.